Ensino de matemática

Ensino de matemática

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Marcelo Viana, diretor geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), fala da entrada do Brasil na elite internacional da pesquisa em matemática e dos problemas no ensino da disciplina nas escolas do país, em reportagem da revista Pesquisa FAPESP, de março de 2018.

Explicando as razões de a matemática ser considerada, pelos estudantes, uma disciplina “chata”, ele afirma que os matemáticos não são bons “marqueteiros”. Não é uma disciplina fácil de ensinar, completa ele, por duas razões principais. Para as crianças pequenas, ela não é chata porque “bate com os seus interesses”. Mas há um momento na escola em que “perdemos nosso público – a menos que o professor consiga mostrar que a matemática tem a ver com coisas que interessam à criança e ao jovem, que merecem se divertir. Essa é a primeira razão para não gostar da disciplina”. A segunda é que a matemática trata de um conjunto de conhecimentos encadeados e ”quando se perde um pedaço do conhecimento, ou ele é recuperado logo ou o pedaço seguinte se torna incompreensível. Mas não é impossível resolver esse problema”.

O primeiro problema da educação, afirma Viana, é a “formação do professor que, de modo geral, é péssima”. Ele reconhece a necessidade de os docentes terem boas condições de trabalho, sentirem gosto pelo ensino e serem bem recompensados. Estamos carentes em qualquer um desses parâmetros, completa.

O entrevistado pela revista defende a atuação da Obmep (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). Quanto aos professores, ela os identifica e apoia. Mas, ressalta, “estamos falando de alguns, não da massa de professores”. Entendo ser este um dos problemas de certames educacionais: beneficiam uma parte dos que dele participam. Em educação temos de nos interessar pelo conjunto de docentes e estudantes. Quanto aos estudantes, a Obmep descobre talentos e cria dinâmica de interesse pela matemática, conforme Viana. Tenho ressalvas a competições desse tipo porque os estudantes que não são talentosos poderão ficar à margem das aprendizagens se os professores se dedicarem mais aos brilhantes. O efeito pode ser contrário ao desejado: provocar frustações junto aos que não participarem da competição ou não obtenham sucesso. Vale a pena refletir sobre isso.

Marcelo Viana considera que a Obmep “dá motivação para o professor, pode ser uma medalha ou a satisfação de ver seus alunos entusiasmados”. Diante disso, indago: como fica a motivação do professor para trabalhar com aqueles que apresentam fragilidades, desinteresse pelos estudos e atraso idade/ano de escolaridade? Parece-me que é ressaltado e valorizado o trabalho com os estudantes interessados e que “ganham medalhas” porque também o professor é colocado em destaque. Os estudantes que sobressaem dão orgulho e satisfação aos seus mestres, enquanto os “outros’ poderão ficar em segundo plano. Se isso acontecer, a escola pública deixa de ser democrática.

Viana entende que “prevalece na escola brasileira a ideia de que todos têm que ser iguais, que dar incentivo é discriminação ou pior, que é meritocracia, como se premiar o mérito fosse ruim”. Há ideias equivocadas nesta afirmação. Todos os estudantes têm o direito de ter o mesmo tratamento pela escola e de aprender. Eles não têm de ser premiados porque aprenderam. A conquista das aprendizagens é o que se espera deles. Em função de várias condições, alguns aprendem mais rapidamente do que outros e alcançam patamares mais elevados. Se esta já é uma vantagem para eles, por que agraciá-los? Para que se tornem dependentes desses recursos? Todos na escola são iguais no sentido de que merecem a mesma atenção, o mesmo cuidado e as mesmas chances de aprendizagem.

Por vivermos em uma sociedade competitiva, algumas pessoas querem que a escola também seja. Se ela for competitiva, não será democrática. Se ela trabalha para que todos os estudantes aprendam o que se espera, os estará formando para enfrentar democraticamente a competição.

 

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