O LUGAR DA AVALIÇÃO NO PROCESSO FORMATIVO DO PROFESSOR TEM SIDO NEGLIGENCIADO
Profa. Dra. Sílvia Lúcia Soares
E notória a evidência que a avaliação vem adquirindo nos diversos âmbitos do Estado, bem como a ampliação de sua intervenção para além dos limites da sala de aula. Tal fato é evidenciado na centralidade da avaliação nas políticas públicas, na evidente ampliação das funções atribuídas a ela no contexto atual e, sobretudo, em seu uso como mecanismo de promoção e manutenção e legitimação da exclusão social.
No entanto, ao mesmo tempo em que a avaliação expande seus modelos e objetivos, assumindo outros significados, inclusive no âmbito educacional, nos cursos de formação de professores, o estudo sobre essa categoria continua quase ausente ou abordado de maneira superficial. Tal fato é paradoxal, uma vez que esses cursos formarão futuros avaliadores.
Em decorrência, evidencia-se que os docentes, quando no desempenho de suas funções, apresentam despreparo para lidar com a avaliação em suas dimensões: política, sociológica e pedagógica. Parece oportuno afirmarmos que, no cenário da formação de professores¸ o acesso aos conhecimentos sobre a avaliação continua efetivando-se de forma fragmentada, dispersa e superficial.
Villas Boas (2003), ao analisar como a avaliação tem sido abordada nos cursos de formação de professores, na pesquisa intitulada A avaliação nos cursos de formação de profissionais da educação no Distrito Federal: confronto entre a teoria e a prática (1998 a 2000), constatou que: (i) a avaliação é um tema incluído na disciplina Didática como último item do programa; consequentemente, não chega a ser discutido ou o é ligeiramente; (ii) muitas vezes, apenas um grupo de estudantes é encarregado de “pesquisar” o tema e apresentá-lo aos colegas, o que faz com que não seja analisado por toda a turma; (iii) a bibliografia dos planos de trabalho de Didática Geral não inclui livros e artigos atualizados nem faz nenhuma referência a dissertações, teses e relatórios de pesquisa; (iv) há desarticulação entre os estudos teóricos sobre a avaliação e a sistemática de avaliação dos alunos em todas as disciplinas; (v) a avaliação costuma ser conduzida de forma fragmentada nos cursos. Cada professor tem seu próprio entendimento e sua própria maneira de realizá-la, geralmente sem compartilhá-la com os estudantes em formação; (vi) as avaliações em larga escala não desempenham papel significativo, tanto na organização do trabalho pedagógico como na formação do futuro docente; (vii) a prova ainda é o procedimento predominante. Dessa forma, apenas o estudante é avaliado e somente pelo professor.
Todavia, até então, não obtivemos mudanças significativas nesse sentido. Pelo contrário, se por um lado, as políticas educacionais não favorecem modificações na prática avaliativa, por outro, academicamente, não tem havido esforços em construir novas alternativas e maneiras de se avaliar. O que se observa é que nos espaços de formação prevalece ainda o aspecto somativo da avaliação voltado para médias e resultados ou uma preocupação excessiva em responder às demandas burocráticas imediatas.
Entendemos que, por suas características, no curso de formação de professores seria fundamental que a avaliação assumisse a função de mediação entre os saberes e seus pontos de “não saber ainda”, conforme preconizado por Sordi (2010). No entanto, o que percebemos é que os estudos sobre ela são ainda bastante exíguos. Estruturalmente, encontram-se diluídos no plano de curso das disciplinas pedagógicas sem estabelecerem articulações precisas e orgânicas, ou são oferecidos em disciplinas optativas que às vezes não são priorizadas na oferta, em decorrência do não reconhecimento, por parte dos gestores, da avaliação como uma categoria forte no campo pedagógico e parte integrante do processo de formação do professor. Infelizmente, ainda não perceberam a forte força indutora exercida por ela nas formas de agir dos professores, dos estudantes e da sociedade em geral.
Percebemos que o produto advindo das concepções equivocadas de formação manifesta-se na fragmentação do currículo dos cursos de formação, o que tem acarretado a superficialidade e o reducionismo do ensino da avaliação. Como declara Villas Boas (2005, p. 29), “a avaliação tem sido um saber marginalizado na formação de professores”. O mais grave é que as escolhas avaliativas dos cursos de formação são apartadas da responsabilidade e do compromisso com a formação de um profissional que irá atuar em breve, como avaliador dos alunos e do trabalho pedagógico da escola de Educação Básica.
Todavia, partimos da premissa que de que avaliar é uma condição fundamental para bem ensinar e bem realizar a avaliação. É essencial, também, para adquirir argumentos necessários a fim de dialogar com os resultados obtidos, atribuir-lhes significados pedagógicos e sociais, como ainda utilizá-los como propulsores do redirecionamento da organização do trabalho pedagógico da escola, em sentido amplo, e da sala de aula, em particular. Como assevera Freitas (2007), a aprendizagem da avaliação constitui um saber fundamental para que o professor venha a estabelecer a interlocução entre seus diferentes níveis: em larga escala, institucional e para as aprendizagens, a fim de tornar-se capaz de dialogar com os dados obtidos nos diferentes níveis e atribuir-lhes significados circunstanciais.
Não temos dúvidas de que a avaliação constitui um elemento fundamental no processo formativo dos professores. A ausência de discussão entre os pares sobre seus processos e resultados leva ao risco do fortalecimento do aspecto classificatório a ela subjacente e à negação da função diagnóstica reconhecida por nós como aquela que lhe atribui significados e sentido. Somente pela reflexão, diálogo e a prática pedagógica investigativa serão oportunizados aos sujeitos educativos a apropriação, o aprofundamento e a expansão do aporte teórico que a fundamenta. No entanto, esclarecemos que a responsabilidade de abrir espaços que promovam discussões mais fecundas sobre a avaliação no contexto da formação de professores é da gestão da universidade, das faculdades e dos institutos que fazem parte de sua estrutura e, principalmente, dos coordenadores dos cursos realmente comprometidos com a qualidade do processo de formação de professores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREITAS, H. C. L. de. A (nova) política de formação de professores, a prioridade postergada. Educação & Sociedade. Campinas, v. 28, n. 100, esp., p. 1203-1230, out. 2007.
SORDI, M. R. L. O lugar da avaliação na cena universitária: em busca das referências perdidas. Revista Estudos, Brasília, ano 27, n. 39, p. 99-102, 2010.
VILLAS BOAS, B. M. de F. Repensando a avaliação no curso de pedagogia: o portfólio como uma prática possível. Estudos em Avaliação Educacional, n. 27, p. 115-132, jun. 2003.
Olá Profa. Dra. Sílvia Lúcia Soares, bela reflexão!
Em muitos casos vemos que o discurso da avaliação formativa está impregnado nos professores como batom nos lábios (Terezinha Rios), mas não pode ser percebido brilho nos olhos com a temática nem, tampouco, nas ações… enfeita o discurso, mas não é efetivo nas práticas.
E mais, em muitos casos nem no discurso aparece!
As práticas tendem a se repetir e o discurso a ficar no vazio…
Abraços
Olá Profa. Dra. Sílvia Lúcia Soares, bela reflexão!
Em muitos casos vemos que o discurso da avaliação formativa está impregnado nos professores como batom nos lábios (Terezinha Rios), mas não pode ser percebido brilho nos olhos com a temática nem, tampouco, nas ações… enfeita o discurso, mas não é efetivo nas práticas.
E mais, em muitos casos nem no discurso aparece! CONCORDO COM ESSE COMENTARIO DA NOSSA NOBRE COLEGA
O aluno é um sujeito ativo e passivo de conhecimento. É o verdadeiro protagonista. A avaliação deve sempre ser continua. E o porfessor deve constantemente trabalhar com metodologias ativas.