O DIEESE aponta os riscos da retomada das aulas presenciais durante a pandemia
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Grupo de Pesquisa em Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico
Prezados(as) leitores (as), convidamos vocês a dialogarem com os pesquisadores do GEPA sobre temas relacionados à avaliação. Estamos interessados em aprofundar a discussão teórica e em conhecer e analisar práticas que tornem a avaliação aliada de estudantes e professores. Aguardamos suas manifestações.
Dos quase 50 milhões de brasileiros entre 14 e 29 anos, mais de 20% – ou seja, 10,1 milhões de jovens – não completaram alguma das etapas da educação básica
No litoral cearense, há alunos do ensino médio que já não conseguem mais acompanhar as aulas online, porque têm de trabalhar durante o dia inteiro. No interior do Piauí, educadores recorrem a visitas domésticas e vídeos motivadores para tentar atrair os estudantes que não têm aparecido nos encontros virtuais. Em São Paulo, alunos de baixa renda atendidos por uma organização sem fins lucrativos temiam “voltar para a estaca zero” nos estudos em meio à pandemia.
Em todos esses lugares, são vários os relatos de estudantes sem equipamentos ou conexão à internet, famílias em situação econômica cada vez mais frágil, professores com crescentes dificuldades em manter os alunos engajados nas aulas remotas e pais tanto ansiosos quanto temerosos pela perspectiva da volta às aulas presenciais — marcada, em alguns Estados, para agosto ou setembro.
O resultado dessa combinação é que cresce o temor, entre educadores e pesquisadores, de que as circunstâncias impostas pela pandemia façam com que mais estudantes simplesmente desistam da escola neste ano, engordando as estatísticas de evasão escolar no Brasil.
Leia na íntegra: BBC Brasil
Por Benigna Villas Boas
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quarta-feira, 15/07, revela que existem 11 milhões de analfabetos(as) com mais de 15 anos no Brasil. A pesquisa mostra ainda que, dos(as) 10 milhões de jovens na faixa dos 14 e 29 anos que deixaram de ir à escola, 71,7% são pretos(as) ou pardos(as) e enfrentam as inúmeras desigualdades de nossa sociedade.
Cabe lembrar que essa juventude à qual se refere a pesquisa é excluída tecnologicamente, não tem condições de ler material atualizado, nem o possui, não se insere em ambientes favoráveis aos estudos e tem necessidade de trabalhar. Tudo isso a deixa à margem do conhecimento.
A pesquisa ainda revela que, dos estudantes do ensino médio, 39,1% abandonam os estudos para trabalhar e auxiliar nas despesas de suas famílias, 23,8% das mulheres engravidam ao longo dos estudos e acabam por abandoná-los.
Nas universidades também ocorre evasão. Vejamos: apenas 17,4% dos estudantes completam seus estudos; dentre os que têm 25 anos ou mais, 4% permanecem com o curso incompleto. E mais: 73,7% dos estudantes de graduação frequentam uma instituição de ensino privada. Nos cursos de pós-graduação, 74,3% dos estudantes frequentam instituições privadas, o que significa que pagam seus estudos.
Aliando esse cenário à situação de pandemia, quais desafios a educação enfrenta daqui para a frente? Muitos costumam pensar em ações pós-pandemia. Não é o meu caso. Não podemos postergar soluções. Se acumulamos esses problemas, é necessário atuar agora. O reerguimento da economia necessita da contribuição da educação escolar. O país só poderá se desenvolver com a população educada e bem informada, bem alimentada, morando dignamente e trabalhando.
O ensino médio necessita urgentemente de currículo, escolas e trabalho pedagógico fortes, assim como de professores formados adequadamente para atuar em todos os componentes curriculares. As escolas precisam ter autonomia para que não fiquem sempre dependentes de decisões burocráticas. Este momento requer ações rápidas e certeiras, para que todos estudantes aprendam. Dificuldades quanto à distância das escolas às suas moradias, a ferramentas tecnológicas, a livros e outras têm de ser removidas.
Intervenções pedagógicas precisam ser imediatamente colocadas à disposição de quem necessita. Não estou falando de recuperação de estudos. Este formato pertence ao passado. Para que as intervenções cumpram seu papel, o feedback aos estudantes é fundamental. Nesse contexto, entra com força a avaliação formativa, voltada para as aprendizagens e não para a reprovação. Esta figura não traz contribuição ao trabalho pedagógico a ser desenvolvido daqui para a frente. É hora de abandoná-la de vez. Mas, calma! Não defendo a promoção automática. Não se trata disso. Todos os estudantes estão na escola para aprender e não para passar de ano. Cabe-lhe criar os meios para que aprendam. O ano escolar não necessita coincidir o ano comercial.
A evasão nas universidades costuma ter como causas o desencanto pelo curso e pela atuação de professores, além de outras. Os docentes desse nível não são formados para tal e costumam dar mais ênfase a pesquisas, pela exigência de produção que lhes é imposta. Estranho: fazer pesquisas, escrever livros e artigos contam mais em seus currículos do que dar aulas. Mesmo a orientação a estudantes não é tão valorizada. Os estudantes reclamam que são abandonados: assistem a aulas e se viram. Isso precisa mudar.
Os resultados da PNAD revelam as desigualdades de acesso e de permanência nas escolas e nas universidades. A crueldade da pandemia que estamos vivenciando nos obriga repensar o agora e o futuro da educação dos nossos jovens, que vem sendo negligenciada há muito tempo. Convido professores da educação básica e superior, estudantes e seus pais para redesenharmos a educação que nos interessa.
JC Notícias – 16/07/2020
Durante a palestra “Educação nos novos tempos”, o professor de Ética e Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), Renato Janine Ribeiro, ressaltou que o maior desafio imposto pela pandemia, além da aplicação do conteúdo pragmático, é a criação de espaços de diálogos para que professores, funcionários e alunos possam conversar sobre suas percepções e sentimentos. A atividade, que faz parte da Mini Reunião Anual Virtual da SBPC, foi apresentada pela vice-presidente da entidade, Fernanda Sobral.
Janine disse que o isolamento social interrompeu a socialização, tão importante na educação, e que a situação só não foi pior graças à internet. Por isso, é preciso permitir que as pessoas falem sobre suas experiências de distanciamento social. “Nós estamos vivendo uma pancada emocional e ao voltar às aulas, ao trabalho, eu recomendo que é preciso tratar este trauma. E os professores, chefes, dirigentes, precisam ter o mínimo de formação psicológica para saber escutar, já que todos precisam falar de sentimentos. Isso é possível, mas requer muito trabalho”, afirma. Em referência a uma observação da chanceler alemã Angela Merkel, Janine descreveu a pandemia como o maior desafio mundial desde a Segunda Guerra.
“Muita coisa pode ser feita de modo remoto, mas a socialização não. E educar é de dentro para fora. E, ao tirar a criança de dentro de casa, ela descobre que além dos irmãos, têm outras crianças. Que além dos pais, têm outros adultos. E esse aspecto está sendo prejudicado”, explica Janine, que é também conselheiro da SBPC.
Ao falar sobre o ensino à distância, Janine abordou os abismos socioeconômicos entre os alunos do ensino privado e público, especialmente nas periferias. “No âmbito público os educadores estão esbarramos com, além da falta de preparo, falta de equipamentos, inexistência de acesso à banda larga. Muitos alunos vivem em lugares pequenos e não conseguem um espaço reservado para estudar”, lamenta.
Quanto à postura do Ministério da Educação diante da pandemia, Janine, que foi ministro da Educação por cerca de sete meses em 2015, durante o governo de Dilma Rousseff (PT), afirma que a Pasta “primou pela ausência absoluta”. “Os secretários estaduais e municipais tiveram que se virar. E os municipais estão fazendo voo solo. Eles estão sem capacidade de se articular, de construir estratégias conjuntas. São eles que lidam com o ensino infantil. E é lá que as crianças são mais vulneráveis”, afirma.
Para o professor da USP, a alfabetização das crianças no ensino básico deve ser priorizada. “Temos de priorizar a alfabetização na idade certa, como aconteceu no Ceará, com governo de Cid Gomes, em 2007, e depois foi nacionalizado em 2013, com o ministro Mercadante. A ideia é que cada município foque nisso, mas o MEC errou em não incluir os Estados como parceiros fortes”, disse.
Assista aqui à conferência na íntegra.
A Mini Reunião Anual Virtual da SBPC segue por toda a semana e maiores informações podem ser obtidas acessando este link: http://ra.sbpcnet.org.br/mini-ravirtual/
Vivian Costa – Jornal da Ciência
Enílvia Rocha Morato Soares
Parece consenso o reconhecimento quanto à gravidade dos diversos prejuízos decorrentes da crise da covid-19 e do consequente período de isolamento social adotado como meio de conter o acelerado contágio desse novo vírus. A educação não foi poupada. A suspensão de aulas presenciais suscitou diferentes análises contextuais seguidas, algumas vezes, de proposições visando minimizar as consequências negativas sobre o trabalho escolar público e privado. Não pretendo aqui reafirmar ou contestar qualquer uma delas, até porque o posicionamento do GEPA, já expresso neste espaço, contempla minhas percepções pessoais a esse respeito.
Atenho-me, aqui, a ponderar a sobre aprendizagens que, por não terem sido construídas ou construídas superficial e ou inadequadamente nos tempos pré-pandemia, dificultam, quando não impedem a concretude de iniciativas que serviriam agora para melhor lidar com o distanciamento físico na escolarização de jovens e crianças. Não se trata de “chorar o leite derramado”, mas de compreender que o atual momento só pode ser pensado a partir de uma realidade concreta pré-existente e que o reconhecimento da necessidade dessas aprendizagens pode contribuir para a melhoria do ensino escolar durante e depois da quarentena.
O planejamento participativo do trabalho escolar desenvolvido no âmbito de toda a escola, e a avaliação que dele se faz ao longo de sua implementação, estão entre as aprendizagens que hoje se mostram frágeis, dificultando a implementação de medidas que poderiam contribuir para atenuar as adversidades que se impõem frente ao desafio de dar continuidade às atividades escolares. O destaque do projeto político-pedagógico (PPP) e da avaliação para fins de análise, justificado pelo curto espaço de discussão, não desconsidera, porém, o déficit de outras importantes aprendizagens, como as relacionadas ao trabalho colaborativo, à gestão democrática e ao currículo escolar.
Pensar o processo de escolarização por meio do ensino remoto descolado do que havia sido planejado pelo coletivo escolar para o ensino presencial pode estar constituindo obstáculo ao desenvolvimento das atividades escolares. Isso não significa que o PPP pensado para o trabalho presencial possa agora ser desenvolvido nos mesmos moldes. Mas também não significa que deva ser desconsiderado. É preciso lembrar que as ações previstas conjuntamente nesse documento se assentam em concepções e princípios que expressam o compromisso dos sujeitos envolvidos na construção da escola que se quer a partir da escola que se tem. Isso significa que o novo contexto de distanciamento social impõe revisões no projeto pensado para outra realidade, mas ainda norteadas pelo propósito de fazer efetivar a função social da escola por meio da definição de práticas educativas necessárias ao alcance de tal propósito.
A dinamicidade que caracteriza o PPP e permite repensá-lo sempre que necessário é viabilizada pela avaliação. Isso porque, diferente do documento puramente formal e estático que comumente se vê, o desafio do projeto institucional não se encerra na sua existência ou mesmo no seu desenvolvimento, mas compreende a sua permanente avaliação. Caminhar rumo à consolidação de um trabalho escolar que ensine a todos não prescinde de um planejamento participativo consistente, porque coletiva e sistematicamente avaliado. A relevância de avaliações que permitam repensar e reconstruir o trabalho projetado a princípio se mostra indispensável, especialmente em momentos de grandes mudanças como o que estamos vivendo.
No entanto, são os processos avaliativos centrados no aluno que têm ganhado centralidade. Preocupações se voltam à necessidade de cumprir o calendário escolar para, daí, atribuir notas, aprovar ou reprovar. Pouco se fala em análise dos projetos escolares como meio de vislumbrar caminhos para adequação à nova realidade, sem perder de vista a imprescindibilidade de promover as aprendizagens de todos, mesmo que, nesse momento, não sejam elas necessariamente vinculadas aos conteúdos curriculares.
Não se nega a importância de diretrizes gerais para o encaminhamento dos trabalhos desenvolvidos em e por cada escola. No entanto, é a idealização de uma realidade consubstanciada em um projeto pedagógico colaborativo e em constante transformação que confere a cada instituição, mesmo que de modo relativo, a autonomia necessária para a tomada de decisões que apontem para um fazer pedagógico solidário e democrático, porque em consonância com suas particularidades.
Fica a esperança de que a insuficiência de aprendizagens, como as aqui apontadas, e outras tantas que obstam a democratização dos saberes escolares sirva de alerta para que busquemos consolidá-las com a maior brevidade possível.
A próxima edição foi remarcada para 2022. A edição seguinte só ocorrerá em 2025
A pandemia de Covid-19 provocou o adiamento das próximas edições do Pisa, a avaliação internacional da educação básica realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A cada três anos, o Pisa testa estudantes entre 15 e 16 anos de mais de 70 países e territórios.
A próxima edição ocorreria em 2021 e foi remarcada para 2022. A edição seguinte, prevista para 2024, só ocorrerá em 2025.
“Os países membros e associados da OCDE decidiram adiar a avaliação do Pisa 2021 para 2022 e a avaliação do Pisa 2024 para 2025″, diz nota da organização, que indica o reflexo das “dificuldades pós-Covid” como motivo da decisão.
Leia na íntegra: Folha de S. Paulo
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Como avaliar a aprendizagem dos estudantes em ambiente on-line? Uma reflexão para além da avaliação
Elisângela T. Gomes Dias
O professor Domingos Manuel Barros Fernandes, em participação na webinar organizada pelo Instituto Ânima e realizada em oito de maio de 2020, entende que não há diferenças significativas entre a avaliação praticada no dia-dia, no ensino presencial, com a avaliação on-line realizada nas aulas remotas, durante o período de isolamento social. O que está emergindo nesse momento acerca do papel da avaliação, em que fizemos um giro de 180º para termos condições de dar continuidade ao processo pedagógico, é o que vem sendo discutido e sinalizado pelas pesquisas científicas nas últimas décadas. “Temos que distinguir claramente a avaliação da classificação. Avaliar é um processo eminentemente pedagógico e vinculado à aprendizagem, enquanto a classificação é um algoritmo”, frisou o professor. Reivindicamos uma outra visão do ensino e práticas avaliativas integrativas e que alimentem a ação didática; uma avaliação a serviço da aprendizagem, enfatizou o professor. Avalia-se para planejar, orientar e retroalimentar o trabalho pedagógico. Além disso, de certa maneira, os estudantes constroem suas concepções sobre o que é importante ou não aprender a partir da forma como o professor avalia, dadas as consequências geradas por essa ação.
Em Portugal, está havendo um esforço muito grande para que ninguém fique para trás, especialmente em função do suporte dos professores, que têm um papel insubstituível. A tecnologia, segundo relato de Domingos Fernandes, não é a questão central. Está sendo bem acessível aos estudantes portugueses. O desafio são as mudanças metodológicas, pois não podemos simplesmente transpor o formato das aulas presenciais para as aulas a distância. Temos que explorar nossa imaginação, nossa criatividade. Então, é necessário pensar sobre o que e como as crianças e os jovens devem aprender nessas circunstâncias. A nossa opção pedagógica é a principal questão. Queremos que os estudantes participem mais ativamente? Que recursos estão à nossa disposição e são adequados? O que podemos propor? Há estratégias fantásticas de que o professor pode lançar mão.
Na visão de Fernandes, “essa pode ser uma oportunidade única para termos uma visão mais cosmopolita do ensino. Mesmo confinados, podemos abrir a janela e as portas da nossa imaginação”. Aprendizagem entre pares e a mediação com signos e instrumentos antes não explorados podem ser um diferencial. Lembremos que Vigotski, por exemplo, desde o século passado, defendia tais práticas. A aprendizagem deve impulsionar o desenvolvimento, explorando as funções psicológicas superiores a partir do que é essencial e não periférico.
O mundo exige o trabalho colaborativo, por que então o individualismo é tão valorizado pela escola? Nessa lógica, a preocupação de muitos docentes neste momento passa a ser com a possibilidade de “cola”, o que só reforça a velha cultura de estudar para a prova, gerando muitas vezes angústia. Ora, o mais importante é planejar que tipo de atividades estão sendo propostas. Certamente aquelas que não oportunizam o processo de reflexão e a integração de conhecimentos, mas valorizam aspectos meramente memorísticos, propiciam essa conduta.
Ressaltamos ainda o feedback contínuo e diferenciado durante o ensino remoto ou a distância e a necessidade da autoavaliação. Para tanto, é preciso que o professor tenha critérios bem definidos, transparentes e organizados de forma participativa. Por meio do que Domingos Fernandes chama de “rubricas” (descritores de desempenho) da avaliação, três aspectos devem ser observados: 1) os estudantes devem saber o que irão aprender e como se dará esse processo; 2) em que situações se encontram em relação a essas aprendizagens; 3) que esforços terão que fazer para atingir o que está sendo proposto. Essas rubricas são facilmente conduzidas por meio de diversas ferramentas e são fundamentais para a autoavaliação, compreendida como um processo cognitivo, conforme explicou o professor. Não se trata de o estudante dizer “eu acho que mereço essa ou aquela nota”, mas de fazer uma reflexão a partir do que foi pactuado, entre o desejado e o realizado.
A partir dessa discussão e considerando a educação brasileira, há vários aspectos que podemos destacar. Entre eles, destaca-se que a falta de investimento na educação pública, o que incide não apenas em infraestrutura, mas na valorização do magistério e na formação docente, torna-se latente na atual crise sanitária que levou o país a decretar estado de calamidade pública. Com efeito, milhares de estudantes brasileiros estão totalmente desassistidos ou com condições precárias. Algumas poucas escolas e docentes estão se reinventando e alcançando seus estudantes, inclusive em regiões periféricas. Mas, em geral, temos observado tentativas amadoras e pouco efetivas. Podemos citar o que está sendo organizado até o momento pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, com tele aulas gravadas, por vezes de forma caseira, e disponibilizada em canal de TV sem nenhuma interatividade entre professores e estudantes, tampouco atreladas ao currículo da escola e ao devido acompanhamento pedagógico. E a defesa para esse contexto de ensino remoto desarticulado não se justifica com o argumento “importante é a iniciativa de se fazer alguma coisa”. Educação não pode ser negligenciada, mesmo diante de uma situação tão adversa como essa.
Por outro lado, as escolas particulares se mobilizaram, buscaram alternativas e estão prosseguindo com as atividades. O problema é que muitas delas, preocupadas com a “prestação de serviço” e com o foco no cumprimento do conteúdo, desconsideram vários aspectos e submetem crianças e jovens a uma carga horária excessiva e que poderá trazer consequências danosas para saúde física e mental. Há vários relatos de sobrecarga e aumento da ansiedade, tanto de docentes quanto de discentes, além da negligência no atendimento das necessidades educacionais especiais. A maior parte dos estudantes com deficiências está totalmente marginalizada. Aulas remotas estão sendo ofertadas até mesmo para crianças da educação infantil, do maternal e da pré-escola, o que gera uma série de questionamentos. Essa temática ganhou inclusive destaque no chat e será objeto de outra webinar, sendo mesmo objeto de uma outra análise.
Alertamos que as atividades remotas não podem substituir integralmente as presenciais, mesmo que o período de isolamento social seja prorrogado. É preciso pensar, como reiterou Domingo Fernandes: o que é mais importante que crianças, adolescentes, jovens e adultos aprendam? O que é verdadeiramente fundamental ensinar? Quais as tarefas que os levam a pensar e são relevantes para o desenvolvimento dos processos mais elaborados do pensamento? Todas as páginas dos livros precisam ser preenchidas? Se a resposta à última questão for sim, esse atual formato, em especial, contribuirá muito mais para o aumento da ansiedade do que para a aprendizagem efetiva dos estudantes. Isso significa que o ensino ainda não conseguiu romper com a educação tradicional.
A implementação de ações díspares, sem a mediação direta de professores e com famílias sem condições de acessibilidade e de suporte ao processo educativo de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos não conseguirá oportunizar ensino de qualidade. É urgente a necessidade de maior investimento na educação e valorização do magistério. O que seria da humanidade sem o avanço da ciência?
Enquanto isso, o Ministério da Educação suprime verbas de pesquisa e anuncia que a avaliação do Sistema de Educação Básica passará a ser anual e censitária, na falsa lógica de que medir é gerar qualidade, o que aumentará absurdamente o gasto com testes em larga escala. Uma contradição que vem sendo denunciada por vários educadores e associações de estudos e pesquisas educacionais.
Por fim, reiteramos que, em tempos de crise como a que estamos passando, a maior preocupação da escola seja pelo desenvolvimento integral de seus educandos, o que exige a organização do trabalho pedagógico sem desconsiderar o contexto vigente, as singularidades dos estudantes, as diferenças sociais e culturais. Que possamos reaprender a ensinar, pois certamente os estudantes de hoje não são os mesmos do século passado, assim como será a humanidade pós-pandemia.
Referência:
Como avaliar a aprendizagem dos estudantes em ambiente on-line? Webinar no Canal do Youtube do Instituto Ânima. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=y0wm9HSYX5o>. Acesso em 8 maio de 2020.
Por Benigna Villas Boas
Thomas R. Guskey, professor emérito da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, publica um texto na Education Week do dia 06/07/2020 em que anuncia um debate “quente”, no atual momento da pandemia e quando as escolas reabrirem: será o caso de os professores retomarem a avaliação que vinha sendo desenvolvida nas aulas remotas?
As considerações de Guskey não se restringem à situação de pandemia. Referem-se ao trabalho pedagógico da escola em qualquer época.
Vejamos como o autor se posiciona. Os simpatizantes da ideia, diz ele, argumentam que, principalmente no caso do retorno às aulas presenciais, a possibilidade de a avaliação ter continuidade e não simplesmente ser ignorado o que foi feito anteriormente, seguindo outro rumo, reduz a ansiedade dos estudantes e lhes permite demonstrar com mais profundidade o que estão aprendendo. Já os seus críticos entendem que esse processo diminui a motivação dos estudantes e os encoraja a adotar pobres hábitos de estudo, que os tornarão mal preparados para os cursos de nível superior e para o mundo do trabalho.
Recorrendo a Bloom e colegas, Guskey nos brinda com uma brilhante análise do tema, afirmando que poucos proponentes ou críticos dessa ideia sabem que ela pode ser compreendida a partir dos estudos realizados por Benjamin Bloom nos anos 1960. Este pesquisador observou que os recursos avaliativos utilizados por muitos professores, ao final de uma unidade, servem principalmente para confirmar para quais estudantes as atividades foram apropriadas ou não. Contudo, se esses recursos forem usados como parte do processo instrucional para oferecer feedback aos estudantes, tornam-se poderosas ferramentas de aprendizagem. Bloom denominou esse processo de avaliação formativa (BLOOM, 1968; BLOOM, HASTINGS and MADAUS, 1971). Esta posição de Bloom reforça nosso entendimento de avaliação como aprendizagem.
A avaliação sozinha pouco faz para promover as aprendizagens. O que importa é o que acontece depois dela, completa Guskey: como os estudantes e professores usam seus resultados. Importante observar que o autor se refere a professores e estudantes, como requer a avaliação formativa, e não somente a professores.
Bloom enfatiza que, para atender às necessidades detectadas, a avaliação formativa deve incluir instrução de alta qualidade. Esse processo inicial de atendimento às necessidades identificadas é conduzido na turma, sob a orientação do professor. Não se trata de atividades opcionais a serem realizadas pelos estudantes isoladamente, em forma de deveres de casa ou de sessões especiais de estudo após as aulas. Percebe-se, assim, como Bloom é exigente com a avaliação formativa.
Enquanto o professor trabalha com os estudantes que ainda não desenvolveram as aprendizagens requeridas, os que demonstraram estar em dia se engajam em tarefas de enriquecimento. Em lugar de seguirem adiante, aprofundam seus conhecimentos, completa Guskey.
Os estudantes que passam por atividades de intervenção, como hoje as denominamos, vivenciam o sucesso, de primordial importância em seu percurso escolar. Esta é a avaliação formativa em ação.
Guskey conclui seu texto afirmando que a questão “devem os estudantes receber uma segunda chance?” deve ser substituída por “Como podemos usar a avaliação para promover as aprendizagens?” Se incentivamos o sucesso desde o início do processo de avaliação, muito provavelmente realizaremos o sonho de Bloom de termos todos os estudantes aprendendo.
O trabalho realizado durante as aulas remotas terá de ser articulado ao das aulas presenciais, quando estas forem retomadas. O que está acontecendo ou aconteceu nas primeiras não será arquivado. A avaliação formativa é que favorece essa conexão. O prosseguimento do trabalho será assegurado pela avaliação diagnóstica, parte integrante da avaliação formativa, de modo a se identificarem as possíveis necessidades de intervenção pedagógica, para que todos vivenciem o sucesso. Será um recurso para que esse tempo sombrio da pandemia tenha suas marcas minimizadas.
Referências
Bloom, B. S. (1968). Learning for mastery. Evaluation Comment (UCLA-CSEIP), 1(2), 1-12.
Bloom, B. S., Hastings, J. T., & Madaus, G. F. (1971). Handbook on formative and summative evaluation of student learning. New York, NY: McGraw-Hill.
Prefácio – Luiz Carlos de Freitas
A pedagogia das competências na BNCC e na proposta da BNC de formação de professores: a grande cartada para uma adaptação massiva da educação à ideologia do capital – Átila de Menezes Lima e Ivânia Paula Freitas de Souza Sena
Política Nacional de Educação: o embate de projetos na educação do campo – Celi Nelza Zulke Taffarel e Erika Suruagy Assis de Figueiredo
Relações entre a BNCC, as questões extraescolares e a educação de nível médio no Marajó – Cleide Carvalho de Matos; Manuelle Espindola dos Reis e Natamias Lopes de Lima
Do SAEB à BNCC: padronizar para avaliar – Eliana da Silva Felipe
A (de)Formação de Professores na Base Nacional Comum Curricular – Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva
A BNC de formação e as DCN’s dos profissionais do Magistério e seus respectivos Projetos de Brasil – Maria Elizabeth Souza Gonçalves
BNCC e BNCF: padronização para o controle político da docência, do conhecimento e da afirmação das identidades – Salomão Antônio Mufarrej Hage; Leila Maria Camargo; Raimunda Kelly Gomes e Arthane Menezes Figueirêdo
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A Campanha Nacional pelo Direito à Educação lançou o Guia Covid 19”, que apresenta orientações sobre o retorno às aulas.
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