MESTRES DA SUPERAÇÃO: É O CASO DE RECEBEREM NOTAS?
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Publicado em 04/10/2014
A reportagem de capa da Veja Brasília de 24 de setembro de 2014 traz o tema da semana: Mestres da superação – no difícil cenário da educação pública no DF, garimpamos histórias de professores que merecem nota 10. Os nomes de uma diretora e de uma escola mencionados no texto aqui no blog são fictícios.
Assim começa a reportagem: “Na cidade onde políticos corruptos escondem dinheiro desviado dos cofres públicos até em meias, uma professora conta os centavos para complementar o orçamento da instituição pública que dirige em (…). Eleonora separava pilhas de moedas em sua sala quando a reportagem de Veja Brasília chegou para visitar o colégio, no último dia 15. Os trocados sobre a mesa somaram módicos 250 reais. Era o saldo da venda de cremosinho (vitamina congelada) durante a feira de ciências no fim de semana. Está aqui a primeira parcela da cobertura para a quadra de esportes, calcula Eleonora”. Ela assumiu a direção da escola há 7 meses e “promoveu um milagre da multiplicação de boas práticas na comunidade escolar onde atua”. Ela buscou apoio financeiro de um grande empresário dono de um shopping vizinho da escola. Ele doou tinta para a pintura da fachada. Desde então os estudantes têm sido convidados para sessões de cinema no shopping, com direito a pipoca e refrigerante. A diretora conseguiu também outras doações, como: bancos de cimento, melhoria na quadra de esportes etc. A reportagem destaca que, na ficha da diretora, consta que seu último atestado médico data de 7 anos atrás, quando sua filha nasceu.
Todo esse esforço e comprometimento são notáveis. Não retiro o mérito da diretora. Contudo, esse não deveria ser o seu papel. Todas as escolas deveriam possuir tudo o que for necessário para o desenvolvimento de trabalho de qualidade. Ao atribuirmos nota 10 aos profissionais da educação pelo trabalho excepcional que alguns deles vêm executando, estamos contribuindo para que os que assim não atuam permaneçam nessa situação. Por comodidade eles poderão atuar mediocremente. Os bons profissionais não devem ser premiados; devem ter o seu trabalho divulgado, reconhecido e valorizado. Os maus profissionais precisam receber ajuda para que eles próprios busquem formas de melhoria.
Em lugar de ocupar seu tempo pensando em formas de conseguir meios para que o trabalho possa ser desenvolvido a contento, a diretora deveria encontrá-los na escola para que, juntamente com os professores, possam se dedicar às aprendizagens dos estudantes. Este é o foco do trabalho da escola.
A reportagem, logo no início, classifica a diretora por meio da nota 10, a exemplo do que fazemos com os estudantes. É uma aprendizagem obtida na escola e por ela mesma difundida. Atualmente tem sido recomendado às escolas que estabeleçam e cumpram metas, assim como tem sido exigido que “batalhem” para a obtenção de boa nota no IDEB. Contudo, constata-se que isso não tem garantido que todos os estudantes aprendam no tempo devido, sem percalços, sem interrupções e sem lacunas.
A escola e os professores estão convivendo com uma enxurrada de testes, prêmios e bônus. Será que está sobrando tempo para o desenvolvimento das atividades curriculares e, consequentemente, para a conquista das aprendizagens pelos estudantes? Estão os professores atentos a essa situação e a sociedade preparada para acompanhar as consequências dessas ações?