MEC promove primeira reunião sobre a política nacional do ensino médio

Inicialmente serão definidos processos, calendário e metodologias relacionadas à consulta pública sobre o tema

A coordenação do processo de avaliação e restruturação da política nacional de ensino médio se reunirá, pela primeira vez, na próxima terça-feira (14), no Ministério da Educação (MEC). O objetivo é definir processos, calendário e metodologias relacionadas à consulta pública sobre o tema, que foi estabelecida pela Portaria nº 399, publicada nesta quinta-feira (9/3), no Diário Oficial da União (DOU).

Ao instituir a consulta pública para avaliação e reestruturação da política nacional de Ensino Médio, o MEC tem como objetivo abrir o diálogo com a sociedade civil, a comunidade escolar, os profissionais do magistério, as equipes técnicas dos sistemas de ensino, os estudantes, os pesquisadores e os especialistas do campo da educação para a coleta de subsídios para a tomada de decisão relacionados aos atos normativos que regulamentam o Novo Ensino Médio.

Na reunião da próxima semana estarão presentes representantes do MEC, do Conselho Nacional de Educação (CNE), do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais e Distrital de Educação (Foncede) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). A consulta pública será coordenada pela Secretaria de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino (Sase).

A consulta pública será implementada por meio de audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas nacionais com estudantes, professores e gestores escolares sobre a experiência de implementação do modelo nas 27 unidades da federação. A consulta terá o prazo de duração de 90 dias, podendo ser prorrogado.

Após o término do prazo, a Secretaria de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino terá 30 dias para elaborar o relatório final a ser encaminhado ao ministro de Estado da Educação. Camilo Santana afirmou a importância de ouvir entidades, especialistas da área, estudantes e professores. “Para que possamos com grande responsabilidade tomar decisões que possam melhorar o modelo”, avaliou.

MEC

 

O plágio encoberto em textos do ChatGPT

JC Notícias – 13/03/2023

Estudos mostram como modelos de linguagem natural podem ser fonte de má conduta acadêmica e indicam formas de prevenir o problema

Pesquisadores da Universidade do Estado da Pensilvânia (Penn State), nos Estados Unidos, investigaram até que ponto modelos de linguagem natural como o ChatGPT, que usam inteligência artificial para formular uma prosa realista e articulada em resposta a perguntas de usuários, conseguem gerar conteúdo que não se caracterize como plágio. Isso porque esses sistemas processam, memorizam e reproduzem informações preexistentes, baseadas em gigantescos volumes de dados disponíveis na internet, tais como livros, artigos científicos, páginas da Wikipédia e notícias.

O grupo analisou 210 mil textos gerados pelo programa GPT-2, da startup OpenAI, criadora do ChatGPT, em busca de indícios de três diferentes tipos de plágio: a transcrição literal, obtida copiando e colando trechos; a paráfrase, que troca palavras por sinônimos a fim de obter resultados ligeiramente diferentes; e o uso de uma ideia elaborada por outra pessoa sem mencionar sua autoria, mesmo que formulada de maneira diferente.

A conclusão do estudo foi de que todos os três tipos de cópia estão presentes. E, quanto maior é o conjunto de parâmetros usados para treinar os modelos, mais frequentemente a má conduta foi registrada. A análise utilizou dois tipos de modelos – os pré-treinados, baseados em um amplo espectro de dados, e os de ajuste fino, aprimorados pela equipe da PennState a fim de concentrar e refinar a análise em um conjunto menor de documentos científicos e jurídicos, artigos acadêmicos relacionados à Covid-19 e solicitações de patentes. A escolha desse tipo de conteúdo não foi ocasional – nesses textos, a prática de plágio é considerada muito problemática e não costuma ser tolerada.

No material gerado pelos pré-treinados, a ocorrência mais prevalente foi de transcrições literais, enquanto nos de ajuste fino eram mais comuns paráfrases e apropriação de ideias sem referência à fonte. “Constatamos que o plágio aparece com diferentes sabores”, disse um dos autores do trabalho, Dongwon Lee, cientista da computação da Faculdade de Tecnologia e Ciências da Informação da Penn State, de acordo com o serviço de notícias Eurekalert. Os achados serão divulgados com mais detalhes na Web Conference, um evento da ACM que acontece entre 30 de abril e 4 de maio na cidade de Austin, nos Estados Unidos.

O ChatGPT é um entre vários sistemas baseados em inteligência artificial e ganhou grande notoriedade porque foi disponibilizado para uso público. Desde novembro, já foi testado por mais de 100 milhões de pessoas e impressionou por sua capacidade de gerar textos coerentes que mimetizam a escrita dos seres humanos (ver Pesquisa FAPESP n° 325). Uma das polêmicas que levantou envolveu justamente a originalidade de suas respostas e o receio de que se transforme em uma fonte de má conduta acadêmica.

“As pessoas perseguem grandes modelos de linguagem porque, quanto maior um modelo fica, mais suas habilidades aumentam”, disse o autor principal do trabalho, Jooyoung Lee, estudante de doutorado na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Informação da Penn State. Ferramentas de escrita de inteligência artificial conseguem criar respostas únicas e individualizadas a perguntas apresentadas por usuários, mesmo extraindo as informações de um banco de dados. Essa habilidade, contudo, não livra a ferramenta de ser uma fonte de plágio, mesmo em formatos mais difíceis de detectar. “Ensinamos os modelos a imitar a escrita humana, mas não os ensinamos a não plagiar”, afirmou Lee.

Várias ferramentas estão sendo desenvolvidas para detectar conteúdo gerado por softwares de inteligência artificial. A própria OpenAI desenvolveu um programa capaz de apontar textos feitos por robôs, (disponível em openai-openai-detector.hf.space/). Há outras do gênero na internet, como o Writer AI Content Detector (writer.com/ai-content-detector/) e o Content at Scale (contentatscale.ai/ai-content-detector/). Como os sistemas de linguagem natural estão em desenvolvimento, também será necessário atualizar continuamente a tecnologia para rastrear sua produção.

Uma equipe da Escola de Engenharias e Ciências Aplicadas da mesma PennState mostrou que é possível treinar as pessoas para identificar esses textos, sem precisar depender exclusivamente de programas detectores. Apresentado em fevereiro em um congresso da Associação para o Avanço da Inteligência Artificial realizado em Washington, Estados Unidos, o estudo liderado pelo cientista da computação Chris Callison-Burch mostrou que essas ferramentas já são muito eficientes em produzir prosa fluente e seguir as regras gramaticais. “Mas eles cometem tipos distintos de erros que podemos aprender a identificar”, disse ao blog Penn Engineering Today o cientista da computação Liam Dugan, aluno de doutorado da Penn State e um dos autores do artigo.

O experimento utilizou um jogo disponível na internet, chamado Real or Fake Text (Texto real ou falso). O grupo apresentou aos participantes do estudo, todos eles alunos de graduação ou pós-graduação de um curso de inteligência artificial da Penn State, sentenças cujo início foi escrito por seres humanos, mas que, a partir de certo ponto, reproduziam respostas formuladas por modelos de linguagem. Os textos selecionados provinham de notícias publicadas na imprensa, discursos presidenciais, histórias de ficção e receitas culinárias. Os jogadores eram convidados a apontar em que ponto começava o trecho escrito por inteligência artificial e explicar por que apostavam naquela localização. Quando acertavam, eles recebiam pontos. As principais razões apontadas eram o surgimento de conteúdo irrelevante, de erros lógicos, de sentenças contraditórias, de frases muito genéricas e de problemas com a gramática. Foi mais fácil acertar nas receitas culinárias do que nas outras narrativas.

A pontuação dos participantes foi significativamente maior do que se as respostas fossem feitas ao acaso, mostrando que os textos gerados por robôs são detectáveis. Embora as habilidades dos jogadores variassem bastante, o desempenho deles melhorava com o uso do jogo – em um sinal de aprendizado. “Cinco anos atrás, os modelos não conseguiam se concentrar no assunto ou produzir uma frase fluente”, afirmou Dugan. “Agora, eles raramente cometem erros gramaticais. Nosso estudo identifica tipos de erros cometidos por chatbots, mas é importante ter em mente que eles continuarão a evoluir. As pessoas deverão seguir treinando para reconhecer a diferença e trabalhar com o software de detecção como um complemento.”

Pesquisa Fapesp

 

“Sindicatos, grupos de pesquisa, associações científicas e de classe do campo educacional defendem que não há remendo possível para a reforma”

JC Notícias – 07/03/2023

Pressionado, MEC monitora a fervura do debate e prepara a convocação de um grupo de discussão sobre o tema

Desintegradora, antipopular, autoritária, perversa, precarizante, privatizante, engodo, antidemocrática, desigual, fragmentadora, desregulamentadora, desescolarizadora, potencialmente catastrófica, sem qualidade. É extensa a lista de apupos que qualificam negativamente a reforma do Ensino Médio na carta aberta, assinada por mais de 300 entidades, que pede a revogação da política pública.

Sindicatos, grupos de pesquisa, associações científicas e de classe do campo educacional defendem que não há remendo possível para a reforma, enquanto seus formuladores falam em “revanchismo”. Pressionado, o Ministério da Educação (MEC) monitora a fervura do debate e prepara a convocação de um grupo de discussão sobre o tema.

Leia na íntegra: Ecoa

 

Falta apoio a professores novatos

JC Notícias – 06/03/2023

“Atribuição de turmas mais desafiadoras a docentes inexperientes agrava o problema”, afirma o colunista do jornal O Globo, Antônio Gois

A maioria (56%) dos professores brasileiros não recebeu formação ou qualquer tipo de orientação específica da secretaria para apoiá-lo em seu primeiro ano na carreira. O dado consta de uma pesquisa de opinião divulgada na semana passada, realizada pelo Ipec por encomenda do Movimento Todos Pela Educação, Itaú Social, Profissão Docente e Instituto Península. No recorte apenas de docentes de redes estaduais, o percentual chega a 65%.

A estatística é preocupante pois os primeiros anos de atuação de um professor são cruciais para seu desenvolvimento profissional. Esta constatação não difere muito do verificado em outras carreiras, mas o trabalho docente tem uma complexidade adicional: a maior parte do tempo de trabalho acontece em sala de aula, longe dos olhos de outros colegas mais experientes.

Veja o texto na íntegra: O Globo

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Um jardim florido

Rose Meire da Silva e Oliveira

Em um jardim florido, essas seriam minhas palavras.

Foi a primeira vez que vi alguém envolta por tantas flores. Acredito que cada uma delas representava um pouco do que Vânia deixou na vida das  pessoas com as quais conviveu.

Sinônimo de grandeza, humildade, sensibilidade, criatividade, superação, comprometimento, vontade de viver, força e de fé. Estas são as palavras com as quais posso descrever nossa colega de trabalho e amiga, Vânia.

Relendo as mensagens que compartilhamos em privado, na mais recente ela lamentou não ter condições de ir ao primeiro encontro do GEPA neste ano, por conta de uma dor abdominal que a deixou debilitada por tanta medicação prescrita e nos desejou “Abraços e beijos floridos para todos e um excelente encontro!”  

Os desafios pelos quais passou na sua vida não foram suficientes para que ela deixasse de se preocupar com os compromissos assumidos e com as pessoas mais próximas. Cuidava de sua mãezinha, Lindaura, foi filha dedicada e compassiva. O lado maternal pulsava com tanta veemência que vibrava a cada conquista de seus filhos Allan Luiz, Alex Leonan e Arthur Laio.

Perfeita, não! Mas a imperfeição a fazia mais humana, na essência da palavra, buscava a harmonia, ser luz e presenteava os que estavam à sua volta com arranjos florais de Ikebana que ela mesma montava. Sua forma de ser e de viver justificou a quantidade enorme de pessoas que estiveram presentes para homenageá-la. 

Abraços e beijos floridos eram suas palavras quando se comunicava com os integrantes do GEPA. Eis sua marca!  

Vânia, que você esteja junto ao Pai como uma “flor viva” cercada por tantas outras flores que a precederam no céu, iluminando nossa jornada.

 

Na educação básica, oito em cada dez gestores são mulheres

JC Notícias – 27/02/2023

Pesquisa estatística do Inep mostra ainda que 11,4% dos dirigentes de escolas municipais passaram por processo seletivo qualificado; no caso dos estados, foram 28,7%, em 2022

Com base no Censo Escolar 2022, o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam o panorama de atuação de 2,3 milhões de professores e de 163 mil gestores da educação básica do país em cargos de direção. As estatísticas permitem avaliar se as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) estão sendo cumpridas. Dentre elas, a meta 19, que prevê “a gestão democrática das escolas associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar”.

O Censo Escolar mostra que a maioria expressiva que ocupa cargo de gestão tem formação superior (90%) e é composta por mulheres (80,7%). Apenas 11,4% das 162.847 pessoas em cargos de direção nas escolas da educação básica passaram por um processo seletivo qualificado antes de serem nomeadas pela gestão municipal.

Quando se trata dos estados, esse percentual é de 28,7%. A pesquisa revela, ainda, que 66,6% e 23,3% desses profissionais foram, exclusivamente, indicados pela gestão municipal e estadual, respectivamente. Já o acesso ao cargo por meio de concurso público ocorre em 7% dos casos de escolas municipais e em 11,3% das estaduais.

No que se refere a eleições com participação da comunidade escolar, o Censo mostra que 31,9% dos gestores passam por esse tipo de processo nos estados e 12,9%, nos municípios. Outros meios representam 2,1% das escolhas, no caso das escolas municipais, e 4,8%, das estaduais.

O ministro da Educação, Camilo Santana, pretende apresentar uma política nacional para alcançar as metas do PNE. “Faz parte de uma estratégia que alguns municípios e estados adotaram. São aspectos que precisam ser avaliados para que possamos construir uma política nacional, em regime de colaboração com os entes federados.”, analisou durante a coletiva de imprensa de apresentação dos dados do Censo Escolar.

O presidente do Inep, Manuel Palácios, destacou, na mesma ocasião, que “é a realização do Censo Escolar que permite o monitoramento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), como é o caso da Meta 19, que prevê a gestão democrática das escolas associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar”.

Formação – o Censo também mostra que há desafios no que diz respeito à formação continuada de diretores, em gestão escolar. Ao todo, 19,3% possuem cursos desse tipo de especialização (com mínimo de 80 horas).

Na avaliação do diretor de Estatísticas Educacionais do Instituto, Carlos Eduardo Moreno, “trata-se de uma questão relevante que a pesquisa traz sobre essa figura, que é, de fato, muito importante no sentido de mobilizar todos os equipamentos e os recursos humanos em prol da qualidade, do desenvolvimento e das aprendizagens no ambiente escolar”.

Professores – já a meta 15 do PNE visa garantir que todos os professores da educação básica tenham formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura, na área de conhecimento em que atuam. A partir de dados do Censo Escolar, o Inep elabora o indicador de adequação da formação docente. Esse índice sintetiza justamente a relação entre a formação inicial do professor e a disciplina que ele leciona.

Logo, os docentes são divididos em cinco grupos: com licenciatura (ou bacharelado com complementação pedagógica) na mesma área em que dá aula; com bacharelado na disciplina que ministra, mas sem licenciatura ou complemento pedagógico; com licenciatura (ou bacharelado com complementação pedagógica) em disciplina diferente daquela que leciona; formado em área que não faz parte da grade disciplinar da escola e sem formação superior.

Anos iniciais e finais – a pesquisa considerou a análise das seguintes matérias: língua estrangeira; ensino religioso; geografia; história; ciências; artes; matemática; língua portuguesa e educação física.

Do 1º ao 5º ano, mais de 70% dos professores possuem licenciatura (ou bacharelado com complementação pedagógica) na mesma área em que dão aula – o que é compreendido como a perfeita adequação entre a formação e a disciplina que leciona (as exceções, aqui, são os docentes de língua estrangeira). No caso dos educadores físicos, esse percentual é de 83,3%.

Do 6º ao 9º ano, a proporção de professores com o perfil mencionado anteriormente (tido como o mais adequado) também é maior em praticamente todas as disciplinas analisadas.

Entretanto, no caso de três áreas em específico esse percentual não chega a 50%. São elas: ensino religioso (10,8%), língua estrangeira (43,6%) e artes (48,6%). Nos anos finais, há uma ampliação no perfil com licenciatura (ou bacharelado com complementação pedagógica) em disciplina diferente da que leciona. Nesses casos, a concentração de profissionais formados em pedagogia é notória.

Ensino médio –foram avaliados os docentes das seguintes disciplinas: sociologia, língua estrangeira, filosofia, física, artes, química, língua portuguesa, geografia, história, matemática, biologia e educação física.

Nessa etapa educacional, o percentual de professores sem formação superior é menor em relação às demais etapas. Na maioria das disciplinas, a predominância é de perfis com licenciatura (ou bacharelado com complementação pedagógica) na mesma área em que dão aula.

Isso não ocorre somente com os docentes de sociologia e língua estrangeira. Nesse caso, a maior parte tem licenciatura (ou bacharelado com complementação pedagógica) em disciplina diferente da que leciona.

MEC

 

Abraços floridos de Vânia Leila

Enílvia Rocha Morato Soares

Com “abraços floridos” Vânia Leila se despedia de nós. Dessa vez não deu tempo. Ela se foi deixando um vazio sem tamanho, no GEPA… no mundo. 

Sua estada no plano terrestre deixou exemplos de humildade, solidariedade e alegria. Nos ensinava com gestos de carinho. Sua escuta sensível e suas lembranças preparadas com cuidado e dedicação nos comoviam, fazendo dela um ser único e especial.

Sua leveza e simplicidade não a impediam, no entanto, de encarar com força e determinação os desafios que a vida lhe impôs. Foi filha, mãe, avó, irmã, amiga, enfim, foi mulher guerreira. Enfrentou com coragem e bravura adversidades como um câncer durante o curso de mestrado. Nada a impedia de prosseguir aprendendo e ensinando, como é característico de educadores comprometidos. Mesmo depois de aposentada prosseguiu concluindo mais uma graduação e planos de partir para o doutorado.

Companheira de estudos, de sonhos e de luta por uma educação de qualidade social, fez de sua trajetória pessoal e profissional exemplos de coragem e compromisso com o bem público. Suas contribuições ao GEPA enriqueceram nossos encontros e produções; e às escolas foram motivo de orgulho para todo o Grupo.

Vânia irradiou luz por onde passou e certamente continuará assim na eternidade. Sempre esteve e para sempre estará presente entre nós. Abraços floridos, querida!

 

Avaliação informal entre os estudantes

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

A avaliação informal não tem merecido a devida atenção por estudiosos em avaliação,  em suas publicações e apresentações, em que conferem mais espaço à formal. Quando a abordam, costumam referir-se à avaliação informal dos estudantes praticada por professores. Contudo, com frequência, os estudantes avaliam uns aos outros informalmente. Este é o tema deste texto. Inicialmente, analisemos as contribuições de Freitas et al  (2009), que nos dizem:

A parte mais dramática e relevante da avaliação se localiza aí, nos subterrâneos onde os juízos de valor ocorrem. Impenetráveis, eles regulam as relações tanto do professor para com o aluno, quanto do aluno para com o professor. Este jogo de representações vai construindo imagens e autoimagens que terminam interagindo com as decisões metodológicas que o professor implementa em sala de aula (p. 27).

Concluem os autores que este processo informal acontece de forma encoberta, sendo desvinculado da avaliação formal (p. 28). Por meio dele o professor toma decisões que afetam as aprendizagens dos estudantes. É tão poderoso que pode mudar o rumo do trabalho pedagógico. Percebe-se, então, a força de que se reveste essa modalidade avaliativa.  Em outro momento, os autores  afirmam que os “processos de avaliação informal terminam sendo mais relevantes no processo de exclusão” (p. 16), por induzirem a tratamento desigual aos estudantes que necessitam de mais apoio pedagógico. Até mesmo na organização escolar feita por progressão continuada ou por ciclos “o processo de avaliação informal se mantém intato, quando não valorizado” (p. 16), isto é, continua promovendo exclusão.

A avaliação informal é a que traça o destino dos alunos para o sucesso ou o fracasso, complementam os mesmos autores. O trabalho do professor em sala de aula, consciente ou inconscientemente, argumentam,  por ela se orienta. E o que é mais sério: “é nesta informalidade que se joga o destino das crianças mais pobres” (p. 28).

A lógica da exclusão da escola e/ou dos saberes se alia à da submissão, podendo ter a avaliação informal como aliada. É o que tem acontecido nas escolas cívico-militares. Por meio dessa aberração, os militares se encarregam da disciplina para que os professores possam cumprir o currículo. A lógica contrária é a da formação do “estudante-cidadão para a autonomia e para a auto-organização, para a intervenção na sociedade com vistas a torná-la mais justa, no sentido da eliminação da exploração do homem pelo homem” (FREITAS, 2003, p. 38).   

Nas diversos encontros nas escolas, os professores costumam tecer comentários sobre a situação de aprendizagem dos estudantes e seu modo de agir. Além disso, socializam fatos ocorridos em suas famílias. Tudo isso forma um conjunto de informações que contribui para que a escola forme sua imagem sobre cada um deles que, uma vez constituída, pode dificultar o processo de aprendizagem e a convivência no ambiente escolar. A prática da avaliação formativa impede que isso aconteça porque seu objetivo é impulsionar as aprendizagens de todos os estudantes, o que compreende a incorporação dos saberes curriculares e o desenvolvimento de atitudes socioemocionais condizentes com o trabalho pedagógico.     

Embora a avaliação informal esteja tão presente, podendo impactar positiva ou negativamente o processo de aprendizagem dos estudantes, o tema mais discutido durante atividades de formação de professores tem sido a avaliação formal. Praticada inadvertidamente, a informal pode causar danos à continuidade de estudos e à formação dos estudantes.

Conversamos até agora sobre a avaliação informal praticada por professores. O que motivou a escrita deste texto foi um fato por mim presenciado em uma escola inclusiva, no final do ano letivo de 2022. Caminhando pelo pátio da escola durante o recreio, parei à porta de uma sala de aula para conversar com duas estudantes quando, de repente, uma menina portadora de autismo pulou à minha frente e mexeu em meu cabelo (que é vermelho). Ela não fala. Quando estive em sua sala de aula, inicialmente me rejeitou mas, em seguida, se interessou pelo meu cabelo e se aproximou. Dirigi-me às duas meninas com quem conversava dizendo que aquela colega parecia gostar de mim. Imediatamente uma delas me disse: leva ela pra você e entrou na sala, sem que eu pudesse responder. Depreendi que estava fazendo uma crítica à colega que, talvez, a importunasse durante  o recreio, porque tem o hábito de ficar correndo.   

A avaliação informal entre colegas é inevitável e muitas vezes descortês. Nem sempre é  presenciada por professores.  Por meio da convivência diária os estudantes se conhecem e desenvolvem relações de amizade ou de atritos. Faz parte do trabalho pedagógico a construção de ambiente saudável na sala de aula e em toda a escola, para que se evitem animosidades, competição, classificação, rotulação e toda sorte de comportamento agressivo e antidemocrático. Com tais características a avaliação informal desencoraja o processo de aprendizagem e cria situações de afastamento da escola. Cabe aos professores permanecerem atentos a essas manifestações para impedirem que se alastrem e contaminem as atividades da sala de aula. É o que se espera da avaliação para as aprendizagens e como aprendizagem. Cabe aos professores darem o exemplo.  Os estudantes neles se inspiram.  São perspicazes e costumam repetir ações dos seus mestres.

O processo avaliativo é um componente estratégico do trabalho pedagógico pautado pela ética. O desejável é que a avaliação informal se ocupe das atividades de aprendizagem e não atinja a pessoa do estudante. Acompanhando e observando as atitudes dos professores os estudantes nelas se inspiram para se relacionarem com os colegas. Olhares de desaprovação, reprimenda e impaciência, assim como rótulos, não se alinham à avaliação formativa, comprometida comas aprendizagens de todos.    

Como conclusão, assinalamos que a sistematização do projeto político-pedagógico da escola, no qual a avaliação ocupa lugar central, parte da explicitação da função social da escola: qual o seu papel na vida das pessoas? Por que e para que as crianças e os jovens do século XXI vão à escola? Por que e para que avaliamos na escola?  (FERNANDES, 2014, p. 113).  “Para que avaliamos os alunos que têm direito constitucional de frequentar o Ensino Fundamental e a Educação Básica? Para que aprendam ou para ensiná-los que se vai à escola para passar de ano?” (FERNANDES, 2014, p. 113).  A avaliação informal acolhedora, respeitosa, que integre os estudantes e lhes transmita confiança e apoio é a que fortalece a função social da escola de proporcionar aprendizagens a todos os estudantes.  

Referência

FERNANDES, Cláudia. Por que avaliar as aprendizagens é tão importante? In FERNANDES, Cláudia de O. (org.). Avaliação das aprendizagens: sua relação com o papel social da escola. SP: Cortez, 2014.  

FREITAS, Luiz Carlos et al. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas.  SP: Moderna, 2003.

FREITAS, Luiz Carlos et al. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

 

Escolas adotam inteligência artificial para ajudar aluno a escrever redação

JC Notícia – 14/02/2023

Plataformas que corrigem textos instantaneamente e propõem formas de aprimorá-los devem ser introduzidas na rede pública de SP neste semestre; educadores sugerem cautela

“A inteligência artificial tornou-se uma ferramenta cada vez mais importante no campo da educação e uma das maneiras mais emocionantes de usá-la é ajudar os estudantes a melhorar suas habilidades de escrita.”

Foi assim que a nova vedete da inteligência artificial, a plataforma ChatGPT, iniciou um texto de seis parágrafos quando a Folha lhe enviou a seguinte solicitação: “Escreva um artigo sobre o uso da inteligência artificial para estudantes aprenderem a escrever redação”.

O artigo ficou pronto em 50,5 segundos. Ainda no primeiro parágrafo, o robô prosseguiu afirmando que as ferramentas “podem fornecer aos estudantes feedback instantâneo sobre seus ensaios, ajudando-os a identificar erros e a melhorar sua escrita com o tempo”.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

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Por que tratar da avaliação institucional no início do ano letivo?

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Fevereiro de 2023

A escola de educação básica convive com três níveis de avaliação: a desenvolvida em sala de aula, por professores e estudantes; a autoavaliação pela escola, mais conhecida como avaliação institucional; e a avaliação em larga escala, realizada em nível nacional, pelo MEC, e pelos sistemas de ensino estaduais e municipais. Estes níveis se articulam e se fortalecem.

Como estamos iniciando o ano letivo de 2023 e a avaliação é a mola propulsora do trabalho pedagógico escolar, não é demais reavivarmos suas potencialidades.  Iremos nos debruçar sobre a avaliação institucional, que carece de discussão aprofundada sobre a sua concepção, práticas e articulação com os outros dois níveis.

A avaliação institucional mantém inseparável vínculo com o projeto político pedagógico da escola (DALBEN; SORDI, 2009). Constitui um processo desenvolvido ao longo doano letivo, quando se confrontam e se analisam as informações sobre a situação de aprendizagem dos estudantes e as advindas da avaliação em larga escala, como é o caso do SAEB, para que se identifiquem as necessidades de reorganização das atividades em cada turma e em toda a escola. O seu alvo são as aprendizagens de todos os estudantes. Isso se faz pelo acompanhamento das ações realizadas em todos os espaços de aprendizagem (salas de aula e outros), nos encontros do conselho de classe, nas coordenações pedagógicas, nos encontros com os pais, com os profissionais que atuam na escola, em festas comemorativas etc. Sendo assim, não é episódica, isto é, não tem dia nem hora para acontecer: é praticada continuamente, enquanto há tempo de serem oferecidas intervenções pedagógicas.

O projeto político-pedagógico não é um documento burocrático guardado no arquivo escolar. É considerado o “referencial para toda e qualquer ação no interior da escola, seja ação coletiva ou individual” (Dalben e Sordi 2009, p. 155). As atividades nele previstas e as desenvolvidas e a tomada de decisão sobre as necessidades de mudança de rumo constituem objeto de análise pela avaliação institucional. Enquanto o trabalho se realiza, esta avaliação pela escola está em curso. O seu registro se faz ao longo do ano. Ao seu final, são sistematizadas as informações recolhidas que, organizadas, farão parte  do documento sistematizador de todo o processo. Assim, a avaliação institucional é o processo de análise do trabalho escolar, registrado em um documento próprio.

Por meio da autoavaliação constante, isto é, da avaliação institucional, a escola olha para si com o intuito de reflexão e redimensionamento de suas atividades, sempre que necessário, para que o processo de aprendizagem dos estudantes e a atuação e a formação continuada dos professores prossigam sem percalços. Está sempre em busca de respostas a indagações como estas: o que está favorecendo e o que está dificultando a construção de aprendizagens pelos estudantes, em termos pedagógicos e administrativos? Quais as necessidades de reorganização do trabalho pedagógico, em sala de aula e em toda a escola? Quais providências devem ser tomadas para o atendimento às necessidades encontradas? Por isso, é um processo desenvolvido continua e participativamente. Toda a comunidade escolar nele se engaja. Não nos esqueçamos de que os pais/responsáveis  são colaboradores permanentes.  

Para que o processo de avaliação institucional cumpra o que dele se espera, é indicado o letramento em avaliação de toda a equipe escolar, no próprio ambiente de trabalho. Por que toda a equipe? Pelo fato de os seus componentes se envolverem no processo avaliativo e de modo particular na avaliação institucional. São momentos de incorporação de saberes relacionados à avaliação e de análise e de renovação de suas práticas.

O documento sistematizador da avaliação institucional não se presta a fazer parte do arquivo da escola. Fica acessível para consulta. Tem um papel a cumprir: orientar o início das atividades do ano seguinte, inclusive a organização do projeto político-pedagógico. Esta é a avaliação em processo.

Com esta configuração, a avaliação institucional se inscreve nos preceitos da função formativa da avaliação, por estar a serviço das aprendizagens. Consequentemente, duas práticas são abandonadas: a de ser “realizada” ao final do ano e a de cumprir exigências burocráticas do sistema de ensino. Em lugar de todas as escolas receberem roteiro padronizado para a sua organização, por que não deixar que cada uma crie a sua sistemática, segundo suas especificidades? Por meio desta dinâmica, o processo de letramento em avaliação está em curso.   

Referência

DALBEN, Adilson; SORDI, Mara R. L. Avaliação institucional: qual o seu “poder”? In SORDI, Mara R.L; SOUZA, Eliana da S. A avaliação como instância mediadora da qualidade da escola pública. Campinas: SP, Millenium, 2099.