DIÁLOGO SOBRE AVALIAÇÃO COM PROFESSORES DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UnB
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Publicado em http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br
No dia 26/05/2015, a convite da Coordenação de Graduação da Faculdade de Educação da UnB, de 16 às 18h, conduzi diálogo sobre “A avaliação na educação superior e seus reflexos na educação básica”. Dos cerca de 100 professores da instituição, 18 estiveram presentes. O ponto de partida do debate foi o tratamento dado à avaliação em três documentos divulgados pelo MEC a partir de 2012: dois deles são dirigidos a professores dos anos iniciais do ensino fundamental: o que faz parte da formação continuada oferecida pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC; o outro tem o título de “Elementos conceituais e metodológicos para definição dos direitos de aprendizagem (1º, 2º e 3º anos) do Ensino Fundamental. Comentei que, estranhamente, nenhum deles sequer faz menção à avaliação informal. Digo estranhamente porque esta modalidade de avaliação está fortemente presente nessa etapa de escolarização, na qual atuam professores que interagem de forma longa e duradoura com as crianças, quando elogios, broncas, rótulos, ameaças e comentários encorajadores e desencorajadores são frequentes. O documento do PNAIC é recheado de sugestões de atividades avaliativas (avaliação formal), mas não leva em conta a avaliação informal. Como são documentos orientadores e distribuídos a docentes de todo o país, difunde-se largamente a ideia de que a avaliação se realiza somente por meio de procedimentos formais, que têm dia e hora de ser aplicados. Contudo, pesquisas têm demonstrado que a avaliação informal acompanha o estudante desde o momento em que ele entra NA escola e influencia as decisões dos professores não apenas quanto aos procedimentos avaliativos que utilizarão e quanto aos resultados, mas, também, quanto à reorganização do trabalho pedagógico.
O terceiro documento é incluído na formação continuada oferecida pelo Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio – PNEM. Por um lado, é positivo que a avaliação mereça um caderno específico, porém, por outro, questiona-se o fato de ela continuar sendo analisada de forma isolada do trabalho pedagógico da escola como um todo e do trabalho pedagógico da sala de aula. A formação oferecida pelo PNEM conta com um caderno específico para a organização do trabalho pedagógico. Nele ficaria mais bem inserido o tema avaliação, para que se abandone a ideia de ela ser um ato técnico e realizado somente ao final do processo. Assim as universidades têm formado os professores e assim continua trabalhando a escola de educação básica. Os cadernos orientadores da avaliação organizados sob a coordenação do MEC reforçam esse entendimento de avaliação (VILLAS BOAS, 2015).
Também o documento do PNEM não aborda a avaliação informal. Perdeu-se a chance de ampliar a discussão sobre o processo avaliativo NA escola e na sala de aula. Pesquisas têm constatado que os cursos de licenciatura, de modo geral, não formam os futuros professores para a prática da avaliação, inclusive a informal. Quando desenvolvida adequadamente, esta pode ser uma grande aliada da formal e da conquista das aprendizagens pelos estudantes.
As considerações acima provocaram discussões enriquecedoras. Contudo, para minha surpresa, o tema que ocupou a maior parte do diálogo foi a avaliação informal. Foi mencionado o fato de o currículo do Curso de Pedagogia ter a disciplina Avaliação Escolar como optativa e de ela não estar sendo oferecida neste primeiro semestre de 2015. Costuma ser incluída na grade curricular uma turma por semestre. Dessa forma, um grupo muito pequeno de estudantes tem a possibilidade de cursá-la. Os outros nem têm condições de reivindicar frequentá-la porque não recebem informação quanto à sua necessidade. No entanto, todos os professores avaliam e são avaliados, na maioria das vezes, reproduzindo o processo avaliativo ao qual se submeteram, como afirmou um licenciando da UnB em entrevista: “basta seguir as experiências avaliativas vividas em minha vida estudantil” (SOARES, 2014, p. 157). Nessas experiências incluem-se não apenas procedimentos formais, mas, principalmente, os informais, que são constantes, podendo chegar a ser cruéis.
Ao final do encontro, houve professores que chegaram a sugerir que, em lugar de o currículo do Curso de Pedagogia ter a disciplina Avaliação Escolar, que este tema realmente passe a fazer parte de Didática, desde que ela seja oferecida em dois semestres. Mas, só isso não basta. Sem mudar a cultura avaliativa da instituição, que ainda é fortemente marcada pela avaliação classificatória, meras mudanças em carga horária de disciplinas não alterarão concepções arraigadas há décadas.
Ficou-me a impressão de que o diálogo teve saldo positivo.
REFERÊNCIAS
SOARES, Sílvia Lúcia. A avaliação para as aprendizagens, institucional e em larga escala em cursos de formação de professores: limites e possibilidades de interlocução. Tese de doutorado. Universidade de Brasília/FE, 2014.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de F. Avaliação na educação básica: das fragilidades ao enfrentamento de desafios. VI ENFORSUP, Brasília, 2015.
Realmente foi um momento de diálogo e por sinal muito enriquecedor em todos os sentidos. Primeiro, por perceber o interesse dos professores presentes em relação ao tema e segundo pela disponibilidade e generosidade da Prof. Benigna em nos orientar na discussão. Os exemplos concretos, as indicações de leituras e as considerações que ela nos trouxe, ajudam a entender e a nos questionar sempre mais sobre esse tema, por vezes esquecido tanto na academia, quanto nas escolas de Educação Básica.
Obrigada Prof. Benigna!