Uma agenda para a educação no DF: o caso da eape

Uma agenda para a educação no DF: o caso da eape

Benigna Villas Boas

08/11/2018

Manhã de quarta-feira, 7 de novembro de 2018. Cheguei à eape (Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação da Secretaria de Educação do DF) por volta de 8h30 e de lá saí às 11h. É um prédio grande, com dezenas de salas e muito bem localizado, no Plano Piloto de Brasília, ao lado do Elefante Branco, este inaugurado em 1961. Não fui desenvolver atividade pela eape.

O local onde há algum tempo funciona a eape foi construído para abrigar a Escola Normal de Brasília. O curso normal que, inicialmente funcionou na CASEB e no Elefante Branco, foi transferido para a Escola Normal em 1970. O prédio, projetado pelo arquiteto Germano Galler, foi inaugurado em outubro de 1969. Era majestoso e lá encontrávamos o curso normal e a Escola de Aplicação (jardim de infância e os quatro primeiros anos do ensino fundamental). Viveu um período de glória. As vagas para a educação infantil e ensino fundamental não eram suficientes para atender a procura.  Anos depois o curso normal deixou de existir, o prédio recebeu a eape e, a partir daí, perdeu seu prestígio e os cuidados que antes lhe eram dirigidos.

Como lá atuei como professora do curso normal e minhas filhas frequentaram o jardim de infância e o ensino fundamental, fiquei triste com o cenário que vi ontem: em um local destinado à formação de profissionais da educação as salas estavam completamente vazias e só havia servidores fazendo limpeza.

Quadro desolador para final de governo: que legado a equipe que conclui seu mandato deixa para a próxima, em relação ao trabalho da eape? Como anda a formação continuada dos profissionais da educação no DF? Qual concepção a norteia? Equipes que atuam na sede da SEEDF desenvolvem atividades que poderiam ser de responsabilidade da eape. Além disso, trabalham em um setor empresarial e bancário, cercado de estacionamento reduzido, enquanto um prédio espaçoso e apropriado ao que desenvolvem está subutilizado. Lamentável. Moro em Brasília desde 1960, aqui fiz o curso normal completo e iniciei minha carreira como professora da escola pública em 1963. É com tristeza que presencio situações como a que relato.

Uma ação imprescindível para o próximo governo do DF é o redimensionamento do trabalho da eape, começando pela substituição do seu nome. Por que não “Escola de formação de profissionais da educação”? Ou “Casa do/a Professor/a”? Mas não é somente o nome que deve mudar; antes de tudo, torna-se necessário rever a concepção de formação continuada, seus   objetivos, seu formato, para que os profissionais da educação não apenas frequentem cursos, mas lá encontrem estudiosos e pesquisadores para que, em conjunto, construam atividades que os ajudem a repensar e reinventar sua prática. Cabe à eape trabalhar com vistas à qualidade social da escola pública.

Vislumbro uma escola de formação de profissionais da educação que não apenas ofereça cursos, mas seja, também, um espaço dinâmico em que haja ampla e atualizada biblioteca, onde aconteçam feiras, exposições, fóruns, debates, lançamento de livros e em que as equipes escolares possam apresentar suas atividades. Seria um lugar de construção de saberes. A participação dos docentes de cursos de licenciatura e dos seus estudantes seria encorajada. Afinal de contas, é necessária e enriquecedora a aproximação desses cursos às escolas de educação básica, em busca de diálogo constante. O DF tem condições de dar um belo exemplo nesse sentido.

Esta será uma grande contribuição ao trabalho da escola pública que se quer democrática.

 

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