ESFORÇO EM VÃO: PISA MOSTRA QUE DEVER DE CASA NEM SEMPRE AJUDA O ESTUDANTE A MELHORAR SEU DESEMPENHO. É PRECISO ORIENTAR OS ALUNOS QUE MAIS PRECISAM DE AJUDA

Esforço em vão: Pisa mostra que dever de casa nem sempre ajuda o estudante a melhorar seu desempenho. É preciso orientar os alunos que mais precisam de ajuda.

por Antônio Gois

30/12/2016 16:38

Jovens que passam mais tempo estudando depois da escola ou fazendo dever de casa apresentam resultados piores no Pisa. Essa conclusão vai contra o senso comum, mas consta do relatório do exame, cujos resultados de 2015 foram divulgados há três semanas pela OCDE (entidade que organiza o teste, aplicado a jovens de 15 anos em 72 países e territórios). Mas antes de iniciarmos uma campanha contra as tarefas de casa, é preciso entender melhor o que explica esse resultado.

Um primeiro cuidado na análise é que, como alerta a OCDE no relatório do Pisa, o menor desempenho acadêmico dos jovens que passam mais tempo estudando fora da escola não necessariamente significa que esta ação seja a causa do mau desempenho. Pode ser simplesmente que alunos que estão tendo mais dificuldades na escola estejam tentando compensar a defasagem que têm em relação aos colegas dedicando mais tempo ao estudo. Ou seja, por apresentarem mais dificuldade, acabam estudando mais do que os outros.

No caso específico do dever de casa, vários estudos acadêmicos chegaram a resultados distintos e não há uma evidência conclusiva a respeito de seu benefício ou prejuízo. A própria OCDE, ao fazer uma análise sobre o tema a partir dos resultados de 2012 do Pisa, concluiu que dedicar mais tempo ao estudo em casa pode sim ser um fator de melhora do desempenho. A grande questão que explica essa aparente contradição entre resultados de 2012 e 2015 está na qualidade com que a tarefa é executada. “Esses benefícios (de fazer o dever de casa) só se materializam se alunos têm tempo suficiente, um lugar calmo para estudar, e acesso a pessoas com conhecimento que possam motivá-los e guiá-los caso necessitem de ajuda”, informa a OCDE no mais recente relatório do Pisa.

Para tentar identificar a existência ou não dessa assistência nos deveres de casa, a entidade inclui pela primeira vez no relatório do Pisa duas perguntas aos diretores relacionadas ao tópico. A primeira questionava se os alunos tinham na escola uma sala onde podiam fazer o dever de casa. A segunda era se havia professores destacados a ajudar os estudantes nessa tarefa.

Obviamente, não se avalia apenas por essa questão a qualidade desse serviço prestado aos alunos. Mas a comparação entre o Brasil e os demais países mostra que essa é uma área que necessita mais atenção dos gestores por aqui. Na média dos países da OCDE, a maioria dos estudantes está matriculada em escolas em que há salas designadas para alunos fazerem o dever de casa, além de profissionais disponíveis a ajudá-los na própria escola. A discrepância maior dos dados brasileiros em relação a média dos países desenvolvidos está na segunda questão, pois aqui apenas 18% dos estudantes avaliados no Pisa estudam em escolas onde há pessoal designado a ajudar os jovens na realização do dever de casa, ante uma média de 60% nos países da OCDE, que chega a mais de 90% em nações como Reino Unido, Estados Unidos e Suécia.

Em resumo, o que o Pisa indica é que é pouco produtivo exigir de alunos que estejam tendo dificuldades que passem mais tempo estudando em casa ou fazendo deveres sozinhos. Sem orientação de alguém capaz de ajuda-los, o esforço será, provavelmente, em vão.

 

 

 

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