LIVRO PRODUZIDO POR INTEGRANTES DO GEPA
CONVERSAS SOBRE AVALIAÇÃO – 2019
Sumário
Apresentação
Esmiuçando a avaliação formativa – Benigna Maria de Freitas Villas Boas
A avaliação na Educação Infantil – Maria Theresa de Oliveira Corrêa
Comportamento: cabe avaliá-lo? – Enílvia Rocha Morato Soares
Contribuições da avaliação para uma “nova forma de fazer EJA” – Benigna Maria de Freitas Villas Boas e Leda Bittencourt da Silva
Iniciando a disciplina Didática pela análise da avaliação – Maria Emilia Gonzaga de Souza
Avaliação: qual é o seu lugar? – Enílvia Rocha Morato Soares
Circularidade de saberes sobre avaliação – Benigna Maria de Freitas Villas Boas
O que muda na avaliação na escola em ciclos? – Rose Meire da Silva e Oliveira
Discussão com os pais/responsáveis e estudantes sobre o processo de aplicação de provas- Deire Lúcia de Oliveira
Primeiro dia de aula: o que conversar sobre avaliação? – Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Metodologias ativas e avaliação formativa – Elisângela Teixeira Gomes Dias
Pais/responsáveis: copartícipes do processo avaliativo! Rose Meire da Silva e Oliveira
Entrelaçando a avaliação para as aprendizagens, a institucional e a avaliação de sistema por meio do portfólio – Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Reprovar para quê? Maria Susley Pereira
A prova a serviço da aprendizagem – Elisângela Teixeira Gomes Dias
Tempo socioeducativo: a primazia da segurança em prejuízo da avaliação que forma – Enílvia Rocha Morato Soares
É possível driblar o bullying por meio da avaliação? Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Apresentação
Este livro compõe-se de capítulos curtos escritos por integrantes do Grupo de Pesquisa Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico – GEPA. Denomina-se Conversas sobre Avaliação pelos seguintes motivos: resulta de nossas interações com professores da Educação Básica e Superior, em momentos de palestras, pesquisas, encontros informais e contatos por escrito; o formato de conversas apresenta-se menos formal, podendo atrair os leitores que mais se identificam com o tema; a avaliação tem suscitado dúvidas de caráter teórico e prático e os aspectos aqui abordados, mais do que pôr em evidência suas fragilidades, apontam caminhos e possibilidades. Entendemos ser este um dos meios de contribuirmos para a ampliação da reflexão sobre a concepção de avaliação, suas funções, seus níveis e suas práticas promotoras das aprendizagens de todos os estudantes.
Por ter se inspirado nas discussões que vimos realizando com professores, quando são descritas suas experiências exitosas e as dificuldades encontradas, este livro destina-se a docentes em atuação e àqueles em formação. Os temas são quase inesgotáveis. Selecionamos os mais recorrentes e os que não têm merecido a necessária atenção.
O primeiro capítulo esmiuça a avaliação formativa. Foi escrita com base na afirmação de uma professora de anos iniciais do ensino fundamental que, convidada para participar de um encontro do GEPA em que discutíamos as Diretrizes de avaliação para as escolas públicas do Distrito Federal (SEEDF, 2014-2016), assim expressou sua angústia: “li todo o documento. Ele fala o tempo todo sobre avaliação formativa, mas tanto eu como minhas colegas de escola não conseguimos compreender essa avaliação”. Os elaboradores de documentos orientadores das práticas pedagógicas nem sempre conseguem atingir todos os leitores porque atuam em contextos de trabalho variados e provêm de diferentes cursos de formação. Lançamo-nos, assim, à tarefa de aprofundar a discussão sobre o assunto.
Os capítulos que indagam se é cabível avaliar comportamento, qual é lugar da avaliação e por que reprovar se alinham à necessidade de que a avaliação seja destrinchada, isto é, de que todos os seus aspectos e nuances sejam desvendados e esclarecidos. A eliminação da reprovação é temida. Reconhecem-se e alardeiam-se suas incoerências, mas a reprovação continua sendo uma prática intocável. Falar sobre ela, às vezes, causa desconforto porque dá a impressão de que será substituída pela promoção automática.
A circularidade de saberes sobre avaliação existe, mas de qual avaliação se fala? Por quais meios ela se efetiva? Com quais propósitos? O capítulo sobre esse tema trata da circularidade de saberes sobre avaliação na universidade, na escola de Educação Básica e entre esta e a universidade, no caso da formação de professores. Este último âmbito é importantíssimo porque aproxima os professores formadores e os formandos da realidade em que atuarão os futuros docentes.
Outro capítulo que amplia a compreensão sobre avaliação é o que sugere como tocar no assunto no primeiro dia de aula: provas e notas continuarão sendo o carro-chefe? Se a resposta for negativa, o que será considerado?
A avaliação na educação infantil não poderia deixar de ser incluída por ser um tema pouco abordado. Temos constatado que cursos de formação inicial e continuada para professores não costumam dar espaço às especificidades da avaliação vivenciada nesta etapa. Certa ocasião, uma de nós ouviu uma professora dizer que a educação infantil não praticava a avaliação porque não aplicava prova. Será que ainda persiste esse entendimento? Sabe-se de antemão que a avaliação informal é intensa.
Uma modalidade de ensino que nem sempre emprega a avaliação de modo que a alie às necessidades e especificidades dos estudantes é educação de jovens e adultos. É preciso refletir sobre o processo avaliativo ao qual foram submetidos esses sujeitos que retornam à escola desejosos de concluir seus estudos. Não é o caso de a avaliação ser condescendente com eles, isto é, promovê-los sem que tenham aprendido, mas de comprometer-se com a conquista das aprendizagens por cada um deles. Esse é o espírito democrático dessa categoria do trabalho pedagógico. Estão os professores em condições de avaliar adequadamente o percurso de aprendizagem desses estudantes?
Outro tema que dá título a um capítulo é o da avaliação dos jovens que estão cumprindo medida socioeducativa de internação. Enquanto estão reclusos, frequentam uma escola cujo trabalho pedagógico não os atrai. A segurança sobre eles se sobrepõe às atividades educativas, inviabilizando uma prática avaliativa que poderia facilitar suas aprendizagens.
Dois capítulos apontam possibilidades para as provas: um relata como uma professora introduz os pais/responsáveis no processo de aplicação de provas de matemática; outro indica caminhos para a sua utilização segundo a perspectiva formativa. E por falar em pais/responsáveis, estes apontados em outro capítulo como coparticipantes do processo avaliativo. A autora defende a tese de que não apenas sejam informados das decisões da escola, mas participem da tomada de decisões afetas ao trabalho pedagógico, de modo geral, e à avaliação. Desse modo, amplia-se a compreensão da avaliação formativa na escola.
Não menos importantes são os seguintes temas: o que muda na avaliação na escola em ciclos; metodologias ativas e avaliação; entrelaçando a avaliação para as aprendizagens, a avaliação institucional e a avaliação de sistema por meio do portfólio. No caso da organização do trabalho da escola em ciclos, é importante ressaltar que ela somente alcançará seus propósitos se for norteada por um processo avaliativo comprometido com a conquista das aprendizagens por todos os estudantes. Se isso não ocorrer, haverá apenas mudança de nome. As denominadas “metodologias ativas” se disseminaram principalmente em cursos de nível superior, mas ainda não há clareza quanto à avaliação que a elas se atrela. O trabalho com o portfólio pode ser de grande valia para promover a articulação dos três níveis da avaliação, possibilitando o seu registro e, consequentemente, oferecendo visibilidade às ações.
O último capítulo toca em um tema que fere a alma: o bullying na escola, que pode resultar de uma avaliação que humilha, classifica, marginaliza e constrange. Entendemos ser um problema complexo e que, em alguns casos, requer tratamento com profissionais especializados. Contudo, a escola precisa fazer sua parte: a avaliação comprometida com a conquista das aprendizagens por todos os estudantes e a avaliação informal encorajadora e respeitosa têm chances de evitar ou driblar o bullying.
A avaliação cumprirá a sua função formativa aqui defendida se deixar de ser silenciada nos cursos de formação inicial de professores. Por isso, merece destaque o capítulo “Iniciando a disciplina Didática pela análise da avaliação”. Essa disciplina ou outra com diferente denominação, mas com propósitos semelhantes, costumeiramente obrigatória nos cursos de licenciatura, de modo geral, trata ligeiramente da avaliação, até mesmo colocando-a como último item do plano de trabalho. A conversa que deu origem ao capítulo relata como uma professora desse componente curricular o inicia pela discussão sobre esse tema. Como a avaliação norteia a organização do trabalho pedagógico, a sua abordagem requer que seja inserida no trabalho em seu início, entremeada com os diversos temas, ao longo do semestre/ano letivo, e lhe seja concedido espaço para a conclusão das atividades. Os resultados desse trabalho oferecerão excelente material de pesquisa e para planejamentos futuros. É o espírito da pesquisa sobre a própria prática.
O teor das conversas deste livro corresponde ao nosso compromisso com a educação de qualidade social. Nossa convicção pedagógica volta-se para que a avaliação cumpra o seu papel de valorizar o trabalho desenvolvido pelas escolas (de educação básica e superior) e que, por seu intermédio, se removam as fragilidades encontradas no mais curto espaço de tempo. As aprendizagens dos estudantes são tão preciosas que exigem cuidados constantes para que desabrochem e não murchem, mas floresçam sempre. Para isso a avaliação deve manter-se vigilante.
Na impossibilidade de nos sentarmos para conversar com os leitores, convidamos para que façam a leitura, reflitam sobre as contribuições apresentadas e reorganizem suas práticas avaliativas, se for o caso. O blog do GEPA é outro espaço aberto ao debate: http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br.
Referência
SEEDF. Diretrizes de avaliação educacional: aprendizagem, institucional e em larga escala. 2014-2016.
Benigna Maria de Freitas Villas Boas