“SE FOSSE BRASILEIRO, ESTARIA INDIGNADO COM A SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO”
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Em entrevista à Carta Educação, em 28/03/2017, Antônio Nóvoa, reitor honorário da Universidade de Lisboa, afirma que “nós temos um discurso muito gongórico, excessivo sobre a importância da educação, quando as condições básicas não estão sequer asseguradas. Portanto, a primeira coisa que a sociedade brasileira precisa fazer coletivamente, independentemente de partidos políticos, é garantir essas condições básicas de funcionamento para as escolas, que incluem as condições para o exercício do trabalho dos professores. Se não fizer isso, todo o resto é conversa, coisas para ilustrar a mídia, mas que não têm o menor impacto. Não conseguimos mudar a educação se isso não for um desígnio coletivo da sociedade. Não pode ser um problema dos professores ou dos pedagogos ou do partido A ou partido B. No Brasil, vejo que há muita conversa, muito discurso, mas pouco compromisso concreto com a educação pública brasileira. Há pouca indignação e, se eu fosse brasileiro, estaria indignado com a situação da educação pública”.
Indagado se essa falta de indignação não está relacionada ao fato de as classes mais abastadas no Brasil matricularem seus filhos na escola privada, isto é, de a educação pública ser um “problema” das classes pobres, Nóvoa concorda, explicando que quem vem de fora e olha para o Brasil percebe que o grande problema é o da desigualdade. Acrescenta que as elites brasileiras são muito separadas do compromisso social.
Com relação à formação de professores, ele entende que “é preciso ter um lugar para formar os professores nas universidades de forma unificada. Nóvoa está, no momento, dando apoio ao reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro para a construção de um “complexo de formação de professores”, um lugar onde o professor terá sua formação completa. Parece que ele se refere ao fato de a formação de professores nas universidades brasileiras ocorrer de maneira fragmentada. Na UnB, por exemplo, há disciplinas oferecidas pela Faculdade de Educação e outras pelos diversos institutos, dependendo de cada licenciatura. Contudo, o currículo não é organizado de forma integrada e não há diálogo entre os professores dos diversos institutos. Por exemplo: a licenciatura em Matemática é responsabilidade do Instituto de Matemática. As ditas disciplinas pedagógicas são oferecidas pela Faculdade de Educação, sem que haja comunicação entre os professores das duas unidades. Não se discute, por exemplo: qual a formação necessária ao professor de Matemática da Educação Básica?
Ao ser interpelado sobre a reforma do ensino médio, o professor português afirma concordar com a redução do currículo e com a ideia dos percursos formativos. Entretanto, aponta duas discordâncias: a primeira é que estamos caminhando para o back to the basics, isto é, valorização apenas dos fundamentos, como matemática e português. Não podemos esquecer da história, da sociologia, da filosofia.
A segunda crítica é quanto à formação profissional. Seu argumento é que com o aumento da expectativa de vida, não faz sentido tentar que um adolescente de 14 anos tenha relação com o mundo do trabalho. Manter hoje a formação técnica traz embutida a ideia de discriminação social sobre os pobres. Os percursos formativos desejados mantêm a tradição de que os pobres servem para ser operários e os ricos, doutores. É o que se chama de novo vocacionismo, lembra Nóvoa. O MELHOR DA ESCOLA PÚBLICA ESTÁ EM CONTRARIAR DESTINOS. PODEMOS SER AMANHÃ UMA COISA DIFERENTE DO QUE SOMOS HOJE. UMA ESCOLA QUE CONFIRMA DESTINOS, QUE TRANSFORMA EM OPERÁRIO O FILHO DO OPERÁRIO É A PIOR ESCOLA DO MUNDO” (DESTAQUE MEU).
Nóvoa também questiona a possibilidade de pessoas com “notório saber” atuarem como professores no ensino médio, apontando como exemplo o Teachers for America, do George Bush, que foi um desastre, porque, “obviamente, ser professor não é ter notório saber em uma matéria, é muito mais complexo do que isso. Tem uma dimensão social, pedagógica, cultural muito mais ampla. Aliás, há um equívoco enorme que é o de achar que a missão de um professor de matemática é ensinar matemática. Não é. A missão de um professor de matemática é formar uma criança através da matemática, o que é completamente diferente. Por que não se pode ser cidadão sem saber matemática. A cidadania implica saber matemática, português, história. Ora, não é por termos notório saber em química que seremos bons professores dessas disciplinas. Isso é acabar com a alma, com a identidade da profissão”.
Lamentavelmente os reformadores do ensino médio não tiveram a oportunidade de discutir com Nóvoa a sua experiência em Portugal e em outros países. Mais uma vez nos embrenharemos no caminho das tentativas que contrariam o que esperamos de uma escola comprometida com as aprendizagens de cada um dos estudantes.
Bom dia.
Fui privilegiada em ler o assunto: sobre se eu fosse brasileiro estaria indignado com a situação da educação no brasil.
Assimilei o assunto e concluir que o Nóvoa tem visão ampla sobre o tema. Concordo com tudo que disse, quando diz que o povo só conversa muito, mas, não traz soluções. Mas
é necessário em coletividade ter um compromisso e indignação e lutas pela igualdade social.
Concluo dizendo que também é necessário atitudes, motivação, interação, conscientização em coletividades para que combata as dificuldades na educação. Solução só Deus.
RETIFICO O NOME BRASIL NA FRASE ANTERIOR
A formação de professores é realmente fundamental e urgente.
Inúmeros professores tem conhecimentos e entendimentos arcaicos demais. E por este motivo necessitam de um preparo mais profundo para mostrar suas habilidades e exercer suas funções nas escolas sem medo de errar, mostrando que superou qualquer obstáculos atrelado a educação.