Avaliação em tempos de ensino remoto: do desespero à transformação

                                                                       Por: Erisevelton Silva Lima

Professor da SEEDF, doutor em educação pela Universidade de Brasília – UnB, membro do GEPA.

            No decorrer deste ano letivo transformado pela necessidade do ensino remoto na rede pública de ensino do DF, o tema avaliação mexeu com as vidas e as mentes da maioria dos docentes. A instabilidade foi tamanha que logo inferi se tratar da necessidade de formação em avaliação e, não somente, dificuldades com as tecnologias.

João Cabral de Melo Neto, em sua obra ímpar, Morte e vida severina, assim traduziu: “Lúcido não por cultura, medido, mas não por ciência: sua lucidez vem da fome e a medida, da carência”. Sendo assim, o momento é singular e importante para investirmos na tarefa de promover a formação permanente e, nesse caso, balizada pelas reais necessidades das escolas e dos educadores. Ocorreu-me, também, que, no auge dessa pandemia, o percurso didático de muitos docentes foi traçado sem incorporar, desde o início, a avaliação; o indicador disso foi a quantidade de convites para participar de ‘live’, exatamente quando se aproximava o final do primeiro bimestre na rede pública local. Nos anos iniciais, a temática de como preencher o Registro de Avaliação, conhecido por RAv, liderou todos os chamados para acudir escolas e regionais de ensino; importante lembrar que na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental não existe o uso de notas ou boletins nas escolas públicas do DF; são utilizados relatórios bimestrais para os anos iniciais e semestrais, para a educação infantil. Todavia, a sua feitura deveria ser diária, por meio dos apontamentos dos docentes em seus diários de classe e das estratégias individuais de como preferem registrar as evidências de aprendizagens dos estudantes.

         Quando a questão afligiu as escolas dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, os pedidos de socorro de como avaliar e como realizar o conselho de classe foram quase uma unanimidade. No tocante ao conselho de classe, acredito que perceberam que não era mais possível repetirem reuniões desencorajadoras marcadas pela avaliação informal dos estudantes e das suas famílias. É como se a “caixa preta” do conselho de classe fosse aberta e, para espanto de todos, ela estivesse vazia.

Outro fato interessante foi a percepção de que no contexto desta pandemia e do ensino remoto, assim como as aulas, todas as reuniões coletivas e de planejamento deixaram de ser privadas, tornaram-se públicas, querendo nós ou não. Vejo isso como algo positivo e de forte apelo à mudança. O conselho de classe é a instância que pode agregar as discussões sobre os três níveis da avaliação e, portanto, a depender da condução da equipe gestora, pode ser mais ou menos produtivo (LIMA, 2012).

Na intenção de trazer para este texto minhas percepções sobre tais momentos, retirei das “lives” de que participei as perguntas e colocações mais repetidas. Para termos ideia do tamanho do desejo dos profissionais da educação sobre o tema que desenvolvemos na “live” sobre como avaliar e preencher o relatório de avaliação para os anos iniciais, eu e professora Vânia Leila Nogueira, em 04 de agosto de 2020, fomos surpreendidos por cerca de oito mil visualizações no Youtube. Algo incrível, não acham?

Vejam no quadro a seguir trechos das falas e perguntas mais recorrentes surgidas nesses encontros virtuais com regionais de ensino inteiras, escolas e docentes da educação básica:

PERGUNTAS E RELATOS DOS DOCENTES NAS LIVES

ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTALANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO
Como avaliar e registrar a avaliação de estudantes que não acessam a plataforma?Como fazer o conselho de classe se ainda não conseguimos concluir as avaliações dos estudantes?
Que estratégias utilizar para avaliar os estudantes que estão desaparecidos dos grupos de WhatsApp e não entregam tarefas impressas?O que fazer quando os docentes se negam a lançar frequência dos estudantes baseados nas tarefas?
Como avaliar na plataforma nesse ensino remoto?Como conduzir um conselho de classe no ambiente virtual?
O que fazer para avaliar quando desconfiamos que não são as crianças que estão respondendo as atividades propostas na plataforma ou nas atividades impressas que retiram na escola?Como organizar um conselho de classe quando não temos o que tratar nele (notas dos alunos)?
Não consigo avaliar, na verdade não consigo nem ensinar, eu me preparei para educação presencial, estou perdida.O desespero bateu, e agora, todo mundo pode ver nossa aula e tudo que passamos, será que vão valorizar mais nossa profissão?

Fonte: Dados retirados pelo autor dos comentários realizados pelos docentes nos vídeos no Youtube

Percebam que as dúvidas não seriam sanadas com a simples fala de que deveriam transpor para a plataforma ou aplicativos as práticas já utilizadas no ensino presencial, por um lado isso pareceu-me positivo. Quanto à questão da ética e da avaliação, veio à tona e foi reforçada pela desconfiança dos docentes sobre quem realizava as tarefas dos seus alunos. A orientação sugerida foi a de que fizessem um contrato didático com os estudantes e seus familiares, que pactuassem sobre a qualidade e a valorização dos esforços das escolas que tentam em meio a tudo isso garantir a educação pública para todos. O conselho de classe passou a ser visto sob dois ângulos: o dos alunos que participam de alguma forma (plataforma, grupos de WhatsApp, tarefas impressas recolhidas na escola) e daqueles que não respondem seus professores em nenhuma das estratégias citadas anteriormente. Seguindo a lógica do replanejamento, sugeri que refizessem a organização curricular proposta no início do ano, quando a escola acreditava que o ano letivo seria presencial, todavia, que somassem esforços com as Coordenações Regionais de Ensino para que não desistissem da busca ativa proposta para os casos dos alunos que não conseguimos localizar de início. As escolas dos anos finais e do ensino médio começaram a envolver os estudantes nos conselhos de classe e nas estratégias de avaliação, o que vejo como algo muito positivo. A criação de formulários eletrônicos e a participação em enquetes e pesquisas deram voz a muitos discentes e seus familiares. O protagonismo estudantil é a solução e não o problema, especialmente para essas escolas com adolescentes e jovens. Eles estão se organizando, buscando os colegas, apoiando seus pares que se encontram em dificuldades conceituais e ou de manuseio tecnológico. Ainda não temos dados reais sobre tudo isso, mas o campo para a pesquisa e para aprendermos é rico e desafiador

A escola está se transformando, os males trazidos pela pandemia têm clamado por mudanças em todos os sentidos, a instituição viu seu modus operandi esgotado e, mesmo sentindo-se vigiada e nua, a organização do seutrabalho pedagógico está sofrendo profundas transformações que não sabemos ao certo em que resultarão, mas, otimista que sou, acredito que nossas escolas serão melhores quando esse mal passar. Parafraseando o título do livro de Benigna Villas Boas, agora é a pandemia e não somente a avaliação que está virando pelo avesso. Sigamos!

REFERÊNCIAS

LIMA, Erisevelton Silva. O Diretor e as avaliações praticadas na escola. Editora Kiron, Brasília-DF, 2012.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas.  Editora Alfaguara, 2010.

VILLAS BOAS, Virando a escola do avesso por meio da avaliação. Campinas-SP, Ed Papirus, 2008.

 

IDEB e a “qualidade” da educação básica: para além do fetiche e da nota

Edileuza Fernandes da Silva, da Universidade de Brasília, e Cátia Maria Machado da Costa Pereira, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep


A cada dois anos a comunidade educacional brasileira acompanha com expectativas a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). No dia 15 de setembro deste tumultuado ano letivo de 2020, em meio à
pandemia de Covid-19 que levou à suspensão de atividades escolares presenciais de milhares de estudantes, mais uma vez, entre expectativas e frustrações vimos representantes de governos, entidades representativas dos profissionais da
educação, universidades, gestores escolares, organizações sociais e veículos de impressa, ocupados com análises explicativas acerca do “sucesso” e do “fracasso” de redes de ensino e de escolas. Acerca de uma “qualidade” medida com a régua da nota.

Nessas análises emergem questões como: A quem atribuir a responsabilidade pelos resultados? O que foi realizado concretamente pelas redes de ensino e escolas para o alcance ou avanço do desempenho das escolas e redes? Quais os impactos da estrutura física e material das escolas, das condições de trabalho docente, formação, carreira,
salário no Ideb?

Pouco se fala sobre a ausência de políticas públicas para o cumprimento da meta 7 do Plano Nacional, Municipais e Distrital de Educação: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais até 2021: anos iniciais do
ensino fundamental – 6,0; anos finais – 5,5; e, ensino médio – 5,2. A nota é vista como um fim em si mesmo, um fetiche,pois aspectos subjetivos são analisados objetivamente ou até, desconsiderados, como: as diversidades do sistema educacional; as particularidades das redes de ensino; as diferenças regionais; os projetos de escolas; as culturas; valores
e princípios que embasam os processos educativos.

Objetivamente o Ideb é um indicador educacional que combina o desempenho dos estudantes na avaliação e o fluxo escolar, resultando em valor apresentado em escala de 0 a 10, que ambiciona refletir a qualidade educacional brasileira. O Ideb foi criado para medir a qualidade do ensino ofertado e estabelecer metas para a sua melhoria. O cálculo articula informações do Censo Escolar (fluxo escolar – aprovação/reprovação) com as médias de desempenho dos estudantes (proficiências/aprendizagens) aferidas pelas Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc).
O valor escalonado do Ideb lido de forma isolada, descontextualizada, acarreta atendimento limitado. É preciso analisar, questionar, criticar, refletir sobre o que ele quer dizer, explorá-lo qualitativamente. É primordial compreender os meandros do Ideb e, principalmente, que a sua leitura seja feita articulada com os contextos e as realidades intra e extraescolares.

O resultado do Ideb precisa ser lido integrado ao desempenho escolar e triangulado com outros dados, outras informações gerados por meio de outros instrumentos/processos como: a autoavaliação que a escola faz de seu trabalho/projeto pedagógico; a análise dos resultados dos estudantes a partir de avaliação de sala de aula; as avaliações diagnósticas da realidade escolar, dos estudantes e da própria escola; as avaliações feitas em conselhos de classe, coordenações pedagógicas, entre outras. Só assim, poderemos tirar proveito do resultado do Ideb para a reorganização das redes de ensino e das escolas – a avaliação gera ação.

O Ideb fornece informações que podem orientar ações como por exemplo, provocar a comunidade escolar a construir um diagnóstico das especificidades de sua realidade escolar, conhecer suas condições materiais, orientar revisão do projeto pedagógico da escola, apontar rumos, traçar suas próprias metas e estratégias, e definir intervenções
alicerçadas na gestão democrática e na autonomia, condições para pactuar propostas para cobrar de gestores públicos investimentos e recursos que proporcionem a melhoria da qualidade referenciada também nos sujeitos sociais. Às redes, o Ideb também oferece informações para subsidiar a elaboração de políticas públicas educacionais
voltadas à valorização dos profissionais da educação, formação continuada, financiamento da educação, projetos pedagógicos e curriculares, entre outras.

Assim, para além do fetiche das notas, do ranqueamento e da classificação, o Ideb gerará ações voltadas à melhoria da qualidade da educação básica. Porque não começarmos pela implementação do Plano Nacional de Educação?

1
Texto elaborado pela professora Edileuza Fernandes Silva da Faculdade de Educação da UnB/PPGE e Cátia Maria
Machado da Costa Pereira – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep.

 

Ensino fundamental público melhora no IDEB e reduz abismo com rede privada, que fica estagnada

JC Notícias – 15/09/2020

Escolas particulares não conseguem alcançar meta de qualidade de ensino

As redes públicas de ensino fundamental do país mantiveram o ritmo de avanço no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2019, enquanto a rede privada ficou estagnada. A melhora reduz o abismo de desigualdade entre as escolas, ainda que a diferença se mantenha em mais de um ponto na nota.

Parte dos resultados do Ideb foi divulgada nesta terça-feira (15) pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido). O indicador, principal termômetro da educação brasileira, é calculado a cada dois anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do MEC (Ministério da Educação).

São levados em conta no Ideb o desempenho de estudantes em avaliação de matemática e língua portuguesa, chamada Saeb, e as taxas de aprovação escolar. A avaliação federal é feita ao fim de três etapas: anos iniciais (5º ano) e finais (9º ano) do ensino fundamental e ainda o ano final do ensino médio.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

O Grupo Folha não autoriza a reprodução do seu conteúdo na íntegra. No entanto, é possível fazer um cadastro rápido que dá direito a um determinado número de acessos.

 

Militarização de escolas: “educando” para a criminalidade, por Luiz Carlos de Freitas

Blog do Freitas – 12/09/2020

Costuma-se dizer que as prisões são “fábricas de delinquentes”. Que sentido há então, em transformar nossas escolas em micro prisões comandadas por militares sob rigoroso código de conduta? Um novo relatório americano – “Reimaginando a segurança escolar”, feito pelo Institute for Policy Studies por Karen Dolan, Cecelia Scheuer, Uma Nagarajan-Swenson, e Lindsay Koshgarian, detalha os […]

Leia mais deste post

Luiz Carlos de Freitas | 12/09/2020 às 9:49 AM | Tags: “Nova” Direita, Direto do fundo do poço, política com evidência, Segregação | Categorias: Segregação/exclusão | URL: https://wp.me/p2YYSH-7su

 

UNESCO: protocolos de saúde não bastam, por Luiz Carlos de Freitas

Blog do Freitas, 03/09/2020

O blog NORRAG traz contribuição de Stefania Giannini, Subdiretora Geral de Educação da UNESCO e ex-Ministra da Educação, Universidades e Pesquisa da República Italiana. A autora aponta que, “embora muitos sistemas escolares estejam planejando como retornar ao ensino presencial, apenas voltar para a sala de aula não é suficiente.” Ela aponta outras três prioridades críticas […]

Leia mais deste post

Luiz Carlos de Freitas | 03/09/2020 às 10:12 AM | Tags: Pandemia | Categorias: Assuntos gerais | URL: https://wp.me/p2YYSH-7rD

 

Curso sobre avaliação formativa em desenvolvimento pela EAPE

Cristhian Spindola Ferreira

A Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação, da Secretaria de Educação do DF, vem desenvolvendo o curso Avaliação formativa: princípios, processos e instrumentos, em formato online. São 80h, das quais 40 de forma direta, isto é, por meio dos encontros síncronos no Google Meet, e 40 de forma indireta, por meio da realização das atividades inseridas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (Plataforma Moodle). As atividades tiveram início no dia 24/08/2020, estando seu término previsto para o dia 13/11/2020.

O curso tem como objetivo geral a compreensão dos aspectos que fundamentam e norteiam a avaliação formativa como elemento da organização do trabalho pedagógico para as aprendizagens. Os objetivos específicos são os seguintes: compreender os conceitos e princípios da avaliação formativa; articular a avaliação formativa com os outros elementos da organização do trabalho pedagógico; compreender as características dos procedimentos e instrumentos de avaliação; relacionar o processo de avaliação para as aprendizagens com o registro documental; compreender a função da avaliação informal na avaliação formativa; desenvolver práticas de análises de dados articulando com o planejamento de intervenções avaliativas.

Levando em conta o período de pandemia da Covid – 19 pelo qual estamos passando e as aulas remotas emergenciais em desenvolvimento, o curso tratará, também, do processo avaliativo nesta modalidade. O curso utilizará várias ferramentas online como podcasts e entrevistas, assim como lives, que posteriormente serão disponibilizadas no Canal da EAPE e Estação EAPE.

Cabe salientar a importância da realização desse curso porque, além de a avaliação formativa ainda não ser compreendida por grande parte dos docentes, a sua prática em aulas remotas ainda é uma novidade que necessita de discussão.

Além desse curso, a temática da Avaliação Formativa está inserida em outras ações formativas da EAPE, como no percurso comum do Projeto Aprender Sem Parar, destinado a todas as etapas da Educação Básica.

 

A avaliação formativa utilizando o Kahoot! e Mentimeter

Cristhian Spindola Ferreira

            Com a pandemia do novo coronavírus se intensificou a utilização de plataformas e aplicativos educacionais gerando uma demanda social de mudanças na escola e na prática docente. Essas mudanças estabeleceram novas relações pedagógicas que impactaram a organização do trabalho pedagógico com a incorporação de novas práticas no processo de planejamento curricular, na escolha das estratégias de ensino e no processo de avaliação.

            Com isso, os docentes foram instigados a pensar “como” deveria acontecer o processo de avaliação, no contexto de ensino remoto e, principalmente, se seria possível desenvolver uma avaliação formativa.

O desenvolvimento da avaliação formativa independe da forma de ensino, das estratégias ou instrumentos utilizados, pois a centralidade do processo de avaliação é a aprendizagem. Assim, notam-se potencialidades da efetivação da avaliação formativa na utilização de plataformas e aplicativos (App) educacionais como por exemplo, o Kahoot! e Mentimeter.

O Kahoot! foi desenvolvido pela Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e é uma plataforma de aprendizado baseada em jogos, usada como tecnologia educacional em escolas e outras instituições de ensino. Seus jogos de aprendizado, “Kahoots”, são testes de múltipla escolha que permitem a geração de usuários e podem ser acessados por meio de um navegador da web ou do aplicativo Kahoot.

O docente é responsável pelo planejamento e a elaboração das questões no Kahoot e para jogar os estudantes podem ser organizados em pares ou grupos, favorecendo o processo de integração entre os colegas com a discussão e reflexão sobre o conhecimento trabalhado durante a aula.

Para a concepção formativa de avaliação um app de jogo não é um simples momento de animação e competição entre os estudantes, mas é uma forma de avaliar para as aprendizagens, na qual o avaliador possui uma intencionalidade bem definida da articulação entre objetivo e avaliação.

Com isso, o jogo se apresenta como uma forma de feedback, tanto para o professor como para o estudante, pois pelas respostas o professor pode perceber os objetivos de aprendizagens em que os estudantes apresentaram dificuldades e desenvolver uma intervenção retomando o conhecimento trabalhado.

 Outro elemento da avaliação formativa que pode ser sistematizado com o jogo é a autoavaliação, pois ao observar as potencialidades e fragilidades demonstradas, o docente pode refletir sobre a abordagem e organização do trabalho pedagógico e o estudante pode compreender os motivos e origens das suas dificuldades para um futuro planejamento de estudo.

A outra plataforma ou app é a Mentimeter, produzida por uma empresa sueca que desenvolve e mantém o aplicativo usado para criar apresentações com  feedback em tempo real. Esta ferramenta propicia a criação de apresentações utilizando uma grande variedade de recursos gráficos que favorecem a avaliação ao longo de uma aula.

No recurso popular questions types destaco três formatos: o multiple choice,  word cloud, em que o docente cria uma pergunta geradora que poderá ser utilizada como diagnóstico inicial do conhecimento dos estudantes sobre o conhecimento curricular; e a open ended, que pode ser utilizada como um recurso para a autoavaliação do estudante. Já no recurso quiz competition, se observa a possibilidade da organização de um teste, em formato de jogo, no qual ações de diagnóstico, feedback e autoavaliação podem ser realizadas.

Assim, observa-se que estes aplicativos possuem potencialidades para as aprendizagens se incorporados em um processo de avaliação formativa integrada em uma organização do trabalho pedagógico que prima pelo planejamento, reflexão e intencionalidades. E, além disso, os dois aplicativos podem ser utilizados em diversas etapas e modalidades da educação básica.

 

Reflexões sobre o documento “Orientações para avaliação das aprendizagens e registros escolares” – contribuições do GEPA

Refletir sobre a avaliação formativa e orientar seu desenvolvimento em situação de ensino remoto e de ensino híbrido constituem um grande desafio e uma oportunidade ímpar para se repensarem suas possibilidades. É o que tenta fazer o documento “Orientações para avaliação das aprendizagens e registros escolares”, da Secretaria de Educação do DF, dirigido a todos os professores da rede pública de ensino. No momento em que a Secretaria de Educação se prepara para a retomada do ano letivo, de forma remota, o objetivo do documento é “disponibilizar orientações para a promoção da avaliação das aprendizagens, de modo coerente, processual e efetivamente educativa, além de recomendações sobre a forma adequada de efetuar os registros escolares como instrumento capaz de evidenciar o alcance dos objetivos de aprendizagem” (p. 6).

Ele tem início com informações sobre o registro de frequência, nota/menção/conceito relativos ao primeiro e segundo bimestres de 2020. Em seguida, é que entra em cena a avaliação formativa no contexto das atividades remotas e híbridas. A opção de iniciar por esclarecimentos sobre as formas de registro significa relegar a segundo plano as recomendações sobre o desenvolvimento da avaliação formativa, que, segundo os demais documentos da mesma Secretaria, norteia todo o processo. A sobreposição de aspectos técnico-administrativos referentes ao preenchimento dos relatórios aos de natureza epistemológica relativos à função formativa da avaliação pode, ainda, conduzir a entendimentos falaciosos de que constituem processos independentes. Como a intenção é orientar a avaliação das aprendizagens e o uso dos registros escolares, o leitor espera que estes sejam produzidos em correlação com a avaliação que se desenvolve, no caso, a formativa. Mas, isso não é feito. A avaliação parece seguir para um lado e os registros, por outro.  

O documento tem o propósito de oferecer “reflexões necessárias ao processo de avaliação em contexto de atividades pedagógicas remotas/híbridas” (p. 9), o que não acontece. Como o tema é novo, seria de grande valia que se apresentassem aos professores meios de eles praticarem a avaliação formativa no ensino remoto e nas atividades híbridas, assim como explicações sobre como ela se diferencia em cada contexto.

Diz o documento: “Avaliar processualmente exige um acompanhamento cuidadoso, qualitativo e coerente com a proposta pedagógica da escola” (p. 10). Este é um dos requisitos da avaliação formativa. Mas, como praticá-lo no ensino remoto? Esta orientação poderia ter sido oferecida, assim como foi feito em relação ao uso do feedback (p.10).

O que se pretende como orientação para avaliação das aprendizagens em cada etapa/modalidade da educação básica não se efetiva. A questão a ser respondida seria: como desenvolver a avaliação formativa em cada uma delas quando se trabalha remotamente? Um aspecto que requer atenção especial e deveria ser apontado no documento é o encorajamento dos estudantes, nesse momento em que a distância física pode tornar-se um impeditivo ao alcance das aprendizagens. Cabe a cada etapa/modalidade de ensino encontrar suas próprias formas. Isso faz parte da avaliação informal.

O documento perdeu a grande chance de apresentar as especificidades da avaliação formativa em cada etapa/modalidade da educação básica, de modo geral e, particularmente, no ensino remoto e híbrido. Esta é uma necessidade urgente. No item que trata na educação no campo, por exemplo, a função formativa da avaliação fica restrita ao conselho de classe e à coordenação pedagógica. O caráter formativo da avaliação se estende a outros espaços que devem, necessariamente, ser considerados. No espaço dedicado à educação profissional (p. 16), a avaliação é chamada de “verificação do aproveitamento escolar” e a quase totalidade das orientações diz respeito a decisões quanto à aprovação, reprovação e oferta de recuperação. Estas orientações implicam prejuízo da compreensão da avaliação formativa.

Chamamos a atenção para os itens que tratam da Educação especial e da Socioeducação: eles não mencionam o fato de que a avaliação formativa é a grande possibilitadora da inclusão educacional e social dos estudantes com deficiências ou necessidades especiais e daqueles que se encontram em cumprimento de medida socioeducativa.   

Outro aspecto que merece ser mencionado diz respeito à avaliação diagnóstica. A alusão feita a essa função avaliativa nas páginas 9, 15 e 20 do documento pode reforçar concepções que a tomam como uma prática pontual e isolada.  Essa parece uma rica oportunidade para investir na sistematização da avaliação diagnóstica, inserindo-a em um movimento que permitiria contínuas revisões no trabalho pedagógico e imediatas intervenções junto aos estudantes, possibilitando o avanço constante das aprendizagens de todos.

 O trabalho integrado e articulado das equipes que atuam no nível central da gerência educacional é fundamental em todos os momentos e agora, principalmente. O documento dá a impressão de não ter sido assim construído. Se assim fosse feito, grande parte das orientações serviria a todas as etapas/modalidades, reservando aos espaços destinados a cada uma delas apenas os aspectos que lhes são específicos e, portanto, incomuns.

Sugerimos que o documento seja refeito para que, além de serem consideradas nossas sugestões, algumas imprecisões sobre a avaliação formativa sejam revistas.

Reflexões finais

Consideramos apropriada a iniciativa de orientação aos professores para o desenvolvimento da avaliação formativa em atividades remotas, ao mesmo tempo que compreendemos tratar-se de um grande desafio. A sua concepção, seus objetivos, suas características, funções, modalidades e práticas necessitam de estudos aprofundados. Nada disso é complicado. Quem orienta o trabalho das escolas e quem atua na formação continuada de professores e outros profissionais da educação precisa se dedicar a compreender esse processo, grande aliado das aprendizagens. O desenvolvimento do trabalho pedagógico das escolas que pertencem a uma mesma rede necessita de orientações precisas.

Queremos ressaltar que nossa análise não tem o intuito de desmerecer o documento, mas de chamar a atenção para a responsabilidade que ele assume ao ser divulgado.   

 

Avaliação na educação infantil: a doce convivência com as crianças

Benigna Villas Boas

Ontem, 12/08/2020, acompanhei uma live em que Elisângela Teixeira G. Dias, nossa colega do GEPA, discorreu sobre a avaliação formativa na educação infantil. Após sua competente apresentação, fiquei pensando com meus botões sobre a importância desta função avaliativa na educação infantil. Os/as professores/as que nela atuam são privilegiados pela convivência próxima com as crianças e pela espontaneidade com que elas interagem. A avaliação flui naturalmente porque não há compromisso com nota. Esta figura maléfica emperra o trabalho pedagógico.

Fiquei pensando na relevância da observação, como um dos recursos valiosos da avaliação na educação infantil. Está presente o tempo todo. E como as crianças gostam de serem alvo de atenção! Até disputam a proximidade com o/a professor/a. Não há como não recorrer à Jussara Hoffmann, que propõe a avaliação mediadora, desenvolvida em três tempos: o de admiração, o de reflexão e o de reconstrução. Ela destaca a importância da observação. Para a autora, o grande passo “é deixar de ver todos os alunos de uma sala de aula para pousar o olhar sereno e tranquilo em cada um porque o ‘todos’ é um dos grandes fantasmas da avaliação” (2005, p. 14). É preciso “aprender a olhar” aluno por aluno, completa a autora. Esse olhar é interessado, amigo, afetuoso, perspicaz e avaliativo, com o propósito de analisar como as aprendizagens estão sendo construídas. É necessário ter em conta que tudo o que acontece na escola, como um todo, e na sala de aula constitui aprendizagem. Portanto, a observação do/a professor/a é aguçada, certeira, buscando identificar tudo o que ocorre no ambiente escolar.  

Na educação infantil, cada criança está começando seu percurso escolar, trazendo sua história e seus anseios. Nenhuma delas pode ficar no anonimato. O tempo de admiração proposto por Hoffman se entrelaça ao de reflexão, quando o/a professor/a analisa as manifestações das crianças. O tempo de reconstrução se dedica à escolha da avaliação que se quer praticar.   

A avaliação praticada na educação infantil deveria inspirar a que é desenvolvida nas outras etapas/modalidades da educação básica e até a praticada na educação superior. Nesta última, costuma haver grande distanciamento entre professores/as e estudantes. Os primeiros “dão aulas”, muitas vezes acompanhadas passivamente pelos/as estudantes. A avaliação é feita, de modo geral, por meio de provas, apresentação de seminários e elaboração de trabalhos. E pior: em muitos casos, a nota final não é “entregue” pelo/a professor/a ao estudante, mas divulgada pela instituição, após a conclusão do período letivo. Resumo da ópera: não existe avaliação, mas, sim, verificação.  

Referência

HOFFMANN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.

 

Não a provas diagnósticas por ocasião do retorno às escolas

Benigna Villas Boas

Reportagem do JC Notícias, do dia 06/08/2020, anuncia que as redes de ensino da cidade de São Paulo e as dos estados do Rio e Maranhão irão aplicar provas diagnósticas, por ocasião do retorno às escolas, para saberem o que os/as estudantes aprenderam ou não durante o ensino remoto, para que as aprendizagens possam ter continuidade.

Ora, não é o momento de os sistemas de ensino pensarem em aplicação de provas diagnósticas. O momento inicial de retorno às aulas presenciais será destinado ao acolhimento de estudantes, professores e todos os que atuam nas escolas. Será o reencontro tão esperado, se bem que cercado de muitos cuidados sanitários. Também os pais/responsáveis irão merecer atenção especial. Afinal de contas, essa retomada será feita depois de 5 ou 6 meses sem aulas e de uma vivência intranquila. As atividades básicas serão as de ordem sanitária: todos deverão se acostumar a novas regras de convivência. O que interessa, no momento, é preservar vidas. Tratar de provas imediatamente será cruel, porque costumam ser associadas à punição e à classificação.  

Não será o caso de profissionais que atuam em secretarias de educação elaborarem tais provas. Este não é seu papel. Avaliação diagnóstica é muito mais do que isso. Não se restringe a provas. Por meio da interação do/a professor/a com sua turma ele/ela observará o trabalho dos estudantes com quem tem contato diário e desenvolverá as atividades que possam lhe dizer como estão. A partir disso, promoverá as intervenções pedagógicas necessárias e dará prosseguimento ao currículo. Não cabe “medir lacunas”, conforme afirma reportagem de um jornal. Os estudantes não podem ser amedrontados nem sentir que “perderam tempo” ou “foram prejudicados”. Cabe à escola organizar-se para seguir em frente. Não faz parte da concepção de avaliação formativa penalizar os/as estudantes, mas oferecer-lhes todas as condições para que construam suas aprendizagens. Esta é a mensagem a lhes ser transmitida.