RESUMO CRÍTICO DO LIVRO O DIRETOR E AS AVALIAÇÕES PRATICADAS NA ESCOLA

RESUMO CRÍTICO DO LIVRO O DIRETOR E AS AVALIAÇÕES PRATICADAS NA ESCOLA, de Erisevelton Silva Lima.Brasília: Editora Kiron, 2012.

 

Atividade da disciplina Avaliação na EDUCAÇÃO BÁSICA, do Programa de Pós-graduação em Educação da UnB

Profa. Dra. Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Mestranda e autora do resumo: Simone Moura Gonçalves de Lima

Primeiro semestre letivo de 2014

Entender quem são os diretores das escolas públicas, o que pensam sobre a organização do trabalho pedagógico, quais são suas concepções sobre a avaliação em seus três níveis (aprendizagem, institucional e de larga escala) e por que permitem tantas reprovações dos estudantes a cada ano letivo, há muito se constituíram em inquietações e angústias do autor, que o levaram a buscar em sua trajetória formativa estas respostas. E foi em seus estudos de doutorado que, ao mergulhar profundamente na realidade de uma escola de anos finais da rede pública de ensino do DF, que ele encontrou elementos fundantes para estruturar este tão relevante trabalho de pesquisa sobre a temática da avaliação.

Há muitos estudos referentes à avaliação em que se busca compreender concepções e práticas dos docentes, dos estudantes ou dos coordenadores pedagógicos. No entanto, poucos são os que se concentram na análise do papel do diretor neste processo, apesar dele ser peça fundamental para promover a organização do trabalho pedagógico na escola. Como se já não bastasse este ser um aspecto para demonstrar o valor do trabalho, o autor ainda escolheu realizar sua pesquisa numa escola de anos finais, território ainda pouco explorado nas pesquisas acadêmicas sobre educação no Brasil. Estes são ingredientes que tornam o trabalho uma referência para qualquer educador interessado em aprofundar sua análise sobre a categoria complexa da avaliação.

Foi a interlocutora principal da pesquisa a Diretora da escola pesquisada que se localiza numa região de periferia do Distrito Federal. Além dela, também participaram a Coordenadora Pedagógica mais antiga do grupo, os docentes, a Orientadora Educacional, a Supervisora Pedagógica e os estudantes da escola. Como instrumentos de coleta de dados para a pesquisa, o autor reuniu muitos registros reflexivos elaborados pelas personagens principais da organização pedagógica da escola: a diretora e a coordenadora pedagógica. As contribuições dos demais foram reunidas através de conversas e de questionário semiestruturado.

O autor pesquisou as origens do diretor de escolas no Brasil e deu destaque a uma característica que ainda é cultural no cenário brasileiro: a indicação política para o exercício do cargo (p. 52). Apresentou também um perfil do diretor que atua em escolas de anos finais na rede pública de ensino do DF: ter licenciatura específica e frágil formação pedagógica. Este dado é importante porque ajuda a explicar uma das fragilidades da organização pedagógica nas escolas de anos finais: as dificuldades em aprofundar as reflexões sobre temas como o da avaliação, tendo em vista a falta de conhecimentos didático-pedagógicos dos professores e equipe gestora, o que favorece a sobrevivência de práticas educativas tradicionais, tecnicistas, classificatórias e excludentes.

Do rico referencial teórico apresentado, o autor defende a avaliação formativa, apresenta e analisa os documentos oficiais da Secretaria de Educação do DF que tratam do tema e os relaciona com o que presenciou durante o período da pesquisa realizada na escola, assim como dialoga com os principais autores que pesquisam o tema atualmente, entre os quais cito: FREITAS, VILLAS BOAS, HOFFMAN, LUCKESI, SORDI, HADJI, ALVAREZ-MENDEZ e outros.

A avaliação formativa é definida como aquela “repleta de intenções inclusivas, permeada por relações e processos subjetivos que ocorrem em sua maioria, no interior da sala de aula, dos quais o diretor precisa inteirar-se” (p. 54). Este deve ser um projeto coletivo, envolvendo diretor, professores e equipe pedagógica, porque intenções individuais e solitárias não serão suficientes para alterar o quadro de uma prática avaliativa classificatória. Este é um elemento importante destacado pelo autor, tendo em vista a dificuldade em alguns espaços escolares de desenvolverem projetos interdisciplinares e coletivos.

Ainda merecem destaque no trecho do texto referente à avaliação das aprendizagens a conceituação de autoavaliação, no geral ainda pouco explorada nas escolas de anos finais, de gestão do currículo e de sua relação com a avaliação que se pratica no ambiente escolar. Ainda é comum o entendimento entre os docentes de que o currículo se constitui apenas no conjunto de conteúdos das disciplinas separados por série/ano. A validade do currículo precisa passar do nível instrucional para tornar-se instrumento que auxilie o estudante a fazer intervenções em sua vida pessoal, comunitária e profissional (p. 66). O intento deve ser o de desenvolver “uma visão emancipadora do que seja ensinar, aprender e avaliar” (p. 65).

Em relação à avaliação institucional, o conselho de classe se destacou como o instrumento mais desenvolvido na escola pesquisada. Entretanto, constatou-se a dificuldade do grupo docente em realizar uma avaliação do trabalho pedagógico e atribuindo aos alunos a total responsabilidade pelos resultados negativos. Um avanço identificado pelo autor, ainda pouco explorado em escolas de anos finais, é o monitoramento individualizado das aprendizagens realizado pela diretora a cada bimestre em reunião individual com os professores. Iniciativa importante para o planejamento da equipe pedagógica em indicar as intervenções necessárias para os bimestres seguintes.

Chamado de conselho de classe participativo, este envolvia representantes dos alunos e os pais. Entretanto, vale pontuar outra constatação importante da pesquisa: a diferença entre presença e participação nestes momentos de avaliação. A maioria dos estudantes não compreendia aquele como sendo um momento para questionar critérios e objetivos avaliativos desenvolvidos pelos professores, enquanto os pais, não mostravam estar preparados para o mesmo exercício. Preocupavam-se com as notas, basicamente, desconhecendo seus direitos em interferir no andamento do processo avaliativo de seus filhos.

O autor enfatiza que a avaliação institucional deve se articular com o projeto político-pedagógico e se concretizar em espaços como o da coordenação pedagógica e do conselho de classe (p.86). Já é tempo de superar a cultura da avaliação centrada apenas no estudante.

Em relação às avaliações externas, constatou-se que prevalece o desconhecimento geral do que a escola deve fazer com os números, índices e percentuais. A escola não se identifica com esses dados e o diretor, sentindo-se pressionado pelos órgãos centrais, acaba trazendo para o ambiente escolar a perspectiva de análise baseada na competição e no ranqueamento, equívocos que precisam ser superados se o objetivo é mudar a cultura avaliativa para o caminho formativo.

A diretora da escola pesquisada demonstrou em seus registros reflexivos o esforço em compreender os pressupostos da avaliação formativa e como poderia desenvolvê-los na escola. Em muitos momentos esbarrou em dificuldades de concepções com o grupo, foi julgada como autoritária, houve avanços e retrocessos, mas ficaram evidentes seus esforços em tornar realidade e aprimorar com aquele grupo a avaliação formativa em seus três níveis. Sua percepção de que a avaliação deve estar a serviço das aprendizagens dos estudantes já foi um ponto que revelou que a pesquisa e as intervenções do pesquisador valeram a pena.

Muito interessante também foi a surpresa do autor em identificar a força da avaliação informal na escola de anos finais. As conversas e a participação nos conselhos de classe demonstraram como é perversa a lógica de classificar e emitir juízos de valor todo o tempo, escolhendo os estudantes que terão sucesso e destaque na escola e os que estarão marginalizados. É o “apartheid pedagógico” que sobrevive e é usado como mecanismo de controle no ambiente escolar (p.141). Mecanismo claro de violência simbólica.

Nesta mesma direção, pode ser colocada a dependência escolar. Ficou revelada a prática de docentes e estudantes para transformá-la, de modo consciente ou não, num adiamento das aprendizagens (p. 147). O autor sinaliza a necessidade de uma intervenção séria na rede de modo a tornar este instrumento em algo de fato capaz de contribuir para as aprendizagens, superando as lacunas na formação dos estudantes.

Sem dúvida, o ponto central do texto, em minha opinião, está na análise do movimento entre os três níveis da avaliação que o autor identificou na escola pesquisada. Ficou constatado pelo pesquisador a fragilidade na relação entra a avaliação realizada na sala de aula e a institucional. A falta de um planejamento didático ou a ausência de sua execução explicam outras questões que afetavam diretamente o cotidiano escolar: a indisciplina dos estudantes e o excessivo barulho nos corredores (p. 181). A forte resistência entre os professores de reconhecer tal fragilidade revela a dificuldade ainda presente na maioria dos grupos em realizar uma avaliação coletiva do trabalho pedagógico e não apenas dos estudantes.

A escola não conseguiu promover a articulação entre os resultados do SIADE, os resultados bimestrais dos estudantes e o desenvolvimento do currículo trabalhado em sala de aula (p. 186). É preciso fortalecer as ações e as reflexões nos espaços privilegiados para esse movimento ocorrer: a coordenação pedagógica e os conselhos de classe. O percurso ainda é longo, mas é preciso amadurecer o entendimento de que não é possível haver ensino sem aprendizagem (p. 181). E o caminho é o planejamento: do professor e de suas atividades educativas, da gestão e da equipe pedagógica para contribuir com o amadurecimento das discussões. Mudar a cultura da avaliação classificatória é difícil, mas é possível, superando as iniciativas individuais e solitárias em prol de iniciativas coletivas, valorizando a participação e contribuição de todos, incluindo os estudantes no processo educativo como protagonistas.

 

2 respostas para “RESUMO CRÍTICO DO LIVRO O DIRETOR E AS AVALIAÇÕES PRATICADAS NA ESCOLA”

  1. Não é meu aniversário e, logo cedo, recebo um presente dessa natureza. Obrigado Simone Lima, que não é minha parente. pelo trabalho exímio no qual você resumiu sem diminuir, condensou sem dilacerar e, sobretudo, sintetizou sem empobrecer, ao contrário, valorizou os principais aspectos e resultados desse trabalho que se não for o mais importante da minha vida acadêmica é, sem dúvida, o meu ponto de partida mais nobre ombreado com a profa Benigna Villas Boas, minha eterna orientadora. Obrigado, parabéns pelo trabalho ético e sensível. Erisevelton Silva Lima, o autor do livro resumido.

     
    1. Querido Eri, obrigada pelo seu comentário. Presente recebi eu ao ser convidada para trabalhar com você na elaboração das Diretrizes de Avaliação da SEDF no ano passado! Minha contribuição foi sobre os anos finais e seu livro foi importante para amadurecer minhas reflexões sobre as fragilidades e possibilidades da organização pedagógica na escola de anos finais. Certamente, isso contribuiu para minha decisão de encaminhar agora uma pesquisa sobre a organização pedagógica da escola de anos finais no mestrado! Muito obrigada! Forte abraço, Simone Moura G. de Lima.

       

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