PLANOS DE AULA GRATUITOS
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Com apoio da Fundação Lemann e Google, Nova Escola publicará milhares de planos de aula gratuitos e alinhados à Base Nacional Comum. Segundo notícia veiculada pela Nova Escola em seu site, o projeto foi anunciado dia 22 de março e vai oferecer recursos pedagógicos de alta qualidade para ajudar os professores a garantir o aprendizado dos seus alunos. Pretende-se que até 2019 qualquer professor ou professora da educação infantil e de todo o ensino fundamental tenha acesso a 6 mil planos de aula.
O projeto contará com a doação de 15,8 milhões de reais pelo Google. A Fundação Lemann, mantenedora da Associação Nova Escola, informa que cada plano de aula incluirá dicas e orientações, “diminuindo os desafios de preparar boas aulas e incorporando altas expectativas sobre o que deve ser ensinado – tudo isso alinhado à experiência de quem conhece profundamente os desafios de sala de aula”. Tais “dicas e orientações” serão desenvolvidas por professores experientes e conectados à realidade da sala de aula” e revisadas por “especialistas nas disciplinas”. O impacto estimado é que o projeto atinja um milhão de professores de todo o Brasil nos próximos anos.
Trata-se de uma iniciativa preocupante, que poderá conduzir os professores a reproduzirem sem criticidade e sem contextualização os planos de aula. Para facilitar o seu trabalho, os mais incautos poderão pôr em prática planos sem adaptá-los às necessidades dos seus estudantes. É uma banalização do trabalho de sala de aula. Considera-se que os professores brasileiros não têm condições de planejar suas aulas? Se isso foi constatado, a saída não é a padronização e a desvalorização do seu trabalho. Por que não investir recurso financeiro tão alto em sua formação? Por que não oferecer condições às escolas para realizarem adequadamente suas atividades?
Certamente grupos “de alto nível” irão produzir os planos de aula e receberão alta remuneração para essa tarefa. Enquanto isso, sem analisar as consequências dessa iniciativa, os professores de sala de aula serão meros executores de um processo de cuja concepção eles não participaram.
Quais serão as reações dos cursos que formam professores? E das secretarias de educação? E dos sindicatos da categoria? Assistirão silenciosamente à encenação dessa peça?
Tudo isso põe por terra a produção pela área educacional que vem insistindo na necessidade de formação de professores capazes de atuar com competência, assim como no oferecimento das melhores condições de trabalho às escolas. Isso, sim, fará diferença que terá longo alcance.