TURMAS MENORES FACILITAM O TRABALHO DO PROFESSOR? AUMENTAM AS POSSIBILIDADES DE CONQUISTA DAS APRENDIZAGENS PELOS ESTUDANTES?
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Publicado em http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br
No livro que tem como título 50 Myths and lies that threaten America’s public schools: the real crisis in education (50 mitos e mentiras que ameaçam as escolas públicas americanas: a verdadeira crise na educação, organizado por David C. Berliner e Gene Glass, editora Teachers College, Columbia University, New York and London, 2014, um dos mitos apresentados e discutidos é o seguinte: “o tamanho da turma não importa; a redução do seu tamanho não provoca mais aprendizagem”.
Os autores afirmam que os defensores de turmas menores entendem que elas contribuem para aumentar o desempenho dos estudantes e trazem desejáveis resultados adicionais e de longa duração; já os que são contra a redução do número de estudantes por turma afirmam que a sua manutenção é mais onerosa e que as pesquisas em seu favor são equivocadas. Essa discussão tem como pano de fundo a educação em escolas nos Estados Unidos.
Segundo os autores do livro, o debate em torno do tamanho das turmas pode ser compreendido a partir da perspectiva da intensificação do trabalho do professor. Suas atividades do dia a dia têm continuamente aumentado, enquanto seus salários e benefícios não crescem na mesma proporção. Uma simples equação conta a história: “mais estudantes na sala de aula” igual a “mais trabalho para o professor consciente dos seus deveres”. Para efetivamente educar os estudantes, os professores devem continuamente avaliar suas aprendizagens. Atualmente os docentes são ensinados a desenvolver a avaliação formativa. Ressalto que esta é a afirmação dos autores do livro, levando em conta o seu contexto de trabalho, porque, no Brasil, não se pode afirmar que os cursos de licenciatura ajam assim. Pesquisas têm demonstrado o contrário. Continuando sua argumentação, os autores explicam que esse formato avaliativo é integrado ao trabalho pedagógico, para que se tenha, constantemente, compreensão do que cada estudante e a turma como um todo estão aprendendo. A avaliação formativa permite ao professor reorganizar o seu trabalho junto aos estudantes, o que tem sido reforçado por resultados de pesquisas. Contudo, quanto maior a turma, menores são as possibilidades de o professor acompanhar cotidianamente o desenrolar das aprendizagens. Esta situação limita os efeitos positivos da avaliação formativa.
Além planejar as aulas, promover encontros com os pais e desenvolver outras atividades organizadas pela escola, os professores elaboram, aplicam e corrigem provas e leem as várias produções dos estudantes, o que exige tempo. Quanto maior o número de estudantes pelos quais o professor é responsável, mais tempo de trabalho ele investirá dentro da escola o que, inevitavelmente, terá impacto em seu trabalho fora dela. A definição de uma política educacional que resulte em mais trabalho e confere a mesma remuneração traz consequências. Uma delas pode ser a desistência de professores de atuarem na profissão. A substituição de professores experientes por outros menos qualificados pode ser maléfica. A experiência do professor é um dos fatores que fazem a diferença na aprendizagem dos estudantes; portanto, uma política que reduz o número de professores experientes provavelmente diminuirá o desempenho dos estudantes, consideram os autores do livro.
Trabalhando como turmas menores, os professores são capazes de contribuir mais significativamente para a aprendizagem dos seus estudantes, o que é comprovado por pesquisas. O desenvolvimento competente do trabalho pedagógico requer que os docentes tenham tempo e energia para investir nas necessidades, desejos e aspirações de seus estudantes. Em turmas grandes o currículo criativo e individualizado será substituído pelo mecânico, assistido por computador, e os livros-texto terão como referência exercícios em forma de testes, entendem os autores.
Os autores do livro concluem afirmando que turmas muito grandes podem prejudicar a formação de cidadãos para as exigências do mundo atual.
Trazendo o tema para a realidade das escolas públicas brasileiras, cabe dizer que a existência de turmas com grande número de estudantes não se apoia em projeto com essa finalidade. Esse fato acontece quando não há espaço suficiente para atendimento a todos os estudantes. Pesquisas têm demonstrado o insucesso do trabalho nessas condições. Nesses casos o espaço que seria destinado ao atendimento a determinado número de estudantes passa a ser usado até pelo dobro deles, ocasionando sérios problemas para eles e os docentes, como a indisciplina, cujas causas são, muitas vezes, atribuídas ao desinteresse dos estudantes.