Rubricas de Avaliação: reflexões do GEPA

Enílvia Morato Soares

Publicado no blog do GEPA em 29/10/2022

Dado o crescente interesse desencadeado nos últimos tempos acerca das rubricas de avaliação, o GEPA priorizou, em seu último encontro, realizado no dia 28/10/2022, estudos sobre a temática. Ser referência para um número significativo de professores do Distrito Federal e de outras localidades delega ao Grupo a responsabilidade de estar a par e suficientemente fundamentado para, não somente discutir, mas também encaminhar possibilidades de uso de diferentes recursos avaliativos, sendo um deles as rubricas.

A partir da leitura de apontamentos e após apresentação de slides contendo aspectos referentes ao assunto, o Grupo destacou alguns cuidados a serem observados quanto à utilização das rubricas, a fim de que não venha a se tornar mais uma onda salvadora” (VASCONCELLOS, 2014), ou seja, um modismo que, embora revestido de uma nova roupagem, se desenvolva na perspectiva excludente.

O destaque dado por Hadji (2001) ao fato de que a intenção do avaliador é que torna a avaliação formativa foi insistentemente lembrado. Segundo o autor, a função formativa da avaliação é definida muito mais por esse intento do que pelos instrumentos ou procedimentos avaliativos utilizados, o que condiciona as rubricas ao modo como são operacionalizadas. Canalizar essa ferramenta no sentido formativo implica, então, a observância das seguintes condições de uso:

  • Participação do estudante: as rubricas devem contar com o envolvimento do estudante desde a sua elaboração, passando pelo seu preenchimento e análise. Não se restringe, portanto, ao professor avaliador. Por ser o maior interessado e maior conhecedor de suas condições de aprendizagem, o estudante é mais indicado para “falar sobre si”.
  • Fornecimento de feedback constante: É preciso lembrar que a qualificação do feedback pressupõe informar ao estudante sobre a distância entre o nível em que se encontra e o nível que deve alcançar, bem como orientá-lo quanto aos meios para alterar essa distância. Palavras soltas, como “muito bem”; “ótimo”; “faça de novo”; “bom trabalho”; “é preciso melhorar”; “incompleto”; “parabéns”; “avance”; “complete” não atendem a esse requisito. Os estudantes precisam conhecer em quais os aspectos ainda não conseguiram avançar e como fazê-lo (VILLAS BOAS, 2022).
  • Não exposição do estudante: O feedback  é de interesse dos principais envolvidos – professor e estudante. Não cabe aqui uma exposição comparativa dos níveis em que se encontram os estudantes, sob o pretexto de estimulá-los a continuar avançando. Esse constitui procedimento meritocrático que serve, no máximo, para constranger aqueles que, por algum motivo, se encontram aquém do previamente previsto.
  • Não ser o único recurso: a diversificação de instrumentos/procedimentos avaliativos consiste em requisito para que a avaliação seja canalizada no sentido formativo. Não é diferente com as rubricas. Limitar a avaliação ao seu uso implica inviabilizar a análise de aspectos que fogem ao seu campo de alcance.
  • Critérios claros: A elaboração de critérios deve ser cuidadosa a ponto de, uma vez definidos, serem claros o suficiente para que os estudantes os tomem como referência e caminhem sempre no sentido de avançar. Daí a importância de que participem desse momento. Termos genéricos como “participação”, “criatividade”, “bom comportamento” e outros precisam ser discutidos a fim de se ter claro aquilo que se espera.
  • Uniformidade acompanhada de singularidade: as rubricas são, a priori, construídas de maneira uniforme para os estudantes. Pode, porém, acontecer a necessidade de detalhamento de algumas condições não previstas e, por isso, não contempladas nos critérios estabelecidos. Importante se faz que essas especificidades sejam descritas, a fim de minimizar injustiças que, não raramente, acompanham processos avaliativos. O uso de outros instrumentos/procedimentos também auxilia nesse quesito.

Os cuidados aqui indicados quanto ao uso das rubricas não encerram as discussões nessa direção, nem ao menos indicam a recusa do seu uso como recurso avaliativo. Contrário a isso, o GEPA acredita na necessidade de que cada vez mais se invista em possibilidades que venham contribuir para disseminar uma prática avaliativa formativa e a adoção de rubricas pode ser uma delas. Aprofundar estudos acerca desse recurso é, portanto, uma iniciativa relevante e o GEPA já está a postos, imbuído desse compromisso.

Referências:

HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre-RS: Artmed, 2001.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação Classificatória e excludente e a inversão Fetichizada da Função Social da Escola. In: FERNANDES, Claudia de O. (Org.). Avaliação das Aprendizagens: sua relação com o papel social da escola. São Paulo: Cortez, 2014.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Funções da Avaliação: formativa, diagnóstica e somativa. In.: VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas; Soares, Enílvia Rocha Morato (Orgs.). Avaliação das aprendizagens, para as aprendizagens e como aprendizagem: obra pedagógica do professor. Campinas-SP: Papirus, 2022.

 

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