Publicado em 19/08/2015 por Luiz Carlos de Freitas no blog do Freitas
Um dos efeitos dramáticos dos exames externos sobre a escola (ENEM, Prova Brasil, etc.) é o tempo roubado do ensino e destinado ao treinamento para provas. O aspecto formativo cede espaço (e dinheiro) para simples treino com finalidade de se sair bem nos testes. Os testes medem mais esta preparação do que o próprio conhecimento do aluno – além, é claro, de seu posicionamento social.
Como relatam duas reportagens, nas escolas particulares isso já é realidade. Em uma delas se lê que estas escolas contratam corretores externos para analisar as redações escolares de seus alunos.
“O Colégio Pentágono, em Perdizes, zona oeste da capital, é um dos que contratam corretores externos para tornar a análise mais próxima do que acontece no exame real. “Quando o próprio professor avalia, há um vínculo afetivo com o aluno. Se chamamos uma pessoa de fora, a correção fica mais isenta”, explica o diretor pedagógico, Cláudio Giardino”.
Como fica a relação entre professores e estudantes ante as correções que foram feitas pelos corretores externos? Certamente, nesta filosofia competitiva, isso não conta. A correção externa funciona também como um parâmetro da “qualidade do professor” da escola e até mesmo como critério de sua permanência nela.
Em outra se lê como a preparação para testes se dá no Colégio Pio XII:
“Fazemos levantamentos estatísticos de todos os simulados”, afirma Alexandre Antonello, coordenador pedagógico da escola. Além de detectar os prontos fracos da turma, o professor consegue dar atendimento mais personalizado. Com os resultados, ele pode exigir mais nas competências em que o aluno não foi bem.”
“O colégio também tenta reproduzir essa tensão. Além de redações feitas em casa, há textos para escrever em classe, com prazo semelhante ao do “dia D”. “O mais difícil é a pressão do tempo” opina Isabella Dias, de 17 anos, do 3º. Ano do ensino médio. Neste semestre, a escola também iniciou aula extra de redação, dada por uma professora com experiência em correção profissional.”
Toda esta competitividade, certamente louvada pelos pais que colocam seus filhos nestes colégios, cria um ambiente de alta tensão para os jovens – seja na escola, seja em casa.
Como adequadamente afirma Rosely Sayão em sua coluna:
“Já faz tempo que temos estudos que afirmam que a avaliação dos alunos é um processo complexo, mas mesmo assim continuamos a aplicar provas, dar trabalho, aplicar mais provas, e desde muito cedo. Crianças com menos de seis anos (!) já realizam provas nas escolas que frequentam. E os pais, apoiam, caro leitor, porque foram convencidos de que provas ajudam a acelerar o aprendizado.”
“Com o reinício das aulas, é bom que os pais pensem sobre isso e entendam que as provas são produtoras de estresse e ansiedade, e não de aprendizado.”
Uma parcela dos pais americanos, como mostramos em post anterior, já entendeu isso e está retirando seus filhos das provas de alto impacto e de larga escala nos Estados Unidos.
É preciso deter esta corrida para lugar nenhum…