Jornal da Ciência, 1º de maio de 2015
IF/USP adota método de ensino que aumenta a participação do aluno em sala de aula
Em instituições onde já é aplicada, como o MIT e as universidades de Harvard e de Yale, a “aprendizagem ativa” diminuiu em um terço os índices de repetência Não é de hoje que professores e especialistas em educação percebem que os alunos tendem a render pouco em aulas expositivas. Com a popularização da internet e das novas tecnologias digitais, que possibilitam a esses estudantes o ingresso em um mundo com abundância de informação sem precedentes, os desafios do professor em sala de aula só aumentam. Por isso, o Instituto de Física da USP (IF/USP) adotou com os alunos ingressantes os preceitos da chamada “aprendizagem ativa”: um conjunto de práticas que faz do estudante o protagonista no processo de aprendizado. Essas práticas já são adotadas no MIT, em Yale e em Harvard, entre outras instituições de renome.
Diversas metodologias estão reunidas sob o guarda-chuva da “aprendizagem ativa”. No IF, a escolhida foi o SCALE-UP (student-centered active learning environment with upside-down pedagogies), desenvolvida por Robert Beicher na Universidade Estadual da Carolina do Norte e adotada em mais de 200 instituições. Por enquanto, ela é empregada com as turmas ingressantes, nas disciplinas Física I e II – primeiro e segundo semestres, respectivamente.
“Basicamente, a metodologia inverte a ideia de que o aluno tem o primeiro contato com o conteúdo em sala de aula, com a exposição do professor, e depois fixa esse conteúdo sozinho, em casa. Na aprendizagem ativa, os alunos têm de se preparar previamente para a aula, têm leituras para fazer. Na aula eles vão sedimentar o que leram, e o professor vai iluminar pontos chave. É uma tentativa de trazer os métodos de discussão e debate, usados no ensino das ciências humanas, para uma aula de ciências duras”, explica André Vieira, um dos professores responsáveis pela implantação do SCALE-UP no IF. Ele afirma que, nas chamadas ‘ciências duras’ é mais comum que as aulas sejam apenas expositivas e que o aluno tenha uma postura passiva.
Para implementar o novo método, foi montada uma sala na Ala II do IF. A sala, com capacidade para 72 alunos, tem piso elevado para instalação de tomadas por baixo e para que os alunos possam levar seus computadores. As mesas modulares permitem que eles trabalhem em grupos de seis, sendo que em cada uma delas há um computador (no total de 24 máquinas). Como formam um hexágono, os módulos permitem também que os estudantes olhem para todos os lados do ambiente. Há ainda três telões (de modo que o professor, mesmo não sendo o centro das atenções, possa ser visto por todos quando for preciso dar uma explicação), além dos já tradicionais quadros brancos.
Na metodologia SCALE-UP as aulas expositivas são substituídas por atividades projetadas para levar os estudantes a observar fenômenos físicos, refletir sobre eles e discutir com seus colegas e com o professor até que o conceito seja efetivamente aprendido. Em média, são realizadas de duas a três atividades por aula. “Desenvolvemos basicamente três tipos de atividades: as que envolvem cálculo, as que envolvem um experimento simples e as que implicam uso do computador. As aulas duram cerca de 1h40 minutos”, diz Vieira, que esteve durante três dias na Universidade Estadual da Carolina do Norte acompanhando aulas pelo método SCALE-UP e conversando com professores que o utilizam, antes de ajudar a implementá-lo no IF.
Para a professora Carmen Prado, que ministra Física I para os alunos do primeiro semestre, é muito diferente trabalhar dessa maneira. “Do meu ponto de vista há indiscutivelmente um ganho visível na participação dos alunos na aula, eles faltam menos, se engajam, interagem mais, são mais desinibidos para expor ideias e para perguntar, sem contar que há menos desistência”, afirma. Ela ressalta que o plano de fundo do SCALE-UP é o metacognição, ou seja, o conhecimento que a pessoa tem sobre o seu processo de aprendizado.
As discussões em grupo também são importantes no método. “O aluno que sabe mais se beneficia muito de ter que explicar o conteúdo para o outro, porque é uma oportunidade de checar seus conhecimentos. O aluno ‘mais fraco’ ou ‘mais tímido’ se sente muito mais à vontade para expressar dúvidas para os colegas do que para o professor”, resume Carmen, que divide os créditos da implementação do projeto com outros seis professores, além de Vieira: José Roberto B. Oliveira, Marcio Varella, Maria Teresa Lamy, Renato Higa e Vera Henriques.
Como este é o segundo ano de aplicação do método, os resultados ainda não puderam ser avaliados. “Estamos preocupados em criar indicadores que avaliem o desempenho dos alunos ao longo do tempo”, adianta a professora. Nos EUA, em uma meta-análise realizada ano passado envolvendo mais de 200 estudos distintos em disciplinas de ciências, tecnologia, engenharias e matemática, os métodos da aprendizagem tradicional foram comparados aos da aprendizagem ativa. Os estudos apontam uma diminuição de um terço nos índices de repetência e uma melhoria na compreensão conceitual dos estudantes que estiveram envolvidos com a aprendizagem ativa. (IF/USP)