A educação a distância na educação básica: a realidade e a efetividade do ensino

 

A educação a distância na educação básica: a realidade e a efetividade do ensino

Dra. Maria Susley Pereira

Das três últimas décadas para cá temos tido a oportunidade de perceber e acompanhar o inegável avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC, as quais, de uma forma ou de outra, estão entranhadas na vida de cada um nós e na nossa vida em sociedade. A riqueza de possibilidades que as TIC oferecem é inegável, em particular para a educação, pois elas favorecem a inovação, permitem modernizar o ensino, alinhando-o às perspectivas sociais atuais e, sobretudo, às expectativas das novas gerações.

E é nesse caminho que entra a EaD, como uma ferramenta de inovação para o ensino convencional. Estamos em plena busca pelo fim da pandemia da Covid-19, atendendo a todas as recomendações sanitárias mundiais, com a fuga de aglomerações, o que obviamente inclui a paralisação das aulas. Isso tem deixado todos nós preocupados, afinal os estudantes precisam continuar seus estudos, precisam continuar avançando. Mas será que determinar que a suspensão das aulas seja revogada, nesse momento, e instituir o ensino a distância, abruptamente, será a solução mais adequada? Em se tratando da Educação Básica, especialmente, essa pode não ser uma saída pedagogicamente feliz.

A LDB, em seu Art. 80, prevê a EaD como possibilidade de contribuir para a qualificação da educação, na “[…] busca para superar limitações de espaço e tempo com a aplicação pedagógica de meios e tecnologias da informação e da comunicação”. Contudo, este mesmo artigo prevê que ela ocorra na educação básica “sem excluir atividades presenciais”, posto que as crianças e jovens, embora possuam habilidades e conhecimentos voltados para as novas tecnologias e que, muitas vezes, superam os dos adultos, precisam desenvolver outras competências e habilidades no convívio social dentro da escola, com seus pares, com seus professores.

A EaD pode e deve sim desempenhar um papel específico nos processos de ensino e aprendizagem, mas ela não sustenta as necessidades de aprendizagens das crianças e dos jovens da educação básica.

Sabemos do potencial das TIC na EaD, mas não adianta apenas substituir a aula expositiva ou palestra por um vídeo ou por um arquivo em Power Point, ou ainda enviar os textos do livro por e-mail ou disponibilizá-los em determinada plataforma. Para isso não precisamos da EaD, basta acessar o Google, e isso os estudantes fazem muito bem. É preciso, no entanto, que toda a estrutura de ensino seja alterada de forma abrangente, não só no que diz respeito a computadores com acesso à Internet, mas principalmente no que se refere às competências digitais de todos os envolvidos no processo educativo, uma vez que tais competências estão intimamente relacionadas à metodologia, à organização do trabalho pedagógico e, sobretudo, ao processo avaliativo a ser desenvolvido na EaD. E este, certamente, merece muita atenção, reflexão e definições adequadas.

Hoje em dia faz muito sentido proporcionar aos estudantes experiências mais dinâmicas, imersivas e voltadas para atividades práticas e, nesse sentido, a EaD atende muito bem como complemento do presencial, mas não supre a educação básica, pois a escola tem papel fundamental na formação da pessoa humana, para seu convívio em sociedade e na busca pela melhoria da sua vida e de toda a comunidade e, sendo assim, tornar a educação básica totalmente a distância não irá resolver a situação.

É preciso que a EaD seja inserida na escola de forma crítica e criativa e não apenas como veículo meramente paliativo e instrumental. Estamos vivendo uma situação delicada e absolutamente inesperada, não é nada interessante pensarmos que depois de sairmos da pandemia poderemos enfrentar um pandemônio na educação.

 

 

 

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