Pesquisa mostra por que brasileiros deixam escola

JC Notícias – 29/05/2023

Falta de condições e necessidade de trabalho são as principais causas

Quando deixou Araioses, no Maranhão, de ônibus e percorreu mais de 2 mil quilômetros até Brasília, em 2017, Maria de Fátima Santos, então com 18 anos de idade, sonhava engatar em uma profissão no comércio e voltar aos estudos. Aos 15 anos, Maria de Fátima tinha abandonado a escola, no quinto ano fundamental, para ajudar em casa.

Ela trabalhava no interior maranhense como diarista. Os livros não tinham espaço, nem eram prioridade na rotina da jovem. Hoje, em Brasília, a escola é só um sonho distante. Atualmente, perto dos 25 anos de idade, ela vive da coleta de objetos no lixo de condomínios para conseguir algum recurso, pagar o aluguel e mandar ao menos R$ 50 para a mãe, que ficou em Araioses.

Da escola, Maria de Fátima diz que sente falta das aulas de matemática. “Eu gostava e iria me ajudar na minha vida hoje.”

Deixar a escola em plena juventude não é raro no Brasil, conforme aponta uma pesquisa realizada pelo Sesi/Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. Depois dos 16 anos, apenas 15% estão em salas de aula.

”Os dados são fortes. Só 15% da população atualmente estuda. É claro que, na idade escolar, o número sobe para 53%”, afirmou o diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.

Das pessoas que não estudam, 57% disseram que abandonaram a sala de aula porque não tinham condições. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção dos estudos.

“Um número muito alto de pessoas deixa de estudar por falta de interesse na escola que, muitas vezes, não tem elementos de atratividade para os jovens e certamente esses números se agravaram durante a pandemia”, afirmou Lucchesi.

O levantamento mostrou que apenas 38% das pessoas com mais de 16 anos de idade que atualmente não estudam alcançaram a escolaridade que gostariam.

Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixar de estudar é a gravidez ou o nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez ou pela chegada de um filho é maior entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%.

Preparo

O levantamento revela também que a maioria dos jovens acima dos 16 anos de idade considera que a maioria dos que têm ensino médio ou ensino superior considera-se pouco preparada ou despreparada para o mercado de trabalho.

O levantamento foi realizado com uma amostra de 2.007 cidadãos com idade a partir de 16 anos, nas 27 unidades da federação. As entrevistas foram feitas entre 8 e 12 de dezembro do ano passado.

Entre as pessoas que responderam a pesquisa, 23% disseram que a alfabetização deveria ser prioridade para o governo, seguida pela instituição de creches (16%) e pela ênfase no ensino médio (15%).

A educação pública é vista como boa ou ótima por 30% da população, índice que sobe para 50% quando se fala de educação privada.

Entre os fatores para aumentar a qualidade, os mais citados são o aumento do salário dos professores, mais capacitação deles e melhores condições das escolas.

Avaliação

Pelo menos 23% das pessoas ouvidas na pesquisa avaliaram a educação pública como ruim ou péssima e só 30% a consideraram ótima ou boa. A educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos entrevistados.

Para Rafael, Lucchesi, a pesquisa traz uma dura reflexão sobre a necessidade de aumentar a qualidade da educação e também a atratividade da escola e, “como resultado geral, melhorar a produtividade das pessoas na sociedade”.

Agência Brasil

 

Presidente do Inep diz que avaliação da formação de professores deve ter mudanças já em 2024; conheça as novidades

JC Notícias – 25/05/2023

Manuel Palácios defendeu que a análise também esteja atenta aos estágios supervisionados e à prática docente, o que não acontece atualmente

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Palácios, afirmou que a forma de avaliação da formação de professores nas universidades brasileiras deve mudar já para 2024. Ele defendeu que a análise também esteja atenta aos estágios supervisionados e à prática docente, o que não acontece atualmente.

A declaração foi dada na abertura da 15ª edição do Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP), realizada na tarde desta quarta-feira, em Alexânia (GO). Segundo ele, esta é uma medida prioritária para o órgão.

— Nós queremos aproveitar o ciclo de 2024 que avalia as licenciaturas para introduzir novos instrumentos, produzir informação mais e avançar para territórios que até aqui não foram objeto de observação, como os estágios supervisionados e a prática docente — afirmou.

Veja o texto na íntegra: O Globo

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Comunidade escolar diz que covid-19 causou perda de aprendizado em SP

JC Notícias – 24/05/2023

Para 73% dos alunos, professores não são valorizados

Pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) revela que a maioria da comunidade escolar – estudantes, professores e pais de alunos – concorda que o ensino a distância durante a pandemia de coronavírus causou grandes perdas de aprendizado. Entre os estudantes, professores e familiares, o percentual chegou a 95%, 94% e 96%, respectivamente.

Segundo a pesquisa inédita Ouvindo a comunidade escolar: desafios e demandas da educação pública de São Paulo – divulgada nesta terça-feira (23), na capital paulista – para 94% dos estudantes, o retorno às aulas presenciais ocorreu com mais dificuldade de concentração e menor participação nas aulas.

Professores (92%) e familiares (95%) têm a mesma avaliação sobre os estudantes. Quando questionados se a escola teve um aumento de sua importância no pós-pandemia, 62% responderam que sim, seguidos por 76% dos professores e 70% dos pais de alunos.

Quanto à importância do papel dos professores, 62% dos alunos, 73% dos professores e 73% dos familiares consideram que houve aumento da percepção sobre a relevância desse profissional.

Notas máximas

Em todos os perfis da comunidade escolar, a menor parte dos entrevistados avalia com notas máximas a qualidade da educação nas escolas públicas do estado de São Paulo. Para 14% dos estudantes, a nota dada foi 6,2, enquanto 16% dos pais dos alunos deram 6 e 19% dos professores, 6,9.

Na pesquisa, os itens com pior avaliação para os estudantes foram o grau de interesse dos alunos (46%), a segurança nas escolas (38%) e o número de alunos por sala (29%). Entre os professores, o número de alunos por sala foi apontado por 20% dos entrevistados como item pior avaliado, seguido do grau de interesse dos alunos (16%) e integração entre as disciplinas (10%). Já para os pais, apareceram o grau de interesse dos alunos (41%), a segurança na escola (39%) e o número de alunos por sala (29%).

Para todos os grupos (99% dos estudantes, 95% dos professores e 98% das famílias), o governo estadual deveria investir mais em educação. Para o mesmo percentual, uma escola bem cuidada e bem equipada é fundamental para uma educação de qualidade e que professores valorizados e motivados são fundamentais para a qualidade da educação.

A percepção de que os professores do estado de São Paulo não são valorizados é de 75% entre os familiares, 73% dos estudantes e 89% dos professores. Quanto aos professores ganharem menos do que deveriam, 76% dos familiares consideram ser verdade, seguidos por 74% dos familiares e 92% dos professores.

Percepção diária

Segundo a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, conhecida como professora Bebel, os dados confirmaram a percepção diária do que os professores já enfrentavam e levavam para as mesas de conversa com o governo. Ela destacou que foi preciso passar por uma pandemia para que a sociedade desse importância ao papel dos profissionais da educação e da escola como estrutura.

“A pesquisa retrata o dia a dia dos professores, com sofrimento, adoecimento e problemas de saúde mental. Quando pensamos em valorização não pensamos só no dinheiro, que é importante e impacta negativamente na falta de profissionais, mas falta toda a interface que garante um ensino de qualidade”, afirmou Bebel.

Agência Brasil

 

Enem muda com o novo ensino médio? Diretor do MEC diz o que deve ser prioridade na prova

JC Notícias -24/05/2023

Competências da formação básica precisam ser o foco e não itinerários optativos, diz Alexsandro Santos; etapa de ensino passou por reforma nos últimos anos, com adoção de currículo flexível

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deve avaliar formação geral básica do aluno, com as disciplinas tradicionais, como Português e Matemática, diz o diretor de políticas e diretrizes da educação integral básica do Ministério da Educação (MEC), Alexsandro Santos. “Esse é o Enem justo, que foca no currículo comum para todo mundo”, afirmou, no meet point realizado pelo Estadão nesta terça-feira, 23, um dos eventos do projeto Reconstrução da Educação. O Enem se tornou a principal prova de acesso para universidades públicas e particulares do País.

Após intensa pressão de entidades ligadas a professores e estudantes pedindo revogação da lei que instituiu o novo ensino médio, o MEC abriu consulta pública sobre o tema, o que implica discutir também o futuro do Enem. A prova é uma das grandes indutoras dos currículos das redes públicas e particulares. A consulta deve ser encerrada em 6 de junho.

No início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministério chegou a declarar que o Enem seria adaptado em 2024 ao novo ensino médio, mas depois voltou atrás e abriu discussão pública. Neste ano, a prova ainda vai manter o mesmo formato, com 180 questões de múltipla escolha e redação.

Veja o texto na íntegra: O Estado de S. Paulo

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Como tornar uma escola mais inclusiva e contribuir no combate ao racismo?

JC Notícias -22/05/2023

71% dos municípios negligenciam lei que obriga o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira; especialistas afirmam que legislação pode contribuir para assegurar direitos

Garantir ampla diversidade étnico-racial e a inclusão do povo negro nas escolas são velhos desafios na educação básica brasileira. Apesar de serem maioria no País, representando 56% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas negras ainda enfrentam obstáculos para ocupar espaços no ambiente escolar e para concluir os estudos de forma bem-sucedida. Esse problema passa pelo descumprimento da Lei 10.639/03, que obriga o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas.

Promulgada há 20 anos, em 2003, até hoje a lei tem sido negligenciada por diversos municípios brasileiros. Pesquisa dos institutos Alana e Geledés mostrou que sete em cada 10 secretarias municipais de Educação realizam pouca ou nenhuma ação para implementar a legislação, que busca fomentar a educação antirracista nas escolas. O estudo revelou que apenas 29% das secretarias realizam ações consistentes e perenes para garantir a implementação da lei.

Embora esteja ligada a questões de currículo, conforme especialistas, a Lei 10.639 representou um momento importante para a educação brasileira, de valorização da cultura afro-brasileira e de maior reflexão sobre a inclusão. A partir dessa iniciativa, a gestão pública e as instituições de ensino começaram a pensar no ambiente escolar como um espaço de combate ao racismo e de conscientização. Isso contribui para uma convivência mais harmoniosa entre as pessoas e para uma educação integral.

Veja o texto na íntegra: O Estado de S. Paulo

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Divulgado resultado da 2ª etapa do Censo Escolar 2022

JC Notícias-22/05/2023

Pesquisa aponta queda na taxa de aprovação do ensino fundamental e médio, mas números ainda são superiores aos do período pré-pandemia

Os resultados da segunda etapa do Censo Escolar da Educação Básica 2022 (Situação do Aluno) revelaram uma redução nas taxas de aprovação na rede pública em todas as etapas de ensino em comparação com o ano de 2021. Essa fase trata do rendimento e movimento escolar dos estudantes declarados na primeira etapa da pesquisa. Apesar da queda nos percentuais, o indicador revelou que os números ainda são superiores aos de 2019, antes da pandemia de covid-19.

A 2ª etapa da pesquisa do Censo Escolar reúne informações como o percentual de aprovados ou reprovados, e de alunos que deixaram de frequentar a escola, foram transferidos ou faleceram até o término do ano letivo de 2022. As taxas de rendimento escolar foram divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação, na sexta-feira, 19 de maio. As planilhas estão disponíveis no portal da Autarquia e no Sistema Educacenso.

Anos iniciais do fundamental – A taxa de aprovação da rede pública na etapa de ensino (1º ao 5º ano), que era de 94,3% em 2019, passou para 98,9% no primeiro ano da pandemia. Em 2021, esse percentual caiu para 97,3% e, em 2022, continua apresentando uma tendência de queda, chegando a 95,3%. Apesar da redução nos últimos dois anos, a taxa segue superior à observada em 2019. Já nas escolas particulares, o índice foi de 99,1% de aprovados, em 2022, permanecendo estável em relação à edição de 2021 e acima da verificada em 2019 (98,8%).

  • Em 2022, as taxas de reprovação e abandono na rede pública foram de 4,2% e 0,5%, respectivamente.
  • Os percentuais também estão próximos dos verificados em 2019, quando alcançavam 5,1% e 0,6% dos alunos, respectivamente.
  • Na rede privada, o resultado das reprovações oscilou de 0,7% para 0,8%, e de abandono de 0,2% para 0,1%.

Anos finais do fundamental – Os números relacionados aos alunos do 6º ao 9º ano apresentaram um comportamento muito similar ao verificado nos anos iniciais.

  • No período pré-pandemia, em 2019, o índice de aprovação era de 88,6% na rede pública.
  • Em 2020, passou para 97,7% e, em 2021, caiu para 95,2%.
  • Neste ano, novamente houve queda para 91,0% de estudantes aprovados.
  • Na rede privada, apesar da queda de 0,4% no último ano, a taxa passou de 98,6% em 2021, para 98,2% em 2022, mas segue superior à observada em 2019 (97,1%).

Apesar do aumento verificado nos dois últimos anos nas taxas de reprovação dos anos finais nas redes pública e privada, chegando respectivamente a 6,8% e 1,7% em 2022, ambas seguem abaixo do patamar observado em 2019 (9,2% e 2,7%, respectivamente). A taxa de abandono dos anos finais em 2022 foi de 2,2% na rede pública e de 0,1% e na rede privada, o que representa estabilidade se a compararmos com a do ano anterior.

Ensino médio – Assim como verificado nas demais etapas de ensino, a taxa de aprovação da rede pública do ensino médio apresentou um pico em 2020, no primeiro ano da pandemia de covid-19, com um índice de 94,4%, Os dois anos subsequentes registraram queda, com 89,8% em 2021 e 85,1% em 2022, o que aproximou o resultado do percentual observado em 2019 (84,7%). Na rede privada, o comportamento das taxas de aprovação também foi similar, mas com patamar de aprovação mais elevado.

  • Apesar do crescimento das taxas de reprovação no ensino médio nos dois últimos anos, as taxas seguem em patamar inferior ao observado em 2019.
  • Entretanto, a taxa de abandono do ensino médio na rede pública alcançou 6,5% em 2022, valor acima do observado em 2019.
  • Na rede privada, que apresentou taxa de abandono inferior a 0,5% nos últimos 10 anos, o indicador alcançou 0,7%.
  • Censo Escolar– Principal pesquisa estatística da educação básica, o Censo Escolar é coordenado pelo Inep e realizado, em regime de colaboração, entre as secretarias estaduais e municipais de Educação, com a participação de todas as escolas públicas e privadas do país. O levantamento abrange as diferentes etapas e modalidades da educação básica: ensino regular, educação especial, educação de jovens e adultos (EJA) e educação profissional.
  • As matrículas e os dados escolares coletados servem de base para o repasse de recursos do governo federal e para o planejamento e a divulgação de dados das avaliações realizadas pelo Inep. O censo também é uma ferramenta fundamental para que os atores educacionais possam compreender a situação educacional do Brasil, das unidades federativas e dos municípios, bem como das escolas, permitindo acompanhar a efetividade das políticas públicas.
  • Essa compreensão é proporcionada por meio de um conjunto amplo de indicadores que possibilitam monitorar o desenvolvimento da educação brasileira, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ldeb), as taxas de rendimento e de fluxo escolar, a distorção idade-série, entre outros. Todos são calculados com base nos dados do Censo Escolar e parte deles serve de referência para as metas do Plano Nacional da Educação (PNE).
  • Taxas de rendimento escolar
    Taxas de não resposta

MEC

 

Livrem-se dos testes padronizados-não funcionam

Publicado em 22/05/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

Usar teste padronizado com a finalidade de informar aos professores o que está acontecendo em sua própria sala de aula é, na verdade, uma inutilidade. A função dele, no melhor dos casos, seria, com todas as cautelas e juntamente com outros indicadores, servir para uma crítica das políticas públicas dos governos. Para tal não precisam ser censitários, podem ser amostrais – e mais baratos… Nenhum estatístico sério irá defender que seu teste pode saber mais do que os próprios professores sobre seus estudantes. Porque são feitos, então?

Primeiro, porque a reforma empresarial quer “controlar” e colocar “pressão” sobre as escolas para que sejam “eficientes”. Esta política acha que o ser humano só é eficiente se for pressionado. Não passa pela cabeça deles que existam condições restritivas oriundas das políticas educacionais ou da própria vida dos estudantes que estejam sendo impeditivas. E se acham que existem, também acham que as escolas podem e devem superar tais obstáculos. Para tal, vivem procurando alguma escola que atenda crianças pobres para transformá-la em “evidência empírica” de boa educação.

Christopher Tienken (professor associado da Seton Hall University) e Julie Larrea Borst (diretora executiva da Save Our Schools New Jersey e presidente do conselho da New Jersey Community Schools Coalition fazem um apelo para que os Estados Unidos, o país que mais usa testes padronizados do grupo de países do G20, livrem-se dos testes padronizados em educação, pois eles “simplesmente não funcionam”.

No texto deles, é possível se ler uma segunda razão para a mania dos testes. Eles apontam que com esta mania “um verdadeiro complexo industrial de testes foi instalado em todo o país, que desvia recursos educacionais de escolas públicas para grandes corporações.”

Por isso que, em alguns meios acadêmicos norte-americanos, o programa educacional do presidente G. W. Bush chamado “Nenhuma criança deixada para trás” era chamado, na verdade, de “Nenhum consultor deixado para trás”.

Os autores apontam que estudos nos últimos 35 anos nos informam que “os resultados de testes padronizados são altamente subjetivos e não totalmente indicativos do que está acontecendo na sala de aula.” Há evidências empíricas, ressaltam, que apontam que “os testes padronizados são medidas que reproduzem resultados que podem ser previstos no âmbito das escolas “usando dados demográficos familiares e comunitários encontrados no Censo dos EUA.” Em resumo, afirmam que:

“Simplificando, os resultados de estudo após estudo ao longo dos últimos 70 anos sugerem que os testes estão medindo mais as experiências de uma criança obtidas fora da escola do que o que está acontecendo dentro da escola. Os resultados não fornecem informações válidas sobre a qualidade do ensino em uma escola, como um aluno aprende, o que um aluno aprendeu, nem o potencial de aprendizagem de um aluno.”

Leia todo o texto aqui.

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Brasil fica entre os últimos em prova internacional de alfabetização com 65 países

JC Notícias – 16/05/2023

Dados do Pirls, de 2021, reforça cenário de dificuldade de alunos brasileiros com leitura e forte desigualdade

O Brasil ficou à frente de apenas quatro países em uma avaliação internacional de alfabetização aplicada em 2021 a estudantes de 65 países e regiões. Os dados do Pirls (sigla em inglês para Progress in International Reading Literacy Study) foram divulgados nesta terça-feira (16).

Foi a primeira vez que o país participou da avaliação, realizada pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), uma cooperativa de instituições de pesquisa, órgãos governamentais e especialistas dedicada à realização de estudos e pesquisas educacionais.

A inclusão do Brasil no Pirls foi uma iniciativa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

O Grupo Folha não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra. No entanto, é possível fazer um cadastro rápido que dá direito a um determinado número de acessos.

 

Conjunturas e impactos na formação de educadores: análises e perspectivas

Publicado em 13/05/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

Entre os dias 10 e 12 de maio ocorreu em Brasília o XXI Encontro Nacional da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE. Tive o prazer de fazer a palestra de abertura deste evento. Abaixo divulgo o texto que foi lido no evento.

Baixe o texto da abertura da ANFOPE aqui.

 

A avaliação nas pedagogias tradicionais: permanências e desafios

Enílvia Morato Soares

Segundo Cury (1985), captar um fenômeno no conjunto de suas relações com os demais fenômenos e no conjunto das manifestações da realidade a qual pertence, só é possível por meio da historicização desse fenômeno. Essa foi a perspectiva que norteou a obra “Avaliação da Aprendizagem escolar: passado, presente e futuro”, escrita por Cipriano Carlos Luckesi e publicada em 2021. O autor confirma esse pressuposto ao utilizar-se do “recurso de ir para o passado e, de lá retornar ao presente tendo em vista compreender […] como aqui chegamos” (p. 19).

Para além da compreensão do presente, as contribuições históricas nos permitem abandonar “a posição ingênua de acreditar que a forma como agimos no nosso cotidiano é natural” para percebermos que, “de fato, agimos no contexto de determinações histórico-sociais” (LUCKESI, 2021, p. 19) que, por serem contraditórias, indicam a necessidade de construção do devir ou, em outras palavras, de “assumir, se assim o desejarmos, novos modos de agir” (Idem, p. 22).

Com o propósito de contribuir para a construção de um futuro mais promissor para a avaliação da aprendizagem, Luckesi (2021) inicia sua abordagem transitando do passado ao presente, situando a avaliação em três momentos: nas Pedagogias Tradicionais, nas Pedagogias da Escola Nova e na Tecnologia Educacional. Pontuarei aqui aspectos destacados pelo autor sobre a avaliação nas Pedagogias Tradicionais, objeto de reflexão pelo GEPA em encontros realizados nos dias 14 e 28/04. Nesse cenário, a avaliação foi analisada considerando a pedagogia jesuítica, a de João Amós Comênio e em Johann Friedrich Herbart. 

A defesa de Luckesi de que as pedagogias com fundamentos religiosos (jesuítica e comeniana) anunciavam tanto os cuidados necessários para a efetiva aprendizagem dos estudantes, como o uso classificatório dos resultados da avaliação para aprovar ou reprovar, sendo os exames escolares o principal instrumento utilizado, suscitou questionamentos no Grupo:

  • A Pauta do Professor definida na Ratio Studiorum[1] como uma caderneta na qual o professor registraria os resultados individuais dos estudantes visando subsidiar suas decisões referentes ao ensino, garantiria a diversificação do atendimento aos estudantes, uma vez que havia uma grande preocupação com o cumprimento do programa (mesmo que parte dos estudantes não conseguisse acompanhar) e com o preparo dos estudantes para os exames visando promovê-los ao nível escolar subsequente?
  • O que o autor chama de “aprendizagem”, uma vez que o ensino era, em grande medida, pautado na memorização por repetições?
  • A previsão antecipada de que alguns já nasciam destinados às atividades culturais superiores e outros aos serviços simples do cotidiano não seria uma avaliação informal desencorajadora e, portanto, seletiva?
  • A comunicação pública dos resultados e a competição como forma de estímulo aos estudantes, bem como o uso do medo e de castigos físicos não são indicativos de uma forte preponderância do uso classificatório e punitivo da avaliação?

Embora ainda no bojo das pedagogias tradicionais, “Herbart está situado, historicamente, na abertura de um novo modo de praticar o exercício pedagógico com base na Psicologia, que iniciava seus primeiros passos como ciência” (LUCKESI, 2021, p. 161), o que reverberou em avanços como a desconfiança quanto à validade dos exames impostos externamente e ao investimento na formação do caráter, decorrente de um consentimento interno dos estudantes. No entanto, o uso de recursos como prêmios e castigos para se obterem disciplina e a homogeneização do ensino percebida nos de passos metodológicos que deveriam ser seguidos para ensinar e aprender ainda se faziam presentes, segundo o autor.

A avaliação não foi, segundo Luckesi (2021), abordada de forma direta, mas podia ser percebida na dinâmica dos cinco passos propostos por Herbart (preparação, apresentação, associação, generalização, aplicação), visando subsidiar professores e estudantes na aquisição de conhecimentos, aspecto que não foi identificado de forma tão evidente pelo GEPA.

Identificar concordâncias e dissonâncias nas análises de Luckesi (2021) não foi, porém, o que de principal se projetou a partir do estudo, mas sim, compreender as heranças históricas desse período na organização do trabalho pedagógico e de modo mais específico na avaliação das aprendizagens praticada hoje em nossas escolas, o que pode contribuir para o fortalecimento da resistência à ideologia dominante que converte em permanente o que é, de fato, transitório.

Nessa direção, percebemos não só o quanto a avaliação se mostra refratária a mudanças, mas, também os obstáculos que ainda temos de superar em busca da desnaturalização de práticas classificatórias, seletivas, punitivas e excludentes. Em diferentes partes dos textos analisados, a sensação foi de que ainda vivemos no auge das pedagogias tradicionais. A meritocracia (premiação, punição, ranqueamento e exposição pública de resultados, etc) como meio de estímulo ao estudo; o exercício da memorização visando o êxito em exames e/ou para a aprovação, muitas vezes dissociado da conquista de aprendizagens; a excessiva preocupação em cumprir o currículo independentemente das condições de aprendizagem dos estudantes; o ensino organizado em etapas inflexíveis; entre outras, são ainda uma realidade em muitas de nossas escolas.

Luckesi (202) nos ajuda nessa caminhada, uma vez que compreender as determinações histórico-sociais do que ocorre hoje subsidiará nosso modo de pensar e orientará nossas escolhas e decisões em direção a um futuro mais justo e favorável a todos. É o próprio autor quem afirma que “o presente e o futuro estão em nossas mãos e o passado histórico, por seu turno, nos auxilia a reconhecer os caminhos trilhados assim como a escolher o modo de estar e viver no presente e em direção ao futuro”.

O desafio de uma educação escolar que consista em oportunidade real de aprender está posto e exige cuidados que passam, necessariamente, pelo uso da avaliação com propósitos formativos. Vamos a ele!

Referências:

CURY, Carlos R. Jamil. Educação e Contradição: Elementos metodológicos para uma Teoria Crítica do Fenômeno Educativo. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1985.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem escolar: passado, presente e futuro. São Paulo: Cortez Editora, 2021.


[1] Ratio Studiorum era o Plano de Estudos da Companhia de Jesus que ditava o comportamento dos membros da hierarquia educacional jesuítica e indicava o que os mestres deveriam ensinar, estabelecendo regras práticas para serem aplicadas nos colégios. O detalhamento do processo pedagógico visava garantir o controle da Igreja nos territórios colonizados.