O PROJETO DA ESCOLA, O CURRÍCULO E A AVALIAÇÃO: DIÁLOGOS NECESSÁRIOS
(Por: Erisevelton S. Lima – Professor da SEEDF, formador da EAPE, Doutor em Educação pela Universidade de Brasília – UnB)
Em meio aos inúmeros desafios que movimentam a escola de educação básica, a construção do seu projeto político-pedagógico – PPP – representa, nesse sentido, a oportunidade de a instituição superar obstáculos e potencializar seus acertos. Este breve texto procura auxiliar, de forma prática, como a organização pode encontrar sua metodologia e viabilizar as tratativas que decorrem dessa demanda. O projeto da escola é um documento cujos rumos precisam ser definidos e acordados entre todos que a habitam.
Se existe um início, então deve haver um fim, não é? Nem sempre, o projeto da escola não termina, como também não se encerram as inúmeras questões que a invadem todos os dias. Sendo assim, o primeiro passo é sentarmos, respirarmos e entendermos que somos seres históricos e nossas ideias, como tudo que realizamos, possuem prazos de validade. Vamos contribuir com o agora, vamos deixar nossas marcas e nossos passos, eles são nossas maiores contribuições. A escola precisa lançar mão de algo que chamamos de avaliação do trabalho da escola ou avaliação institucional. O PPP precisa ser avaliado. Se não existe o documento não quer dizer que o projeto não exista, ele se faz representar por meio de todos os hábitos, culturas e formas de agir na instituição durante o ano letivo. Comecemos nos autoavaliando, refletindo sobre nossas práticas e contribuições ao longo desse processo. Em seguida, elejamos algumas categorias do trabalho pedagógico que precisam dessa reflexão. Para tanto, apresento algumas questões que podem contribuir.
Como tem ocorrido a coordenação pedagógica na escola? O que temos feito e precisa ser mantido, o que precisamos melhorar? Como tenho colaborado para melhoria desse espaço por meio do meu trabalho?
Qual a qualidade dos instrumentos, procedimentos e processos avaliativos que usamos na instituição? Temos primado pela sua qualidade? Como são elaborados? Há participação de colegas? Sou aberto a essas avaliações ou temo que avaliem meu trabalho?
De que maneira tem ocorrido a aproximação, contato e comunicação com a comunidade escolar? Quais as relações da escola com nosso público, desde a portaria da escola, passando pelo balcão da secretaria escolar até a sala da direção?
Que projetos didáticos, interventivos ou outros foram elaborados considerando uma avaliação diagnóstica séria, em todos os componentes curriculares? Esses projetos atendem às necessidades dos estudantes? Como posso auxiliar minha escola a crescer nesse campo ou área?
Sabemos que outros assuntos não foram contemplados acima, todavia eles sinalizam alguma forma de iniciarmos o debate e seus possíveis desdobramentos. A rede conta com um documento que pode nos auxiliar nesta demanda: “Orientação pedagógica. Projeto político-pedagógico e coordenação pedagógica nas escolas”, disponível no sítio da SEEDF. Ele nos reporta à importância de nomearmos uma equipe composta por diferentes segmentos para que conduzamos esse processo com representatividade; todavia, não creditemos a essas pessoas todas as responsabilidades para com esse importante trabalho.
Todo trabalho requer alguma metodologia, assim como toda ação humana é movida por alguma intencionalidade. A professora Ilma Passos Veiga diz que nem toda mudança é para transformação, há mudanças que ocorrem para manutenção de algo ou de alguma ideologia. A escola precisa refletir sobre isso, coletivamente, para que, em conjunto, possa agir por meio de estratégias bem elaboradas. Outras perguntas precisam ser respondidas.
A mudança que queremos vai ao encontro do nosso currículo, que é pautado na pedagogia histórico-crítica, na psicologia histórico-cultural e na avaliação formativa?
A escola entendeu que além do Currículo de Educação Básica ela precisa fazer o planejamento da organização ou reorganização curricular?
A escola compreende que planejar sua organização curricular implica rever as didáticas utilizadas nas salas de aula, as necessidades de aprendizagens em cada componente curricular por ano ou por série, seja ciclo, semestralidade ou seriação?
Diante do que foi exposto, imaginemos que alguns passos precisam ser tomados, iniciando pela retomada do projeto da escola, de modo a assegurar o que a instituição pensa e o que faz no nível do planejamento, do currículo e da avaliação. Os documentos oficiais da rede precisam ser considerados. Além do Currículo temos o Regimento Escolar, as Diretrizes que atendem as diversas etapas e modalidades da educação básica. Tudo isso leva em conta a função social da escola, voltada para a qualidade social do seu trabalho. O caderno Pressupostos teóricos do Currículo é de grande valia em todo o processo.
Não existem fórmulas mágicas, receitas infalíveis. Creio numa escola feita de gente com qualidades e dificuldades, pessoas com fragilidades e potencialidades, afinal somos humanos. Nossas intencionalidades é que precisam ser explicitadas com coragem e com algum fundamento. O sentimento do que é público será nossa reserva ética para as ponderações e acordos. Não deixemos de fora desse trabalho os orientadores e orientadoras educacionais, não esqueçamos que formação continuada se faz por intermédio de momentos como esses, procuremos os profissionais das equipes, coordenadores intermediários e outros agentes que podem ser parceiros nesta empreitada. No mais, retomo as palavras do nosso saudoso patrono Paulo Freire: espero enquanto busco pois seria impossível buscar sem esperança.
REFERÊNCIAS CITADAS
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – SEDF – SUBEB – Caderno Pressupostos teóricos – Currículo em Movimento – Brasília-DF, 2014.
___________________________________ SUBEB – Diretrizes de Avaliação Educacional da SEEDF – Brasília-DF, 2014.
___________________________________ – SUBEB – Diretrizes para implementação da organização escolar em ciclos (2º e 3º ciclos – dois documentos) – Brasília-DF, 2014
_____________________________________ SUPLAV – Regimento Escolar das Instituições Públicas do DF – Brasília-DF, 2015.
______________________________________ SUBEB – Orientação pedagógica. Projeto político-pedagógico e coordenação pedagógica nas escolas. Brasília-DF, 2014.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação regulatória ou emancipatória? Cadernos Cedes. Campinas, v. 23, n. 61, p. 267-281, dezembro 2003.