PROFESSORES TEMPORÁRIOS: DESCOMPROMISSO COM AS APRENDIZAGENS DOS ESTUDANTES E DESQUALIFICAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Publicado em http://gepa-avaliacaoeducacionalcom.br
Uma reportagem do Bom Dia Brasil do dia 28 de julho, segunda-feira, destaca o número alarmante de professores temporários em escolas de educação básica da rede pública de ensino em vários estados do país. No Distrito Federal há 6.500 professores temporários; na Bahia, 4.500; no Piauí, 4.507; somente na cidade de Teresina, 1.500. O estado da Bahia tem 36.564 professores e um déficit de 10.000. Mesmo lançando mão dessa estratégia, os dirigentes educacionais não conseguem manter nas escolas o número necessário de professores.
O fato de os estados e municípios estarem recorrendo largamente a essa prática demonstra o descompromisso dos governantes com a escola pública e o seu despreparo para o trabalho que executam. Em uma instituição em Brasília, até hoje não houve aula de História, afirmou um estudante frente às câmeras de TV.
No estado de Alagoas o sistema de ensino lança mão de monitores, principalmente para disciplinas da área de Exatas. Monitores não são professores e não podem substituí-los.
Essa situação é inaceitável: em primeiro lugar porque nega aos estudantes o seu direito às aprendizagens. O número crescente de estudantes com descompasso entre a idade e o/a ano/série pode encontrar aí uma de suas causas. Em segundo lugar, a criação da figura de professores temporários desvaloriza e desqualifica todo o corpo docente. Por terem atuação de curta duração em uma escola, esses profissionais não chegam a “pertencer” ao grupo de colegas nem têm a oportunidade de se inteirar do trabalho ali desenvolvido. Como consequência, eles e os estudantes são perdedores.
Várias iniciativas em âmbito nacional, estadual e municipal têm sido lançadas: Diretrizes Curriculares Nacionais, os diversos exames em larga escala, avaliação institucional, os diversos pactos (PNAIC e PNEM), diretrizes de avaliação, orientações pedagógicas, projetos inovadores etc. Além disso, alastra-se no país a intenção de que a escola trabalhe em tempo integral. Nada disso funciona e resolve se não houver na escola todos os professores necessários. Eles e os estudantes são os protagonistas do trabalho pedagógico. Um não existe sem o outro.
Chama a atenção a reação dos estudantes à falta de professores nas escolas: quase sempre, quando interrogados, eles costumam dizer que, não tendo aula, não receberão nota e não poderão avançar de um ano a outro. Dois deles assim se manifestaram: “No fim do ano a gente fica com dificuldade nas provas”; “A gente não sabe o que vão fazer com as notas”. Permanece a ideia: o estudante frequenta a escola para “tirar” nota e não para aprender. Isso vem sendo repassado de geração à geração. Até quando? Escola não é agência de fornecimento de notas.
Em recente evento ocorrido aqui no DF outro fenômeno se fez presente e reitera a preocupação explicitada pela professora Villas Boas, na ocasião realizava-se acolhida aos novos profissionais integrantes da carreira magistério público do DF. O fenômeno que agora suspeito existir não atinge, necessariamente, os docentes temporários mas aqueles que adentram a profissão para torna-la trampolim para outros concursos ou áreas. Conversando com alguns colegas, recém empossados, eles ja se apresentavam cansados, desanimados e responsabilizando os alunos e seus familiares pelas tais faltas de pré-requisitos. O convite, melhor seria dizer a convocação que nos é feita é para que pensemos, todos juntos: governos, sindicatos e sociedade civil organizada sobre os rumos da profissionalização desta categoria que, a meu ver, definha-se social e economicamente todos os dias. Na rede privada o drama não é menor, talvez pouco veiculado, um salário minimo é o que recebe em media docentes que atuam nessas escolas independente da titulação acadêmica. Há casos em que um aluno paga o salario de dois professores e por ai segue o rito desmedido da falta de respeito com que essa profissão é tratada. Infelizmente quando se fala em melhoria para esta profissão lembro de um trecho do documentário ILHA DAS FLORES e, ai nos inserimos: eles são pobres, não possuem nenhum dinheiro e o que é pior, são muitos.
Obrigada, Eri, por suas considerações. Como é complexo o trabalho docente, não é? E como este tema é menosprezado nos cursos que formam professores! Este é um dos aspectos importantes do que denominamos de organização do trabalho pedagógico.
Abs,
Benigna Villas Boas