Alunos terminam ensino médio sem saber calcular porcentagem, aponta Ideb

JC Notícias, 17/08/2024

Indicador mostrou estagnação do sistema educacional brasileiro em patamares de aprendizado muito baixos em 2023

Os resultados do Ideb 2023 mostraram o cenário de estagnação do sistema educacional brasileiro em patamares de aprendizado muito baixos. Como as deficiências vão se arrastando ao longo da trajetória escolar, os alunos terminam o ensino médio sem saber, por exemplo, como calcular porcentagem.

Os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, principal indicador de qualidade da educação, foram divulgados nesta quarta-feira (14) pelo MEC (Ministério da Educação). Eles mostraram uma leve melhora no desempenho dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano) e ensino médio, e queda nos anos finais (do 6º ao 9º ano).

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

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Escolas em tempo integral têm Ideb mais alto, diz estudo

JC Notícias – 17/08/2024

Colégios da rede pública com mais tempo de aula tiveram nota melhor do que as com menos horas de ensino

Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023 mostram que estudantes de escolas em tempo integral — com mais de sete horas de aulas por dia — aprendem o equivalente a um ano a mais em Matemática, de acordo com análise de dois institutos voltados para a melhoria do ensino no país, o Sonho Grande e o Natura. O levantamento mostra ainda que esse grupo de colégios da rede pública com mais tempo diário de aula teve um nota de 4,4 no indicador, contra 4,1 das unidades em tempo parcial.

O Brasil tem visto uma expansão consistente das escolas em tempo integral no ensino médio. Em 2019, 13% dos colégios e 10% dos alunos estavam nessas unidades. Em 2023, esses números pularam para 33% e 18%, respectivamente.

— Alguns estados conseguiram uma expansão relevante e obtiveram resultado no Ideb — aponta Ana Paula Pereira, diretora executiva do Instituto Sonho Grande.

De acordo com o Sonho Grande, o Paraná, por exemplo, triplicou o número de escolas integrais no ensino médio e conseguiu um aumento de 0,5 no Ideb dessas unidades. O estudo descobriu que as escolas que até 2019 eram regulares e que, antes de 2023, passaram a ter pelo menos sete horas de aulas por dia conseguiram um crescimento médio no indicador de 0,3 pontos. Já as que permaneceram em tempo parcial tiveram crescimento de 0,1.

Veja o texto na íntegra: O Globo

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O IDEB pode mais do que ranquear escolas

Benigna Villas Boas

16/08/2024

http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br

www.benignavillasboas.com.br

O Mec divulgou na última quarta-feira, 14/08/2024, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), referentes ao ano de 2023. Com estardalhaço, a imprensa nacional e a do Distrito Federal, prontamente, apresentaram os resultados em forma de classificação das escolas. Este não é o exemplo a ser seguido pelas unidades de ensino de todo o país ao informarem às famílias os resultados do processo avaliativo por elas desenvolvido.

Nesses momentos de divulgação de dados produzidos pelo MEC, profissionais nem sempre familiarizados com o trabalho pedagógico escolar são entrevistados para apresentarem suas análises. O curioso é que não são convidados diretores escolares nem professores para analisarem o significado desses dados em relação à realidade da sua escola e para dizerem quais ações serão planejadas para o enfrentamento das necessidades encontradas. Este seria o melhor caminho. Não se pode pensar a escola de fora para dentro.  

Avaliar as aprendizagens incorporadas pelos estudantes, em nível nacional, é tarefa necessária e que não se esgota com a apresentação dos seus resultados. Até agora não foi concluído o processo avaliativo desenvolvido pelo MEC. A apresentação dos resultados numéricos precisa ser acompanhada das providências a serem tomadas no sentido de colaborar com as secretarias de educação para que reorganizem o trabalho pedagógico em cada escola e em cada turma, com vistas à incorporação de aprendizagens por todos os estudantes.

A avaliação em larga escala faz sentido quando seus resultados se incorporam aos produzidos pela escola para que, ela própria, encontre os meios de garantir que todos os seus estudantes aprendam.

Os dados do IDEB apresentam um benefício adicional: apontam as necessidades de formação continuada dos professores. Contudo, eles precisam se desvincular do ranqueamento de escolas.

 

Indicador da qualidade da educação tem leve alta nos anos iniciais e queda nos finais, e Brasil segue abaixo do pré-pandemia

JC Notícias – 14/08/2024

Dados do Ideb 2023 foram divulgados nesta quarta-feira (14) pelo MEC

O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2023, principal indicador de qualidade da educação básica, mostra um cenário de estagnação do sistema educacional. Houve leve aumento nos índices dos anos iniciais do ensino fundamental e ensino médio, e leve queda nos anos finais.

Os níveis de aprendizado da educação básica brasileira em 2023 avançaram com relação a 2021, mas ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia, mostra os indicadores federais. Isso ocorre com as notas de português e matemática nas três etapas avaliadas: anos iniciais e finais do ensino fundamental e ensino médio

O indicador é produzido a cada dois anos para os anos iniciais (5º ano) e finais (9º ano) do ensino fundamental e também para o 3º ano do ensino médio. Ele é calculado a partir de dois componentes: a taxa de aprovação das escolas e as médias de desempenho dos alunos em uma avaliação de matemática e português.

Leia na íntegra: Folha de S. Paulo

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O Ideb e a avaliação educacional

JC Notícias, 12/08/2024

“Pensar no futuro da educação passa, inevitavelmente, por uma reformulação significativa dos instrumentos de avaliação”, afirma o colunista do jornal O Globo, Ricardo Henriques

O MEC divulgará em breve números de 2023 do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal indicador da qualidade do ensino no país. Mesmo sem saber os resultados, é possível antecipar cuidados na comparação com 2021, ano muito impactado pela pandemia, e já projetar aperfeiçoamentos necessários no atual Sistema de Avaliação da Educação Básica, temas tratados em nota técnia que o Instituto Unibanco divulgou na semana passada.

A série histórica de 2005 a 2019 indicava avanços consecutivos no 5º ano do ensino fundamental, melhorias menos robustas no 9º ano, e um quadro de quase estagnação no médio. Nessa última etapa, os dados de 2019 trouxeram esperança, com avanço inédito de 0,4 ponto (de 0 a 10) em relação a 2017.

Veja o texto na íntegra: O Globo

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Para além da privatização: lições da América

Publicado em 29/07/2024 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

Sara Van Horn e Jennifer C. Berkshire discutem quais são as maiores ameaças para a Educação pública nos Estados Unidos hoje.  

Como as pessoas discordam tão profundamente sobre o ponto da educação pública, vimos recentemente algumas propostas de políticas que teriam parecido impensáveis ​​uma década atrás. Tomemos, por exemplo, o governador da Louisiana anunciando que as escolas públicas vão afixar os Dez Mandamentos em todas as salas de aula, ou Ryan Walters, Comissário de Educação de Oklahoma, anunciando que todas as escolas públicas serão obrigadas não apenas a afixar os Dez Mandamentos, mas também a ensinar a Bíblia.

Eles compartilham uma visão particular sobre o que as escolas públicas são: produzir cristãos. E todas as outras crianças? Eles não têm uma resposta para isso.

Algumas pessoas acreditam fortemente que a escola é onde as crianças devem aprender a se tornar patriotas. Veja o que está acontecendo na Flórida: o governador Ron DeSantis está exigindo que as crianças aprendam o quão bom é o capitalismo — porque se não incutirmos isso cedo, elas crescerão e se tornarão socialistas. Se você observar algumas das mudanças específicas que foram feitas nos currículos de estudos sociais em estados como Texas e Flórida, uma das coisas que eles estão eliminando é a oportunidade para as crianças trabalharem juntas em grupos para resolver um problema, porque estão preocupadas que as crianças cresçam pensando que a ação coletiva é a resposta.”

Leia mais aqui.

Depois da onda de privatização por vouchers que se desenvolve nos estados, a América por fim revelou o que a privatização esconde. E não é só fazer com que os empresários ganhem mais dinheiro. É controlar as escolas colocando-as nas mãos de agentes seguros: empresários e sacerdotes.

É destes setores que vem o dinheiro e o apoio para a agenda não só neoliberal, mas também da direita radical que avança pelos estados.

Note bem: a política em curso nestes estados trabalha com “finalidades educativas claras”. Nós nem começamos a discutir em profundidade o que nos queremos com as finalidades educativas da escola para além do que está dado nas bases nacionais curriculares que até já estamos deixando de criticar.

Um bom começo seria ler o Livro de Roseli S. Caldart, publicado pela Expressão Popular: “Sobre as tarefas educativas da escola e a atualidade”.

 

Desigualdade entre escolas públicas e privadas cresce no Enem 2023

Ano foi o primeiro com a mudança do Novo Ensino Médio, e reverte diminuição de desigualdade registrada desde 2019

A diferença de desempenho entre escolas públicas e privadas cresceu no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de 2023 em Matemática e Ciências da Natureza. O resultado reverte uma tendência de diminuição da desigualdade que era registrada desde 2019. Esse foi o primeiro ano em que parte dos estudantes fez a prova após a mudança para o Novo Ensino Médio.

Especialistas apontam que o modelo, que já foi reformulado este ano após diversas críticas, pode ter pesado nesse resultado. A nota em Matemática das escolas públicas caiu de 507 para 503. Já a das privadas subiu de 601 para 618. Em Ciências da Natureza, as mudanças foram de 473 para 472 e de 530 para 541, respectivamente. Os dados do Inep foram obtidos pelo SAS Educação, uma plataforma de ensino usada por 1,2 mil escolas no Brasil, e disponibilizados com exclusividade ao GLOBO.

Veja o texto na íntegra: O Globo

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MEC lança programa Escola das Adolescências

JC Notícias – 11/07/2024

Iniciativa visa a fortalecer e melhorar a qualidade da oferta educativa para os anos finais do ensino fundamental. Portaria foi publicada nesta quinta-feira, 11 de julho

O Ministério da Educação (MEC) publicou a Portaria nº 635/2024, nesta quinta-feira, 11 de julho, que institui o Programa Escola das Adolescências. A iniciativa é voltada à melhoria contínua da oferta educativa para os anos finais do ensino fundamental e reúne um conjunto de estratégias que valorizam o momento de desenvolvimento dos estudantes dessa etapa.

A Escola das Adolescências tem como eixos estruturantes: governança para a aprendizagem com equidade; desenvolvimento profissional de professores, gestores e equipes técnicas das secretarias de educação; e a organização curricular e pedagógica. Para cada um deles, o MEC, em colaboração com as secretarias estaduais, distrital e municipal, operacionalizará estratégias de implementação capazes de colaborar com a consecução dos objetivos do programa.

O Ministro de Estado da Educação, Camilo Santana, explicou que o objetivo do programa é tornar a escola atrativa para os estudantes, motivando a frequência e permanência. “Vamos investir recursos em um projeto-piloto para 15 mil escolas brasileiras, realizando mudanças para garantir que esses jovens se sintam pertencentes à escola. Queremos, assim, que os alunos sintam vontade de estudar, se identifiquem com o projeto de educação e permaneçam nas escolas”, destacou.

O repasse dos recursos para as redes municipais e estaduais será feito via Programa Dinheiro Direto nas Escolas (PDDE), em uma modalidade criada especialmente para o Escola das Adolescências.

Vamos investir recursos em um projeto-piloto para 15 mil escolas brasileiras, realizando ações e mudanças para garantir que esses jovens se sintam pertencentes à escola.”
Ministro de Estado da Educação, Camilo Santana 

Para a secretária de Educação Básica, Kátia Schweickardt, o Programa oferece aos estudantes dos anos finais do ensino fundamental a oportunidade de ter uma escola que faça sentido para eles. “Os estudantes do 6º ao 9º ano participaram de uma escuta nacional, na qual ouvimos mais de 2 milhões de estudantes do ensino fundamental II. Eles falaram sobre o que esperam da escola, do currículo e dos professores, com a finalidade de contribuir com uma escola que faça mais sentido em suas vidas e os prepare melhor para o ensino médio”, concluiu.

A secretária ainda completou que o regime de colaboração foi a tônica de todo o processo de construção do Programa, bem como dos documentos de apoio técnico. A construção foi feita em cooperação interfederativa com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), envolvendo 53 técnicos das secretarias de Educação e validados pelos secretários que vão compor o Comitê Nacional do Programa Escola das Adolescências.

Escuta das Adolescências – Em maio de 2024, foi realizada a Semana da Escuta das Adolescências nas escolas, com o objetivo de obter um diagnóstico sobre os principais desafios dos anos finais, nas dimensões de aprendizagem, clima e convivência, inovação e participação. O alcance foi de 2 milhões de estudantes, em mais de 20 mil escolas participantes.

MEC

 

A educação escolar em instituições de privação de liberdade:

direito ou mérito?

Enílvia R. Morato Soares

            Compreender os reflexos da educação formal oferecida no presídio regional de São João Del Rei (MG) na vida de egressos foi o principal objetivo de uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal dessa mesma localidade. Tive o privilégio de compor a banca examinadora da referida defesa, momento em que a emersão de importantes reflexões incitou a escrita deste texto.

            A relevância de tais discussões reside, de modo especial, nas tensões geradas pelo atual contexto que temos vivenciado, de forte incentivo ao encarceramento, proveniente da espetacularização da mídia e, em decorrência, do apelo da população; o que acaba rendendo altos lucros aos empresários que investem na área da segurança e votos a políticos que, de certa forma, os representam. São discursos que insistem no armamento da população e na repressão ostensiva da polícia, tornando-a cada vez mais violenta. Descarta-se, desse modo, a necessidade de se pensar formas de estender a todos o direito ao emprego, à saúde, à educação e à moradia, necessidades básicas que, quando não atendidas, induzem à criminalidade. Basta colocar no cerne do discurso a defesa da segurança, clamando pela prisão, instituição sabidamente falida.

               O Brasil tem hoje a terceira maior população carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China[1], situação que por si só já é degradante, mas que se torna ainda mais preocupante diante de problemas do sistema penitenciário, tais como a superlotação, a violação de direitos humanos, as falhas no cumprimento de procedimentos, a morosidade no julgamento dos casos, entre outros.

A aposta do Brasil é na punição, em grande parte via reclusão, reclusão esta caracterizada por marcadores sociais de raça, nível educacional e classe social. Isso significa que o encarceramento em nosso país é uma questão social. Como resolver com justiça penal o que deve ser resolvido com justiça social? Quem vai para a prisão no Brasil? Os menos abastados, porque crimes são cometidos por todas as camadas da sociedade (não declarando impostos, não pedindo nota fiscal, via transações financeiras escusas – crimes que muitas vezes não chegam sequer a ser declarados). Nossa sociedade não começa a punir os mais pobres pela prisão. Começa pela fome, falta de moradia, saúde, desemprego, escoando para a prisão.

A violência no nosso país é entendida muito mais pela subtração de bens patrimoniais do que pelo sofrimento da população que é a origem dos demais tipos de violência. Nós toleramos bem a brutalidade que se desvela por meio das desigualdades que geram a falta emprego, de acesso à educação e à alimentação,  mas não o roubo ou o furto de bens patrimoniais.

Toleramos, também com parcimônia, a prisão como ela existe: um espaço, sujo, superlotado, corrupto, com as torturas que lá acontecem. Uma instituição fora da lei, falida, que, comprovadamente, não contribui para a recuperação ou socialização dos que nela adentram. Ninguém espera que a prisão ressocialize. Não se diz: “Agora que ele foi preso, vai tomar jeito”. A sociedade, na realidade, perde sujeitos para as prisões. É essa a sensação: de perda. Se a sociedade não acredita nesse espaço, ele precisa ser repensado.

Os egressos do sistema prisional podem ser comparados a sobreviventes, uma vez que o Estado é mais uma vez omisso quando não consegue oferecer oportunidades de reintegração. Enclausura e depois não consegue acolher o egresso. Quando o Estado não faz isso, o mundo do crime o faz. O Estado pede, muitas vezes, ajuda às ONGs para oferecer emprego, porque não consegue fazer isso. Existem pesquisas que comprovam que quem oferece a maior parte dos empregos aos egressos são afetos desses antigos detentos.

Quanto à educação prisional, dados do Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias) atestam que 13% da população carcerária têm acesso à educação. Desses 13%, 20% estão em processo de alfabetização, o que comprova que o direito à educação não só era negligenciado antes da prisão, como continua sendo para a maior parte dos presos.

Dados dessa natureza foram confirmados na pesquisa por um dos egressos interlocutores da pesquisa:

             Porque para você estudar no presídio é mérito. Para você trabalhar é mérito. Não é direito não. Porque direito todo mundo tem. A lei  fala que você tem direito de estudar. A lei é… a lei tem que ser  correta, não é? A lei não é correta? Só que não é assim não, então     é mérito. E também quem sou eu para criticar a ideologia deles, por quê? Coloca um cara lá, dois quer estudar e três não quer. O cara tem   um monte de problema na cela… problemático, e às   vezes o cara  não que estudar, só quer atrapalhar, quer tirar o tempo. Então, assim, então eles olham mérito. Eles não olham direito. (…) Então eu tive essa oportunidade de estudar. Aí eu fiquei no presídio e estudei.   (SILVA, 2024, p. 71)

A pesquisa destaca a “importância da educação e da pedagogia social no combate à criminalidade, bem como no resgate da dignidade daqueles que se encontram reclusos e que um dia voltarão a conviver em sociedade”. (SILVA, 2024, p. 35). O autor acrescenta ainda: “

Todavia, não obstante esse entendimento uníssono no sentido  de ser a educação um instrumento de resgate à dignidade  humana e, portanto, de suma importância nos estabelecimentos  prisionais, por outro lado, tem-se como desafio identificar e aplicar      metodologias inovadoras capazes de proporcionar resultados concretos ao processo de ressocialização e consequentemente diminuir o índice de reincidência.

Dados desta e de outras pesquisas me permitem acrescentar que os desafios da escolarização nos espaços intramuros se estendem ainda à oferta dessa oportunidade a toda a população carcerária. Isso porque a educação insurge como oportunidade de qualificar o tempo de clausura, assegurando, aos que dele usufrui, o direito que lhes cabe de, conscientemente, refletir sobre a vida e a dignidade que lhe foram negadas e encontrar caminhos que tornem possível sua reconquista.        

SILVA, Getúlio Anderson. Histórias de Vida de Egressos Condicionais e a Educação Formal no Presídio: Direito ou Mérito? Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação Processos Socioeducativos e Práticas Escolaresda Universidade Federal de São João Del Rei (MG), 2024.


[1]Levantamento de informações junto ao Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) realizado no ano de 2021, com dados até julho, constatou a existência de uma população carcerária de 820.689 mil pessoas, sendo 673.614 presas em celas no sistema prisional e 141.002 mil pessoas em prisão domiciliar.

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A militarização das escolas

A terra é redonda

12/06/2024

Por ERIK CHICONELLI GOMES*

A implementação das escolas cívico-militares está inserida em um contexto político específico, marcado por uma agenda conservadora que busca reforçar valores tradicionais e hierárquicos

Como historiador, não posso deixar de refletir sobre as implicações históricas e sociais das escolas cívico-militares no Brasil, especialmente em um contexto de crescente militarização da educação.

A história da militarização na educação brasileira não é um fenômeno recente. Desde a Ditadura militar (1964-1985), temos visto tentativas de inserir valores militares na formação educacional dos jovens. A Constituição de 1988, em seu espírito democrático, não menciona a atuação dos militares na política educacional, uma escolha deliberada para afastar resquícios autoritários. No entanto, as recentes movimentações políticas buscam reviver práticas que deveriam estar relegadas ao passado.

O Plano Nacional de Educação e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que são marcos da educação democrática no Brasil, também não contemplam essa abordagem militar. Isso evidencia que a inclusão das escolas cívico-militares é uma anomalia, uma tentativa de inserir um modelo ultrapassado e autoritário em um sistema que deveria prezar pela liberdade e pelo pensamento crítico.

Custos elevados e ineficiência

As escolas cívico-militares têm um custo por aluno três vezes maior do que as escolas públicas convencionais. Para embasar a afirmação de que as escolas cívico-militares têm um custo por aluno significativamente maior do que as escolas públicas convencionais, podemos citar algumas fontes oficiais.

Segundo informações apresentadas pelo Ministério da Educação (MEC),[i] o custo das escolas cívico-militares é, de fato, elevado. O programa que institui essas escolas, chamado Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim), foi detalhado em diversos documentos e reportagens. Por exemplo, a reportagem da Agência Brasília[ii] destaca que o investimento necessário para manter essas escolas é consideravelmente maior devido à necessidade de pagar pelos serviços adicionais dos militares da reserva, além dos custos comuns das escolas regulares.

Além disso, o levantamento realizado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal mostra que o modelo cívico-militar envolve custos adicionais com a infraestrutura necessária para acomodar as atividades militares e o pagamento de gratificações aos militares que atuam nessas instituições.

Em um país com enormes desigualdades sociais e educacionais, essa escolha parece mais um desperdício de recursos do que um investimento efetivo na educação. Segundo a deputada Andrea Werner (PSOL), “A escola cívico militar custa o dobro por aluno que as escolas regulares e não entrega o dobro de resultados positivos”.[iii]

Além do custo, a eficiência dessas escolas é questionável. O modelo de ensino militar não é necessariamente adequado para a formação integral dos estudantes. A disciplina rígida e o enfoque na obediência podem sufocar a criatividade e o pensamento crítico, habilidades essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens em uma sociedade democrática.

Ideologização do ensino

A expansão das escolas cívico-militares é também um movimento ideológico. O governo de Jair Bolsonaro, ao instituir o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, promoveu uma visão de mundo que privilegia a ordem e a disciplina militares em detrimento da diversidade e da liberdade de pensamento. Esse movimento pode ser interpretado como uma tentativa de doutrinação, buscando formar cidadãos que aceitem passivamente a autoridade e não questionem as estruturas de poder.

Historicamente, regimes autoritários sempre buscaram controlar a educação para moldar as mentes das futuras gerações. As escolas cívico-militares representam um retrocesso nesse sentido, indo contra os princípios democráticos que deveriam nortear a educação pública no Brasil.

O impacto na qualidade da educação

A análise da qualidade da educação em diferentes países revela disparidades significativas no investimento e nos resultados educacionais. Países como Luxemburgo, Suíça e Noruega, que ocupam posições de destaque no cenário educacional global, possuem sistemas educacionais robustos e inclusivos. Nesses países, o foco está no desenvolvimento integral do aluno, promovendo um ambiente que valoriza a diversidade, a criatividade e o pensamento crítico.

Esses investimentos são direcionados para a capacitação contínua dos professores, a melhoria das infraestruturas escolares e a elaboração de currículos que fomentam a inclusão e a inovação pedagógica.

Em Luxemburgo, o investimento por aluno na educação básica ultrapassa os 26.370 dólares, enquanto na Suíça e na Noruega os valores são de 17.333 e 16.008 dólares, respectivamente.[iv] Esses investimentos resultam em sistemas educacionais que priorizam o desenvolvimento holístico do estudante, abordando não apenas o desempenho acadêmico, mas também o bem-estar emocional e social dos alunos.[v]

Países como Finlândia, Canadá e Nova Zelândia são exemplos notáveis de sistemas educacionais inclusivos que priorizam o bem-estar dos alunos e o desenvolvimento integral. Na Finlândia, o sistema educacional é amplamente reconhecido por sua abordagem centrada no aluno, onde o foco está na personalização da aprendizagem e no apoio individualizado. Professores altamente qualificados e continuamente capacitados são a pedra angular desse sistema, que também valoriza a igualdade de oportunidades e a inclusão de todos os estudantes.

No Canadá, a diversidade cultural é celebrada dentro das salas de aula, e o currículo é desenhado para refletir as várias comunidades que compõem o país. A inclusão de tecnologias educacionais é uma prática comum, permitindo que os alunos desenvolvam habilidades para o século XXI. Além disso, a participação ativa da comunidade escolar é incentivada, criando um ambiente colaborativo que apoia o crescimento acadêmico e pessoal dos estudantes.

A Nova Zelândia também se destaca pela sua abordagem inclusiva. O sistema educacional neozelandês é conhecido por seu compromisso com a equidade e a justiça social, proporcionando suporte adicional a estudantes de grupos minoritários e com necessidades especiais. A educação na Nova Zelândia promove a participação ativa dos estudantes na tomada de decisões sobre sua própria aprendizagem, fomentando um senso de responsabilidade e autonomia.

A escolha por um modelo militarizado agrava as desigualdades no sistema educacional brasileiro. Em vez de promover a igualdade de oportunidades, esse modelo tende a criar uma educação dual, onde os recursos são desviados para um segmento específico, deixando a grande maioria das escolas públicas em situação de vulnerabilidade. A falta de investimentos adequados em capacitação de professores, infraestrutura e currículos inclusivos impede que o sistema educacional brasileiro avance em direção a um modelo mais equitativo e de qualidade.

Desafios da política de militarização

A implementação das escolas cívico-militares está inserida em um contexto político específico, marcado por uma agenda conservadora que busca reforçar valores tradicionais e hierárquicos. No entanto, essa abordagem confronta-se com os princípios democráticos estabelecidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e pela própria Constituição Federal de 1988, que promovem uma educação voltada para a cidadania, a pluralidade e o respeito aos direitos humanos.

Historicamente, os regimes autoritários têm utilizado a educação como ferramenta de controle social e doutrinação. A militarização das escolas, além de aumentar os custos, representa uma tentativa de moldar o pensamento das novas gerações conforme uma ideologia específica, que privilegia a obediência cega e a conformidade em detrimento da autonomia e do pensamento crítico. Este movimento é preocupante, pois pode resultar na formação de cidadãos menos preparados para lidar com as complexidades de uma sociedade plural e democrática.

Enquanto países bem-sucedidos adotam práticas que promovem a inclusão, a diversidade e o pensamento crítico, o Brasil parece retroceder ao implementar um modelo que enfatiza a disciplina rígida e a obediência.

A resistência a esse modelo não vem apenas de setores progressistas da sociedade civil, mas também de especialistas em educação, que defendem a valorização dos profissionais da educação e a adoção de políticas públicas que fortaleçam a educação inclusiva e de qualidade. A exclusão dos militares da educação, defendida por diversos pesquisadores e entidades, baseia-se no entendimento de que a formação cidadã deve ser pautada pela liberdade, pela diversidade e pelo respeito aos direitos humanos.

As experiências internacionais demonstram que os sistemas educacionais mais bem-sucedidos são aqueles que investem na formação contínua dos professores, na inclusão de tecnologias educacionais e na participação ativa da comunidade escolar na gestão das instituições. Portanto, a adoção de um modelo militarizado no Brasil vai na contramão das melhores práticas educacionais observadas ao redor do mundo.

Educadoras como Sueli Carneiro e Bell Hooks têm postulado a importância de uma educação inclusiva que valorize a diversidade e a equidade. Sueli Carneiro,[vi] uma renomada intelectual e ativista brasileira, destaca a necessidade de uma educação antirracista e inclusiva que reconheça e valorize as diferenças. Ela argumenta que a educação deve ser um espaço de emancipação e transformação social, onde todos os estudantes, independentemente de sua origem, têm a oportunidade de alcançar seu pleno potencial.

Bell Hooks,[vii] por sua vez, enfatiza a pedagogia do amor e da inclusão, defendendo que a educação deve ser uma prática de liberdade que capacite os estudantes a pensar criticamente e a questionar as estruturas opressivas. Para Bell Hooks, a educação deve ser um processo participativo e democrático, onde a voz de cada aluno é ouvida e respeitada.

Estas perspectivas são fundamentais para entender os desafios e as oportunidades do sistema educacional brasileiro. A militarização das escolas não só ignora esses princípios, mas também perpetua um modelo autoritário que sufoca a criatividade e o pensamento crítico. Para avançar, o Brasil precisa adotar políticas educacionais que promovam a inclusão, a diversidade e a igualdade, seguindo os exemplos bem-sucedidos de outros países e as lições de educadoras visionárias.

Conclusão

Diante dos fatos apresentados, é imperativo questionar a real necessidade e eficácia das escolas cívico-militares. Este modelo não só onera os cofres públicos, mas também ameaça os princípios democráticos que devem nortear a educação brasileira. Como historiador, reitero a importância de uma educação que promova a liberdade de pensamento e prepare os cidadãos para participarem ativamente de uma sociedade democrática e plural. A história nos mostra que a educação é um poderoso instrumento de transformação social, e devemos garantir que ela seja utilizada para promover a inclusão, a igualdade e a justiça social.

A militarização da educação brasileira representa um retorno a práticas autoritárias que contrariam os avanços democráticos conquistados nas últimas décadas. Ao observar exemplos internacionais de sucesso, como os sistemas educacionais da Finlândia, Canadá e Nova Zelândia, percebemos que a qualidade da educação está intrinsecamente ligada à promoção de ambientes inclusivos e ao investimento contínuo na formação de professores. Esses países demonstram que a educação de qualidade é alcançada através da valorização da diversidade e da implantação de políticas educacionais que atendem às necessidades de todos os estudantes, independentemente de sua origem socioeconômica.

Além disso, é crucial considerar a perspectiva de educadoras como Sueli Carneiro e Bell Hooks, que defendem uma educação antirracista e inclusiva. Sueli Carneiro ressalta a importância de uma educação que reconheça e valorize a diversidade cultural e étnica do Brasil, promovendo a equidade e combatendo as desigualdades estruturais. Bell Hooks, por sua vez, enfatiza a pedagogia do amor e da inclusão, propondo uma educação que capacite os estudantes a pensar criticamente e a se engajar ativamente na construção de uma sociedade mais justa. Essas visões são fundamentais para redefinir a educação no Brasil, afastando-se de modelos autoritários e adotando práticas que promovam a liberdade, a criatividade e a igualdade.

Portanto, a adoção de um modelo educativo que valorize a inclusão, a diversidade e o pensamento crítico é essencial para o desenvolvimento de uma educação de qualidade no Brasil. Ao direcionar recursos para a capacitação de professores, a melhoria das infraestruturas escolares e o desenvolvimento de currículos inclusivos, o Brasil pode avançar em direção a um sistema educacional que verdadeiramente prepare seus estudantes para enfrentar os desafios de uma sociedade democrática e plural.

*Erik Chiconelli Gomes é pós-doutorando na Faculdade de Direito na USP.

Notas


[i] Ministério da Educação. ‘Manual das Escolas Cívico-Militares’. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/mec-apresenta-os-resultados-do-programa-nacional-das-escolas-civico-militares.

[ii] Agência Brasília. ‘DF tem 15 escolas cívico-militares, saiba como funciona o modelo’. Disponível em:

(https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/2022/04/17/df-tem-15-escolas-civico-militares-saiba-como-funciona-o-modelo.

[iii] WERNECK, Andrea. “A escola cívico-militar custa o dobro por aluno que as escolas regulares e não entrega o dobro de resultados positivos”. PM agride estudantes em votação de escolas cívico-militares. ICL Notícias. Disponível em: https://iclnoticias.com.br/pm-agride-estudantes-votacao-escolas-militares/.

[iv] Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Education at a Glance 2023: OECD Indicators. OECD iLibrary, 2023. Disponível em: https://www.oecd-ilibrary.org/education/education-at-a-glance-2023_69096873-en

[v] OECD. Education at a Glance 2023. Disponível em: https://www.oecd.org/education/education-at-a-glance/

[vi] CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.

[vii] hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2013.