Entrevista de Luiz Carlos de Freitas sobre indicadores educacionais
“Para que sejam úteis, indicadores têm que ser associados à política que mobilize escolas na utilização e análise dos dados”
Professor da Unicamp, Luiz Carlos de Freitas analisa portal do INEP e questiona política de cobranças sobre as escolas
“Para que sejam úteis, indicadores educacionais têm que ser associados a uma política que mobilize o interior da cada escola na utilização e análise dos dados, criando mecanismos de mediação nas próprias escolas. Ao invés disso, servem apenas como forma de pressão pública sobre a escola”, constatou o professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Carlos de Freitas.
Ao avaliar o novo portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que pretende explicitar às escolas alguns de seus índices e o contexto social em que estão inseridas, o professor avaliou que, apesar de o acesso a dados contextuais poder contribuir com a maior capacidade de análise do desempenho geral da escola, deve-se evitar uma avaliação que reúna informações que responsabilizem a unidade de educação por seus resultados.
“Nesta concepção [de responsabilização da escola], o que se quer é demonstrar que a escola não vai bem de forma que a sociedade possa pressioná-la – e não que ela examine suas debilidades e virtudes. Deseja-se punir e não apoiar”, constatou o professor da Unicamp.
Iniciativa como a do portal disponibilizado pelo Inep, segundo Luiz Carlos, “reforçam a corrida para o uso de teses que privilegiam uma política centralizada de cobrança sobre as escolas e os sistemas de ensino, de forma a mostrar a ineficácia do sistema público de ensino, criando as bases para sua privatização”. De acordo com ele, este conceito de avaliação não tem como dar conta da complexa realidade das escolas: “esta tem sido a finalidade destes ‘big data’*: manchar a imagem da escola pública e criar condições para associar a distribuição de vantagens sociais e financeiras à obediência de políticas educacionais de controle sobre a escola”.
Além disso, o professor alerta para o cuidado em se preservar os dados obtidos na avaliação das escolas. “Estes bancos de dados precisam ser controlados por leis específicas que venham a proteger o sigilo das informações sobre nossos estudantes, para que não sejam usadas indevidamente por terceiros que estiverem interessados em ter o histórico do estudante quando o mesmo se apresentar para processos seletivos nas empresas”, exemplificou.
A avaliação de políticas educacionais
Luiz Carlos de Freitas defendeu, também, que a avaliação em larga escala – como a realizada por meio da Prova Brasil que produz o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), deve avaliar as políticas educacionais dos governos e não as unidades escolares. “A avaliação das escolas deve ser um processo com ancoragem local que estimule a comunidade interna e externa da unidade a se organizar para demandar da escola mais qualidade e do poder público as condições necessárias a esta qualidade”, complementou.
Segundo o professor da Unicamp, os Planos Municipais de Educação (PME) podem contribuir com este processo de avaliação educacional: “os planos deveriam conter as bases para o desenvolvimento local de processos de avaliação baseados em uma responsabilização participativa que aposte na mobilização das forças positivas da escola e não em uma política de controle e pressão externa sobre esta e seus profissionais”.
Neste contexto, Big Data se refere a um grande armazenamento de dados.