A AVALIAÇÃO E O DESCOMPASSO ENTRE IDADE-ANO ESCOLAR:
PRODUZINDO E TENTANDO CORRIGIR PREJUÍZOS
Enílvia Rocha Morato Soares
Professora da Secretaria de Educação do DF
Doutoranda em Educação na UnB
Publicado em http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br
09/08/2014
Estudos recentes que tratam da avaliação afirmam ser esta uma prática que tem na aprendizagem seu par indissociável. Considerando que a escola constitui espaço em que o ato de avaliar é legalmente instituído e, também por isso, potencialmente realizado, o esperado seria que as aprendizagens ocorressem na mesma proporção. No entanto, dados recentes quanto ao número elevado de reprovações, baixos índices de desempenhos nos exames externos e crescente aumento de estudantes com idade defasada em relação ao ano em curso comprovam não ser tão harmônica assim essa parceria.
Embora reprovação e mau desempenho em exames em larga escala não signifiquem, necessariamente, ausência de aprendizagem, o desempenho dos estudantes expresso nessas informações indica disfunções que precisam ser revistas e tem acarretado a adoção de políticas públicas que visam a reversão desse quadro. A formação de turmas com estudantes cuja idade é superior ao ano escolar que deveriam estar cursando caso sua trajetória escolar não tivesse sofrido interrupções constitui uma delas. O pressuposto implícito nessa política é de que, por meio de atendimento diferenciado, esses estudantes aprendam mais rapidamente e, em consequência, avancem nos anos escolares, voltando a integrar classes compostas por estudantes que percorreram o fluxo escolar considerado normal. No entanto, os resultados de grande parte dos programas que visam adequar a correspondência entre a idade dos estudantes e o ano escolar em curso tem desvelado que estes objetivos não têm sido alcançados, uma vez que o número de retenções nessas turmas continua elevado.
As evidências de insucesso escolar, seja pelos estudantes das turmas regulares, seja por aqueles que se encontram em processo de aceleração da escolarização sugerem, entre outros aspectos, que as avaliações desenvolvidas nesses espaços não têm contribuído para as aprendizagens dos estudantes. A escola estaria, desse modo, tentando reparar um prejuízo causado por ela mesma e a reprovação, por meio da avaliação classificatória e excludente nela implícita seria, senão a principal, ao menos uma das grandes vilãs dessa história.