Volta às aulas
Por Rose Meire da Silva e Oliveira- pesquisadora do GEPA
Seria ironia se não fosse verdade o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, após reunião com o presidente Jair Bolsonaro no dia anterior ao aniversário da capital, noticiar a intenção de reabertura das escolas cívico-militares da rede pública de ensino, em meio à pandemia do novo coronavírus, a partir da próxima semana.
Considerando que as escolas de gestão compartilhada da SEEDF apresentam baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e encontram-se em áreas de maior vulnerabilidade social, por que expor os profissionais da educação e da segurança, professores, principalmente os estudantes e seus familiares, pais/responsáveis, avós e cuidadores que residem exatamente em locais tão precários?
Então, é um contrassenso afirmar que as ações governamentais do DF observam as orientações científicas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde – OMS- e buscam conter a contaminação em massa por meio do isolamento social, sendo que a volta às aulas colocará em risco a vida de inúmeras pessoas subjugadas pela ausência de condições objetivas mínimas necessárias a uma vida digna.
Privilegiar a economia em detrimento do bem-estar coletivo, declinando da responsabilidade social para com as famílias e comunidade escolar é abandoná-las à própria sorte, pela possibilidade de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo contraírem o novo coronavírus ou se tornarem agentes transmissores assintomáticos. Significa transmitir a essas crianças, adolescentes e suas respectivas famílias que a morte é inevitável para os menos favorecidos.
O retorno às aulas somente de um grupo de estudantes, de maneira intempestiva, com o argumento de estabilizar a economia local, poderá contribuir para o alargamento da desigualdade educacional. Por que estes e não todos? Somente estes serão submetidos a “teste” pela equipe técnica do GDF para constatar se as medidas preventivas são eficazes? É legítimo que se faça isso? Por que uma decisão governamental sem a participação da comunidade escolar? Todos deverão voltar às escolas quando houver a garantia de serem cercados dos cuidados para que eles, seus familiares e as equipes da instituição de ensino não sejam vítimas da COVID-19 de forma irresponsável. Além disso, o reinício do ano letivo escolar deverá ser planejado sem prescindir de ações humanizadas como o amparo emocional e psicológico imprescindíveis para que possam recomeçar a vida escolar. NÃO à improvisação.