Entidades da Educação repudiam militarização de escolas em São Paulo

JC Notícias – 27/05/2024

Além de sinalizarem riscos inerentes à proposta, como a transposição de princípios que regem a área de segurança para a escola, as organizações que assinam a nota criticam a violenta repressão praticada pela polícia contra estudantes que queriam acompanhar a votação na Assembleia Legislativa paulista

Um grupo de entidades da área da educação, entre elas a ANPEd, divulgou uma nota contrapondo-se à aprovação do projeto de lei que institui as escolas cívico-militares na rede estadual de ensino de São Paulo, na última terça-feira (21/5).

Além de sinalizarem riscos inerentes à proposta, como a transposição de princípios que regem a área de segurança para a escola, as organizações que assinam a nota criticam a violenta repressão praticada pela polícia contra estudantes que queriam acompanhar a votação na Assembleia Legislativa paulista.

Leia a nota a seguir ou baixe o documento:

NOTA DAS ENTIDADES CONTRA O PROGRAMA DAS ESCOLAS CÍVICO-MILITARES DE SÃO PAULO

As entidades abaixo assinadas repudiam e comunicam sua indignação com a aprovação do PL que cria escolas cívico-militares na rede estadual de São Paulo.

A medida, além de ineficaz para a melhoria da educação, conforme demonstram análises e pesquisas sobre a implementação desse tipo de programa em outros estados, transpõe para o ambiente escolar princípios que regem a área da segurança e as corporações militares, criando uma ilusão de segurança e disciplina.

No entanto, o que se observa com a militarização é o controle sobre e as/os estudantes, impendindo-as/os de expressarem suas identidades étnico-culturais e suas organizações. Controle que se estende às/aos profissionais da educação, limitando a liberdade de cátedra. Contraria, portanto, os princípios constitucionais que regem a educação brasileira, os quais preconizam o direito à educação para todas/os em condições de igualdade de acesso e permanência na escola, liberdade de aprender e ensinar, pluralismo de ideias e a valorização das/os profissionais das escolas.

Também são questionáveis as motivações citadas pelo secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, para justificar a proposta – o “enfrentamento da violência” e a “promoção da cultura de paz” –, bem como a adoção do “índice de vulnerabilidade social” como critério de seleção das escolas candidatas ao programa. Essas justificativas sinalizam para o direcionamento da iniciativa às escolas das regiões periféricas, podendo reforçar os estigmas e preconceitos que envolvem as comunidades vulneráveis.

Com mais esta medida, que abandona os objetivos de melhoria da qualidade da educação em troca de um discurso populista e ineficiente, se implementadas as escolas cívico-militares apenas aumentarão a exclusão escolar, a violência e a desvalorização de duas categorias profissionais: de um lado, perdem os profissionais da educação pública que perderão recursos, que deveriam ser destinados exclusivamente a sua valorização e para despesas que possam melhorar a formação ofertada pelas escolas. De outro, também perdem os policiais militares da reserva que, ao invés de serem valorizados com salário e condições dignas de trabalho quando estão na ativa, são iludidos com desvio de função, do trabalho precário/”bico”, além de assumirem responsabilidades para as quais não possuem qualquer preparo.

A educação pública brasileira tem uma história e merece respeito! Além disso, senhor governador e secretário de educação exigimos apuração e providências quanto à força excessiva e violência que marcaram a atuação da polícia na Assembleia Legislativa durante a votação da lei que deu origem ao programa de escolas cívico-militares.

Assinam:

  1. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd
  2. Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais – ABECS
  3. Associação Nacional de Política e Administração da Educação – ANPAE
  4. Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE
  5. Associação Brasileira de Currículo – ABdC
  6. Associação Brasileira de Ensino de Biologia – SBEnBio
  7. Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação – Fineduca
  8. Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências – Abrapec
  9. Adufscar Seção Sindical – ANDES SN
  10. Associação dos Docentes da UNIFESP – ADUNIFESP- Seção Sindical
  11. Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial – ABPEE
  12. Campanha Nacional pelo Direito à Educação – Campanha
  13. CAJUEIRO – Centro de Formação, Assessoria e Pesquisa em Juventude
  14. Centro de Estudos Educação e Sociedade – CEDES
  15. Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
  16. Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE
  17. Fórum Nacional de Diretores de Faculdades, Centros de Educação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras – FORUMDIR
  18. Fórum Nacional de Coordenadores Institucionais dos Programas Pibid e Residência Pedagógica – Forpibid-rp
  19. Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico – PROIFES-Federação
  20. Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional – GREPPE
  21. Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais e Juventude – GEPEJ/UFG
  22. Observatório do Ensino Médio da UFPR
  23. Observatório Juventudes na Contemporaneidade
  24. Rede Nacional EMPesquisa
  25. Rede Nacional de Pesquisa sobre Militarização da Educação – RePME
  26. Rede Escola Pública e Universidade – REPU
  27. Sindicato de Trabalhadores das Universidades Federais do ABC – SinTUFABC
  28. Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES – SN
  29. Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE / SP)
  30. Sociedade Brasileira do Ensino de Química – SBEnQ

Anped

 

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