“No debate sobre a proposta do Future-se, apresentada pelo MEC há uma semana, a grande crítica tem recaído na redução da questão da educação superior, a seu financiamento. Agora uma nova polêmica se acrescenta: a da docência universitária”, afirma Silke Weber, professora emérita da UFPE
À semelhança do Future-se, quando o MEC se volta para as formas de assegurar a manutenção do sistema universitário federal, certamente oneroso para qualquer nação, passa agora a questionar a especificidade da docência nas universidades. Novamente uma visão reducionista baliza a proposta do Ministério, ao não considerar que as universidades, têm como finalidades, a produção e disseminação do conhecimento, a formação profissional, o desenvolvimento cientifico e tecnológico e o enriquecimento cultural, além de oferecer suporte à formulação de políticas publicas.
A consecução de tais finalidades requer trabalho e dedicação de um corpo profissional altamente qualificado, para atender necessidades de formação de quadros demandadas pela sociedade e pelas diferentes áreas de conhecimento. Para tanto, o corpo profissional das universidades é instado a atuar na disseminação do conhecimento, feito principalmente por meio de aulas, mas, também , a se voltar para a produção e retificação do conhecimento visando à experimentação de respostas aos problemas abordados pelas diversas áreas, e pelas necessidades da sociedades, o que requer a fabricação de tecnologias e o desenvolvimento de inovações correspondentes.
A atividade didático-pedagógica da universidade é, por conseguinte, apenas uma das facetas da atividade docente, desde que lhe cabe ministrar aulas, e também, a orientação ou supervisão de estudantes em monitoria, iniciação científica, estágios, trabalhos de conclusão de cursos , residências, no âmbito da graduação, e se responsabilizar pela orientação de pesquisas e avaliação da sua qualidade nos cursos de pós-graduação, lato e stricto sensu. Acrescente-se, ainda, a elaboração de projetos de pesquisa próprios e interinstitucionais voltados para áreas de especialização e/ou ao atendimento a prioridades nacionais ou locais , sendo inerente a esse processo a interlocução com pares em congressos, seminários, simpósios e a publicação de seus resultados.
A atividade docente universitária implica, ainda, a participação na solução de problemas sociais e econômicos conjunturais ou históricos mediante a integração de ensino e de pesquisa, além, da promoção de enriquecimento cultural.
A complexidade envolvida na atividade universitária constitui, assim, uma das razões da definição do tempo de trabalho, acertadamente, contemplada na Reforma Universitária de 1968. A profissionalização daí decorrente explica ser a universidade pública responsável por cerca de 90% da pesquisa produzida no país, com evidente repercussão em políticas públicas e objeto de reconhecimento internacional.
Cabe, portanto, conduzir o debate sobre a docência universitária dentro dos parâmetros que conformam a sua especificidade, ao invés de suscitar conflitos com a docência da Educação Básica, cuja valorização é há muito objeto de luta significativa, e sobre a qual a universidade brasileira vem dedicando inúmeros estudos e pesquisas e atuado na formação de seus professores.
ADUFEPE