PERNAMBUCO: ATRASO PEDAGÓGICO INÉDITO

Pernambuco: atraso pedagógico inédito

Publicado em 23/08/2015 por Luiz Carlos de Freitas no blog do Freitas

É surpreendente que um dos Estados destacados do nordeste (que nos brindou com um dos mestres mais respeitados mundialmente, Paulo Freire) esteja sendo vítima de um grave atraso pedagógico que marcará gerações de professores e estudantes. O site da Secretaria da Educação do Estado de Pernambuco divulgou um novo sistema de controle da atividade didática do professor e de registro de frequência dos alunos. Trata-se da recriação de procedimentos de controle que já se julgavam superados desde que o tecnicismo pedagógico perdeu força ainda nos anos 70. Chamam-no de “Sistema de Fortalecimento das Aprendizagens”:

“A ação de Fortalecimento das Aprendizagens tem como principal objetivo apoiar os estudantes do ensino fundamental, anos finais, e do ensino médio da Rede a fim de que os mesmos melhorem seu desempenho escolar e superem as principais dificuldades referentes à aprendizagem em Língua Portuguesa e Matemática.

Cabe, portanto, ao professor do Fortalecimento das Aprendizagens identificar as principais dificuldades da sua turma, analisar os resultados do desempenho com o objetivo de promover intervenções pedagógicas adequadas, além de articular as atividades desenvolvidas nas aulas aos conteúdos, descritores que os estudantes demonstram ter dificuldades e os documentos curriculares.”

O sistema é todo informatizado. O manual para o professor pode ser acessado aqui. Uma tela de consulta permite ao professor baixar todos os instrumentos de controle didático que vão desde os Cadernos metodológicos para matemática e português (fundamental e médio), bem como o conteúdo por bimestre, padrões de desempenho, parâmetros curriculares e parâmetros para a sala de aula. As aulas são todas registradas no sistema, uma a uma, com data e número de identificação, bem como escola, turma e série. É na verdade a recriação do antigo “diário de classe” em sua forma eletrônica.

Este é o grau de refinamento que devemos esperar doravante sobre o professor, alunos e o ambiente da sala de aula, motivados por uma grande corrida para nenhum lugar. Trata-se de um sistema que interage com o professor como se ele fosse medíocre e irresponsável, predefinindo sua atuação. Desqualifica-o e o transforma em um mero seguidor de instruções. Não deve pensar.

O que temos é uma máquina de preparar para as provas com o nome de Fortalecimento de Aprendizagens em Português e Matemática. Nem o maior e mais radical tecnicista dos anos 70 imaginaria um grau de controle tão elevado sobre a atividade docente como o atualmente em curso na Secretaria da Educação de Pernambuco.

Trata-se o ensino e a aprendizagem como uma linha de produção na qual o professor é um mero instrumento de obtenção de padrões previamente definidos para a sala de aula, num momento em que países já se preparam para dar saltos pedagógicos muito mais arrojados baseados no ensino por áreas ou “ensino por conjunto de fenômenos”.

Corre-se em Pernambuco, atrás da elevação de médias de desempenho em duas disciplinas como se isto fosse sinônimo de boa educação, um atraso que se imporá a gerações e gerações de estudantes pernambucanos.

À medida em que as teses dos reformadores empresariais forem sendo convertidas em legislação de responsabilização, estas ações deverão explodir, apoiadas pela atuação do mercado de empresas da área educacional e de políticos ávidos para exibir nos programas eleitorais da mídia a melhora nas médias de português e matemática – não importa se às custas do emburrecimento de professores e estudantes.

Quando esta onda passar, no futuro, tais procedimentos provocarão muita risada, mas neste momento, não há nada de divertido nesta reinvenção do taylorismo pedagógico pernambucano. E logo na terra de Paulo Freire.

 

 

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