28/09/2013 – O índice, referente ao ano de 2011 na rede pública, está muito acima da taxa aceitável internacionalmente, de 2% a 3%. Houve também queda acentuada nas matrículas
Um material de divulgação interna da Secretaria de Educação, com dados compilados do Censo Escolar, caiu nas mãos de professores da rede pública e vem provocando discussão entre os docentes. De acordo com o material, os índices de reprovação estão muito acima do ideal. Enquanto organismos internacionais apontam como percentual razoável o máximo de 3% dos estudantes com rendimento insuficiente durante o ano letivo, na capital do país 22,6% dos alunos do ensino médio, em 2011, não conseguiram a aprovação. Há ainda uma queda no número de matrículas. Entre 2010 e 2012, a rede sofreu uma redução de 18 mil inscrições, enquanto as instituições privadas ganharam 16.529 novatos.
Na pré-escola, que abrange alunos com idade entre 4 e 5 anos, ocorreu a queda mais significativa, de 17,5%. Entre as instituições pagas, no entanto, houve incremento de 8%. Especialistas ouvidos pelo Correio dividem opiniões sobre os dados. Alguns acreditam que a migração para o setor pago deve-se ao aumento do poder aquisitivo da população. Outros analisam que a opção dos pais ocorre devido à baixa qualidade do ensino público.
O professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Conselho Nacional de Educação Erasto Fortes Mendonça ressalta que os números, de modo geral, reforçam um padrão da sociedade. “Quando a condição financeira melhora, as pessoas tendem a matricular os filhos na rede privada. Isso não significa que a escola do governo seja pior. Demonstra que há um imaginário construído há anos entre a população de que o privado é melhor do que o público”, analisa. Ele ressalta ainda que uma mentalidade consolidada é difícil de mudar. “Deveria ser diferente, mas muitos acreditam que funcionário público trabalha pouco, há essa mentalidade”, concluiu.
O diretor do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro), Washington Dourado, discorda. Para ele, esse processo ocorre devido a uma desmotivação geral. “Tanto da parte dos professores quanto dos pais, que acabam procurando outra alternativa para os filhos”, analisou. Ele ressalta ainda que os dados devem ser expostos de maneira clara para que sejam criadas políticas públicas a fim de corrigir o problema.
Os números circularam entre os docentes da rede em agosto, ainda na gestão do antigo secretário de Educação, Denilson Bento da Costa. Há menos de um mês na cadeira, Marcelo Aguiar se surpreendeu com a realidade apresentada e promete tomar providências para melhorar. “Já solicitei à área responsável uma revisão do estudo. Deve ficar pronta na semana que vem. O total de matrículas me surpreendeu. A rede pública, geralmente, tem crescimento anual de 30 mil alunos”, disse. Caso a pesquisa seja confirmada, ele pretende tomar providências. “Sou um entusiasta da avaliação. Os números me ajudam a melhorar a gestão”, concluiu.
“Inaceitável”
Os índices de reprovação preocupam ainda mais. O professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Católica de Brasília (UCB) Célio da Cunha ressalta que uma análise profunda deve ser concluída. “Em nível internacional, a taxa razoável de aceitação é entre 2% e 3%. Chegar a 22% no ensino médio é algo inaceitável pedagogicamente”, afirmou. No ensino fundamental, a situação é um pouco diferente, mas também é grave. Chega a quase 10% nas séries iniciais (Veja arte). “Se compararmos com a indústria, de 100 artefatos, 10 são jogados fora. Os alunos precisam ser ensinados com qualidade”, disse.
Uma das soluções sugeridas pelo especialista é a figura de um visitador educacional. “Alguém que vá até a casa do aluno quando ele falta, converse com os pais, traga a família para a escola. Isso ajuda muito a reter o estudante, compreender mais as necessidades deles”, ponderou. Um currículo mais moderno, ligado ao pensamento do jovem atual, também está entre as medidas que poderiam melhorar os índices. “O jovem é conduzido pela era digital. Nós, educadores, ainda não conseguimos dar respostas a essa mudança.”
“Já solicitei à área responsável uma revisão do estudo. Deve ficar pronta na semana que vem. O total de matrículas me surpreendeu. A rede pública, geralmente, tem crescimento anual de 30 mil alunos”
Marcelo Aguiar, secretário de Educação