AVALIAÇÃO FORMATIVA E CULTURA DA ESCOLA: AS DIRETRIZES DE AVALIAÇÃO DA SEEDF

AVALIAÇÃO FORMATIVA E CULTURA DA ESCOLA: AS DIRETRIZES DE AVALIAÇÃO DA SEEDF

Por: Erisevelton Silva Lima

Doutor em Educação pela Universidade de Brasília – UnB

 

As escolas concretas, por sua vez, reconstroemse e reactualizamse quotidianamente pela acção  pedagógica  e  organizacional,  quer  na  forma  como  incorporam,  referenciam  ou  resistem  a  certas heranças simbólicas, representações sociais  e  “sedimentos  culturais”, quer na forma  como  encaram,  com maior ou menor  capacidade de iniciativa e  criatividade, os constrangimentos, dilemas e oportunidades, ou como assumem e concretizam novas missões e objectivos. (AFONSO, p.13, 2010).

 

Em Forquin (1993) pode-se compreender que a cultura escolar diz respeito às formas ou maneiras de a escola constituir-se ao longo dos tempos, as quais continuam, de maneira indelével, orientando a arquitetura, as práticas e as simbologias que nos fazem identificar, em qualquer lugar, o que é uma escola. Do mesmo autor é possível compreender que a cultura da escola é o processo complexo e muitas vezes objetivo e subjetivo pelo qual cada instituição se insere social, política, econômica e pedagogicamente no tempo histórico que ocupa. Portanto, diz respeito, igualmente, ao que anuncia a epígrafe de Afonso (2010) quando esclarece sobre a maneira própria com que cada escola segue, rejeita, acolhe e ou ressignifica suas demandas e desafios.

À luz desse raciocínio o movimento deflagrado, oficialmente, dia 7 de Maio de 2014, pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal com vistas à implantação das Diretrizes de Avaliação [1]entrará em rota de colisão e ou de acolhida a depender de como cada escola e seus atores entendem e praticam a avaliação educacional. A avaliação formativa é o convite para caminhar na contramão (FREITAS et al, 2009), ratificado pelo texto oficial que foi construído por docentes da própria SEEDF, de cuja feitura participei. Embora já tenha realizado nos últimos cinco anos uma centena de palestras e oficinas nas 14 Coordenadorias Regionais de Ensino com docentes e gestores, ainda percebo que o tema da avaliação continua imerso ora no esquecimento ora nas incompreensões quanto ao que seja, de fato, avaliar. Os elementos apontados e reiterados pelo que se apresentou no Currículo em Movimento (outro texto oficial criado com a participação dos docentes de todo o DF) vêm ao encontro do que se deseja alcançar por meio da avaliação formativa. As bases do currículo são definidas pela Pedagogia histórico-crítica e pela psicologia histórico-cultural, de cunho emancipador. Aqui se inserem, talvez, a preocupação e a saída para o processo político-pedagógico no qual se inscreveram tais intencionalidades educacionais. A propósito, problematizar, instrumentalizar, propor e retomar a realidade social inicial concreta por meio dessa pedagogia e, ainda, se dispor a mediar e intervir para o amplo desenvolvimento dos estudantes podem cair por terra se esse processo for permeado por uma avaliação autoritária e classificatória. A avaliação formativa se harmoniza com tal intenção, podendo ser estrategicamente coerente para os fins a que se destinam tais bases do pensamento progressista agora declaradas, também, no currículo da rede local.

Sendo assim, os desafios que se delineiam, aliás hercúleos, para os próximos anos, passam por diversas frentes, sendo o primeiro não deixar que tais documentos e seus processos históricos sejam abandonados ou descartados em uma eventual mudança de governos; o outro diz respeito ao processo de formação continuada que deve ser instigante e contextual para que os professores e professoras possam articular teoria com prática e, com isso, acreditar ser possível trabalhar com vistas à inclusão. Por fim, reitero que se a avaliação formativa for, de fato, compreendida a escola mudará seu foco do ensino para a aprendizagem. Temos trezentos anos de ensino por intermédio desse modelo de escola, queria eu poder declarar que temos trezentos anos de aprendizagem.

REFERÊNCIAS

AFONSO, Almerindo Janela. Notas sobre auto-avaliação da escola pública como organização educativa complexa. In: Revista do Centro de Formação Francisco Holanda. Revista ELO 17, Portugal – setembro de 2010.

FREITAS, Luiz Carlos de. (et al). Avaliação Educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis. Editora Vozes, 2009.

FORQUIN, Jean Claude. Escola e cultura: As bases epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre, Artes Médicas, 1993.

GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL – Currículo em Movimento – Caderno pressuposto teóricos, Brasília –DF, 2014.

 

[1] O documento Diretrizes de Avaliação Educacional abrange os três níveis da avaliação: aprendizagem, institucional e em larga escala. Encontra-se no Conselho de Educação do Distrito Federal para ser apreciado. Logo após sua aprovação entrará em vigor.

 

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