Primeiro dia de aula: iniciando o ciclo da avaliação formativa

 

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Publicado em

benignavillasboas.com.br

gepa-avaliacaoeducacional.com.br

A avaliação costuma ser o componente do trabalho pedagógico que mais amedronta estudantes de todos os níveis: ensino fundamental, médio, universitário, mestrado e doutorado, em todos os tempos. Antes de prosseguirmos, relembremos como se constituiu o processo avaliativo nas escolas brasileiras.

Luckesi (2021) afirma que, “no que se refere à educação escolar, historicamente somos herdeiros diretos do século XVI, momento em que se estruturou, se organizou e se colocou em funcionamento o modelo de escola que conhecemos hoje” (p. 41).  

Dois fatos históricos influenciaram e ainda influenciam o trabalho pedagógico e, de modo especial, o processo avaliativo em nossas escolas, de todos os níveis: as prescrições da Ratio Studiorum e da obra Leis para a boa ordenação da escola, de autoria de Comênio.

Em 1599 foi publicada a Ratio Studiorum, documento elaborado pela Companhia de Jesus, ordem religiosa dos padres jesuítas, contendo o ordenamento pedagógico e administrativo dos seus estabelecimentos de ensino.

Segundo a Ratio Studiorum, os professores eram os responsáveis diretos pelo ensino e pela formação religiosa e moral dos estudantes. Para auxiliá-los em sua atividade docente e disciplinar, “eram nomeados estudantes, considerados os ‘melhores’, entre seus pares, recebendo a denominação de Bedéis” (Luckesi, p. 51). Assim teve início a classificação dos estudantes, ainda presente em muitas de nossas escolas.

Ao lado disso, os jesuítas instituíram a “pauta do professor”, caderneta em que se registravam os “resultados individuais obtidos por cada estudante nas diversas atividades de ensino durante o ano letivo” (p. 75). Luckesi comenta que esta pauta, que registrava os atos avaliativos e o uso dos seus resultados,  cumpria um fim diagnóstico dos resultados da investigação avaliativa “para, de um lado, garantir a aprendizagem satisfatória dos estudantes e, de outro, subsidiar os procedimentos de sua promoção de uma classe a outra” (p. 75).

Em 1657 Comênio publicou a obra Leis para a boa ordenação da escola, em que propõe os exames escolares como recursos de ensino-aprendizagem, da seguinte forma:

Exames realizados a cada hora de aula, sob a responsabilidade do professor, para manterem os estudantes sempre atentos.

Exames diários, de responsabilidade do decurião, que era o estudante mais avançado e que deveria cuidar dos seus pares.

Exames semanais, de responsabilidade de todos os estudantes, sendo realizados no último dia útil da semana, sob a forma de competição entre todos; o estudante vencedor deveria ocupar o lugar de ‘vencedor’ e o perdedor deveria ser rebaixado;

Exames mensais, sob o comando do Reitor da escola, acompanhado do Pastor local e de um membro do Conselho Administrativo da escola, para, mediante exame rigoroso, inspecionar, por meio da verificação da aprendizagem dos estudantes, se os programas de ensino estavam sendo realizados a contento;

Exames trimestrais, realizados por dois membros do Conselho Administrativo da escola e pelo Reitor, para identificar os estudantes com melhor desempenho em suas aprendizagens e os mais brilhantes. O professor da turma estaria ausente.

Exames anuais, realizados ao final do ano letivo, sob a responsabilidade do Colegiado Pleno do Conselho Administrativo, para verificar se o Programa de Ensino Anual fora cumprido.  (LUCKESI, 2021, p. 133-134).

Os professores se incumbiam apenas dos Exames realizados a cada hora de aula, tarefa que poderia ser considerada de menor importância do que as demais. Esses exames pareciam servir apenas para manter os estudantes atentos e não, primordialmente, para oferecer informações sobre o que e como estavam aprendendo. Manter os estudantes atentos poderia significar ficarem quietos.

Observa-se a presença marcante da competição, sob a forma de classificação dos estudantes, para destacar “o mais avançado”, o “vencedor” e “os mais brilhantes”. Ainda hoje encontramos tais iniciativas em muitas escolas brasileiras.  

A avaliação das aprendizagens/para as aprendizagens praticada atualmente nas escolas brasileiras não corresponde à proposta por Comênio, autor do Livro Didática Magna, usado em cursos de formação de professores por algum tempo. Contudo, estudantes eleitos como “destaques”, premiação daqueles mais “brilhantes” e outras formas de competição têm sido adotadas, inviabilizando a prática da avaliação formativa. Além disso, ainda enfrentamos dificuldades, tais como: provas como o único procedimento de avaliação e somente para atribuição de notas; semana de provas, para facilitar o trabalho dos professores; ausência de participação dos estudantes na organização do processo avaliativo; ausência de oferecimento de feedback aos estudantes e da autoavaliação, além da falta de cuidado quanto ao uso da avaliação informal em sala de aula e em toda a escola.

Reorganizar o trabalho pedagógico do ano que se inicia ou, em outras palavras, reconstruir a proposta pedagógica da escola, ou o seu projeto político-pedagógico, requer eleger a avaliação como ponto de partida. Várias podem ser as discussões sobre este tema. Delimito-o ao que o título deste texto sugere: primeiro dia de aula – iniciando o ciclo da avaliação formativa.

Em qualquer nível de ensino, os primeiros encontros são impregnados de avaliação, propositalmente ou não. Refiro-me ao processo de avaliação, em sentido amplo, por meio do qual professor/a e estudantes interagem, possibilitando que ambos conheçam as aprendizagens conquistadas, em busca das que estão por vir.

Na escola todos avaliam e todos são avaliados. Vale o velho ditado: as primeiras impressões são as que permanecem. Por isso, é importante que, no primeiro encontro do ano, professores e estudantes se conheçam, para criação de ambiente confortável, acolhedor e propício às aprendizagens. Por meio de conversa tranquila, a avaliação diagnóstica tem início. Para isso, informalmente, o professor conduz a conversa, utilizando perguntas previamente organizadas. Essa avaliação pode ser no grande ou em pequenos grupos e devidamente registrada.  

Costumeiramente, os estudantes tentam encaminhar a conversa para provas, notas, trabalhos e prazos de entrega. Usar todo o tempo da primeira aula do ano para estes aspectos mais burocráticos desvia o foco da avaliação formativa. Será mais adequada uma explanação sobre o processo avaliativo do semestre, com ênfase nas aprendizagens e no progresso de todos. Habilidosamente o/a professor/a seguirá este rumo, dizendo que essas questões serão discutidas mais adiante e que eles participarão apresentando sugestões. O objetivo do primeiro contato estudantes/professor/a é a organização conjunta do trabalho pedagógico, incluído o processo de avaliação. Poderá ser desenvolvida sistemática de trabalho condizente com cada turma de estudantes.  

Alguém poderá argumentar: isso é perda de tempo. É melhor encurtar a conversa e começar a trabalhar logo. Este é o início das atividades, com a presença da avaliação diagnóstica, adaptada a cada situação/curso/disciplina. Importante salientar que esta função avaliativa, quando assim desenvolvida, é aliada da formativa, isto é, a ela se articula.  

Como meio de os professores impulsionarem as aprendizagens de seus estudantes desde os primeiros dias de aula, quando se estabelece a confiança entre ambas as partes, proponho que iniciem o desenvolvimento do que Brookhart (2023) denomina de ciclo da avaliação formativa, constituído por três questões a serem respondidas por cada estudante: onde estou indo? Onde estou agora? O que fazer em seguida? Segundo a autora, cada uma delas assim se estrutura:  

A questão “onde estou indo?” se desdobra nas seguintes: “o que estou tentando aprender? Quais meios garantirão minhas aprendizagens?”

A questão: “onde estou agora?” se desdobra nas seguintes: “como meu trabalho se encontra em relação aos meios que me permitirão obter sucesso?” “Qual compreensão posso construir?”

A questão: “O que fazer em seguida?” se desdobra nas seguintes: “quais os próximos passos para o alcance das aprendizagens? Como preencher a lacuna entre o não aprendido e o aprendido?” (p. 6)

A autora faz um alerta importante: “O ciclo da avaliação formativa funciona melhor no contexto da sala de aula em que os estudantes se sentem seguros para expressar suas ideias e em que seus enganos são vistos como oportunidades de aprendizagem” (p. 7). Este ambiente seguro é construído desde o primeiro dia de aula. Como nossos estudantes e suas famílias estão acostumados ao processo avaliativo em que notas, provas e classificação têm assumido lugar central, a adoção do ciclo da avaliação formativa, proposto por Brookhart (2023), poderá, desde o primeiro dia de aula, ser de grande valia, desde que adaptado a cada contexto escolar. Cabe ressaltar que a autoavaliação pelos estudantes cumprirá papel importante nesse processo. O/a professo/a cuidadoso/a, por ser pesquisador/a da sua prática, saberá encaminhar esse processo.  

  A dinâmica deste ciclo se repete ao longo do ano letivo, atrelando os objetivos de aprendizagem à avaliação.  

As contribuições da autora vêm ao encontro da proposta deste texto, no sentido de o processo avaliativo assumir protagonismo desde o primeiro dia de aula, alavancando discussões, reflexões e proposições para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, envolvendo os estudantes na sua constituição.       

Referências

BROOKHART, Susan. Classroom assessment: essentials. ASCD, Arlington, Virginia, USA, 2023.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem: passado, presente e futuro. SP: Cortez, 2021.

Gestão Tarcísio de Freitas vai avaliar diretores de escolas, e nota ruim pode levar à perda de cargo

 

JC Notícias – 23/01/2024

Desempenho será medido com base na frequência de alunos, participação em avaliações e uso de plataformas digitais; objetivo é aprimorar supervisão da rede, diz governo paulista

O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai avaliar o desempenho dos diretores das escolas estaduais de São Paulo. Profissionais que não alcançarem um patamar considerado satisfatório poderão ser penalizados com a perda do cargo e até mesmo remoção para outra unidade.

Uma resolução com as regras sobre a avaliação foi publicada no Diário Oficial nesta segunda-feira (22) e passará a valer já neste ano letivo. Segundo o texto, a política atende aos “princípios da meritocracia e da busca contínua pela excelência no campo educacional”.

A avaliação dos diretores será feita com base em quatro indicadores: frequência dos estudantes da unidade, participação nas avaliações bimestrais, uso de plataformas digitais e índice de vulnerabilidade da escola.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

O Grupo Folha não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra. No entanto, é possível fazer um cadastro rápido que dá direito a um determinado número de acessos.

Cultura do ‘melhor aluno’ prejudica maioria dos estudantes no Brasil?

 

JC Nitícias – 20/12/2023

Fraco desempenho do Brasil em exames internacionais alimenta debate sobre tratamento desigual recebido por alunos nas escolas

A educação no Brasil não é pensada para garantir o sucesso de todos os alunos, mas para privilegiar os que são considerados os “melhores” estudantes.

Essa é a conclusão do pedagogo Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave).

Ele chama essa postura de “pensamento olímpico”, porque certos alunos seriam educados para serem os “campeões” — como se a educação fosse uma Olimpíada — enquanto as necessidades da maioria dos alunos seriam deixadas de lado.

Como consequência, diz Alavarse, os “melhores alunos” recebem mais atenção, incentivo e elogios para potencializar seu desenvolvimento, enquanto alunos com mais dificuldades são deixados para trás.

Veja o texto na íntegra: BBC Brasil

Meninas melhores em leitura, e meninos em Matemática; entenda desigualdade apontada no Pisa 2022

 

JC Notícias – 06/12/2023

Relatório da OCDE destaca que diferenças de gênero não são explicadas por ‘capacidade inata’, mas por contextos sociais e culturais

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) de 2022 divulgados na última terça-feira continuam a indicar uma tendência já observada nos exames aplicados anteriormente: as diferenças nas performances de meninas e meninos na faixa dos 15 anos de idade no Brasil e em outros países, a depender da disciplina analisada. De um lado, elas vão melhor em Leitura. Do outro, eles estão à frente em Matemática.

No caso do Brasil, os meninos têm oito pontos de vantagem em relação às meninas, se avaliadas as competências em Matemática. O mesmo cenário é observado em 40 países, com destaque para Itália, Austrália, Chile e Peru, onde a discrepância supera os 15 pontos. Em 17 nações e economias, os indicadores do exame apontam para o oposto: meninas vão melhor que meninos em Matemática, entre elas Autoridade Palestina e Albânia. Em outros 24 países, não há diferença significativa entre os gêneros.

Além disso, 71% dos meninos brasileiros não conseguiram atingir o que a OCDE considera como patamar mínimo de aprendizagem em Matemática para a idade. Entre as meninas, o percentual chega a 76%. A organização avalia como patamar mínimo conseguir interpretar e reconhecer, sem instruções diretas, como uma situação simples pode ser representada matematicamente (por exemplo, comparando a distância total entre duas rotas alternativas ou convertendo preços numa moeda diferente).

Veja o texto na íntegra: O Globo

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Meninas melhores em leitura, e meninos em Matemática; entenda desigualdade apontada no Pisa 2022

 

JC Notícias – 06/12/2023

Relatório da OCDE destaca que diferenças de gênero não são explicadas por ‘capacidade inata’, mas por contextos sociais e culturais

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) de 2022 divulgados na última terça-feira continuam a indicar uma tendência já observada nos exames aplicados anteriormente: as diferenças nas performances de meninas e meninos na faixa dos 15 anos de idade no Brasil e em outros países, a depender da disciplina analisada. De um lado, elas vão melhor em Leitura. Do outro, eles estão à frente em Matemática.

No caso do Brasil, os meninos têm oito pontos de vantagem em relação às meninas, se avaliadas as competências em Matemática. O mesmo cenário é observado em 40 países, com destaque para Itália, Austrália, Chile e Peru, onde a discrepância supera os 15 pontos. Em 17 nações e economias, os indicadores do exame apontam para o oposto: meninas vão melhor que meninos em Matemática, entre elas Autoridade Palestina e Albânia. Em outros 24 países, não há diferença significativa entre os gêneros.

Além disso, 71% dos meninos brasileiros não conseguiram atingir o que a OCDE considera como patamar mínimo de aprendizagem em Matemática para a idade. Entre as meninas, o percentual chega a 76%. A organização avalia como patamar mínimo conseguir interpretar e reconhecer, sem instruções diretas, como uma situação simples pode ser representada matematicamente (por exemplo, comparando a distância total entre duas rotas alternativas ou convertendo preços numa moeda diferente).

Veja o texto na íntegra: O Globo

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Especialistas debatem futuro da avaliação da educação básica

 

JC Notícias – 30/11/2023

Seminário internacional amplia discussão sobre rumos das avaliações educacionais no Brasil. Evento segue nesta quinta (30), transmitido pelo canal do Inep no YouTube

Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) deram continuidade, nesta quarta-feira, 29 de novembro, ao Seminário Internacional de Avaliação da Educação Básica. O segundo dia de evento foi marcado por debates sobre as inovações a serem feitas quando o assunto é avaliação educacional no Brasil. Especialistas e atores relevantes do setor analisaram os desafios e propuseram aprimoramentos, a partir de referências nacionais e internacionais.

A secretária-executiva do MEC, Izolda Cela, participou da mesa “Avaliação da Educação Básica: passado, presente e futuro”. Ao abordar o tema “A avaliação da educação básica em articulação com as redes e os sistemas estaduais”, ela compartilhou experiências vividas quando esteve à frente das Secretarias Municipal e Estadual de Educação no Ceará. Cela reforçou que “a avaliação, seja ela feita pela própria rede ou em âmbito nacional, abre perspectivas para que possamos olhar o desempenho e a evolução do sistema, além de conhecer e aprender com as boas práticas”.

A secretária-executiva detalhou, ainda, que o esforço do MEC é melhorar a qualidade das avaliações sob uma perspectiva de equidade. Ela destacou que é preciso “enxergar” os grupos que estão com os piores resultados, e não apenas observar se há um crescimento na nota média dos avaliados. Para ela, um dos grandes obstáculos é o refinamento dos processos avaliativos: “Uma questão que é muito desafiadora é saber como refinar os processos de avaliação para conseguirmos captar competências mais complexas e muito desejadas. Isso é muito importante para que possamos verificar se os objetivos fundamentais da educação básica estão, de fato, sendo entregues à sociedade”.

Manuel Palacios, presidente do Inep, falou sobre as perspectivas para a avaliação da educação básica, principalmente no que tange às atribuições do Instituto. Ele destacou algumas das iniciativas recentes, como a pesquisa Alfabetiza Brasil, por meio da qual o MEC e o Inep consultaram professoras alfabetizadoras e especialistas para definirem o conjunto de habilidades que devem caracterizar o perfil de aprendizagem da leitura e da escrita esperado ao fim do 2º ano do ensino fundamental.

  • A partir dos resultados da pesquisa (um dos alicerces do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada), esse perfil foi interpretado considerando a escala de proficiência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
  • Na esteira dessa iniciativa, o Inep começou os esforços para a integração entre o Saeb e as avaliações da alfabetização conduzidas pelas unidades da Federação. Há um acordo de cooperação técnica firmado entre o Instituto e as secretarias estaduais e municipais de educação. “Acreditamos que essa experiência abre um espaço muito significativo para a colaboração entre estados e União na produção de medidas de desempenho, por meio de instrumentos construídos a partir de referências técnicas compartilhadas”, afirmou Palacios. Segundo ele, “a perspectiva é avançar nessa colaboração técnica para criar condições de monitoramento da qualidade do trabalho desenvolvido pelos sistemas estaduais e fortalecer as equipes que atuam na avaliação”.
  • Para além da alfabetização, o presidente do Inep falou sobre propostas de inovações no que diz respeito às avaliações dos ensinos fundamental e médio. Entre os aprimoramentos a serem pautados nas discussões, estão:
  • Pesquisas de padrões desejáveis de desempenho;
  • Inovação nos modelos de testes e de itens;
  • Aprimoramento das matrizes de avaliação em alinhamento à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Para Luiz Roberto Curi, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), “é importante ter a perspectiva de que as avaliações do ensino médio, da educação infantil, da pré-escola, da primeira infância e da alfabetização sejam integradas às avaliações da educação superior e da pós-graduação”. Acrescentou que o intuito é ter “um modelo que aproxime a formação dos seus impactos em todos os níveis”.

Seminário – Até a próxima quinta-feira (30), autoridades e especialistas no debate sobre avaliação educacional discutem temas e experiências internacionais sobre modelos de itens, tipos de testes e oportunidades de atualização, que poderão orientar inovações nas avaliações em larga escala no Brasil. O objetivo é instalar o debate em torno do assunto, além de gerar reflexão qualificada e interlocução para aprimoramentos futuros.

O Seminário conta com uma página que reúne as principais informações e a programação na íntegra. Ele tem o apoio da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI); do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed); e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

*Evento para convidados, com transmissão aberta ao público nos canais do MEC e do Inep no YouTube.

MEC

Texto mais longo lido por 66% dos alunos brasileiros não passa de 10 páginas; no Chile, normal é mais de 100

 

Divulgado nesta quarta (29), estudo examinou microdados do Pisa 2018 — exame internacional feito por jovens de 15 e 16 anos. Análise é uma parceria entre o Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e a plataforma de leitura gamificada Árvore.

Educação

Por g1

29/11/2023   

Texto mais longo lido por 66% dos alunos brasileiros não passa de 10 páginas; no Chile, normal é mais de 100

Divulgado nesta quarta (29), estudo examinou microdados do Pisa 2018 — exame internacional feito por jovens de 15 e 16 anos. Análise é uma parceria entre o Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e a plataforma de leitura gamificada Árvore.

Qual foi o texto ou livro mais longo que você leu durante o ano? Para 66,3% dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos, o mais extenso não passou de 10 páginas. A constatação está em uma análise dos microdados do exame internacional Pisa 2018 divulgada nesta quarta-feira (29) pelo Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), em parceria com a plataforma de leitura gamificada Árvore.

O estudo estabelece uma associação entre os baixos índices de leitura e uma queda no desempenho dos jovens em disciplinas como matemática e ciências.

“Quando a gente pensa no sistema educacional, nos materiais didáticos, nas avaliações, a gente não cria essa cultura de ler textos longos [no Brasil]”, afirma Ernesto Martins Faria, diretor-executivo do Iede.

O especialista traça uma comparação entre os exames nacionais e internacionais de leitura. “No Saeb [prova brasileira de português e matemática], são só fragmentos de textos. Por isso que o Brasil teve tanta dificuldade no Pirls [avaliação internacional para alunos de 4º ano do ensino fundamental], no qual a estrutura são textos de 4 ou 5 páginas e uma bateria de questões. Alunos brasileiros nessa faixa etária, mesmo os mais velhos, não estão acostumados. Precisamos criar o gosto pela leitura desde cedo”, afirma.

Veja os principais destaques da análise:

📖Só 9,5% dos estudantes brasileiros de 15 e 16 anos chegaram a ler algum material com mais de 100 páginas em 2018 – índice muito inferior ao de outros países da América Latina, como Chile (64%), Argentina (25,4%) e Colômbia (25,8%). Em exemplos de nações reconhecidamente bem-sucedidas na educação, como na Finlândia, o patamar chega a 72,8%.

✏️Entre os alunos que leram textos de no máximo uma página, só 6% atingiram o patamar 3 na média geral do Pisa (o máximo é 6), que avalia leitura, matemática e ciências. Já entre os que leram mais de 100 páginas, o índice foi bem mais alto: de 33%.

Apesar desses números negativos, as respostas ao questionário do Pisa mostram que os jovens do Brasil veem a leitura de forma positiva: tanto na rede pública quanto na privada, mais de 40% dos alunos afirmam que gostam de falar sobre livros (média superior à registrada pelos países da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Por que os jovens estão lendo pouco?

Há as seguintes hipóteses para explicar por que os jovens estão lendo tão pouco no Brasil:

  • baixo estímulo (seja em casa ou na escola) à leitura;
  • dificuldades cognitivas e déficits de aprendizagem – no Pisa 2018, 44,9% dos participantes disseram que precisam ler muitas vezes o mesmo texto para compreendê-lo;
  • número insuficiente de bibliotecas públicas, nas ruas ou nos colégiosprincipalmente da rede pública.

Brasil perdeu quase 800 bibliotecas públicas em 5 anos

Quais os benefícios da leitura?

Segundo estudos prévios citados pelo Iede, o hábito de ler ajuda o aluno a:

  • ampliar o vocabulário e expandir a visão de mundo;
  • melhorar o desempenho na escrita;
  • conquistar fluência verbal e cultura geral;
  • compreender informações apresentadas sob diferentes formatos;
  • desenvolver a cidadania e conhecer os próprios direitos.

Cadernos CEDES: Qualidade Social e Avaliação

 

Publicado em 28/11/2023 por Luiz Carlos de Freitas

Cadernos CEDES Vol. 43 (121) de 2023 traz uma nova coletânea de artigos sobre Qualidade Social e Avaliação.

Sumário

  • QUALIDADE SOCIAL E AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: PROCESSOS DE (DES) HUMANIZAÇÃO Apresentação

Bertagna, Regiane Helena; Pereira, Maria Simone Ferraz  PDF: PT

  • O DEBATE EM TORNO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: INTERESSES EM DISPUTA Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Flach, Simone de Fátima PDF: PT

  • PREMISSAS EPISTEMOLÓGICAS DA QUALIDADE EDUCACIONAL: PERCEPÇÕES DE ORGANIZAÇÕES MULTILATERAIS Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Schneider, Marilda Pasqual; Rostirola, Camila Regina  PDF: PT

  • UMA QUALIDADE PARA A ESCOLA PÚBLICA: ENTRE O SOCIALMENTE REFERENCIADO E A LÓGICA DA REGULAÇÃO POR RESULTADOS Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Nardi, Elton Luiz   PDF: PT

  • AS POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO E A QUALIDADE EDUCACIONAL NO BRASIL SOB A PERSPECTIVA DE LUIZ CARLOS DE FREITAS Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Garcia, Luciane Terra dos Santos; Algebaile, Eveline Bertino; Morais, Arécia Susã   PDF: PT

  • ACCOUNTABILITY E AVALIAÇÃO DE SISTEMA DO BRASIL E DO URUGUAI: EM DEFESA DA QUALIDADE SOCIAL DA EDUCAÇÃO Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Mello, Liliane Ribeiro de; Bertagna, Regiane Helena; Mancebo, María Ester  PDF: PT

  • AVALIAÇÃO EDUCACIONAL E QUALIDADE SOCIAL NAS EXPERIÊNCIAS DO BRASIL E VENEZUELA Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Pereira, Maria Simone Ferraz; Silva, Marcelo Soares Pereira da; Rivas, Samir José; Santos, Laís Alice Oliveira  PDF: PT

  • AVALIAÇÃO EXTERNA E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: EMBATES E DIÁLOGOS PARA CONSTRUÇÃO DA QUALIDADE SOCIAL Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Sordi, Mara Regina Lemes de; Oliveira, Sara Badra de; Almeida, Luana Costa PDF: PT

  • PROCESSOS DE (DE)FORMAÇÃO DE PROFESSORES: (DES)CARACTERIZAÇÃO, (DES)PROFISSIONALIZAÇÃO, (DES)HUMANIZAÇÃO Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Lino, Lucília Augusta; Arruda, Maria da Conceição Calmon  PDF: PT

  • EDUCAÇÃO INFANTIL E AVALIAÇÃO: COMPROMISSO COM A QUALIDADE SOCIAL Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Louzada, Virgínia; Albuquerque, Liliane; Amancio, Cristiane  PDF: PT

  • IMAGENS ORGANIZACIONAIS DE ESCOLA E QUALIDADE(S) EM EDUCAÇÃO Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

Sá, Virgínio  PDF: PT

  • QUALIDADE DA EDUCAÇÃO E AVALIAÇÃO: DIMENSÕES, TENSÕES E PERSPECTIVAS Artigos | Qualidade Social E Avaliação Educacional: Processos De (Des) Humanização

“Rigidez na escola não dá conta de relações complexas”

 

JC Notícias – 27/11/2023

Violência em espaços educacionais cresce pós-pandemia. Doutora em educação, Telma Vinha fala ao ‘Nexo’ sobre como o problema atinge o Brasil de forma mais acentuada

Dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) mostram que a relação entre alunos e professores nas escolas brasileiras é hostil, que há uma incidência alta de bullying e que o absenteísmo alto explicita o desinteresse dos adolescentes na escola.

29% dos alunos brasileiros disseram ser vítimas de bullying algumas vezes por mês. A média dos países da OCDE é 23%

O Brasil também vive a partir de 2021 um fenômeno crescente de ataques violentos às escolas, que no passado parecia algo mais restrito a países como os Estados Unidos.

No intervalo de pouco mais de um ano, entre fevereiro de 2022 e outubro de 2023, o Brasil concentrou mais de 50% de ataques desta natureza realizados em pouco mais de 20 anos.

“Há um ecossistema de violência que foi muito alimentado nos últimos anos, de que existem inimigos imaginários, com lideranças que instigam conflitos e estimulam ódio contra alguns grupos. Para algumas pessoas, assim como os autores dos ataques, isso é entendido como uma autorização para agir. É a violência sendo permitida em nome de causas e lutas”, afirma a doutora em educação Telma Vinha.

Veja o texto na íntegra: Nexo

O Nexo não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra. No entanto, é possível fazer um cadastro rápido que dá direito a um determinado número de acessos.

Como a avaliação escolar pode fomentar uma educação antirracista?

 

Helder Gomes Rodrigues

A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

Nesse dia 20 de novembro em que refletimos sobre os processos históricos e sociais que envolvem o racismo em nosso país, começamos este texto com os versos de Conceição Evaristo que revelam uma realidade de discriminação, submissão e segregação. Eles denunciam um passado de escravidão, de exclusão e falta de oportunidades, deixam claro ainda uma triste realidade que ainda nos rodeia: o racismo camuflado e entranhado em nossa sociedade.

Nesse contexto, em que o racismo estrutural se apresenta vivo e atuante, faz-se necessário pensar sobre a escola e suas práticas e como elas podem ser significativas para romper ou atenuar preconceitos e discriminações.

Dentre as práticas escolares, a avaliação é, por excelência, o componente da organização do trabalho pedagógico que apresenta um alto  poder de inclusão ou exclusão.

 A avaliação formativa pode ter grande potencial na construção de uma cultura escolar antirracista na busca pela superação do racismo estrutural instaurado na sociedade. É fato que o acesso à educação pela população negra aumentou nos últimos anos, o que é um grande avanço, mas precisamos pensar também na permanência e se as práticas educacionais dentro dos ambientes escolares são inclusivas e propiciam a permanência dos estudantes

Avaliar precisa ser um ato amoroso ( Luckesi, 1995 ) ou seja, uma ação de acolhimento, acompanhamento e de assessoria irrestrita por parte dos professores a todos os estudantes. Precisa ser uma avaliação que tem como referência o próprio estudante, suas conquistas e avanços, uma vez que a comparação de um estudante com o outro não é benéfica nem do ponto de vista para a construção das aprendizagens, muito menos no aspecto social.

A avaliação formativa é mais que uma função da avaliação, ela é uma concepção e portanto um posicionamento político no qual incluir é a palavra chave e não há como incluir sem combater qualquer forma de discriminação, desigualdade e injustiça social. Avaliar nessa perspectiva é avaliar para a emancipação e compreensão da realidade e dos problemas sociais que nos rodeiam. A avaliação formativa tem portanto, compromisso em olhar para as raízes das desigualdades raciais e superá-las.

Avaliar para as aprendizagens é pensar em todos, em condições iguais, é encarar que as diferenças humanas nos enriquecem enquanto humanos e não podem ser usadas para nos separar ou para que ninguém se sinta superior ou inferior pelo simples fato de ser quem é. Nesse sentido, a avaliação formativa pode se valer das avaliações informais sempre para beneficiar os envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem e nunca para rotular, massacrar ou excluir, seja pela cor da pele ou qualquer outra diferença ou pluralismo consubstancial à natureza humana. A avaliação não pode distanciar-se de sua função de melhoria qualitativa do trabalho escolar, pois do contrário constitui-se meio de legitimação da desigualdade e incentivo à meritocracia.

Ao situarmos a avaliação em um contexto histórico e social é clara a intenção de que se busca uma avaliação que almeja contribuir, por meio de suas práticas inclusivas, para uma sociedade mais igualitária, que almeja superar e reparar as exclusões que há anos vêm sendo praticadas e normalizadas. Freitas (2002) assevera que a batalha pela educação e pela equidade não é uma tarefa fácil e não pode ser consequentemente travada sem o apoio de amplos movimentos sociais emancipatórios que questionem radicalmente as bases das relações de exploração vigentes.

É na vivência da prática includente da avaliação, da essência da avaliação formativa, em que as pessoas se sentem acolhidas, que se espera a formação de cidadãos que irão acolher sem discriminação e que não aceitarão os subterfúgios que a sociedade, de maneira estrutural e sistemática, utiliza para excluir, marginalizar e discriminar as pessoas.

Nessa semana em que se celebra o dia da consciência negra, mais que nunca anelamos que o racismo se torne passado e que a avaliação formativa, e consequentemente, a educação escolar sejam inclusivas e antirracistas e que estejam vivas no presente e no futuro.

EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. 3. ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017, p. 24-25)

FREITAS, Luiz Carlos de. A internalização da exclusão. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 80, p. 299-325, sept. 2002. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302002008000015

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1995.