O MINOTAURO E O CONSELHO DE CLASSE: REFLEXÕES!!!
Erisevelton Silva Lima
Doutor em Educação pela Universidade de Brasília-UnB
Procuramos publicar textos, artigos, memórias e relatos que sejam veículos de alguma ação positiva, exitosa ou algo do gênero. No caso do Conselho de Classe tem sido recorrente, especialmente nesta época do ano, em que se encerram as atividades pedagógicas, o clamor de professores, gestores, demais profissionais da educação que atuam na escola, pais e estudantes por mudanças e redirecionamentos neste espaço sério e de confluência dos diferentes níveis da avaliação (para aprendizagem, do trabalho pedagógico escolar e em larga escala), e dos seus efeitos. Abaixo, listamos relatos que sintetizam muitos outros sobre reuniões do Conselho de Classe, colhidos por e-mail, telefonemas e em contato com os diferentes atores que compõem a comunidade escolar:
“Ontem, foi deprimente o nosso Conselho de Classe. Estou com vergonha de como estamos conduzindo a avaliação”. (Diretora de escola – rede pública).
“Fui agredida, verbalmente, mas fui agredida. Vi meus colegas se digladiarem porque uns livravam alunos “queridos” da reprovação enquanto outros eram massacrados porque não eram simpáticos com seus professores”. (Docente da rede privada).
“Eu não pude ouvir o que eles diziam do meu filho, sei que ele tem dificuldade e estuda pouco, mas eu fiquei lá fora e pensei que no tribunal a gente pode entrar e se defender, eu não pude”. (Mãe de aluno).
“Eu sei que vou reprovar, fiz bagunça, até fiz os “dever de casa”, mas a professora x não gosta de mim e no conselho de classe ela disse que vai me detonar.” (Felipe. 13 anos, estudante).
Ao final de mais um ano letivo, os depoimentos acima, de uma diretora de escola, de um docente, de uma mãe e de um estudante, podem nos ajudar a refletir sobre o papel do conselho de classe. Esta importante instância do processo avaliativo escolar tem se revelado um labirinto, em que há riscos no seu percurso, há becos sem saídas também. Acontece que o problema não é o conselho de classe em si, acreditamos que as interações, equívocos e ritos que são repetidos, sem reflexão, todos os dias nas escolas parecem eclodir no momento em que se reúne esse importante colegiado, quando se constata que a avaliação informal (juízo de valor) toma assento nessas ocasiões e define os rumos da escola e a vida dos escolares de maneira forte, chegando, às vezes, a produzir exclusões. O pano de fundo disso pode ser o poder ombreado com a avaliação e com nossas inseguranças pessoais e profissionais. A avaliação, a que nos referimos, é a mesma que se sente ameaçada quando discutimos ciclos e progressão continuada e que, quase sempre, é utilizada como maior argumento para que a escola não fique desacreditada por completo.
O foco tem que sair do Minotauro ( a reprovação), porque ele não pensa, só tem corpo forte de gente, mas a cabeça é de animal. O alvo deveriam ser as aprendizagens. Estas, sim, deveriam ser desejadas por todos dentro da escola, pelos estudantes, pelos profissionais que ali atuam e pelas famílias. Quanto ao fio condutor (novelo de lã) para saída do labirinto, arriscamos apontar a formação em serviço e o diálogo com os pais e estudantes desde a construção do projeto político-pedagógico da escola, do qual a avaliação é parte fundamental. Afinal, saber como, porque, quando e com que objetivos somos avaliados pode reduzir bastante as incompreensões sobre o processo e o produto, também apelidado de resultado. As discussões acaloradas (às vezes até apaixonadas) nas reuniões desse colegiado devem ser mediadas pela equipe gestora e pelos coordenadores pedagógicos tendo como referência a compreensão de que a função maior do conselho de classe é analisar o que os estudantes aprenderam, o que eles não aprenderam, o que foi feito entre as duas primeiras descobertas e o que ainda se pode fazer para que todos aprendam.
PARA SABER MAIS SOBRE CONSELHO DE CLASSE:
DALBEN, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas. Conselhos de classe e avaliação: perspectivas na gestão pedagógica da escola. Papirus, São Paulo – SP, 2006.
LIMA, Erisevelton Silva. O Diretor e as avaliações praticadas na escola. Ed Kiron, Brasília-DF, 2012.
MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de. O Conselho de Classe e a construção do fracasso escolar. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 215-228, maio/ago. 2005. (na internet)