Erisevelton Silva Lima
Doutor em Educação pela Universidade de Brasília – UnB
Era tarde de terça-feira de dezembro e como tenho feito, regularmente, incluo entre as minhas tarefas na SEEDF visitar escolas, fazer palestras e conversar com meus pares, com estudantes, comunidade e demais profissionais da educação. Neste dia fui à escola para dialogar com todos os docentes dos anos finais do ensino fundamental que queriam compreender, debater e avaliar se iriam aderir ou não aos Ciclos para as Aprendizagens. Na sala dos professores estávamos todos, tarde quente do cerrado, cansaço em muitos rostos e o tempo que gritava por decisões e soluções. Foi agradável, discutimos desde os conceitos aos efeitos de outra organização do trabalho pedagógico. Visitamos os nomes mais ilustres da pedagogia, da didática, da sociologia da educação. Diante daquele grupo ratifiquei minhas impressões: os docentes querem fazer, eles estão dispostos a tentar, eles não desistem das lutas, contudo, precisam de orientações precisas, de projetos exequíveis e, sobretudo, de serem ouvidos.
O gestor da escola esteve presente, aliás, me recebeu desde a entrada da escola. Participou dos debates e vez ou outra saía para atender os chamados da dinâmica da instituição. Em seguida caminhamos pela escola, um prédio totalmente reformado, cores vivas, os corredores e o piso dos ambientes muito limpos. Um quadro com todos os temas e conteúdos do bimestre ganhava destaque na sala dos docentes. Era possível ensaiar, mesmo que não quisesse, a possibilidade de um olhar interdisciplinar. Todas as salas de aula possuíam seu quadro branco, pincéis e uma TV de boa qualidade, fixa. Adolescentes do ensino médio caracterizados para apresentação de teatro, outros em sala com seus mestres. No laboratório de informática climatizado, computadores e mesas próprias com divisões adequadas; entre elas encontrava-se um pequeno grupo de estudantes pesquisando, mas havia espaço e máquinas disponíveis para uma turma inteira. Um projetor moderno e fixo ao teto apontava para outro quadro branco de acrílico. A biblioteca ou sala de leitura ladeava este mesmo laboratório, aliás, junção perfeita da biblioteca com a informática, passado e presente todos juntos. Adolescentes alegres, risonhos, falavam alto, contudo eram respeitosos e ocupavam todos os cantos da escola. Dialogavam com seu diretor com o jeito peculiar dos que são desta geração e ele, o gestor, igualmente jovem, entendia-se muito bem com a “galera”. O diretor em seguida me apresentou os banheiros, disse da reivindicação e do orgulho dos estudantes, realmente um espaço digno, e arrisco dizer com raro requinte; não havia uma pichação ou depredação naquele ambiente e em nenhum outro da escola. Em seguida fomos para a sala da direção, quadros, gráficos, bastante informação sobre a avaliação institucional que aquela escola realiza. Eles acompanham, eles conhecem os alunos. Na ocasião os adolescentes procuravam a direção para pegar as carteirinhas que são exigidas para acesso e saída do prédio. O diretor ligava para alguns pais, conversava sobre a saída do filho, fazia recomendações. Aí veio meu feliz espanto, ele sabia o nome dos estudantes, ele sabia em que componente curricular o estudante não ia bem, e cobrava. Eu fiquei algumas horas naquela escola, ficaria dias, anos inteiros porque ali as pessoas eram bem cuidadas, respeitadas, todas elas.
A equipe gestora se revezava entre tarefas e chamados, todos tinham propósitos definidos, evitar reprovação, combater evasão, garantir a aprendizagem. Ouvi isto dos professores, ouvi isto do diretor, ouvi isto da escola. O conselho de classe funciona naquela organização, ela caminha à luz da avaliação que ela mesma produz. Quando o SAEB, o ENEM, o PISA e o Vestibular chegarem tenho certeza que servirão, apenas, para constatar o que eles estão fazendo: educação pública de boa qualidade.
Antes que algum pessimista, daqueles que olham o copo pela metade e sempre dizem que ele está meio vazio, faço saber: não era uma escola pequenina e com meia dúzia de alunos. Agora reflitamos, uma instituição dessas que recebe as mesmas verbas que as demais (e que às vezes atrasam), que possui docentes, profissionais e a mesma legislação que rege as outras deve ter alguma coisa muito diferente e arrisco dizer o que é: gestão escolar séria e boa vontade.
Com autorização da direção da escola posso divulgar que o cenário deste texto fica na região administrativa do Recanto das Emas-DF, atende população de baixa renda, está localizado em área que já foi denominada assentamento. Atende anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Trata-se do Centro Educacional 104: visitem-no, aprendamos com eles, são muito sérios e responsáveis.
Uma excelente equipe gestora, compromissada com sua missão social, que é a de promover a eduação de qualidade é uma questão de diálogo, esforço e gestos. Algo não impossível a ser seguido na rede.
Olá Iris obrigado por sua colaboração e reflexão, dialoguemos sempre, abraço professor Erisevelton
Olá professor Eri, gostaria de deixar registrado o meu orgulho de compor a equipe do CEd 104 do Recanto das Emas. É uma instituição que já passou por dificuldades, principalmente de organização e segurança em outras gestões, mas com a gestão atual (Diretor Sérgio, Vice-Diretora Dilce e Supervisores Paulo e Helena) tem feito a diferença na vida escolar dos alunos e em todo o grupo que compõe a equipe.
E digo mais, tudo o que você viu em sua primeira visita é realmente o que acontece diariamente em nosso espaço, a equipe gestora é muito envolvida e preocupada com todos. E não deixe de nos visitar mais vezes, a discussão foi muito boa, as informações que você nos passou e a reflexão proposta sobre os Ciclos foram ótimas também!!!!
Seja sempre muito bem vindo!!!
Prezada profa Flavia obrigado por comentar em nosso blog, quando digo nosso estendo a você também, parabéns o sucesso daquela escola é parte de cada um de vocês, que orgulho deve sentir cada aluno, isto não tem preço. Abraço professor Eri
Acompanhei o movimento de reconstrução do CED 104 e vemos uma perfeita articulação entre todas as dimensões da gestão escolar: pedagógica, política, administrativa e financeira. Ah, existe uma fundamental a HUMANA.
Parabéns Equipe, estudantes e comunidade do CED 104 do Recanto das Emas. Tenho muito orgulho de vocês.
Edileuza Fernandes
Vale a pena divulgar atividades significativas. Parabéns, equipe do CED 104!
Benigna Villas Boas
Estive lá outro dia e, ainda que de maneira breve, pude perceber que algo de diferente. Percebi com uma reunião, onde estavam presentes professores e servidores da carreira Assistência acontecia. Agora, lendo este texto, tudo se explica. Sempre soube disto: escola pública de boa qualidade é realmente possível, ainda mais diante de profissionais com elevados níveis de formação com existem no DF.
Você tem razão, Ediram, é possível ter escola pública de qualidade, principalmente aqui no DF, onde os professores têm formação pedagógica e as escolas possuem boas condições de trabalho, com raras exceções. Nossos alunos merecem o melhor.
Benigna Villas Boas