RESUMO CRÍTICO DO LIVRO AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: CAMINHANDO PELA CONTRAMÃO, DE LUIZ CARLOS DE FREITAS ET AL, 6ª .ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014
Atividade da disciplina Avaliação na EDUCAÇÃO BÁSICA, do Programa de Pós-graduação em Educação da UnB
Profa. Dra. Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Mestranda: Simone Moura Gonçalves de Lima
Primeiro semestre letivo de 2014
Resumo Crítico:
A proposta dos autores é discutir a avaliação educacional em seus três níveis (aprendizagem, institucional e de rede de ensino) numa perspectiva integrada, sob a justificativa de ser este “um campo de forças aberto a contradições que necessitam ser enfrentadas por estudantes e professores” (p.9). Debater este tema com alguns professores que atuam na rede pública de ensino do DF hoje provoca reações do tipo “ainda discutir avaliação?” ou “mas eu já pratico a avaliação formativa…”, quando verificamos através da análise dos resultados dos estudantes, a permanência de práticas avaliativas classificatórias e excludentes, especialmente se nos reportarmos às escolas de anos finais e de ensino médio. Isso demonstra a pertinência em continuar promovendo este debate no ambiente escolar enquanto se defender uma educação pública que promova efetivamente as aprendizagens para todos os estudantes.
No primeiro capítulo, referente à avaliação das aprendizagens, os autores concentram a análise das relações entre professor e aluno desenvolvidas no âmbito da sala de aula. Identificam a avaliação como categoria central da organização do trabalho pedagógico porque através de processos formais e informais ela se fará presente diariamente na dinâmica das aulas. Aliás, demonstram que os aspectos informais são mais significativos para definir ao professor quais são os alunos que acompanharão melhor o desenvolvimento das atividades escolares, porque este primeiramente emite juízos de valor para depois avaliar a compreensão de aspectos dos conteúdos das disciplinas que cada estudante alcançou. Assim, numa espécie de “predestinação”, os alunos que apresentarão baixo rendimento escolar são exatamente aqueles que, ao longo de um período, foram classificados como relapsos, desatentos, desinteressados, preguiçosos…
Isso acontece porque a escola pública atual, que é capitalista, traduz, em suas relações, as mesmas características de sua sociedade. Ou seja, “uma sociedade de desiguais, excludente, dificilmente demandaria uma escola universalizada com real acesso de todos a todos os conteúdos” (p.21). Este é um elemento de análise do livro importantíssimo. Consciente disso ou não, o professor pode colocar a avaliação a serviço da classificação e da seleção, explicitando uma função social para a escola que não é a mesma defendida nos discursos da maioria dos profissionais de educação… Assim, a avaliação vai orientando a atuação do professor, que se não realizar uma reflexão a respeito de suas práticas educativas, poderá reforçar os mecanismos de exclusão social, contribuindo para definir, especialmente entre as classes populares, aqueles que serão a mão de obra sem qualificação para o mercado, explorada e mais facilmente manipulada para interesses políticos escusos e eleitoreiros.
Como caminho para romper com esta realidade, os autores apontam para a reinvenção das práticas avaliativas, através do uso consciente de instrumentos que superem as contradições e que incluam o aluno no processo de avaliar, características de um modelo de educação emancipatória e democrática. Para tanto, é preciso que a avaliação que ocorre na sala de aula esteja articulada com a avaliação global da escola, a avaliação institucional.
Chega-se ao segundo capítulo, em que se defende ser necessário envolver todos os atores da escola como protagonistas da construção coletiva do projeto político-pedagógico para realizar a avaliação global da escola: gestores, funcionários, pais, estudantes e professores. Assim, a avaliação institucional passa a ser pensada a partir da participação de todos.
Os autores apresentam um importante conceito para a concretização deste nível de avaliação educacional: a “qualidade negociada”. A avaliação do trabalho pedagógico da escola requer a compreensão do papel de todos os atores escolares, assim como o da responsabilização do Estado para melhorar a qualidade da educação pública em geral e da escola (p.36). As mudanças necessárias devem partir da realidade concreta vivenciada pelo grupo, sendo, portanto, uma construção local, que deve ser apoiada pelo órgão central, que dará os subsídios para a efetivação das transformações. Cobra-se do Estado o que é preciso em termos de infraestrutura e melhoria das condições de trabalho, mas espera-se do grupo o compromisso individual e coletivo para avançar em garantir as aprendizagens de todos os estudantes.
Há alguns anos estão previstos, no calendário escolar das escolas da rede pública de ensino do DF, dias específicos para a realização da avaliação institucional. Apesar da instância administrativa central da Secretaria de Educação oferecer orientações para sua realização, algumas escolas ainda não compreendem esta avaliação como sendo do trabalho pedagógico realizado em um período, concentrando suas análises apenas nos rendimentos escolares ou na prestação de contas do caixa escolar. Apesar de estarem incluídos esses aspectos, esta avaliação precisa abranger o envolvimento de todos os atores escolares, como por exemplo, como a escola está sendo gerida, como a coordenação pedagógica se organizou para promover as aprendizagens, como os professores estão envolvidos na elaboração de projetos pedagógicos interdisciplinares, se as intervenções para resolver as dificuldades de aprendizagens funcionam, como as famílias estão se envolvendo nas decisões da escola ou como os alunos foram incluídos no processo de ensino-aprendizagem. Ainda há necessidade de avanços nesta direção a fim de que este nível da avaliação educacional cumpra seu propósito.
O capítulo 3, por sua vez, discorre sobre a avaliação das redes de ensino e sua necessária articulação com os outros níveis. Os autores comprovam que sua eficácia pode ser questionada quando as escolas não conseguem reconhecer os dados do desempenho dos estudantes ou dos professores como “pertencendo” à escola (p.48). Não saber o que fazer com os resultados dos testes ou cair na armadilha do “ranqueamento” das escolas, segundo a perspectiva de análise das políticas neoliberais, empobrece o que poderia representar um instrumento útil para encontrar caminhos para melhorar a qualidade da educação.
Para isso, deve-se recorrer ao uso dos dados da escola em sua avaliação institucional sem comparações com outras escolas, validando-os a partir da compreensão de sua realidade concreta, suas dificuldades e potencialidades, numa reflexão coletiva, não para identificar culpados, mas para indicar como cada um poderá contribuir para que a escola cresça e avance. A partir daí, cada professor elaborará seu planejamento pedagógico para que a avaliação da sala de aula esteja adequada aos propósitos construídos coletivamente.
Os caminhos apontados pelos autores para a construção da avaliação educacional emancipatória, articulada em seus três níveis, ainda parece estar na contramão. Isso ocorre porque mesmo universalizado o acesso à educação pública, com políticas que visem ao atendimento de necessidades das camadas populares, o sistema econômico e político capitalista não existe para promover igualdade ou justiça social, mesmo quando se reveste de ações consideradas democráticas. Semelhante ao que os autores apontam como conclusão do trabalho, acredito que o desejo de transformação da escola e da educação pública (p.70) requer a construção de uma nova sociedade, para além do capital (Mészáros). Essa nova organização social precisa ser fortalecida a cada dia através das escolhas que fazemos, enquanto indivíduos e também coletivamente.
Otimo trabalho Simone Lima, desse parafraseio: a avaliação é uma categoria complexa, diz respeito ao futuro, ela abre ou fecha portas. Sério isto, não é? Resumo bem feito. Abço prof Eri