Benigna Villas Boas
Ontem, 12/08/2020, acompanhei uma live em que Elisângela Teixeira G. Dias, nossa colega do GEPA, discorreu sobre a avaliação formativa na educação infantil. Após sua competente apresentação, fiquei pensando com meus botões sobre a importância desta função avaliativa na educação infantil. Os/as professores/as que nela atuam são privilegiados pela convivência próxima com as crianças e pela espontaneidade com que elas interagem. A avaliação flui naturalmente porque não há compromisso com nota. Esta figura maléfica emperra o trabalho pedagógico.
Fiquei pensando na relevância da observação, como um dos recursos valiosos da avaliação na educação infantil. Está presente o tempo todo. E como as crianças gostam de serem alvo de atenção! Até disputam a proximidade com o/a professor/a. Não há como não recorrer à Jussara Hoffmann, que propõe a avaliação mediadora, desenvolvida em três tempos: o de admiração, o de reflexão e o de reconstrução. Ela destaca a importância da observação. Para a autora, o grande passo “é deixar de ver todos os alunos de uma sala de aula para pousar o olhar sereno e tranquilo em cada um porque o ‘todos’ é um dos grandes fantasmas da avaliação” (2005, p. 14). É preciso “aprender a olhar” aluno por aluno, completa a autora. Esse olhar é interessado, amigo, afetuoso, perspicaz e avaliativo, com o propósito de analisar como as aprendizagens estão sendo construídas. É necessário ter em conta que tudo o que acontece na escola, como um todo, e na sala de aula constitui aprendizagem. Portanto, a observação do/a professor/a é aguçada, certeira, buscando identificar tudo o que ocorre no ambiente escolar.
Na educação infantil, cada criança está começando seu percurso escolar, trazendo sua história e seus anseios. Nenhuma delas pode ficar no anonimato. O tempo de admiração proposto por Hoffman se entrelaça ao de reflexão, quando o/a professor/a analisa as manifestações das crianças. O tempo de reconstrução se dedica à escolha da avaliação que se quer praticar.
A avaliação praticada na educação infantil deveria inspirar a que é desenvolvida nas outras etapas/modalidades da educação básica e até a praticada na educação superior. Nesta última, costuma haver grande distanciamento entre professores/as e estudantes. Os primeiros “dão aulas”, muitas vezes acompanhadas passivamente pelos/as estudantes. A avaliação é feita, de modo geral, por meio de provas, apresentação de seminários e elaboração de trabalhos. E pior: em muitos casos, a nota final não é “entregue” pelo/a professor/a ao estudante, mas divulgada pela instituição, após a conclusão do período letivo. Resumo da ópera: não existe avaliação, mas, sim, verificação.
Referência
HOFFMANN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.