Eu avalio, você avalia, todos avaliam

 Eu avalio, você avalia, todos avaliam   

Enílvia R. Morato Soares

Quando convidados a registrar em fichas de papel as marcas deixadas pela avaliação no decorrer da vida pessoal e acadêmica, professores do Instituto Federal de Goiás – Campus Inhumas – se expressaram por meio da imagem acima.

Chama a atenção o predomínio de sentimentos negativos associados à avaliação. O uso de expressões como: frustração, ansiedade, angústia, tensão, suor frio, preocupação, filme de terror, apatia, decepção, inferioridade, competição e cansaço ilustram o quanto a prática avaliativa se articula muito mais ao medo das decisões que a partir dela decorrem, do que aos progressos que poderiam/deveriam, por meio dela serem promovidos.

Estigmas negativos que insistem em acompanhar a avaliação são, em grande parte, oriundos de um modelo de organização escolar hierarquizado, em que avaliador e avaliado não se confundem e seus papeis são definidos segundo o lugar que ocupam nesse processo. A escola é avaliada por gestores do nível central, a direção avalia os professores e demais profissionais, os professores avaliam os estudantes e, por extensão, seus familiares. A avaliação ganha, desse modo, ares de verdade inquestionável e se desveste da condição de promover reflexões que viabilizem progressos.

Superar concepções que insistem em associar avaliação ao julgamento taxativo e unilateral de um sujeito sobre o outro passa pela horizontalização das relações. Avaliador e avaliado ocupam, nesse caso, posições similares, porque visam o alcance de objetivos que são comuns. Trata-se de diferentes olhares que, quando articulados, desvelam aspectos dificilmente percebidos, se vistos por um só ângulo. As decisões tomadas a partir desse processo também são enriquecidas porque agregam diferentes visões sobre uma mesma realidade.

A aprendizagem é o propósito maior. Todos ganham com a progressiva e permanente construção de conhecimentos: a escola, que imprime melhorias no trabalho que desenvolve, ampliando suas chances de cumprir o seu papel de ensinar a todos; os estudantes, que recuperam ou conquistam o prazer de aprender; os familiares, que veem atendidos seus anseios de acompanhar o progresso dos filhos e ou dependentes; e os gestores centrais que, a partir das informações que levantam junto às escolas, criam políticas para apoiá-las, visando dotá-las das condições necessárias ao desenvolvimento do seu projeto pedagógico.

A construção de um trabalho nessa perspectiva requer avaliações dialogadas com ética e respeito. Ouvir e acolher posições de segmentos por muito tempo silenciados, como é o caso dos estudantes e seus familiares, exige, da escola o compromisso político de democratizar processos avaliativos e, consequentemente, permitir a todos acesso contínuo e progressivo a novos conhecimentos. A avaliação se exime, assim do seu caráter ameaçador, assumindo sua real função de contribuir para melhorias e avanços constantes.

 

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