Maria Susley Pereira
A reprovação e o abandono escolar são situações com as quais a educação brasileira convive há muito tempo e estão presentes desde os primeiros anos de escolaridade dos alunos. No entanto, muito além desses dois efetivos problemas, enfrentamos um ainda mais complexo: muitos alunos seguem sua trajetória escolar com resultados inexpressivos em suas aprendizagens, resultando no que se tem chamado de “fracasso escolar”, mas que é possível ser denominado de um “fracasso da escola”, que produz a exclusão dentro dela mesma quando permite que o aluno ali permaneça sem aprender, inclusive contribuindo para o crescimento do fenômeno da defasagem série/idade.
As discussões sobre essas questões e sobre uma necessária mudança na educação giram em torno da concepção que se tem de escola e o que se pensa sobre como é possível melhorar essa situação.
Nesse sentido, com a implantação do Ensino Fundamental de nove anos, diversas redes de ensino do país têm optado pela organização da escolaridade em ciclos como alternativa para a superação da fragmentação do trabalho escolar, seja em relação ao conhecimento, ao currículo, ou ao trabalho pedagógico como um todo.
A concepção da escola organizada em ciclos se desenha na possibilidade de se substituir o fracasso pelo sucesso escolar, tendo para isso, como uma de suas estratégias, a não retenção dos alunos. Mas, evidentemente não é aceitável que os alunos apenas concluam o ciclo, é primordial que se garanta a eles o seu direito de aprender, caso contrário a não retenção pode se caracterizar como uma simples “aprovação automática”, subtraindo dos alunos conhecimentos importantes para sua vida dentro e fora da escola.
Por isso, ressignificar a avaliação como um processo integrante e decisivo na organização do trabalho pedagógico, em lugar do seu aspecto apenas quantitativo e com a mera expectativa de aprovar ou não, é um dos grandes desafios quando se pensa em uma escola organizada em ciclos.
O Distrito Federal já tem convivido com a experiência desse tipo de organização da escolaridade desde 2005 com o Bloco Inicial de Alfabetização, que compreende os três primeiros anos do ensino fundamental. Em 2013, o ciclo compreenderá da educação infantil ao ensino médio, divididos em quatro ciclos, conforme anunciado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal em seu site oficial em janeiro deste ano.
A partir desse anúncio, muitos questionamentos e informações desarticuladas propagadas pelo rádio e pela mídia impressa e digital têm evidenciado como os ciclos ainda não são compreendidos tanto pelo corpo docente como pela sociedade como um todo, o que pode ser um empecilho para o sucesso do trabalho nas escolas.
A dificuldade de entendimento e até de aceitação desse tipo de organização escolar é compreensível quando as políticas da educação são apresentadas de forma tênue e implantadas sem o efetivo “envolvimento dos diferentes atores sociais com a proposta de ciclos” (SÁ BARRETO; SOUSA, 2005, p. 683), sob o risco de que as mudanças necessárias fiquem mais no âmbito dos discursos e dos documentos orientadores do que na prática pedagógica ou nos tempos das aprendizagens.
Implementar uma escola em ciclos exige cuidado, porque é uma longa e árdua caminhada, que vai desde a participação de todos os envolvidos no processo, passando pelas condições adequadas para o seu pleno desenvolvimento até a formação inicial e continuada dos professores, considerando especialmente que os ciclos “demandam mudanças na concepção de conhecimento e de aprendizagem, na ocupação do espaço e do tempo escolar” (Ibidem., p.660).
Contudo, o Distrito Federal dispõe de situações muito favoráveis ao sucesso dessa proposta, como por exemplo no que se refere ao reordenamento dos tempos e dos espaços escolares, pois o trabalho desenvolvido no Bloco Inicial de Alfabetização, desde sua implementação, é pautado em estratégias pedagógicas que contribuem para esse reordenamento, flexibilizando-os e tornando-os mais producentes para as aprendizagens de todos os alunos: os reagrupamentos e o desenvolvimento de projetos interventivos.
Além disso, a jornada ampliada de trabalho dos professores é também um fator positivo para uma escola em ciclo, considerando a possibilidade efetiva de estudo permanente dentro da própria escola, de atendimento individualizado ao aluno, quando necessário.
Ainda é possível apontar outra questão na qual o DF tem buscado se empenhar e que pode ser muito oportuna para a implantação e sucesso dos ciclos, que é a escola integral. O objetivo central desta proposta no DF é “promover uma Educação Integral que compreenda a ampliação de tempos, espaços e oportunidades educacionais, por meio da realização de atividades que possam favorecer a aprendizagem, com vistas à formação integral do educando.” (SEEI, 2009, p. 31), o que se mostra como um caminho promissor para o desenvolvimento daquilo que se espera com a implantação dos ciclos.
Vemos que as mudanças vindouras são necessárias e certamente possíveis e que sua afirmação, com um currículo bem fundamentado e estruturado, preocupado com as aprendizagens de todos os alunos, exigirá muito empenho e força para os desafios que porventura surgirão.
REFERÊNCIAS
SÁ BARRETTO, E. S. de; SOUSA, S. Z. Reflexões sobre as políticas de ciclos no Brasil. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, set./dez. 2005. p. 659-668.
SEEI – SECRETARIA EXTRAORDINÁRIA PARA A EDUCAÇÃO INTEGRAL. Diretrizes para a Educação Integral no DF. Brasília: 2009. Disponível em: http://www.integralsedf.com/p/documentos – Acesso em: 21/01/2013.
Olá,
Participei da aula no centro de convenções, mas ainda paira uma dúvida: A retenção do aluno ocorrerá apenas no 5º ano ou também no 3º ano do ensino fundamental?
Obrigada.
Olá, Alessandra. Até agora, segundo as Diretrizes Pedagógicas do Bloco Inicial de Alfabetização – BIA, a retenção ocorre ao final do 3º ano. Quanto ao 5º ano, aguarde o documento que a SEDF irá enviar a vocês.
Abraços,
Benigna
Participei de uma reunião na escola da minha filha e fiquei muito frustrada com os argumentos colocados pelo diretor para justificar seu desanimo com relação a implementação desse ciclo. Foi alegado que tal método nao seria possível naquele colégio pela falta de espaço físico e de professor e que inclusive seria um absurdo manter alunos integralmente no colégio que os professores não eram “babás” para ficarem com alunos ali integralmente, que a escola viraria uma creche. Fiquei muito triste com tudo que ouvi, pois achei muito pessimista aquelas colocações, inclusive tendo apoio dos pais. Os professores só pensaram no trabalho a mais que teriam. Eu até argumentei que só viraria “creche” se nao houvesse uma efetivação do ensino. E desistirmos de um método de ensino que teria como benefício o ensino integral, por alegações de falta de condição seria um absurdo. Temos eh que aceitar tal método e depois “brigar” por condições, ou pelo menos ( para pouparmos nossos filhos da falta de estrutura) solicitarmos que se providenciem condições para apoiarmos tal projeto.
Adriana, reúna-se com outros pais e mães e lutem para ter uma escola mais atualizada e que ofereça o ensino que os filhos de vocês merecem. Não se acomodem. A escola pública tem de ser a melhor. Não existem desculpas para que não seja assim. Diretores e professores não podem ser acomodados e submissos.