E agora, José?

Sílvia Lúcia Soares

A escolha do título não se deu por acaso. Lembrei, propositalmente, de José, o personagem do poema de Carlos Drummond de Andrade, grande poeta brasileiro, nascido em Itabira, Minas Gerais. A meu ver, José apresenta-se como um sujeito assustado, carregado de emoções contraditórias e sem enxergar, no imediato, uma solução para a situação na qual se encontra. Assim como ele, convivemos, hoje, com o medo e com diversas angústias que afloram no movimento desenfreado e insano da realidade.  Como o cenário muda, assim, nessa rapidez tão estúpida e assustadora? Como nossas certezas, concepções e conceitos  podem  ter sido abalados em tão pouco tempo? E a solidez do futuro? O que se percebe é que são exigidas de nós  novas compreensões e ressignificações imediatas e urgentes.  Nessa confusão do cenário desconfortante, inúmeras contradições emergem e configuram-se numa realidade mesclada de contradições entre o velho e o novo, o lucro e a vida, os interesses sociais e os políticos, o individual e o coletivo, a morte e a vida, a solidariedade e o egoísmo, entre tantos outras.

Na verdade, não estamos simplesmente vivendo uma época de mudanças aceleradas,  mas um tempo de reconceituação  dos sentidos  da  dimensão   do humano e da humanidade. Como nos diz Freire (1987, p. 21): “os homens são porque são em uma situação. E serão mais, quanto mais não apenas refletirem criticamente sobre sua existência, mas atuarem criticamente sobre ela”. Mas como agir envolto em meio a esse turbilhão de dúvidas e incertezas?

A única possível certeza é que, apesar de ainda não termos conseguido entender o acelerado e agudo processo de transformação, admitimos que nossas evidências foram abaladas e nossas convicções estremecidas. E nesse vaivém de contrapontos, em que rapidamente temos de nos recolocar, centramos mais especificamente nossa atenção à instituição escola. Sabemos da organização, função social e a manutenção histórica e rígida de sua estrutura, no entanto, frente ao conjunto de circunstâncias a que teve de se adaptar em tempo de pandemia, como se dará sua organização pedagógica a partir de então?  Mas atenção, necessário se faz, deixar claro para vocês que não tenho resposta para essa inquietação. Todavia,  gostaria imensamente de dividir essas e outras indagações, como também  propor buscarmos juntos algumas  possíveis possibilidades e alternativas de respostas para essa e algumas outras questões. Esclareço, portanto, não serem elas  parte de algum questionário, mas apenas pretexto para o início de uma coletiva e produtiva prosa pedagógica. Vamos lá: tendo como ponto de partida o vivido, o lido e o sentido,  como você acha que será a instituição escola pós-pandemia? Observamos que na organização e realização das aulas remotas foi dada muita ênfase ao ensino. Como ficam as aprendizagens, nesse contexto? E a avaliação, qual  a função por ela desempenhada?  Como organizar o trabalho pedagógico da escola para atender às demandas estimuladas pelo uso de tecnologias e de metodologias mais participativas?

 
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Grupo de Pesquisa em Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico
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