UnB é primeira universidade pública do Brasil a oferecer disciplina sobre ‘felicidade’
Curso é inspirado em experiências de Harvard e Yale. Aulas serão ministradas no campus do Gama.
Por Luiza Garonce, G1 DF
24/07/2018 09h26 Atualizado 24/07/2018 15h03
Felicidade vira disciplina na UnB
O segundo semestre de 2018 na Universidade de Brasília (UnB) abre portas para uma nova abordagem acadêmica: o estudo vivencial da felicidade. Esta é a primeira vez que a disciplina é ministrada em uma instituição superior pública do Brasil.
As aulas serão no campus do Gama, onde estão concentradas as faculdades de engenharias aeroespacial, automotiva, eletrônica, de energia e de software. O prédio fica a 40 quilômetros da reitoria da universidade, no campus Darcy Ribeiro.
O curso começa em 7 de agosto. Das 240 vagas oferecidas, 164 foram preenchidas – 68,3% do total.
A disciplina, inspirada nas universidades de Harvard e Yale, quer proporcionar aos alunos condições para enfrentar as adversidades da vida – tanto acadêmica quanto pessoal – e ajudá-los a encontrar algo que “faça sentido para si e para os outros”, explicou o professor titular, Wander Pereira da Silva.
“Chegar à UnB é um desejo de uma geração inteira, de uma família. Por isso, muitos alunos têm medo de falhar. É importante que eles entendam que a vida oferece adversidades e é preciso aprender a lidar com elas.”
“A disciplina não tira a dificuldade que é cursar engenharia, mas torna a experiência menos dolorosa. “
“Os alunos que entram na UnB estão cada vez mais jovens e têm dificuldade de separar a vida pessoal da vida acadêmica. Às vezes, uma frustração pessoal afeta toda o desempenho na faculdade.”
Segundo ele, as condições psicológicas de toda uma sociedade tendem a ser “pendulares” – e o Brasil não está em um período de ascensão. “Vivemos um momento de desesperança, intolerância, bullying e falta de perspectiva. Não é a UnB que causa isso.”
A melhor forma de encarar o mal-estar social, os desafios da vida acadêmica e as descobertas pessoais é compreender o que significa felicidade para si mesmo, explica Wander. “Cada um é feliz de uma forma. Então, é preciso buscar coisas que façam sentido para a própria vida.”
Estudo vivencial
Conversas, trocas de experiências e práticas em grupos fazem parte da dinâmica de ensino da disciplina “felicidade”. É o que o professor titular, Wander Pereira da Silva, chama de “estudo vivencial”.
De acordo com o plano de ensino, a disciplina vai “apresentar estratégias comportamentais e cognitivas que possam auxiliar o estudante a lidar com os fatores estressores do dia a dia”.
“Vai se ancorar muito no autoconhecimento, na reflexão sobre o que faz sentido pra cada um, o que os fazem felizes. E, depois, instrumentalizar estes alunos para que eles saibam enfrentar a timidez, a insegurança emocional, a depressão e a ansiedade.”
“Estamos criando o jeito UnB de ser feliz.”
Wander Pereira da Silva, é doutor em psicologia pela UnB e tem, ainda, graduações em filosofia e história. Ele também leciona gestão de tecnologia da informação e “gamificação” – estudo da aplicação de jogos em situações diversas – na faculdade de engenharia de software.
Por que no Gama?
Dos quatro campi da Universidade de Brasília, o Gama foi escolhido para abrigar a disciplina por necessidades pontuais identificadas pela Comissão de Saúde Mental – formada por professores das engenharias.
“Muitos alunos vêm de outros estados, então há uma tendência à timidez. Na metade de todo semestre também começam a surgir problemas de ansiedade e depressão”, explicou Wander Pereira da Silva. “Nós chegamos a receber cartas de pais pedindo que fizéssemos alguma coisa.”
O professor disse ao G1 que as condições do campus também são “bastante desfavoráveis”, com infraestrutura precária, alta taxa de evasão, idade reduzida dos alunos e condições mentais debilitadas de quem deixou o curso e decide voltar.
“Quase todos os pedidos de reintegração vêm com atestado de saúde mental.”
O nível de exigência e dedicação aos estudos das engenharias é outro fator que interfere diretamente nas taxas de depressão e ansiedade, segundo ele. “São cursos pesados, com alta carga horária, muitas disciplinas, pesquisas, laboratórios.”
SS não é meta
Nota não é prioridade na disciplina “felicidade”. Por isso, todos começam o semestre com SS – que vai de 9 a 10, numa escala de 0 a 10. “Vou aplicar as menções porque preciso tabular, mas a intenção não é que os alunos visem tirar nota máxima. Quero que eles participem”, disse Wander.
Esta integração entre os estudantes é que vai proporcionar, segundo ele, as condições para que todos juntos pensem em produtos ou atividades que “tragam mais felicidade para o campus”.
Ao fim do semestre, os alunos terão de se juntar em grupos para criar uma peça, uma música, um blog, jogo ou aplicativo de celular com esta finalidade. A nota dependerá do envolvimento e participação de cada um.
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É louvável, mas eu pensei que o curso abordaria também a felicidade dos excluídos da Universidade.
Esta poderia ser uma outra etapa, não é?
Esta poderia ser uma outra etapa do curso.
Espero que o professor seja muito feliz em seu trabalho. Instigante o tema. Mas não formei um conceito sólido sobre.
É um tema novo e que ainda requer estudos e discussão