Obama quer deter política de testes
Publicado em 24/10/2015 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas
O FAIRTEST e a Badass Teacher Association reagiram hoje em notas onde comentam a declaração do Governo Obama a favor da diminuição dos testes usados nos Estados Unidos. No entanto, ela foi recebida com desconfiança em um clima em que Hillary Clinton está sendo alçada a candidata dos democratas para as próximas eleições. As organizações e ativistas querem medidas concretas.
Obama também às vésperas de sua primeira eleição condenou os testes, mas depois implementou o Race to the Top que só ampliou os testes, inclusive para os professores. Portanto, a declaração está sendo considerada benvinda, mas algo para se “ver para crer”. Em todo caso, a reautorização da Lei de responsabilidade educacional americana conhecida como No Child Left Behind está em curso e consiste em uma ótima oportunidade para Obama demonstrar de fato as implicações práticas desta crítica. Leia a seguir a declaração da BAT e a reação do FAIRTEST, ela são bem ilustrativas dos erros americanos, erros que estamos nos dedicando diligentemente a replicar no Brasil, apesar dos alertas.
A declaração da BAT diz:
“Hoje, a administração Obama divulgou um comunicado pedindo “um limite para a avaliação de forma que nenhuma criança gaste mais de 2 por cento do tempo de instrução em sala de aula fazendo testes. Ele pediu ao Congresso que” reduza o excesso de testes», ao re-autorizar a legislação federal que rege a escolas públicas primárias e secundárias do país. “A Associação Badass de Professores, uma organização educacional ativista, com mais de 70.000 seguidores em todo o país, está reticentemente satisfeita com este anúncio. Nossa proposta sempre foi a de se recusar a aceitar testes e avaliações criadas e impostas por entidades movidas por corporações empresariais que têm desprezo pelo ensino e aprendizagem autênticos. Os nossos objetivos foram sempre reduzir ou eliminar o uso de testes de alto impacto, aumentar a autonomia do professor na sala de aula, e incluir a voz de professores e dos pais em processos de tomada de decisões legislativas que afetam os estudantes.
Desde a Lei No Child Left Behind e o Race to the Top vimos nossos filhos e comunidades de cor suportar o peso da obsessão pelos teste que veio com a onda da Reforma Empresarial da Educação. Quando os recursos deveriam ter sido utilizados para o financiamento e o planejamento, os políticos e os formadores de opinião foram se concentrando em fazer as crianças terem mais testes na esperança de que dessa forma ocorreria a equidade na educação. Não funcionou, e não vai funcionar. Sabemos, como educadores, que não há caminho por fora da lacuna educacional e de oportunidade. A agenda de culpar e punir pelo teste não fechou nem a lacuna da educação, nem a da oportunidade. Estamos relutantemente satisfeitos que o presidente e seu governo estão finalmente tomando uma posição, mas infelizmente a devastação já foi feita. Estamos confiantes de que, se o presidente e seu governo assumirem o compromisso de trabalhar com os educadores, pais e alunos possamos corrigi-lo corretamente.
“Embora este seja um passo na direção certa sentimos que precisamos ver qual é a política antes de contar isso como uma vitória. Dadas as suas ações em Nova York, não temos nenhuma razão para confiar em John King [atual Ministro da Educação], e estamos preocupados que este seja apenas um estratagema para trazer os professores para o lado dos democratas de Hillary Clinton” – afirmou a Dra. Denisha Jones, Membro do Conselho de Administração da BAT.
“A política que decorre desta declaração tem de estar consciente das discussões importantes sobre exatamente que tipo de testes é mais benéfico para os nossos alunos. A BAT defende que os testes sejam conduzidos por professores com feedback imediato e relevante, os quais podem ser usados para orientar as práticas pedagógicas”– afirmou Melissa Tomlinson, Diretora Executiva Adjunta da BAT.
“As políticas do secretário Duncan e do Departamento de Educação causaram uma imensa quantidade de danos ao nosso sistema educacional, à moral do estudante e dos professores. Estou muito relutante em ficar feliz com este anúncio e ver de perto como o presidente pretende fazer para corrigir o dano que foi feito. Será que ele vai resistir à Reforma Empresarial da Educação? Será que ele vai parar com os testes, com a culpabilização, com o sistema que pune escolas, alunos e professores? Será que ele vai voltar a eleger a diretoria das escolas? Será que ele vai acabar com o fechamento de escolas em massa? “- afirmou Marla Kilfoyle, Diretora Executiva da BAT.
A Associação Badass de Professores gostaria de colocar a sua voz e expertise para ajudar a colocar a educação pública no caminho certo. Juntos podemos trabalhar nas soluções reais que produzirão grandes escolas para todas as crianças. Nós estaremos observando de perto como isso se desenrola.”
A organização FAIRTEST também reagiu ao anúncio:
“A declaração de fim de semana da Administração Obama propondo “menos e mais inteligentes” testes “tardiamente admite que os testes de alto impacto estão fora de controle em escolas públicas dos EUA, mas não oferece uma medida significativa para resolver esse problema que é muito real,” de acordo com o Fair & Testing.
O Director do FairTest Bob Schaeffer explicou, “O novo estudo do Council of Great City Schools ao qual Administração Obama respondeu, reforça os relatos generalizados de pais, alunos, professores e administradores da educação sobre o uso excessivo e indevido de testes padronizados. Documentar o exagero dos testes é, no entanto, apenas o primeiro passo em direção à reforma de avaliação. “
“Agora, é o momento de medidas concretas para reverter as políticas de teste contra-produtivos, e não apenas de retórica oca e mais criação de outra comissão de estudo”, continuou Schaeffer. “O Congresso e o presidente Obama devem aprovar rapidamente uma nova lei de revisão” da No Child Left Behind “que elimine testes federais e punições obrigatórias. Os responsáveis políticos estaduais e municipais devem prestar atenção à mensagem de Basta! dada por seus constituintes para reduzir significativamente o volume de exames padronizados e eliminar as consequências de alto-impacto. Isso vai ajudar a abrir caminho para a implementação de melhores formas de avaliação.”
Que tal mudarmos o rumo da proza por aqui também?… Em dia de ENEM pode-se ver facilmente o circo em que estamos nos tornando.
Enganam-se aqueles que pensam que no Brasil poderemos seguir um caminho diferente se nos basearmos nestas políticas. Elas estão amarradas ao mercado e uma vez instaladas, ninguém pode controlar o mercado de testes. Ele tem sua vida própria. Ainda podemos sair deste circuito em que entramos especialmente a partir de 2007 com a introdução da Prova Brasil censitária, optando, agora, por testes nacionais apenas amostrais.
Obama quer deter política de testes
Publicado em 24/10/2015 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas
O FAIRTEST e a Badass Teacher Association reagiram hoje em notas onde comentam a declaração do Governo Obama a favor da diminuição dos testes usados nos Estados Unidos. No entanto, ela foi recebida com desconfiança em um clima em que Hillary Clinton está sendo alçada a candidata dos democratas para as próximas eleições. As organizações e ativistas querem medidas concretas.
Obama também às vésperas de sua primeira eleição condenou os testes, mas depois implementou o Race to the Top que só ampliou os testes, inclusive para os professores. Portanto, a declaração está sendo considerada benvinda, mas algo para se “ver para crer”. Em todo caso, a reautorização da Lei de responsabilidade educacional americana conhecida como No Child Left Behind está em curso e consiste em uma ótima oportunidade para Obama demonstrar de fato as implicações práticas desta crítica. Leia a seguir a declaração da BAT e a reação do FAIRTEST, ela são bem ilustrativas dos erros americanos, erros que estamos nos dedicando diligentemente a replicar no Brasil, apesar dos alertas.
A declaração da BAT diz:
“Hoje, a administração Obama divulgou um comunicado pedindo “um limite para a avaliação de forma que nenhuma criança gaste mais de 2 por cento do tempo de instrução em sala de aula fazendo testes. Ele pediu ao Congresso que” reduza o excesso de testes», ao re-autorizar a legislação federal que rege a escolas públicas primárias e secundárias do país. “A Associação Badass de Professores, uma organização educacional ativista, com mais de 70.000 seguidores em todo o país, está reticentemente satisfeita com este anúncio. Nossa proposta sempre foi a de se recusar a aceitar testes e avaliações criadas e impostas por entidades movidas por corporações empresariais que têm desprezo pelo ensino e aprendizagem autênticos. Os nossos objetivos foram sempre reduzir ou eliminar o uso de testes de alto impacto, aumentar a autonomia do professor na sala de aula, e incluir a voz de professores e dos pais em processos de tomada de decisões legislativas que afetam os estudantes.
Desde a Lei No Child Left Behind e o Race to the Top vimos nossos filhos e comunidades de cor suportar o peso da obsessão pelos teste que veio com a onda da Reforma Empresarial da Educação. Quando os recursos deveriam ter sido utilizados para o financiamento e o planejamento, os políticos e os formadores de opinião foram se concentrando em fazer as crianças terem mais testes na esperança de que dessa forma ocorreria a equidade na educação. Não funcionou, e não vai funcionar. Sabemos, como educadores, que não há caminho por fora da lacuna educacional e de oportunidade. A agenda de culpar e punir pelo teste não fechou nem a lacuna da educação, nem a da oportunidade. Estamos relutantemente satisfeitos que o presidente e seu governo estão finalmente tomando uma posição, mas infelizmente a devastação já foi feita. Estamos confiantes de que, se o presidente e seu governo assumirem o compromisso de trabalhar com os educadores, pais e alunos possamos corrigi-lo corretamente.
“Embora este seja um passo na direção certa sentimos que precisamos ver qual é a política antes de contar isso como uma vitória. Dadas as suas ações em Nova York, não temos nenhuma razão para confiar em John King [atual Ministro da Educação], e estamos preocupados que este seja apenas um estratagema para trazer os professores para o lado dos democratas de Hillary Clinton” – afirmou a Dra. Denisha Jones, Membro do Conselho de Administração da BAT.
“A política que decorre desta declaração tem de estar consciente das discussões importantes sobre exatamente que tipo de testes é mais benéfico para os nossos alunos. A BAT defende que os testes sejam conduzidos por professores com feedback imediato e relevante, os quais podem ser usados para orientar as práticas pedagógicas”– afirmou Melissa Tomlinson, Diretora Executiva Adjunta da BAT.
“As políticas do secretário Duncan e do Departamento de Educação causaram uma imensa quantidade de danos ao nosso sistema educacional, à moral do estudante e dos professores. Estou muito relutante em ficar feliz com este anúncio e ver de perto como o presidente pretende fazer para corrigir o dano que foi feito. Será que ele vai resistir à Reforma Empresarial da Educação? Será que ele vai parar com os testes, com a culpabilização, com o sistema que pune escolas, alunos e professores? Será que ele vai voltar a eleger a diretoria das escolas? Será que ele vai acabar com o fechamento de escolas em massa? “- afirmou Marla Kilfoyle, Diretora Executiva da BAT.
A Associação Badass de Professores gostaria de colocar a sua voz e expertise para ajudar a colocar a educação pública no caminho certo. Juntos podemos trabalhar nas soluções reais que produzirão grandes escolas para todas as crianças. Nós estaremos observando de perto como isso se desenrola.”
A organização FAIRTEST também reagiu ao anúncio:
“A declaração de fim de semana da Administração Obama propondo “menos e mais inteligentes” testes “tardiamente admite que os testes de alto impacto estão fora de controle em escolas públicas dos EUA, mas não oferece uma medida significativa para resolver esse problema que é muito real,” de acordo com o Fair & Testing.
O Director do FairTest Bob Schaeffer explicou, “O novo estudo do Council of Great City Schools ao qual Administração Obama respondeu, reforça os relatos generalizados de pais, alunos, professores e administradores da educação sobre o uso excessivo e indevido de testes padronizados. Documentar o exagero dos testes é, no entanto, apenas o primeiro passo em direção à reforma de avaliação. “
“Agora, é o momento de medidas concretas para reverter as políticas de teste contra-produtivos, e não apenas de retórica oca e mais criação de outra comissão de estudo”, continuou Schaeffer. “O Congresso e o presidente Obama devem aprovar rapidamente uma nova lei de revisão” da No Child Left Behind “que elimine testes federais e punições obrigatórias. Os responsáveis políticos estaduais e municipais devem prestar atenção à mensagem de Basta! dada por seus constituintes para reduzir significativamente o volume de exames padronizados e eliminar as consequências de alto-impacto. Isso vai ajudar a abrir caminho para a implementação de melhores formas de avaliação.”
Que tal mudarmos o rumo da proza por aqui também?… Em dia de ENEM pode-se ver facilmente o circo em que estamos nos tornando.
Enganam-se aqueles que pensam que no Brasil poderemos seguir um caminho diferente se nos basearmos nestas políticas. Elas estão amarradas ao mercado e uma vez instaladas, ninguém pode controlar o mercado de testes. Ele tem sua vida própria. Ainda podemos sair deste circuito em que entramos especialmente a partir de 2007 com a introdução da Prova Brasil censitária, optando, agora, por testes nacionais apenas amostrais.