Grupo de Estudos Educação Básica Pública Brasileira: Desafios Aparentes, Desafios Reais

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Grupo de Estudos Educação Básica Pública Brasileira: Desafios Aparentes, Desafios Reais

Thaís Paiva – 22/08/2017

A Universidade de São Paulo (USP) ganhou um grupo de estudos dedicado a compreender os desafios da Educação Básica pública do País. Batizado de Grupo de Estudos Educação Básica Pública Brasileira: Desafios Aparentes, Desafios Reais, sua proposta é fornecer subsídios para o enfrentamento dos principais entraves presentes no cotidiano escolar das redes de ensino.

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A fim de inaugurá-lo, nesta segunda-feira (21), foi realizado o seminário “Magistério na Educação Básica Pública: Qual o Perfil? Quais as Condições de Trabalho?”, no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. O evento foi o primeiro de uma série de cinco encontros que serão promovidos pelo grupo ao longo do segundo semestre de 2017.

“Falta olhar para a realidade próxima e a partir disso analisar a implementação da teoria, do abstrato”, diz Bernadete Gatti

Uma das palestrantes convidadas, Bernadete Gatti, presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE-SP), apontou a fragmentação dos currículos, a distância entre a teoria e as práticas e a ausência de definição do perfil profissional do docente a ser formado como alguns dos principais desafios.

“Falta olhar para a realidade próxima e a partir disso analisar a implementação da teoria, do abstrato. É ainda muito precária a formação do professor para ser um profissional, para entrar em uma sala de aula com crianças, adolescentes e estabelecer uma comunicação, uma ambiência de aprendizagem, fazendo com que eles se motivem a pensar, se interessem para o conhecimento”.

Partindo da resolução do Conselho Nacional de Educação para o tema (CNE/ CP 02/2015: Diretrizes Curriculares Nacionais para as licenciaturas e a formação continuada do magistério) e do previsto pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Bernadete pontuou também a necessidade de reformular os cursos de Pedagogia e licenciatura.

“A licenciatura não é penduricalho de bacharelado. Cerca de 90% da formação oferecida pelas universidades é voltada para a área específica do conhecimento e apenas 10% para o conhecimento do ensino”. Segundo pesquisas recentes, no Brasil, 45% dos professores não dão aula nas áreas específicas nas quais foram formados.

Além disso, a falta de atualização das universidades e interesse da mesma em formar para a docência têm contribuído para o sucateamento da carreira. “A própria USP nasce em 1934 com o objetivo de formar professores. Era essa a proposta por trás do nascimento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Depois, isso foi se perdendo e a universidade pode morrer desse afastamento. Acho que olhar a Educação Básica pública como elemento central da universidade é o caminho”, colocou Luís Carlos de Menezes, do Instituto de Física.

Outro desafio apontado pela socióloga Helena Singer está na implicação de para quem  o professor responde enquanto profissional. “Teoricamente, ele responde para um estado distante, burocrático. No entanto, no seu dia a dia, ele está rodeado dos alunos, está dentro de uma comunidade escolar, lidando com os colegas, com as famílias. Acho que isso diz muito sobre as condições de trabalho do professor da escola pública”.

Formação interdisciplinar

Como caminho possível para uma formação mais abrangente, Naomar Monteiro de Almeida Filho, reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), apresentou as experiências da instituição com os bacharelados e licenciaturas interdisciplinares.

“Todos os alunos compartilham a formação geral. Depois, escolhem as áreas de interesse: humanidades, artes, ciências, saúde e docência. Mas a escolha por uma área não exclui a opção pela docência”, explica. “A escolha motiva muito mais os estudantes do que o prato feito”, acrescentou.

Neomar também falou sobre a importância de introduzir as novas tecnologias na formação dos professores a fim de reduzir as dificuldades de comunicação entre as diferentes gerações. “Esse distanciamento vai criando mitologias, por exemplo, de que jovem de hoje não escreve, não fala, não lê.  A tecnologia não é uma abordagem elitista, é um caminho de aproximação”, concluiu.

 

 

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