“Rigidez na escola não dá conta de relações complexas”

JC Notícias – 27/11/2023

Violência em espaços educacionais cresce pós-pandemia. Doutora em educação, Telma Vinha fala ao ‘Nexo’ sobre como o problema atinge o Brasil de forma mais acentuada

Dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) mostram que a relação entre alunos e professores nas escolas brasileiras é hostil, que há uma incidência alta de bullying e que o absenteísmo alto explicita o desinteresse dos adolescentes na escola.

29% dos alunos brasileiros disseram ser vítimas de bullying algumas vezes por mês. A média dos países da OCDE é 23%

O Brasil também vive a partir de 2021 um fenômeno crescente de ataques violentos às escolas, que no passado parecia algo mais restrito a países como os Estados Unidos.

No intervalo de pouco mais de um ano, entre fevereiro de 2022 e outubro de 2023, o Brasil concentrou mais de 50% de ataques desta natureza realizados em pouco mais de 20 anos.

“Há um ecossistema de violência que foi muito alimentado nos últimos anos, de que existem inimigos imaginários, com lideranças que instigam conflitos e estimulam ódio contra alguns grupos. Para algumas pessoas, assim como os autores dos ataques, isso é entendido como uma autorização para agir. É a violência sendo permitida em nome de causas e lutas”, afirma a doutora em educação Telma Vinha.

Veja o texto na íntegra: Nexo

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Como a avaliação escolar pode fomentar uma educação antirracista?

Helder Gomes Rodrigues

A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

Nesse dia 20 de novembro em que refletimos sobre os processos históricos e sociais que envolvem o racismo em nosso país, começamos este texto com os versos de Conceição Evaristo que revelam uma realidade de discriminação, submissão e segregação. Eles denunciam um passado de escravidão, de exclusão e falta de oportunidades, deixam claro ainda uma triste realidade que ainda nos rodeia: o racismo camuflado e entranhado em nossa sociedade.

Nesse contexto, em que o racismo estrutural se apresenta vivo e atuante, faz-se necessário pensar sobre a escola e suas práticas e como elas podem ser significativas para romper ou atenuar preconceitos e discriminações.

Dentre as práticas escolares, a avaliação é, por excelência, o componente da organização do trabalho pedagógico que apresenta um alto  poder de inclusão ou exclusão.

 A avaliação formativa pode ter grande potencial na construção de uma cultura escolar antirracista na busca pela superação do racismo estrutural instaurado na sociedade. É fato que o acesso à educação pela população negra aumentou nos últimos anos, o que é um grande avanço, mas precisamos pensar também na permanência e se as práticas educacionais dentro dos ambientes escolares são inclusivas e propiciam a permanência dos estudantes

Avaliar precisa ser um ato amoroso ( Luckesi, 1995 ) ou seja, uma ação de acolhimento, acompanhamento e de assessoria irrestrita por parte dos professores a todos os estudantes. Precisa ser uma avaliação que tem como referência o próprio estudante, suas conquistas e avanços, uma vez que a comparação de um estudante com o outro não é benéfica nem do ponto de vista para a construção das aprendizagens, muito menos no aspecto social.

A avaliação formativa é mais que uma função da avaliação, ela é uma concepção e portanto um posicionamento político no qual incluir é a palavra chave e não há como incluir sem combater qualquer forma de discriminação, desigualdade e injustiça social. Avaliar nessa perspectiva é avaliar para a emancipação e compreensão da realidade e dos problemas sociais que nos rodeiam. A avaliação formativa tem portanto, compromisso em olhar para as raízes das desigualdades raciais e superá-las.

Avaliar para as aprendizagens é pensar em todos, em condições iguais, é encarar que as diferenças humanas nos enriquecem enquanto humanos e não podem ser usadas para nos separar ou para que ninguém se sinta superior ou inferior pelo simples fato de ser quem é. Nesse sentido, a avaliação formativa pode se valer das avaliações informais sempre para beneficiar os envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem e nunca para rotular, massacrar ou excluir, seja pela cor da pele ou qualquer outra diferença ou pluralismo consubstancial à natureza humana. A avaliação não pode distanciar-se de sua função de melhoria qualitativa do trabalho escolar, pois do contrário constitui-se meio de legitimação da desigualdade e incentivo à meritocracia.

Ao situarmos a avaliação em um contexto histórico e social é clara a intenção de que se busca uma avaliação que almeja contribuir, por meio de suas práticas inclusivas, para uma sociedade mais igualitária, que almeja superar e reparar as exclusões que há anos vêm sendo praticadas e normalizadas. Freitas (2002) assevera que a batalha pela educação e pela equidade não é uma tarefa fácil e não pode ser consequentemente travada sem o apoio de amplos movimentos sociais emancipatórios que questionem radicalmente as bases das relações de exploração vigentes.

É na vivência da prática includente da avaliação, da essência da avaliação formativa, em que as pessoas se sentem acolhidas, que se espera a formação de cidadãos que irão acolher sem discriminação e que não aceitarão os subterfúgios que a sociedade, de maneira estrutural e sistemática, utiliza para excluir, marginalizar e discriminar as pessoas.

Nessa semana em que se celebra o dia da consciência negra, mais que nunca anelamos que o racismo se torne passado e que a avaliação formativa, e consequentemente, a educação escolar sejam inclusivas e antirracistas e que estejam vivas no presente e no futuro.

EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. 3. ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017, p. 24-25)

FREITAS, Luiz Carlos de. A internalização da exclusão. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 80, p. 299-325, sept. 2002. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302002008000015

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1995.

 

Carta ao MEC em defesa de mudanças estruturais na formação inicial de professores no Brasil

JC Notícias – 17/11/2023

O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), o Conselho Municipal de Secretários de Educação das Capitais (Consec), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a Frente Parlamentar Mista da Educação (FPME), a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), o Todos Pela Educação, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) assinaram uma carta conjunta dirigida ao Ministério da Educação (MEC) em defesa de mudanças estruturais na formação inicial de professores no Brasil, protocolada no dia 7 de novembro.

O documento expressa a urgência em relação à necessidade de avanços nas políticas de melhoria da qualidade da formação inicial de professores. A pauta é determinante para a melhoria da qualidade da Educação Básica brasileira e afeta diretamente as redes públicas e particulares de ensino, responsáveis pela contratação e gestão de mais de 2,4 milhões de docentes em todo o país.

Considerando as atribuições do Governo Federal, os signatários da carta entendem que o MEC tem o dever de promover mudanças estruturais para a melhoria da formação inicial docente. O texto ainda aponta que, ao permitir a oferta de cursos inadequados, o País, na prática, promove a desvalorização da profissão docente.

Veja abaixo a carta na íntegra:

Carta ao MEC em defesa de mudanças estruturais na formação inicial de professores no Brasil

Brasília, 07 de novembro de 2023

Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação, Camilo Santana

Os signatários desta carta dirigem-se respeitosamente a Vossa Excelência, com o intuito de expressar nossa enorme preocupação e solicitar avanços urgentes nas políticas de melhoria da qualidade da formação inicial de professores no Brasil.

A formação inicial de professores é determinante para a melhoria da qualidade da Educação Básica brasileira e afeta diretamente as redes públicas e particulares de ensino, responsáveis pela contratação e gestão de mais de 2,4 milhões de docentes em todo o país.

Considerando as atribuições do Governo Federal, é nosso entendimento que o Ministério da Educação tem o dever de promover mudanças estruturais para a melhoria da formação inicial docente. Ao permitir a oferta de cursos inadequados à formação para o início do exercício da docência, o País promove, no sentido contrário que deveríamos tomar, a desvalorização da profissão docente, a mais importante e uma das mais complexas.

Entre as principais preocupações, destacamos:

  • O aumento significativo do número de concluintes em cursos a distância (EaD): em 2022, de cada 10 alunos que concluíram os cursos de formação inicial docente no Brasil, cerca de 6 (65%) estavam na modalidade EaD. Em 2010, eram cerca de 3 (35%). Esse fenômeno de expansão dos cursos a distância é muito mais intenso na formação de professores do que nos demais cursos do Ensino Superior do Brasil, nos quais 31% dos concluintes cursaram na modalidade EaD (versus 65% na formação inicial docente).

Ainda que os desafios da formação inicial certamente não se restrinjam apenas à questão do EaD e que o uso das tecnologias deva ser incentivado, uma sólida formação inicial exige intensa articulação teoria e prática, vivência em escolas de Educação Básica desde o início do curso e o desenvolvimento de habilidades relacionais que só pode ser assegurado de forma presencial. A formação a distância não pode ser a principal estratégia do país para a formação de futuros professores.

  • A baixa qualidade geral dos cursos de formação inicial de professores, independente da modalidade, fato esse recentemente evidenciado pelos resultados do Enade 2021, que demonstrou que dos 17 cursos de formação de professores avaliados, em todos eles a média nacional na nota geral ficou abaixo de 50, numa escala de 0 a 100.
  • As altas taxas de evasão de alunos de pedagogia e licenciatura, em particular nas áreas de exatas (física, matemática, química), onde os índices de desistência chegam a 70%, percentual muito superior à média geral do ensino superior.

Nesse sentido, consideramos positiva a instauração pelo Ministério da Educação de um Grupo de Trabalho para tratar desta temática e a divulgação do Sumário Executivo das

Propostas do GT de Formação Inicial de Professores, no qual constam importantes caminhos para melhorar a qualidade dos cursos de licenciaturas e pedagogia. Registramos nossas expectativas de que essa iniciativa resulte na efetivação de medidas estruturais e céleres.

Agradecemos, desde já, pela atenção e acolhimento de nossa manifestação.

Cordialmente,

Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed)
Conselho Municipal de Secretários de Educação das Capitais (Consec)
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
Frente Parlamentar Mista da Educação (FPME)
Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon)
Todos Pela Educação
Academia Brasileira de Ciências (ABC)
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

Veja o documento em PDF.

Jornal da Ciência

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Como escolas podem fomentar uma educação antirracista

JC Notícias – 16/11/2023

Especialistas apontam como engajamento no combate às desigualdades raciais pode ser ensinado nas salas de aula

A valorização da diversidade étnico-racial dentro da sala de aula é uma das previsões do Plano Nacional de Educação, diretriz que dá os caminhos para a educação no país. O ensino da cultura afro-brasileira e indígena, por sua vez, é uma exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Ambas as previsões são elementos que integram uma educação antirracista, mas ainda estão longe de se concretizar. Mais de 20 anos após passar a ser prevista em lei, a história afro-brasileira enfrenta obstáculos para ser implementada nos currículos. Além disso, o racismo ainda faz parte das relações dentro da sala de aula. Segundo pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) divulgada em agosto, 38% dos casos de racismo no Brasil acontecem em ambientes escolares. Mais estruturalmente, desigualdades raciais ainda marcam a trajetória de alunos e alunas negras, da educação básica ao acesso às universidades.

Para contornar esse cenário, pesquisadores da área apontam que fomentar uma educação antirracista nas escolas brasileiras é um dos caminhos para promover a equidade e combater a discriminação racial que historicamente permeia a sociedade brasileira.

Veja o texto na íntegra: Nexo

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Crise climática vai aprofundar desigualdades educacionais, diz oficial do Unicef

JC Notícias – 16/11/2023

Para Danilo Moura, País precisa de medidas urgentes para mitigar efeitos climáticos no ensino

Enquanto alunos da rede particular vivem a onda de calor, que atinge todo o país, em salas de aula climatizadas com ar condicionado, estudantes da rede pública de São Paulo passam mal enfrentando as altas temperaturas em escolas de lata, no máximo, com ventilador.

Para Danilo Moura, oficial do clima e meio ambiente do Unicef (Fundo das Nações Unidas Para a Infância), esse contraste de condições para o aprendizado é apenas uma amostra de como a crise climática deve agravar ainda mais as desigualdades sociais e educacionais no país.

“A crise climática atinge de forma muito mais grave as populações mais vulneráveis e reforça as desigualdades que já temos. Quem já tem condições menos favoráveis para estudar, passa a contar com mais um fator de desvantagem. Esse é mais um motivo pelo qual precisamos dar respostas mais rápidas para as mudanças climáticas que estamos vivendo”, destaca.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

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A valorização de professores, das palavras à ação

Nexo, 05/11/2023

Mesmo com todos os desafios, oito em cada dez professoras e professores dizem que, se pudessem escolher novamente uma profissão, seguiriam optando pela docência

Nexo é um jornal independente sem publicidade financiado por assinaturas. A maior parte dos nossos conteúdos são exclusivos para assinantes. Aproveite para experimentar o jornal digital mais premiado do Brasil. Em outubro, nos deparamos com uma onda de homenagens e mensagens de gratidão dirigidas para professoras e professores. Seja nas redes sociais ou na TV, são conteúdos de todos os tipos sobre a importância e os desafios vividos por nós em forma de reconhecimento. Independentemente da forma, elas reverberam o mesmo sentimento: o professor tem o poder de transformar vidas.

Em muitas dessas homenagens, somos enaltecidos como entidade, pilar do conhecimento, arquiteto dos sonhos, guia na trajetória do aprendizado e catalisador de aspirações. As mensagens representam uma verdade fundamental: o papel do professor vai muito além da mera disseminação de informação. Somos, de fato, agentes do pensamento crítico, guardiões da criatividade e promotores de valores fundamentais. Mas é preciso ter cautela para não assumirmos, em meio ao reconhecimento bem-vindo, uma postura ingênua.

FICA EVIDENTE QUE UM BOM PROFESSOR, ATENTO À SUA RESPONSABILIDADE SOCIAL, DEVE CRIAR CONDIÇÕES DE INCLUSÃO E DE ACESSO AO CONHECIMENTO PARA AQUELES A QUEM O SABER COSTUMA SER NEGADO

É essencial que tenhamos discernimento. A sociedade nem sempre percebe os desafios que eventos sociais trazem para a sala de aula, criando barreiras entre o ensino e o aprendizado genuíno. O contexto socioeconômico e cultural de cada aluno, sua origem e situação familiar influenciam sua visão sobre a educação. É nesse cenário que a relação professor-aluno se torna uma força transformadora.

Em momentos críticos dentro ou fora da escola, professoras e professores têm papel incisivo de trazer para perto estudantes que não têm apoio ou força para seguir seus estudos. Como se, dentro de cada um de nós, tivesse uma crença forte que guia nossas atitudes: todos os alunos podem aprender. Fica evidente que um bom professor, atento à sua responsabilidade social, deve criar condições de inclusão e de acesso ao conhecimento para aqueles a quem o saber costuma ser negado. Em circunstâncias imprevisíveis e desafiadoras, como nas salas de aula, as relações humanas que se constroem são tão importantes quanto as práticas profissionais e as políticas públicas. Porém, para além das palavras, é fundamental que nossa valorização seja traduzida em ações práticas (e factíveis). Precisamos de políticas públicas robustas, integradas e coerentes que reforcem e valorizem a profissão docente. Políticas que reconheçam que ensinar não é fácil ou mera transmissão de conteúdo. Afinal, estamos cercados por vidas. Como em todos os campos profissionais, na educação é necessário dispor de conhecimento, capacidade, motivação, práticas específicas, formação continuada, salário digno e melhores condições de trabalho. Isso, consecutivamente, eleva a qualidade do aprendizado que será deixado em salas.

Os desafios de valorização e melhores condições de trabalho para o docente no Brasil são múltiplos. Em pesquisa de opinião recente realizada com professores de escolas públicas pelo instituto Ipec (encomendada pelo Todos Pela Educação, em parceria com o Itaú Social, Instituto Península e Profissão Docente), apenas um terço está muito satisfeito com a carreira. Além disso, nove em cada dez dizem que não são tão valorizados como médicos, engenheiros e advogados. No entanto, mesmo com todos os desafios, oito em cada dez professores dizem que, se pudessem escolher novamente uma profissão, seguiriam optando pela docência.

Para estruturar um conjunto sistêmico de políticas públicas, é importante pensar na trajetória dos docentes, que se inicia na graduação, a partir das licenciaturas ou da pedagogia. É necessário estabelecer incentivos para atrair cada vez mais jovens talentosos para a nossa profissão e garantir que tenham condições para se manter no ensino superior, já que a evasão nos cursos é alta. Além disso, estruturar bons programas de estágios em escolas de educação básica desde o início dos cursos é central. É de igual importância ainda enfrentar a proliferação dos cursos à distância – que representam 65% dos concluintes nos cursos de formação inicial, segundo os novos dados do Censo do Ensino Superior.

Já formados, para atuar na rede pública, precisamos prestar concursos públicos, que não acontecem com a frequência adequada. Atualmente, mais da metade dos professores das redes estaduais são temporários. Em relação às carreiras, precisamos de desenhos mais atrativos e estimulantes – hoje, a grande maioria está estruturada de forma que a progressão acontece por tempo de serviço e titulação, sem levar em conta elementos de desenvolvimento profissional. Tal como todos os outros profissionais, precisamos de boas condições de trabalho e muito apoio para o nosso desenvolvimento. Tudo isso, claro, considerando aspectos socioeconômicos, culturais e étnico-raciais, de modo a garantir equidade no cuidado e valorização de toda a categoria.

Diferentes pesquisas apontam que a prática pedagógica dos professores é o elemento que mais impacta a aprendizagem dos estudantes. E essa não é uma simples conclusão teórica: um levantamento, também feito pelo Todos Pela Educação, mostra que os próprios estudantes brasileiros consideram o corpo docente o aspecto mais importante para uma educação de qualidade.

Para além das datas de celebração, precisamos focar na mobilização para que as políticas docentes ganhem mais prioridade no debate público e, consequentemente, na agenda dos tomadores de decisão – sejam os líderes políticos ou gestores educacionais, que estão no Ministério da Educação e nas secretarias de Educação. Nesse movimento, é necessário também ampliar o espaço para que nós participemos mais da construção das políticas educacionais – já que temos uma visão privilegiada da escola e somos os principais responsáveis pela implementação das medidas formuladas nos gabinetes.

Sabemos cada vez mais que, para o Brasil ser um país melhor, é necessário melhorar a qualidade da nossa educação. Portanto, é central entendermos que educação de qualidade não será possível sem professores bem preparados, remunerados, motivados e com ótimas condições de trabalho. Em todas as salas de aula do país.

Janaína Barros é formada em pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. Atua na rede pública há mais de 20 anos. Atualmente, é coordenadora pedagógica da Escola Estadual de Seabra, na região da Chapada Diamantina, na Bahia.

Ivan Gontijo é formado em economia, licenciado em matemática e mestrando em Gestão Pública. Foi professor na rede estadual do Mato Grosso. Atualmente, é gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação.

 

Reflexões sobre a eleição dos gestores escolares

Benigna Villas Boas

Publicado em 31/10/2023

No dia 25/10/2023, as escolas públicas do DF elegeram seus gestores ou os reconduziram ao cargo. O período que antecedeu tal evento foi de avaliação das necessidades das escolas e das condições dos candidatos para assumirem compromisso com a sua coordenação pedagógica e administrativa.

Circulou a informação de que em muitas escolas não houve candidatos à eleição e de que alguns dos atuais diretores seriam candidatos à reeleição. A primeira situação merece reflexão. Como os professores e demais profissionais que atuam nas instituições analisam esse fato? O que provocou seu desinteresse por assumirem a gestão da escola?

Sordi ( 2009, p.4) argumenta que a “escola tem sido vista como mera dependente das decisões do topo do sistema ou dos poderes centrais, cabendo-lhe pouca autonomia na definição de seus próprios caminhos”. É este o caso das escolas públicas do DF? Neste momento cabe à Secretaria de Educação investigar as razões do desinteresse dos professores por assumirem a direção de escolas. Cabe lembrar que o fato de elas elegerem seus gestores não é uma concessão por parte da Secretaria de Educação, mas um direito conquistado pelos docentes. Contudo, isso não basta. Ter diretores eleitos pela comunidade escolar é uma das exigências da gestão democrática do sistema de ensino. O trabalho pedagógico de cada escola não se dissocia dos princípios que norteiam uma sociedade democrática. Por isso, é hora de se investigarem os motivos pelos quais determinadas escolas não apresentaram candidatos à eleição.

Como estudiosa do tema avaliação educacional, neste momento em que as equipes gestoras se renovam, sugiro reflexão sobre as seguintes questões, por todos os que atuam no sistema de ensino: como todas as escolas são inclusivas, quais as singularidades do processo avaliativo nelas praticado, levando em conta os diferentes grupos de estudantes, por exemplo, os da educação de jovens e adultos, da educação infantil, dos anos iniciais e finais do ensino fundamental, ensino médio e outros? Todas as escolas públicas do DF assumem responsabilidade com as aprendizagens de todos os estudantes, inclusive os que apresentam necessidades especiais. A avaliação das/para as aprendizagens é altamente comprometida com as aprendizagens de todos os estudantes. Portanto, quais as especificidades da avaliação das aprendizagens dos diversos grupos de estudantes matriculados na rede pública de ensino?

Os projetos político-pedagógicos das escolas não mencionam tais especificidades. Cada instituição trabalha com estudantes de diferentes níveis, etapas, necessidades e idades. Cada grupo merece participar do processo avaliativo que lhe convém. Como o trabalho pedagógico de cada escola se organiza para isso?

As escolas públicas do DF têm o que há de melhor: todos os professores e demais profissionais da educação formados em nível superior e grande parte com mestrado e doutorado. Importa saber: estes últimos são chamados a oferecer contribuição relacionada ao seu nível de formação?

Todas as unidades de ensino têm o seu projeto político-pedagógico reconstruído a cada ano e publicado no site da Secretaria. Talvez isso não aconteça em outras unidades da federação. Será que os dirigentes da administração central os analisam?  Constituem excelentes meios de o trabalho de cada uma delas tornar-se público e poder ser analisado por quem se interessar. São as famílias informadas dessa possibilidade?

Inquieta-me bastante o fato de muitas escolas não terem tido candidato/a à eleição. Além disso, há informação da existência de  grande número de professores de contrato temporário, o que pode fragilizar o trabalho escolar, porque não costumam nelas permanecer por mais de um ano, o que os leva a não criar vínculos com a instituição.   

Recorro novamente a Sordi (Idem, p. 4), para quem “pensar a escola a partir da própria escola é colocar seus atores em situação de protagonismo, assumir sua condição cidadã de posicionamento no processo decisório que afeta a vida da instituição, dar-lhes fala governante sobre seus processos e contextos”. Na presente situação do DF, está sendo concedida fala aos professores no sentido de escolherem os diretores, mas isso não basta para que assumam protagonismo. O trabalho pedagógico das escolas pede socorro. A análise dos PPPs expõe a fragilidade da avaliação nos seus três níveis (avaliação das aprendizagens, avaliação institucional e avaliação  em larga escala). Além disso, observa-se a necessidade de formação continuada principalmente sobre as singularidades do processo avaliativo em escolas inclusivas.  

Referência

SORDI, Mara Regina Lemes de; SOUZA, Eliana da Silva. A avaliação como instância mediadora da qualidade da escola pública. Campinas, SP: Millenium, 2009.

 

Um terço das crianças de até 5 anos ficam mais de duas horas em telas por dia, aponta pesquisa

JC Notícia – 26/10/2023

Dados foram captados em 13 capitais pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Estudo também mostra que 35% dos pais acham que palmadas e gritos são ‘medidas necessárias para educar’

Um terço das crianças brasileiras de até 5 anos ficam mais de duas horas em telas diariamente, segundo pesquisa realizada em 13 capitais pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Além disso, 35% dos pais ou outros cuidadores acreditam que dar palmadas ou gritar são “medidas necessárias para educá-las”.

O estudo faz parte do projeto Primeira Infância Para Adultos Saudáveis (Pipas) que coletou dados inéditos de crianças entre 0 e 59 meses no País em 2022 e foi divulgado nesta quarta-feira, 25, no 10º Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, em Brasília. A intenção é a de entender o desenvolvimento infantil das crianças brasileiras para nortear políticas públicas.

Veja o texto na íntegra: Estadão

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Observação: os resultados da pesquisa mencionada impactam o trabalho pedagógico da escola. As crianças que já possuem essas experiências desejam participar de atividades interessantes e que as envolvam em sua organização. Além disso, talvez manifestem desinteresse por atividades pedagógicas já consagradas. Trata-se de uma situação que merece reflexão por pais e professores.

 

Como a Inteligência Artificial pode ser usada na educação

JC Notícia – 23/10/2023

Estudiosos da área veem integração da tecnologia como inevitável, mas processo deve ser feito de forma responsável

Desde que chegaram ao grande público em 2022, as inteligências artificiais generativas são apresentadas como uma das maiores revoluções tecnológicas do século 21.

Com a disseminação da tecnologia, educadores e gestores públicos passaram a pensar como usá-la na educação, já que é algo que desperta o interesse dos alunos. Levantamento do Google Brasil de julho mostrou que 30% dos estudantes brasileiros já usaram IAs para alguma tarefa escolar.

Neste texto, o Nexo explica como a inteligência artificial pode ser uma aliada na educação.

Veja o texto na íntegra: Nexo

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Evasão no ensino médio em tempo integral é 32% menor

JC Notícia – 16/10/2023

Taxa de aprovação é 7% maior que entre alunos do modelo regular, mostra estudo

Alunos do ensino médio que estudam em escolas em tempo integral, com jornada média de sete horas por dia, tendem a abandonar menos os estudos. A taxa de evasão escolar desse grupo é 32% menor na comparação com as instituições do ensino médio regular – que desde 2022 aumentaram de quatro para cinco horas a jornada diária. Além disso, a taxa de aprovação dos estudantes também é 7% maior no modelo integral, mostra levantamento do Instituto Sonho Grande, com base nos dados mais recentes do Censo Escolar divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep).

Segundo a diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, Ana Paula Pereira, o dado reflete a característica mais vocacional das escolas que oferecem o ensino médio integral. Ao ter mais tempo com os alunos, os professores conseguem ajudá-los melhor a entender o que querem para o futuro e o que precisam fazer para conectar os ensinamentos com seus objetivos.

Leia na íntegra: Valor

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