UNESCO alerta: on line melhora desempenho?

Publicado em 28/07/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

A UNESCO divulgou relatório onde alerta para o excessivo entusiasmo com as novas tecnologias. Segundo matéria em Carta Capital:

“O problema não é somente o uso, mas como. Esta é a análise da Unesco sobre as ferramentas tecnológicas no cotidiano em sala de aula. Um relatório divulgado pela organização nesta quarta-feira 26 indica que poucas pesquisas consistentes apontam melhorias na educação”.

Acesse aqui a matéria em Carta Capital.

Baixe aqui resumo do relatório da UNESCO.

Baixe aqui relatório completo (436 pg.) da UNESCO.

 

Novo Ideb para um novo PNE

JC Notícias, 24/07/2023

“É fundamental sinalizar, quando nos preparamos para debater um novo Plano Nacional de Educação, que a melhoria de desempenho ao custo de mais desigualdade não é mais um caminho aceitável. Queremos todos avançando, com equidade”, comenta o colunista do jornal O Globo, Antônio Gois

Quando foi anunciado, em 2007, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foi saudado como uma grande inovação. Até então, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), criado em 1995, se baseava apenas em médias de estudantes em português e matemática. O Ideb, porém, era um indicador sintético, agregando também as taxas de aprovação de alunos no cálculo. A mensagem era correta: é preciso melhorar a aprendizagem, com redução de repetência, um problema histórico do país. Redes que tentassem elevar seu índice recorrendo apenas a uma dessas dimensões teriam dificuldade de dar saltos sustentáveis se não melhorassem também a outra.

A escolha de apresentação dos resultados numa escala de zero a dez, mais compreensível ao grande público, foi também um acerto, mesmo reconhecendo que essa simplificação carrega riscos na interpretação. Uma média 6,0 no ensino médio, por exemplo, às vezes é lida pelo público leigo como um resultado mediano, quando, na verdade, considerando o contexto brasileiro, trata-se de um desempenho alcançado por pouquíssimas escolas, públicas ou privadas, dessa etapa.

Apesar desses avanços, o ciclo do Ideb está, como previsto, terminando. Há consenso, mesmo entre especialistas que reconhecem sua importância, que há muitas dimensões relevantes que ele deixa de captar. Uma delas é a desigualdade. Uma rede pode elevar seu Ideb concentrando esforços apenas nos estudantes de maior desempenho. As médias vão melhorar, puxando o indicador para cima, mas ao custo de mais desigualdade, num sistema com níveis já inaceitáveis.

Veja o texto na íntegra: O Globo

O Globo não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra. No entanto, é possível fazer um cadastro rápido que dá direito a um determinado número de acessos.

 

Ravitch: testes são abuso de crianças

Publicado em 22/07/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

Em um recente post intitulado “Bob Shepherd: Já passou da hora de acabar com nossa obsessão com testes padronizados”, Diane Ravitch dá a receita para que acabemos com o “abuso das crianças” que os testes de larga escala representam.

Para ela, só há uma maneira de acabar com este “abuso infantil que rouba das crianças grande parte do tempo que poderiam estar aprendendo” para se dedicarem a “exercícios aleatórios sobre “habilidades” aleatórias de uma pueril lista de “padrões”:

“As provas vão continuar até que os sindicatos nacionais de professores assumam a causa de lhes pôr um fim, até que convoquem uma greve nacional para isso. Isso exigiria coragem de verdade, liderança de verdade. Mas até que os sindicatos de professores façam isso, até que instituam uma ação nacional para acabar com os testes, eles são CÚMPLICES DE ABUSO DE CRIANÇAS. Eu quero dizer isso. Não é exagero. Os testes são um abuso infantil. (…) CHEGA! Foi um fracasso total. Tem sido devastador. É hora de acabar com isso.”

Quando acabaremos com isso por aqui?

 

A ciência e a Inteligência Artificial

JC Notícias, 18/07/2023

Nova edição especial do Jornal da Ciência já está disponível para download gratuito, trazendo reportagens sobre os impactos das novas tecnologias na educação, pesquisa científica, saúde, trabalho, além de entrevista e artigo de cientistas e especialistas

Na segunda década do milênio, as redes sociais tomaram o lugar dos chamados “gatekeepers” (Guardiões dos Portões) que, na linguagem jornalística norte-americana, significa “aqueles que decidem o que deve e o que não deve ser divulgado”.

Neste ano de 2023, quando se celebram dez anos das jornadas de protestos de 2013, nenhuma análise séria deixa de levar em conta o papel das redes sociais naqueles eventos determinantes para tantas reviravoltas políticas no Brasil e no mundo, nos anos subsequentes. As pessoas passaram a se expressar direta e coletivamente deixando para trás os intermediários que há séculos controlam a opinião pública. Para denominar essa transformação social do ponto de vista político, foi cunhado o termo “cyberdemocracia”.

A chegada do ChatGPT, no fim de 2022, marca uma nova etapa na relação da humanidade com a tecnologia. Não que a Inteligência Artificial (IA) seja uma grande novidade. Na verdade, ela começou a ser desenvolvida nos anos 1950 por matemáticos e cientistas da computação em alguns países, porém ficou mais conhecida a partir do trabalho de um grupo de pesquisadores do laboratório da Universidade de Michigan, liderados por Claude Shannon, aos quais se juntou o conhecido cientista inglês Alan Touring.

O mérito das plataformas como ChatGPT e DALL-E (da OpenAI), o Bard (da Alphabet-Google) e Midjourney foi popularizar uma ferramenta até agora com aplicação restrita a grandes projetos espaciais, militares ou industriais. Esta edição do Jornal da Ciência trata das transformações prometidas pela IA.

Desde a pesquisa científica – que atinge um novo patamar, com ferramentas que podem mudar completamente a forma de estudar e produzir –, até a saúde, que já está vivendo uma revolução, inclusive no Brasil, a IA deve balançar o mundo como o conhecemos. E não necessariamente para melhor.

Para tratar o tema de uma forma séria, realista e sem influência da propaganda comercial – como é característica do JC Especial –, trouxemos entrevistas com especialistas que analisam a fundo a questão. Uma delas é a nova coordenadora do Comitê Gestor da Internet (CGI), Renata Mielli, a primeira mulher a assumir o posto em 28 anos de existência do órgão. Em artigo escrito exclusivamente para esta edição, os cientistas Fernando Filgueiras, Ricardo Fabrino Mendonça e Virgílio Almeida falam sobre o importante papel das ciências sociais na retomada do controle da algoritmização da sociedade e, consequentemente, na proteção da nossa combalida democracia.

Esta edição marca também uma nova fase da SBPC. Após o trabalho desenvolvido no biênio 2021-2023 de enfrentamento a um Governo Federal marcado pelo negacionismo e por ataques à Ciência, quase toda a Diretoria da instituição foi reeleita para atuar pelos próximos dois anos, de 2023 a 2025. Nessa segunda etapa, nosso compromisso é seguir reafirmando a importância da competência científica do País, da melhoria da infraestrutura de apoio à pesquisa e, sobretudo, dos novos desenhos e articulações que o Brasil vive.

Baixe gratuitamente seu exemplar do novo JC neste link e boa leitura!

Renato Janine Ribeiro | Presidente da SBPC

Fernanda Sobral | Vice-presidente da SBPC

 

Por que os jovens saem precocemente da escola?

JC Notícias, 11/07/2023

“Distorção idade-série é um fator antecedente e determinante da evasão”, afirmam Paulo Tafner, pesquisador da Fipe/USP, Sergio Guimarães Ferreira, Leandro Rocha e Matheus Leal, pesquisadores do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), em artigo para a Folha de S. Paulo

O Brasil, segundo projeção do IBGE, tinha no ano passado 21,7 milhões de jovens entre 15 e 21 anos. Desses, 2,8 milhões não frequentavam a escola. E também não concluíram a educação básica, segundo dados do mesmo ano do Suplemento de Educação da Pnad Contínua.

É um número preocupante. A educação é essencial para o desenvolvimento de habilidades que favorecem a inserção no mercado de trabalho e a mobilidade social dos jovens. Além disso, a evasão escolar reflete a desigualdade social que limita as chances de ascensão dos mais pobres. A maioria dos jovens que deixam a escola (60%) pertence aos 40% mais pobres da população, enquanto apenas 5% estão entre os 20% mais ricos.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

O Grupo Folha não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra. No entanto, é possível fazer um cadastro rápido que dá direito a um determinado número de acessos.

 

Inteligência artificial e feedback: novo desafio em avaliação

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Nos Estados Unidos estão sendo realizados estudos sobre o uso da inteligência artificial para oferecimento de feedback a professores sobre sua atuação junto aos estudantes. Pesquisas mostram que receber esse feedback da sua própria atuação, por meio de um observador de inteligência artificial, possibilita aos mestres se engajarem mais intensamente no trabalho junto aos estudantes durante as aulas e, mais regularmente, reconhecerem seus avanços e encorajarem sua participação.

O novo estudo desenvolveu-se durante um curso online com estudantes adultos. Contudo, os pesquisadores consideram ser possível usar esse formato de feedback em atividades com estudantes de diferentes cursos. A sua contribuição consiste em oferecer aos professores feedback mais consistente do que a ajuda que lhes poderia ser repassada por orientadores do seu trabalho.  

Considerações éticas estão sendo analisadas, como: o feedback não deve ter caráter  punitivo. Outro aspecto de caráter ético se refere a quem for acessá-lo, pelo fato de as ações dos professores ficarem expostas. Sobre esta última consideração, salienta-se que a ferramenta poderá ser útil para novos professores, que ainda não têm muita experiência. Contudo, as gravações poderão conter enganos que eles não deveriam ver, comenta o texto. Outra situação que merece atenção é a possibilidade de o conteúdo da gravação estar fora de contexto. Por isso, são necessárias orientações claras para quem for usar a ferramenta.  

A ferramenta de inteligência artificial em questão tem a “chance de oferecer feedback mais regularmente e a um custo menor”, dizem os seus idealizadores. Porém, entendem que ela não é desprovida de falha, como qualquer outra referente à inteligência artificial que analisa a linguagem humana.

Considero que o feedback assim proposto pode contribuir para a formação continuada de professores. Para isso requer discussão aprofundada.

Education week, 14/06/2023     

Tradução livre

 

Breve reflexão sobre conselho de classe

Benigna Villas Boas

O conselho de classe é um potente componente do trabalho pedagógico da escola, porque reúne professores, equipe gestora, coordenação pedagógica, outros profissionais que acompanham a atuação docente e, em algumas situações, pais e estudantes. Seus encontros constituem momentos privilegiados de avaliação, quando cada professor/a apresenta as principais conquistas de aprendizagem da turma e de cada estudante, se detém nas necessidades daqueles que ainda não conseguem prosseguir e, em conjunto, o grupo toma decisões acerca da continuidade do trabalho. Ao relatar a situação de aprendizagem de sua turma e de cada estudante, o/a professor/a expõe (no sentido de tornar pública) a dinâmica de trabalho da turma sob sua responsabilidade, nele incluído o processo avaliativo, o que torna o conselho uma das relevantes atividades escolares.   

As escolas públicas do DF costumam receber, a cada ano, professores de contrato temporário. Algumas passam a contar com maior número de docentes nesta situação do que com os concursados, o que requer ações que os integrem ao seu trabalho pedagógico. O conselho de classe é uma delas, pela sua composição e pela sua realização bimestral. Revela-se uma excelente oportunidade para que eles conheçam a atuação de todos os colegas e se sintam pertencentes ao grupo. Além disso, cada professor/a tem a oportunidade de refletir criticamente sobre o trabalho com seus estudantes e receber contribuições dos participantes do conselho. Acompanhando os conselhos de classe bimestrais de uma escola pública há um ano e meio, percebo que chegam a ser longos quando determinadas situações de aprendizagem requerem análise aprofundada. Casos especiais são discutidos e orientações são apresentadas. Ao final do encontro, parece-me que as professoras se sentem amparadas para prosseguir suas atividades.

Além disso, tenho observado o entrelaçamento e as articulações estabelecidas entre um conselho e outro, de tal forma que os debates têm continuidade até que as dificuldades sejam solucionadas. Algumas vezes, relembram-se decisões tomadas no ano anterior, com relação a determinados estudantes que requerem mais atenção, quando vêm à tona seus progressos em relação às necessidades enfrentadas anteriormente. Nesses casos, toda a equipe se une em busca da melhor forma de atuação junto ao estudante.

Parece-me que, ao final dos encontros, todos saem fortalecidos e animados para a continuidade do trabalho, porque sabem que não estão sozinhos.

O conselho de classe assim desenvolvido cumpre dois objetivos. Em primeiro lugar, compromete-se com as aprendizagens de todos os estudantes. Nenhum fica para trás. Não se discutem notas. O interesse se volta ao que está impedindo que as aprendizagens ocorram. Em muitas situações tomam-se decisões para envolvimento dos pais ou de outros profissionais na busca por soluções.

Em segundo lugar, o conselho de classe torna-se uma oportunidade de formação continuada na escola, de forma participativa. Todo o grupo se envolve na discussão sobre o caso que estiver em discussão e todos aprendem. Esta sistemática tem a vantagem de tornar o grupo coeso.

Um passo à frente poderá ser dado: a formação continuada na própria escola costuma trazer benefícios ao desenvolvimento do trabalho, por ser organizada e desenvolvida por aqueles que irão dela participar. Cada instituição, em atendimento ao seu contexto, sabe em quais aspectos sua equipe necessita de atualização e aprofundamento. O espaço da coordenação pedagógica propicia leituras de textos e livros, seguidas de análises pelo próprio grupo. Faz parte da sua autonomia buscar contribuições ao pleno desenvolvimento de suas atividades. O convite a pesquisadores e estudiosos de temas do seu interesse pode trazer contribuições. A formação continuada na escola complementa e atualiza os saberes dos professores. Quem tem pretensão de realizar curso de mestrado tem nela a oportunidade de organizar e formular seu projeto de pesquisa.     

A cultura da avaliação formativa se constitui e se fortalece no interior da escola, tendo o conselho de classe como um dos seus fortes aliados, por possibilitar a organização e reorganização do trabalho pedagógico.   

 

Secretários de Educação levam ao MEC proposta para Novo Ensino Médio

JC Notícias – 05/07/2023

Gestores também defendem investimentos na infraestrutura das escolas

Os secretários estaduais de educação entregaram nesta segunda-feira (3), em conjunto, ao Ministério da Educação (MEC), uma proposta de readequação do Novo Ensino Médio. Para o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a revogação total da lei que institui o Novo Ensino Médio é “completamente inviável”. A entrega do documento foi feita em audiência pública transmitida online.

Diante das especificidades tanto regionais quanto de oferta do ensino no país, o Consed defende que sejam elaboradas orientações, em conjunto com os estados, para a oferta do ensino médio noturno, educação de jovens e adultos (EJA) e também para estudantes de ensino médio do campo, quilombolas, indígenas, jovens ribeirinhos, jovens com deficiência e outros públicos não hegemônicos.

Além disso, os secretários ressaltam a necessidade de investimentos para melhoria da infraestrutura das escolas. Segundo eles, propor “parâmetros mínimos” para a diversidade de cenários e realidades educacionais e escolares do Brasil como pré-requisito para implementação da reforma inviabiliza a implementação. “Quaisquer parâmetros mínimos de qualidade devem ser estabelecidos a partir de um plano nacional de investimentos suficientes para alcançá-los, estruturado em regime de colaboração”, diz o documento divulgado.

Os secretários defendem ainda a manutenção da possibilidade de oferta de educação a distância (EaD), preferencialmente, para Itinerários formativos com critérios de oferta definidos pelos sistemas de ensino. Os itinerários formativos são a parte do ensino médio que pode ser escolhida pelo estudante, mediante a oferta de cada rede de ensino.

Também defendem que 300 horas dentre aquelas que seriam destinadas aos itinerários possam ser usadas para recomposição de aprendizagens, estudos orientados e outros componentes.

Para o Consed, a revogação do Novo Ensino Médio não é o caminho para tornar essa etapa mais atrativa ao estudante. “Não é razoável pensar em descartar todo esse esforço técnico e financeiro despendido pelas redes estaduais ao longo dos últimos anos. Além de inviável, essa opção, em nenhum momento, foi considerada pelos gestores estaduais, que são os responsáveis pela etapa de ensino na rede pública”, diz o texto.

Os estados brasileiros e o Distrito Federal são responsáveis pela maior parte das matrículas do ensino médio. Do total de 7,9 milhões de matrículas nessa etapa de ensino registradas pelo Censo Escolar 2022, as secretarias estaduais de Educação são responsáveis por 84,2%, atendendo a 6,6 milhões de alunos na rede pública.

Novo ensino médio  

Novo Ensino Médio está previsto em lei aprovada em 2017. Com o modelo, parte das aulas será comum a todos os estudantes do país, direcionada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios alunos poderão escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. Entre as opções está dar ênfase, por exemplo, às áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ao ensino técnico. A oferta de itinerários vai depender da capacidade das redes de ensino e das escolas.

O modelo é alvo de polêmica. Alguns setores do campo educacional querem a revogação do currículo que começou a ser implantado em 2022. Outros são contra a revogação e defendem a revisão. Entre aqueles que são contrários ao modelo, um dos argumentos é que ele amplia as desigualdades entre os estudantes e entre as redes de ensino.

Consulta pública  

Nesta segunda-feira (3) são realizados os últimos eventos previstos no cronograma divulgado pelo MEC no âmbito da Consulta Pública para Avaliação e Reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio. Além da audiência com o Consed ocorre o 12º Webinário com Especialistas, também transmitido online.

Desde o dia 15 de junho está aberta a Consulta Pública para Avaliação e Reestruturação da Política Nacional do Ensino Médio on-line. O prazo para participar termina sexta-feira (6). A ideia é escutar estudantes, professores e gestores para compreender seus conhecimentos e suas expectativas sobre o tema. A consulta é feita Pesquizap – um chatbot de WhatsApp especialmente projetado para coletar e mensurar os resultados da pesquisa.

Agência Brasil

Leia também:

G1 – Novo Ensino Médio: secretários de educação defendem carga horária menor para matérias optativas

 

Inteligência artificial e feedback: novo desafio em avaliação

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Nos Estados Unidos estão sendo realizados estudos sobre o uso da inteligência artificial para oferecimento de feedback a professores sobre sua atuação junto aos estudantes. Pesquisas mostram que receber esse feedback da sua própria atuação, por meio de um observador de inteligência artificial, possibilita aos mestres se engajarem mais intensamente no trabalho junto aos estudantes durante as aulas e, mais regularmente, reconhecerem seus avanços e encorajarem sua participação.

O novo estudo desenvolveu-se durante um curso online com estudantes adultos. Contudo, os pesquisadores consideram ser possível usar esse formato de feedback em atividades com estudantes de diferentes cursos. A sua contribuição consiste em oferecer aos professores feedback mais consistente do que a ajuda que lhes poderia ser repassada por orientadores do seu trabalho.  

Considerações éticas estão sendo analisadas, como: o feedback não deve ter caráter  punitivo. Outro aspecto de caráter ético se refere a quem for acessá-lo, pelo fato de as ações dos professores ficarem expostas. Sobre esta última consideração, salienta-se que a ferramenta poderá ser útil para novos professores, que ainda não têm muita experiência. Contudo, as gravações poderão conter enganos que eles não deveriam ver, comenta o texto. Outra situação que merece atenção é a possibilidade de o conteúdo da gravação estar fora de contexto. Por isso, são necessárias orientações claras para quem for usar a ferramenta.  

A ferramenta de inteligência artificial em questão tem a “chance de oferecer feedback mais regularmente e a um custo menor”, dizem os seus idealizadores. Porém, entendem que ela não é desprovida de falha, como qualquer outra referente à inteligência artificial que analisa a linguagem humana.

Considero que o feedback assim proposto pode contribuir para a formação continuada de professores. Para isso requer discussão aprofundada.

Education week, 14/06/2023     

Tradução livre

 

Governo Federal lança Compromisso Nacional Criança Alfabetizada

JC Notícias – 12/06/2023

Nova política de alfabetização defende protagonismo dos estados e municípios, com indução, coordenação e assistência técnica e financeira da União, Investimento será de R$ 2 bilhões em quatro anos

Governo Federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), apresenta o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, nova política de alfabetização brasileira que vai subsidiar ações concretas dos estados, municípios e Distrito Federal para a promoção da alfabetização de todas as crianças do país. O lançamento será nesta segunda-feira, 12 de junho, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Ministro de Estado da Educação, Camilo Santana. A cerimônia está agendada para 10h (de Brasília), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF). O investimento será de mais de R$ 2 bilhões em quatro anos.

O objetivo é garantir que 100% das crianças brasileiras estejam alfabetizadas ao fim do 2º ano do ensino fundamental, conforme previsto na meta 5 do Plano Nacional de Educação (PNE); além de garantir a recomposição das aprendizagens, com foco na alfabetização, de 100% das crianças matriculadas no 3º, 4º e 5º ano, tendo em vista o impacto da pandemia para esse público.

É nesse espírito de colaboração e parceria que queremos transformar a educação do Brasil. Temos uma ambição e um dever enquanto país: cuidar das nossas crianças, garantindo o direito de cada uma de ler e escrever”

Camilo Santana, ministro da Educação

A nova política é baseada em cinco eixos: Gestão e Governança, Formação de Profissionais de Educação, Infraestrutura Física e Pedagógica, Reconhecimento de Boas Práticas e Sistemas de Avaliação. O MEC, como idealizador da política nacional, oferecerá apoio técnico e financeiro às redes de ensino, que também terão papéis e responsabilidades.

Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, o Compromisso foi desenhado a múltiplas mãos e contou com amplo engajamento de representantes de estados e municípios, universidades, professores e especialistas para sua formulação. “É nesse espírito de colaboração e parceria que queremos transformar a educação do Brasil. Temos uma ambição e um dever enquanto país: cuidar das nossas crianças, garantindo o direito de cada uma de ler e escrever”, defende.

Durante a cerimônia, o presidente Lula assinará o Decreto que institui o Compromisso. Após a publicação oficial do documento, os entes federados poderão fazer a adesão à política, via Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle (Simec). Nos 90 dias seguintes, espera-se que estados e municípios colaborem para a formulação da política territorial. Para isso, podem organizar seminários, escutas e audiências, de forma a contar com múltiplas perspectivas do território.

CENÁRIO – são importantes os desafios a serem enfrentados, pois grande parte dos municípios (responsáveis diretos pela alfabetização) enfrenta questões técnicas e orçamentárias; os governos estaduais nem sempre se veem no papel de garantir o direito à alfabetização; e o MEC, até então, tem falhado no papel de indução, coordenação, assistência técnica e financeira.

Em 2021, 2,8 milhões de crianças concluíram o 2º ano do ensino fundamental. Dados da pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para subsidiar o Compromisso, revelam que 56,4% dos alunos foram considerados não alfabetizados pelo seu desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021.

Em outro estudo internacional conduzido pelo Inep, o Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS), divulgado já em 2023, o Brasil ficou à frente de apenas cinco países em avaliação internacional de alfabetização, aplicada em 65 nações.

Segundo Kátia Schweickardt, secretária de Educação Básica do MEC, essas são crianças que ainda não iniciaram uma jornada autônoma no mundo da leitura e da escrita. “Ler e escrever, além de direitos fundamentais, são ferramentas para que as nossas crianças possam se inserir no mundo de forma plena pelo resto de suas vidas. É responsabilidade coletiva garantir a alfabetização na idade adequada e o MEC está de volta para coordenar os esforços necessários em todo o país pela autonomia dos futuros cidadãos”, afirma.

Ler e escrever, além de direitos fundamentais, são ferramentas para que as nossas crianças possam se inserir no mundo de forma plena pelo resto de suas vidas. É responsabilidade coletiva garantir a alfabetização na idade adequada”

Kátia Schweickardt, secretária de Educação Básica do MEC 

A não alfabetização leva a perdas de potencial econômico e gera maior pressão na demanda por serviços sociais. Estudos já revelaram que um cidadão ou cidadã que se alfabetiza tem o dobro da renda; 26% mais chances de ter trabalho formal e 11% mais chances de ter uma boa saúde do que quem não se alfabetizou (Insper, 2017).

“Esse cenário é reflexo de desafios históricos e estruturais, e não é pertinente procurar culpados. O momento é de união e de busca de soluções. Não se alfabetizar na idade esperada prejudica a vida do estudante e a sociedade como um todo”, assinala o Ministro da Educação. “Esse problema, portanto, é responsabilidade de todos nós: Governo Federal, estados, municípios, gestores das redes de ensino e de escola, professores e professoras, e de cada membro da nossa sociedade”, complementa Camilo Santana.

PREMISSAS – a nova política de alfabetização do Governo Federal é baseada em premissas. Tem visão compartilhada de futuro, metas objetivas, razoáveis e à altura do desafio que se compromete a enfrentar. Valoriza o regime de colaboração robusto, por entender a relevância da confiança pública, transparência, diálogo e cooperação no processo. O Compromisso também defende o protagonismo dos estados e municípios, com fomento à construção de políticas territoriais, com indução, coordenação e assistência técnica e financeira da união.

Outras premissas são a mobilização e engajamento da sociedade, com comunicação, acompanhamento e controle social; e o enfrentamento das desigualdades educacionais regionais, socioeconômicas, raciais e de gênero. A política defende, ainda, o foco nas necessidades da sala de aula, do professor e do estudante, com políticas sistêmicas, nitidez das demandas e corresponsabilização de agentes-chave da gestão; e a importância da contextualização e equidade territorial, apoiando estados e regiões em diferentes contextos, de acordo com suas necessidades.

“O MEC lançará mão de diferentes estratégias, tendo como fio condutor o regime de colaboração entre estados e municípios. Esse regime não suprime ou invalida a autonomia dos entes federados, mas fortalece suas capacidades. O Compromisso reconhece as diversidades territoriais do Brasil e não propõe uma resposta única: cada estado, em colaboração com municípios, elaborará a sua própria política territorial, de maneira a dar conta de suas especificidades”, explica Camilo Santana.

ATUAÇÃO – a política tem como foco a alfabetização na idade prevista na Base Nacional Comum Curricular: aos seis e sete anos de idade, quando as crianças devem estar cursando o 1º e o 2º ano do ensino fundamental. No entanto, é preciso atuar antes e depois desse processo. Na educação infantil, quando as crianças têm de zero a cinco anos, é necessário fomentar a oralidade, a leitura e a escrita. A política também prevê uma complementação do processo após a alfabetização em si. Para os estudantes matriculados do 3º ao 5º ano do ensino fundamental, na faixa dos 8 e 10 anos de idade, é necessário consolidar a alfabetização e garantir a aprendizagem das crianças que não se alfabetizaram na fase anterior.

EIXOS – em regime de colaboração federativo, o Compromisso vai ser operacionalizado por meio de cinco eixos, com responsabilidades distintas para MEC, estados e municípios:

  • Gestão e Governança:oferecer bolsas para a implementação local das iniciativas e garantir que 100% das redes elaborem e publiquem sua política territorial em até 90 dias após a adesão ao Compromisso.
  • Formação:garantir que 100% das redes de ensino implementem sua Política de Formação de Gestores(as) Escolares e sua Política de Formação de Professores(as) Alfabetizadores(as).
  • Infraestrutura Física e Pedagógica: garantir que 100% das redes de ensino disponham de material didático complementar para a alfabetização, material pedagógico de apoio aos docentes da educação infantil e espaços de incentivo a práticas da leitura apropriados à faixa etária e ao contexto sociocultural, ao gênero e ao pertencimento étnico-racial dos educandos.
  • Reconhecimento de Boas Práticas:identificar, reconhecer, premiar e disseminar práticas pedagógicas e de gestão exitosas no campo da garantia do direito à alfabetização.
  • Sistema de Avaliação: promover a articulação entre os sistemas de avaliação educacional da educação básica, para a tomada de decisões de gestão no âmbito da rede de ensino, da escola e do processo de ensino-aprendizagem e disponibilização de instrumentos diversificados de avaliação da aprendizagem dos educandos.

GOVERNANÇA – o MEC propõe um modelo de governança e gestão da política de alfabetização baseado na liderança política, na pactuação federativa e em definições estratégicas no âmbito do Compromisso, na coordenação executiva e na realização das ações de natureza técnica. Para isso, instituirá o Comitê Estratégico Nacional do Compromisso (Cenac) e o Comitê Estratégico Estadual do Compromisso (Ceec), para atuar na primeira frente; e a Rede Nacional de Articulação de Gestão e Formação do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (Renalfa).

O Cenac será presidido pelo Ministro de Estado da Educação e incluirá representantes do MEC, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação de Capitais (Consec). Já o Ceec será composto pelo respectivo secretário estadual/distrital e pelos secretários municipais de Educação. A Renalfa terá instâncias estaduais e municipais, subsidiando, tecnicamente, as discussões e tomadas de decisão do Cenac e do Ceec, respectivamente.

Progressivamente, espera-se que os sistemas de ensino possam avançar e estruturar três pilares para a sustentabilidade e institucionalização do Compromisso, tendo: equipe técnica dedicada à política de alfabetização; normas consolidadas no sistema de ensino, com ação articulada com os conselhos de educação e órgãos legislativos; e priorização do orçamento local para a alfabetização.

“O MEC vai apoiar as redes. Ofereceremos mais de 7 mil bolsas para articuladores da política nos territórios, recursos para formação, avaliação, materiais e infraestrutura, apoio técnico e diretrizes para construção das políticas territoriais e para formação, elaboração ou aquisição de materiais e aplicação de avaliação. Teremos, ainda, premiação para os gestores comprometidos com a alfabetização e com a redução de desigualdades educacionais, sociais e raciais”, adianta Kátia.

ADESÃO – a adesão do município, do estado ou do Distrito Federal ao Compromisso acontecerá via Simec. A adesão será voluntária, por meio de assinatura de Termo de Adesão pelo chefe do Poder Executivo do ente federativo ou por seu representante. Isso implica a responsabilidade de promover a melhoria da qualidade do processo e dos resultados da alfabetização, com atenção à redução das desigualdades de aprendizagem entre os estudantes em sua esfera de competência.

A adesão às políticas, aos programas e às ações estabelecidas no âmbito do Compromisso poderá ser realizada pelas redes estaduais, distrital e municipais de educação, de acordo com suas necessidades específicas, com atenção à colaboração nos territórios.

O apoio da União, de natureza supletiva e redistributiva, ocorrerá mediante ações de assistência técnica e financeira e observará os princípios, os objetivos e as diretrizes estabelecidas pelo Decreto que institui a nova política. Para a destinação do apoio ao ente federativo, sem prejuízo de critérios estabelecidos em outras políticas, outros programas e outras ações do MEC, a União adotará como critérios a proporção de crianças não alfabetizadas; as características socioeconômicas, étnico-raciais e de gênero; e a presença de crianças que compõem o público-alvo da educação especial inclusiva.

Conheça a cartilha com principais informações sobre a nova política de alfabetização

Saiba mais sobre o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada

MEC