Livrem-se dos testes padronizados-não funcionam

Publicado em 22/05/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

Usar teste padronizado com a finalidade de informar aos professores o que está acontecendo em sua própria sala de aula é, na verdade, uma inutilidade. A função dele, no melhor dos casos, seria, com todas as cautelas e juntamente com outros indicadores, servir para uma crítica das políticas públicas dos governos. Para tal não precisam ser censitários, podem ser amostrais – e mais baratos… Nenhum estatístico sério irá defender que seu teste pode saber mais do que os próprios professores sobre seus estudantes. Porque são feitos, então?

Primeiro, porque a reforma empresarial quer “controlar” e colocar “pressão” sobre as escolas para que sejam “eficientes”. Esta política acha que o ser humano só é eficiente se for pressionado. Não passa pela cabeça deles que existam condições restritivas oriundas das políticas educacionais ou da própria vida dos estudantes que estejam sendo impeditivas. E se acham que existem, também acham que as escolas podem e devem superar tais obstáculos. Para tal, vivem procurando alguma escola que atenda crianças pobres para transformá-la em “evidência empírica” de boa educação.

Christopher Tienken (professor associado da Seton Hall University) e Julie Larrea Borst (diretora executiva da Save Our Schools New Jersey e presidente do conselho da New Jersey Community Schools Coalition fazem um apelo para que os Estados Unidos, o país que mais usa testes padronizados do grupo de países do G20, livrem-se dos testes padronizados em educação, pois eles “simplesmente não funcionam”.

No texto deles, é possível se ler uma segunda razão para a mania dos testes. Eles apontam que com esta mania “um verdadeiro complexo industrial de testes foi instalado em todo o país, que desvia recursos educacionais de escolas públicas para grandes corporações.”

Por isso que, em alguns meios acadêmicos norte-americanos, o programa educacional do presidente G. W. Bush chamado “Nenhuma criança deixada para trás” era chamado, na verdade, de “Nenhum consultor deixado para trás”.

Os autores apontam que estudos nos últimos 35 anos nos informam que “os resultados de testes padronizados são altamente subjetivos e não totalmente indicativos do que está acontecendo na sala de aula.” Há evidências empíricas, ressaltam, que apontam que “os testes padronizados são medidas que reproduzem resultados que podem ser previstos no âmbito das escolas “usando dados demográficos familiares e comunitários encontrados no Censo dos EUA.” Em resumo, afirmam que:

“Simplificando, os resultados de estudo após estudo ao longo dos últimos 70 anos sugerem que os testes estão medindo mais as experiências de uma criança obtidas fora da escola do que o que está acontecendo dentro da escola. Os resultados não fornecem informações válidas sobre a qualidade do ensino em uma escola, como um aluno aprende, o que um aluno aprendeu, nem o potencial de aprendizagem de um aluno.”

Leia todo o texto aqui.

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Brasil fica entre os últimos em prova internacional de alfabetização com 65 países

JC Notícias – 16/05/2023

Dados do Pirls, de 2021, reforça cenário de dificuldade de alunos brasileiros com leitura e forte desigualdade

O Brasil ficou à frente de apenas quatro países em uma avaliação internacional de alfabetização aplicada em 2021 a estudantes de 65 países e regiões. Os dados do Pirls (sigla em inglês para Progress in International Reading Literacy Study) foram divulgados nesta terça-feira (16).

Foi a primeira vez que o país participou da avaliação, realizada pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), uma cooperativa de instituições de pesquisa, órgãos governamentais e especialistas dedicada à realização de estudos e pesquisas educacionais.

A inclusão do Brasil no Pirls foi uma iniciativa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

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Conjunturas e impactos na formação de educadores: análises e perspectivas

Publicado em 13/05/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

Entre os dias 10 e 12 de maio ocorreu em Brasília o XXI Encontro Nacional da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE. Tive o prazer de fazer a palestra de abertura deste evento. Abaixo divulgo o texto que foi lido no evento.

Baixe o texto da abertura da ANFOPE aqui.

 

A avaliação nas pedagogias tradicionais: permanências e desafios

Enílvia Morato Soares

Segundo Cury (1985), captar um fenômeno no conjunto de suas relações com os demais fenômenos e no conjunto das manifestações da realidade a qual pertence, só é possível por meio da historicização desse fenômeno. Essa foi a perspectiva que norteou a obra “Avaliação da Aprendizagem escolar: passado, presente e futuro”, escrita por Cipriano Carlos Luckesi e publicada em 2021. O autor confirma esse pressuposto ao utilizar-se do “recurso de ir para o passado e, de lá retornar ao presente tendo em vista compreender […] como aqui chegamos” (p. 19).

Para além da compreensão do presente, as contribuições históricas nos permitem abandonar “a posição ingênua de acreditar que a forma como agimos no nosso cotidiano é natural” para percebermos que, “de fato, agimos no contexto de determinações histórico-sociais” (LUCKESI, 2021, p. 19) que, por serem contraditórias, indicam a necessidade de construção do devir ou, em outras palavras, de “assumir, se assim o desejarmos, novos modos de agir” (Idem, p. 22).

Com o propósito de contribuir para a construção de um futuro mais promissor para a avaliação da aprendizagem, Luckesi (2021) inicia sua abordagem transitando do passado ao presente, situando a avaliação em três momentos: nas Pedagogias Tradicionais, nas Pedagogias da Escola Nova e na Tecnologia Educacional. Pontuarei aqui aspectos destacados pelo autor sobre a avaliação nas Pedagogias Tradicionais, objeto de reflexão pelo GEPA em encontros realizados nos dias 14 e 28/04. Nesse cenário, a avaliação foi analisada considerando a pedagogia jesuítica, a de João Amós Comênio e em Johann Friedrich Herbart. 

A defesa de Luckesi de que as pedagogias com fundamentos religiosos (jesuítica e comeniana) anunciavam tanto os cuidados necessários para a efetiva aprendizagem dos estudantes, como o uso classificatório dos resultados da avaliação para aprovar ou reprovar, sendo os exames escolares o principal instrumento utilizado, suscitou questionamentos no Grupo:

  • A Pauta do Professor definida na Ratio Studiorum[1] como uma caderneta na qual o professor registraria os resultados individuais dos estudantes visando subsidiar suas decisões referentes ao ensino, garantiria a diversificação do atendimento aos estudantes, uma vez que havia uma grande preocupação com o cumprimento do programa (mesmo que parte dos estudantes não conseguisse acompanhar) e com o preparo dos estudantes para os exames visando promovê-los ao nível escolar subsequente?
  • O que o autor chama de “aprendizagem”, uma vez que o ensino era, em grande medida, pautado na memorização por repetições?
  • A previsão antecipada de que alguns já nasciam destinados às atividades culturais superiores e outros aos serviços simples do cotidiano não seria uma avaliação informal desencorajadora e, portanto, seletiva?
  • A comunicação pública dos resultados e a competição como forma de estímulo aos estudantes, bem como o uso do medo e de castigos físicos não são indicativos de uma forte preponderância do uso classificatório e punitivo da avaliação?

Embora ainda no bojo das pedagogias tradicionais, “Herbart está situado, historicamente, na abertura de um novo modo de praticar o exercício pedagógico com base na Psicologia, que iniciava seus primeiros passos como ciência” (LUCKESI, 2021, p. 161), o que reverberou em avanços como a desconfiança quanto à validade dos exames impostos externamente e ao investimento na formação do caráter, decorrente de um consentimento interno dos estudantes. No entanto, o uso de recursos como prêmios e castigos para se obterem disciplina e a homogeneização do ensino percebida nos de passos metodológicos que deveriam ser seguidos para ensinar e aprender ainda se faziam presentes, segundo o autor.

A avaliação não foi, segundo Luckesi (2021), abordada de forma direta, mas podia ser percebida na dinâmica dos cinco passos propostos por Herbart (preparação, apresentação, associação, generalização, aplicação), visando subsidiar professores e estudantes na aquisição de conhecimentos, aspecto que não foi identificado de forma tão evidente pelo GEPA.

Identificar concordâncias e dissonâncias nas análises de Luckesi (2021) não foi, porém, o que de principal se projetou a partir do estudo, mas sim, compreender as heranças históricas desse período na organização do trabalho pedagógico e de modo mais específico na avaliação das aprendizagens praticada hoje em nossas escolas, o que pode contribuir para o fortalecimento da resistência à ideologia dominante que converte em permanente o que é, de fato, transitório.

Nessa direção, percebemos não só o quanto a avaliação se mostra refratária a mudanças, mas, também os obstáculos que ainda temos de superar em busca da desnaturalização de práticas classificatórias, seletivas, punitivas e excludentes. Em diferentes partes dos textos analisados, a sensação foi de que ainda vivemos no auge das pedagogias tradicionais. A meritocracia (premiação, punição, ranqueamento e exposição pública de resultados, etc) como meio de estímulo ao estudo; o exercício da memorização visando o êxito em exames e/ou para a aprovação, muitas vezes dissociado da conquista de aprendizagens; a excessiva preocupação em cumprir o currículo independentemente das condições de aprendizagem dos estudantes; o ensino organizado em etapas inflexíveis; entre outras, são ainda uma realidade em muitas de nossas escolas.

Luckesi (202) nos ajuda nessa caminhada, uma vez que compreender as determinações histórico-sociais do que ocorre hoje subsidiará nosso modo de pensar e orientará nossas escolhas e decisões em direção a um futuro mais justo e favorável a todos. É o próprio autor quem afirma que “o presente e o futuro estão em nossas mãos e o passado histórico, por seu turno, nos auxilia a reconhecer os caminhos trilhados assim como a escolher o modo de estar e viver no presente e em direção ao futuro”.

O desafio de uma educação escolar que consista em oportunidade real de aprender está posto e exige cuidados que passam, necessariamente, pelo uso da avaliação com propósitos formativos. Vamos a ele!

Referências:

CURY, Carlos R. Jamil. Educação e Contradição: Elementos metodológicos para uma Teoria Crítica do Fenômeno Educativo. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1985.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem escolar: passado, presente e futuro. São Paulo: Cortez Editora, 2021.


[1] Ratio Studiorum era o Plano de Estudos da Companhia de Jesus que ditava o comportamento dos membros da hierarquia educacional jesuítica e indicava o que os mestres deveriam ensinar, estabelecendo regras práticas para serem aplicadas nos colégios. O detalhamento do processo pedagógico visava garantir o controle da Igreja nos territórios colonizados.

 

O que a forma como se educa diz sobre violência nas escolas

JC Notícias – 11/04/2023

Escolas refletem dinâmicas de um país desigual e violento, dizem especialistas. Para eles, episódios recentes reforçam necessidade de repensar educação das novas gerações, com mais diálogo dentro e fora da sala de aula

Cada vez mais recorrentes, episódios de violência nas escolas chamam atenção para a necessidade urgente de refletir sobre a educação das novas gerações dentro e fora de sala de aula.

Especialistas ouvidos pela DW foram unânimes em afirmar que, num país desigual e com altos índices de violência, tanto na esfera pública quanto na privada, as escolas só espelham uma dinâmica que já existe na sociedade – um quadro agravado pelo cenário de radicalização política.

“A violência no Brasil ainda é colocada como solução de problemas”, explica Daniel Fatori, psicólogo e pesquisador pós-doutorando na área de saúde mental no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Como exemplo, ele cita o discurso punitivista dominante nos debates sobre segurança pública, quando o fato de policiais matarem é percebido como algo positivo. “É uma visão que ainda permanece no Brasil, e que é muito problemática.”

Leia na íntegra: Deutsche Welle

 

O que a neurociência diz sobre o uso de Chat GPT e outros algoritmos por estudantes

JC Notícias – 14/04/2023

Neurocientista Suzana Herculano-Houzel levanta questões sobre a interação com ferramenta de inteligência artificial

A neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel tem uma mensagem bem objetiva para jovens estudantes que andam encantados com as possibilidades oferecidas pelo Chat GPT, a ferramenta de inteligência artificial que escreve textos como humanos lançada no fim do ano passado pela startup americana Open AI com apoio bilionário da Microsoft. A mensagem é: passar a delegar com frequência para a máquina a prática da escrita é abrir mão de desenvolver capacidades cognitivas e oportunidades de criar seu próprio conhecimento. Isso pode significar limitar capacidades e caminhos no futuro e tornar jovens facilmente manipuláveis. “O que me preocupa nisso tudo são as decisões que tiram possibilidades da gente, que roubam futuros possíveis”, diz ela. Bióloga, neurocientista e há sete anos professora associada da Universidade Vanderbilt, em Nashville, no Estado americano do Tennessee, Suzana é autora de, entre outros livros, “A Vantagem Humana – Como nosso cérebro se tornou superpoderoso” (Cia das Letras, 2017).

Nesta entrevista ao Valor, ela diz que, apesar das preocupações, seria tolo e inútil imaginar que esse tipo de tecnologia possa ter seu uso restringido. “Uso consciente. Talvez isso seja melhor que a gente possa aspirar e desejar.” A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Desde o ano passado, com o lançamento do Chat GPT, mais e mais estudantes passam a interagir com a ferramenta para que ela crie e escreva por eles trabalhos, resumos, apresentações de escola e de faculdade. Qual é a implicação disso para o cérebro desses jovens?

Suzana Herculano-Houzel: Quando você delega o processo a um terceiro, você não está mais usando o seu cérebro. O ser extraordinário que gostamos de pensar que somos é o que o fazemos com o cérebro que temos e é o que fazemos ao longo da vida. A gente costuma pensar na capacidade cognitiva do adulto como se aquilo fosse criado num estalo. E não é. Leva 20 anos, pelo menos, de aprendizado, de exposição, de oportunidades, durante os quais você vai fazendo exatamente o que esses algoritmos precisam fazer: ser treinado. O algoritmo também precisa receber dados, processar, ter oportunidade de juntar informações, de ver no corpo de dados que ele usa quais palavras ocorrem juntas, quais nunca são usadas juntas. Tudo isso é aprendizado e é aprendizado que o algoritmo tem que fazer também. Então, a gente delegar uma tarefa, o processamento, para o algoritmo significa q

Este trecho é parte de conteúdo que pode ser compartilhado utilizando o link https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/04/13/delegar-tarefas-ao-chat-gpt-e-abrir-mao-de-aprender-afirma-neurocientista.ghtml ou as ferramentas oferecidas na página.

Veja o texto na íntegra: Valor

O Valor Econômico não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra.

 

Novidades sobre o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) 2023

Cristhian Spíndola Ferreira

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou, por meio de ofício, que o SAEB 2023 seguirá os moldes das edições de 2019 e 2021, garantindo a comparabilidade da série histórica e baseando-se nas Matrizes de Referência que datam de 2001 para avaliação de Língua Portuguesa e Matemática no 5º e no 9 ano do ensino fundamental, bem como na 3ª série do ensino médio.

Para a edição de 2023, o SAEB seguirá com a aplicação dos testes de Língua Portuguesa e Matemática para o 2º ano do ensino fundamental e com a aplicação dos testes de ciências humanas e da natureza para os 9º anos, como acontece desde 2019, quando foi iniciada a implementação das novas Matrizes de Referência alinhadas à Base Nacional Comum Curricular.

Tais decisões do Inep são muito oportunas para o estudo e a pesquisa do panorama educacional brasileiro impactado pela Pandemia da COVID-19 pois, com as informações de 2019 (pré-pandemia), 2021 (durante) e 2023 (pós-pandemia) encerra-se um ciclo temporal de análise importante para a compreensão desse momento.

Esse ciclo temporal do SAEB poderá constituir-se como subsídio para avaliar a educação praticada no Brasil, elaborando e aprimorando as políticas públicas com vistas à garantia da qualidade social da educação. Entretanto, caberá aos órgãos executivos da gestão pública, nos seus diversos níveis, o consumo e a análise dessas informações para o estabelecimento de metas e ações nos planejamentos estratégicos dos mandatos governamentais que se iniciaram em 2023 e, também, com vistas ao atendimento dos objetivos traçados no Plano Nacional de Educação.

Outra informação importante do SAEB, divulgada pelo Inep, é a determinação institucional de garantir o movimento de alinhamento das Matrizes de Referência à Base Nacional Comum Curricular.

Com essas informações o Inep demonstra uma retomada das suas atribuições institucionais pautadas no trabalho técnico para atendimento à política educacional brasileira.

 

USP dará bônus de até R$ 30 mil a professor para evitar perda de jovens talentos

JC Notícias – 27/03/2023

Gratificação será para docentes que estão há menos de 20 anos na universidade. Cerca de 70 profissionais saem por ano para instituições privadas e do exterior

A Universidade de São Paulo (USP) vai dar um bônus de até R$ 30 mil para os professores que estão há menos de 20 anos na instituição, numa tentativa de evitar saídas de profissionais. Nos últimos anos, cerca de 70 docentes deixaram a universidade mais conceituada do País anualmente para trabalhar na iniciativa privada ou no exterior. Segundo o reitor Gilberto Carlotti Junior, 75% deles eram jovens e estavam há pouco tempo na USP.

“A gente quer que eles fiquem na universidade e não peçam demissão”, disse o Carlotti. Caso o docente saia da USP em menos de dois anos, ele precisa devolver o dinheiro. Não há uma avaliação específica do profissional para receber o bônus, os valores variam conforme o tempo de serviço. Segundo o reitor, a perda de professores é mais presente em áreas como Economia, Administração de Empresas, Tecnologia da Informação, mas também recentemente em Medicina e nas humanidades. “Acreditamos que tem um forte componente salarial.”

O valor máximo, de R$ 30 mil, é para quem começou a trabalhar na USP depois de 2018. O mínimo é de R$ 27 mil para os que entraram entre 2008 e 2003. Cerca de 3 mil dos 5,2 mil professores da universidade serão beneficiados. Funcionários técnico-administrativos que entraram nos últimos 20 anos também ganharão a gratificação, com valor que varia de R$ 4,5 mil a R$ 5 mil.

Veja o texto na íntegra: O Estado de S. Paulo

O Estado de S. Paulo não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra. No entanto, é possível fazer um cadastro rápido que dá direito a um determinado número de acessos.

 

Inep avalia alfabetização de crianças do 2º ano do ensino fundamental

JC Notícias – 23/03/2023

Pesquisa vai ouvir 341 alfabetizadores de 291 municípios em abril

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) vai realizar a pesquisa Alfabetiza Brasil para verificar como está o nível de alfabetização das crianças estudantes do segundo ano do ensino fundamental. A realização da pesquisa foi anunciada nesta quarta-feira (22), na sede do Ministério da Educação (MEC), em Brasília.

Os resultados deste levantamento vão servir para definição de diretrizes que ajudem a formular uma política pública nacional de alfabetização e, também, para o estabelecimento de um padrão nacional de avaliação da alfabetização dos estudantes.

O ministro da Educação, Camilo Santana, quer que o Brasil tenha um padrão para alfabetizar crianças na idade certa, até o fim do segundo ano do ensino fundamental. “A partir de experiências já exitosas em vários estados e municípios do Brasil, teremos uma grande política de alfabetização na idade certa de nossas crianças. Estamos construindo essa política ouvindo todos os setores educacionais desse país. Vai ser construída com os municípios e estados. Isso porque qualquer política pública precisa ser fortalecida no regime de colaboração. O MEC tem a responsabilidade de coordenar esse processo.”

A pesquisa será aplicada entre 15 e 23 de abril e contará com 341 professores alfabetizadores de todas as capitais e 291 municípios populosos. As aplicações da pesquisa estarão concentradas em cinco capitais-sede, uma por região do país: Belém (PA), Recife (PE), Brasília (DF), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS).

Critérios

Para definir o que vai ser avaliado na alfabetização dos alunos, o MEC se orientou pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que determina as normas e currículos pedagógicos para as redes de ensino públicas e privadas no que diz respeito à educação infantil e ensinos fundamental e médio no Brasil.

O MEC entende que a alfabetização está completa quando o aluno domina os três eixos da alfabetização: a escrita, a leitura de palavras e frases e a produção de textos. Esta pesquisa analisará como são desenvolvidas com autonomia 10 habilidades destes três eixos, conforme parâmetros avaliados no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), nas edições de 2019 e 2021.

Para serem considerados alfabetizados, os alunos do 2º ano, com idade média de 7 e 8 anos, deverão, por exemplo:

  • Conhecer o alfabeto e dominar convenções gráficas, como letras maiúsculas e minúsculas e cursiva (letras em escrita continua);
  • Compreensão da escrita;
  • Saber ler, reconhecendo globalmente as palavras. Leitura de frases e localização de informações explícitas em textos;
  • Compreender porções maiores de texto;
  • Ter fluência e rapidez de leitura;
  • Ter domínio de grafemas e fonemas, relacionando elementos sonoros de uma palavra com a representação escrita dela;
  • Escrever um texto.

Pontuação

As habilidades medidas terão oito níveis de pontuação, sendo o nível 1 o mais básico (com desempenho de 650 a 675 pontos) e o oitavo, o mais alto da escala (desempenho igual ou maior que 825 pontos). O Inep acrescentou ainda o nível abaixo de 1, quando os estudantes demonstram probabilidade menor que 65% de dominar as habilidades testadas alfabetização.

A coordenadora-geral do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica do Inep, Clara Alarcão, que coordenada a pesquisa Alfabetiza Brasil, destaca a importância desta análise da educação, sobretudo no contexto da pandemia do covid-19. “Neste momento crítico para educação brasileira, o monitoramento da alfabetização na idade certa se faz indispensável. É fundamental definir, com parâmetros claros, quem é a criança alfabetizada, o que ela é capaz de fazer, que habilidades caracterizam essa criança como alfabetizada, para que a gente possa estabelecer diretrizes de uma política nacional de alfabetização de todas as crianças.”

Professores alfabetizadores

Para participar do estudo, os professores alfabetizadores precisam atender aos seguintes critérios: ter graduação em pedagogia, experiência docente mínima de cinco anos em turmas de alfabetização, atuação em turma de 2º ano do ensino fundamental no ano letivo de 2023 e ser reconhecido pela comunidade escolar pela qualidade do trabalho desenvolvido como alfabetizador.

Antes da pesquisa ser aplicada em abril aos professores alfabetizadores representantes de todo o país, um levantamento piloto foi aplicado no Distrito Federal, com a colaboração de professoras que lidam diariamente com alunos do 2º ano do ensino fundamental.

A secretária da Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá, comemorou o fato de a pesquisa ouvir a opinião de quem está em sala de aula. “Todos os professores alfabetizadores têm de, realmente, serem ouvidos neste país. Porque a construção começa com quem implementa. Nunca de cima pra baixo”. E cita problemas da alfabetização incompleta. “Nós precisamos avançar muito nas políticas públicas, principalmente, nesse problema que é do país. Problema de uma criança chegar ao segundo ano e não estar alfabetizada. Chegar ao quinto ano e não estar alfabetizada. Chegar ao ensino médio sem estar alfabetizada. Então, é um problema que tem que cortar na origem”.

Professora do ensino fundamental desde 2007, Adriana Brito de Oliveira participou da pesquisa piloto no Distrito Federal. Com a experiência de ensino em uma escola de Santa Maria (DF), Adriana pôde analisar em primeira mão o que vai ser avaliado pelo restante do país. “Foi a primeira vez que eu pude ter essa chance de participar e dar minha opinião. Esse tipo de prova sempre chegou pronta para os professores, sem poder dar a nossa palavra. Mas, agora, a gente pôde avaliar se aquelas questões que vão ser aplicadas aos alunos estavam no nível deles, se conseguiriam responder. Na ocasião, avaliamos se os textos são adequados e também sugerimos outras questões que poderiam ser feitas e que não estavam abrangidas naquele momento”.

Ensino Médio

No lançamento da pesquisa Alfabetiza Brasil, o ministro da Educação ainda falou sobre a necessidade de avançar na revisão da reforma do ensino médio. A lei de 2017 estabeleceu um novo currículo para o ensino médio, que passou a ser implementado obrigatoriamente em 2022 nas escolas de todo o país.

Para rever a qualidade do ensino médio, Camilo Santana relata que foi criada uma comissão que deve fazer uma consulta pública para ouvir representantes do Fórum Nacional da Educação e do Conselho Nacional de Educação.

O ministro adianta que o MEC vai, por meio de pesquisas, saber a opinião de alunos, professores e especialistas do setor para promover mudanças que melhorem o ensino médio.

“Reconhecemos que não houve, à época, um diálogo, uma construção que envolvesse os atores, os protagonistas que são alunos e os professores, que estão no chão da sala de aula, no dia a dia. É preciso fazer correções e nada melhor do que o diálogo e o debate para a gente possa fazer as correções necessárias e urgentes”.

Agência Brasil

 

ENTREVISTA | DESAFIOS DA DESNATURALIZAÇÃO DO MACHISMO NA ESCOLA

 JORNALISTA: MARIA CARLA  22 DE MARÇO DE 2023

SINPRO-DF

“Não me testa, que eu vou te dar um ‘bombril’. Não me testa. Se você apelar, vai ficar ruim para ‘tu’.”   Essa foi a resposta-ameaça dada pelo estudante que “presenteou” sua professora negra com um pacote de palha de aço da marca Bombril diante dos(as) colegas que reprovaram sua atitude. O fato, protagonizado por um estudante do Centro de Ensino Médio 09 de Ceilândia (CEM 09), aconteceu em pleno 2023, em uma escola pública do Distrito Federal, no Dia Internacional da Mulher.

Desde então, o Sinpro tem reforçado sua atuação na categoria no sentido de estimular todas as escolas a promoverem atividades de conscientização política sobre o racismo estrutural e a misoginia (ódio às mulheres) e reforçado a defesa de uma educação pública, gratuita, democrática, libertadora, inclusiva e socialmente referenciada. Nesse sentido, realizou, na semana passada, uma aula pública no CEM 09 de Ceilândia com envolvimento de toda a escola na atividade.

Na ocasião, o sindicato presentou os(as) professores(as), orientadores(as) educacionais, a direção com o caderno “É preciso ser antirracista” para subsidiar o planejamento pedagógico da escola. Confira aqui a matéria. O caderno segue as diretrizes do Artigo 2ª da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e da Lei nº 10.639/2003, que, há 20 anos, incluiu o ensino de história e cultura afro-brasileiras nos currículos oficiais da educação do País. Na avaliação da diretoria do Sinpro, é preciso atuar pedagogicamente e aplicar a lei antirracista nas escolas para mudar, definitivamente, esse tipo de atitude.

No entanto, como afirma Márcia Gilda, coordenadora da Secretaria de Raça e Sexualidade, o fato em si constitui “crime de racismo porque atingiu e ofendeu a toda uma coletividade”. Embora a professora-alvo da situação tenha tratado o fato com serenidade e maturidade, não conseguiu esconder a gravidade do problema.  O Bombril utilizado como arma pelo estudante apenas explicita, em uma de suas formas mais cruéis, o sarcasmo, o que está enraizado na estrutura da nossa sociedade e que, nos últimos anos, retomou proporções de dois séculos atrás: o machismo.

O Bombril tira do armário e coloca uma lupa sobre um monstro que mesmo estando lá dentro já fazia muitas vítimas e, agora, perdeu o constrangimento de se expor. A misoginia e a cultura do ódio incitadas nos últimos anos no país publicamente, tirou o pudor das manifestações de intolerância, racismo, machismo, misoginia que passaram a alvejar os mais vulneráveis, principalmente as mulheres.

E o que já é inadmissível em qualquer esfera ou setor da sociedade, torna-se emblemático quando acontece na escola; que é locus próprio da esperada mudança das pessoas para a transformação social. É que a escola também sofre dos males do machismo estrutural, sobretudo ao reforçar um processo pedagógico, que se inicia na primeira infância.

Nesta entrevista exclusiva para o site do Sinpro-DF, a professora Olga Freitas fez uma análise da situação. Pedagoga, doutora em Educação, mestra em Neurociência do Comportamento, especialista em Neuropsicologia, Neuropisicopedagogia, Gestão Escolar, Libras e em Educação Inclusiva, Olga é professora aposentada da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEE-DF). Confira a entrevista.

ENTREVISTA | Olga Freitas

Professora, como esse caso da agressão do estudante do CEM 09 da Ceilândia contra a sua professora pode ser fruto de um  “machismo pedagógico? 

Olga Freitas – Bem, pedagógicos são todos os processos que têm por objetivo promover relações significativas entre a/o aprendiz e o conhecimento social e historicamente produzido pela humanidade. Esses processos tanto podem ser intencional e deliberadamente desenvolvidos para possibilitar a aprendizagem

como podem ocorrer de forma não intencional e assistemática, mas é igualmente relevante e eficaz, na perspectiva da produção e assimilação do conhecimento. 

Nesse sentido, a escola, seja por meio de currículos e práticas que reproduzem as características do modelo da sociedade patriarcal, seja pela ação generalizada, expressa em comportamentos e atitudes aprendidos e naturalizados, tanto em  homens quanto em mulheres, reverbera a estrutura que enaltece os valores considerados masculinos, em detrimento, desproporcional, dos valores considerados femininos. E isso vale também para as identidades de gênero e orientações sexuais que não são heteronormativas.

Basta ver que boa parte das rotinas escolares é estabelecida a partir daquilo que é considerado próprio de menina e o que é próprio de menino, como a organização do espaço social, dos agrupamentos, dos símbolos, da proposição dos jogos, brinquedos, conteúdos, atividades recreativas, práticas de esportes,  expectativas de comportamento, entre outros.

 Esses aspectos separam meninas e meninos apenas com base nos estereótipos de gênero e ocorrem de forma tão natural que dificilmente percebemos o quanto contribuímos para uma educação sexista para nossas crianças e jovens.

Podemos dizer que isso revela a necessidade de a educação estar conectada com a política? 

Olga – Sim. A educação não pode estar desconectada da política, pois, como nos ensina Paulo Freire, educar implica, necessariamente, perguntar-se a todo tempo, que tipo de sujeito queremos ajudar a formar e para que tipo de sociedade. E isso é um ato político. Se queremos viver em um mundo mais justo e mais igual, em que mulheres e homens tenham as mesmas oportunidades, a educação deve ser, intencionalmente, livre de toda e qualquer forma de discriminação e preconceito e, para isso, a escola deve desenvolver planos, programas, ações que eduquem meninas e meninos para essa igualdade.

Importantíssimo também que professoras e professores, diretoras e diretores, merendeiras e merendeiros, secretárias e secretários, agentes de portaria, orientadoras e orientadores educacionais, mães e pais, enfim, toda a comunidade escolar se perceba como referência para as crianças e os jovens e que o exemplo educa muito mais do que as palavras.

Esse caso expõe o fato de a escola ser um ambiente tóxico para as mulheres? 

Olga – O ambiente escolar ainda é tóxico tanto para meninas quanto para meninos porque tende a reproduzir ideias e estereótipos de gênero, que valorizam mais o masculino em detrimento do feminino. Para citar um exemplo, o estudo da fisiologia humana não aborda a menstruação, como o que ela é: uma evidência da natureza; é biológica, fisiológica.

Ao contrário, a escola assume uma posição de aparente “neutralidade”,  para responder à parcela conservadora da sociedade, tratando o tema  como um assunto delicado e, portanto, privado. Dessa forma, a menstruação é mais um conteúdo que fica armazenado na nuvem, sem ser abordado nem na escola nem no âmbito familiar.

Na escola, quando abordada, a menstruação é assunto apenas nas aulas de genética,  quando o sistema reprodutor é explicado,  de forma professoral, asséptica e hermética. Além disso, muitas de nós,  professoras (que, em geral, também menstruamos), abordamos o assunto de forma inadequada, na maioria das vezes como algo nojento, por se tratar da expulsão de sangue. Essa é uma atitude que faz com que, em vez de se sentirem confortáveis com seus corpos, as meninas sintam vergonha dele; têm vergonha de fazerem parte da natureza. Mais um ponto para o machismo pedagógico.

Além disso, o descaso com o tema também contribui para a pobreza menstrual, que impede muitas meninas de irem à escola quando estão menstruadas, por falta de condições financeiras para comprarem absorventes higiênicos.

A discriminação, o bullying e outras práticas criminosas disfarçadas em piadas, por exemplo, têm uma relação estreita com a estereotipização das pessoas. Há décadas as sociedades lutam contra isso. O que é preciso fazer? 

Olga – É necessário implementar ações para desconstruir os estereótipos de gênero e remover as barreiras baseadas neles por meio de currículos inclusivos, antissexistas e que transformem impedimentos construídos, culturalmente, em oportunidades. 

Essa desconstrução passa, necessariamente, pela ampliação da participação feminina nos espaços de poder, seja pela política ou pela carreira profissional, principalmente, nas instâncias legislativas. Quanto maior o número de mulheres ocupando esses espaços, maior sua representatividade na priorização das agendas e na regulação das relações sociais. A construção de normas e regras sociais também deve incluir as mulheres, que, geralmente, são negligenciadas em razão da sua sub-representação nesses espaços.

Basta ver que, na rede pública de ensino do Distrito Federal, as mulheres são mais de 80% do corpo docente, mais de 70% na carreira assistência, mas de 70% como responsáveis legais pelos estudantes e mais de 50% do alunado, mas estão sub-representadas tanto na gestão central quanto nas gestões escolares. Nas escolas, as mulheres só são maioria nas equipes diretivas porque a maioria das escolas está direcionada à educação da primeira infância, segmento ainda fortemente associado à extensão dos cuidados maternos.

Esse “machismo pedagógico” se reflete nas relações internas da categoria do Magistério? 

Olga – Sim. Reflete. O processo de escolha das equipes diretivas é um exemplo claro. Mesmo com todos os segmentos da comunidade escolar compostos, majoritariamente, por mulheres, que também são as que votam e são votadas, o fato de as mulheres serem eleitas massivamente para as unidades que contemplam a educação infantil e anos iniciais, e preteridas em relação aos homens em unidades que incluem estudantes maiores e mais autônomos, é sintomático e revela a força do machismo estrutural com seus elementos inseridos na cultura feminina.

Professora, nesse sentido, qual o papel da escola e o que é preciso ser feito para isso ser erradicado do ambiente escolar? 

Olga –  O papel da escola não é outro senão o de  proporcionar, às meninas, condições para a superação e transformação da realidade imposta às mulheres de cuidar de coisas consideradas “menos importantes”, de serem  as únicas responsáveis por cuidar de suas casas, dos filhos, e de assumirem atividades cujo salário é menor, ou que, mesmo exercendo o mesmo cargo, recebam salários inferiores aos dos homens.

A escola precisa ser um ambiente seguro, intencionalmente estruturado para garantir, principalmente às meninas, a liberdade de ir e vir, de se expressar, de ser; um ambiente em que os sonhos são incentivados e fortalecidos, em que meninos e meninas desfrutam e exercem condições iguais, quer seja na tomada de decisões, quer seja nas rotinas estabelecidas no cotidiano.

Em outras palavras, se o machismo é pedagógico, reproduzido de forma naturalizada, por meio da transmissão de um sistema de valores, pensamentos e atitudes sexistas que reforçam o submetimento da mulher e a supervalorização do homem, a igualdade de gênero também pode e deve ser, o que requer uma intencionalidade educativa crítica nesse sentido.

É preciso transpor o teto de vidro que impede a mulher de avançar profissional e socialmente, incluindo a ruptura com os estereótipos de gênero e seus papéis sociais, a autopercepção imposta que as próprias mulheres têm sobre suas habilidades, a associação natural do poder com o masculino, a desvalorização do trabalho das mulheres e a desvalorização de suas capacidades intelectuais, entre outros. Precisamos, mulheres e homens, junt@s, lutar por uma educação para a igualdade de gênero.

Fonte: SINPRO-DF